Romério Rômulo
Romério Rômulo (poeta prosador) nasceu em Felixlândia, Minas Gerais, e mora em Ouro Preto, onde é professor de Economia Política da UFOP e um dos fundadores do Instituto Cultural Carlos Scliar - Rio de Janeiro RJ.
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quem sabe disso é o sebastião salgado, por romério rômulo

quem sabe disso é o sebastião salgado

1. 
400 mil mortos em ruanda:
a matança não importa
que há o suicídio de cobain
e a morte de jackie o.
2.
700 mil mortos em ruanda:
a matança não encanta
que há uma cruzada contra o declínio moral da américa,
eua.
3.
900 mil mortos em ruanda:
a matança não encanta
que há um julgamento
de o. j. simpson.4.
1,5 milhão de mortos e refugiados:
ruanda não encanta
pois é possível vida humana
em marte.
5.
mais de 1 milhão de mortos em ruanda.
newsweek decreta: “o inferno na terra”.
6.
por que as pessoas se matam?
em que a vida se acaba?

de tudo, a ruptura é a imagem.

romério rômulo

Romério Rômulo

Romério Rômulo (poeta prosador) nasceu em Felixlândia, Minas Gerais, e mora em Ouro Preto, onde é professor de Economia Política da UFOP e um dos fundadores do Instituto Cultural Carlos Scliar - Rio de Janeiro RJ.

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  1. ouso acrescentar que a

    ouso acrescentar que a ruptura é a

    imagem mas tb a palavra,

    a poesia que

    a embeleza ainda mais.

    salgado e romério rompem a arte da imagem

    e da palavra para consubstanciá-las à vida.

  2. Cartier-Bresson

    faz a maior ruptura. Mais que um fotógrafo, um artista. Arte engajada não é o que penso como arte. Não que não possa haver tb. (Claro, gosto é gosto – ainda q eu pense que se possa discutir o que seja arte ou não – mas deixemos isso de lado, aki não seria o espaço. Nem tô a fim. É imperdível, sim, exposição lado a lado (uma vez vi) sebastião salgado e cartier-bresson, não tem nem graça. Bresson é universal (não tem nada a ver com fama). Muito provavelmente, Salgado sente, sabe isso. Obs a precipitações: não tiro méritos e o papel de Salgado.

  3. também ouso, entre fotografia e palavra

    estava aqui lendo-corrigindo coisas e parei agora nisso: “São muitos os que chegam a dizer e contar, é preciso retratá-los, pois fotografar o que não se vê é o que a palavra corrige do tempo solto in-capturável e faz ser presente visto daquilo que se agarra no vento”.

    Abraço.

  4. Os amores possíveis e impossíveis de Dante, Petrarca etc. ou o

    –Titulo:

     

    Os amores possíveis e impossíveis de Dante, Petrarca etc. ou o perau horizontal da impossibilidade: no meio da noite um sonho… sem pé sem cabeça, ou como diria Clio (a musa desmiolada da história que também é nome de automóvel no século XXI): “escrevam suas próprias histórias e joguem na lata de lixo da vida. E se olhar nesta mesma lata verá que existem outras histórias, mas que se parecem ou são idênticas às suas”. São historietas apaixonantes, afetadas, mas tolas… portanto, esqueça-as. Sob o manto de tantas paixões, só existe frivolidade

     

    – Começa assim…era uma vez, um cara que sonhou amores e misturou seus amores aos amores de escritores, cineastas, poetas, pintores e loucos. E pensou em mandar sua história para um concurso de escritos surrealistas. Nunca teve coragem. Ele nunca teve muita coragem de nada mesmo. Mas ele disse que ainda mandará…. Uma vez, você  me disse: “Você não irá ficar livre de mim assim tão fácil…” (ou todas dizem isso para te fuder? O eterno retorno das mesmas mulheres em outros corpos, mesmo que diferentes e de outras cores e tamanhos e pesos?) foi uma maldição? Será? O inolvidável balanço de uma noite: (a noite é só um instante finito. Muito finito) 6 cigarros/4 cervas alguma música/quantos/beijos?(os/beijos/não/são/contados/são/apenas/beijados)/quantos/tatos? (os tatos são computados sim. Pela epiderme que cria os sentidos) (e que epiderme?…) Quantas palavras? (as palavras computadas foram as que confidenciaram – e as que calaram?) Quanto desejo? (quais os contidos? Por que foram contidos?) Quanta felicidade? (computar a felicidade é trabalho ingente e bom. Ingente porque é impossível/ bom porque é vivido) saldo positivo: “te adoro” :: o  que você faria com um sonho? Simples: acorde: romeu, riobaldo, petrarca, prestes, bazárov, dirceu, dante, você  mesmo, o seu sócio, seu irmão que morreu. o que foi real hein Abelardo????? –as eclipses e hipérboles de sua iconografia eram minhas ruínas e meus escombros no pretérito. Hoje são auroras de minhas inconsciências oníricas. Sombras, sombras…sombras e sonhos… Só me recordo de coisas simples como o desejo… (insatisfeito é claro…) Eis o enigma: não existe desejo realizável “você nunca está satisfeito!”- nos  perdemos no meio da noite como um morcego que enxerga. Quando acordamos descobrimos. Que havíamos ficados cegos. O livro do não vivido (sonhos). The end (o inicio). Hoje, um dia de julho. Esquisito. Sem frio. Sem luar. liguei para ela. um dia não! Uma noite. Sem frio. Sem vento. E sem o hipócrita luar. uma noite em que existia uma vontade de dizer qualquer coisa desgrudada da história e grudada na estética anteontem da pálida e diáfana silenciosa senhora do fundão da sala. sibila hetaira/olhos/silhueta. A ética atravessou infecunda os cofres viscosos do gramado da avenida principal da aldeia e a história fez o silêncio do momento. A  farsa é a última moda, como sempre. Hoje o membro honorário ficou sócio. A sala de aula perdeu o sentido a universidade transformou-se na imbecilidade. O diploma no atestado de “habeas corpus” do não sou e não interessa! E a esperança em agora é tarde amor. Cala, mísero e vai deitar. Never more. Sonhe e dane-se. Tão ou tão idiota ou seu último e confuso e sincero abraço naquela estéril  e confusa sala de aula. Gargalhada, sob o: “sonhei com isso….” Ali onde um exame especial pode ser permutado por uma trepada ou um boquete. (desculpe a vulgaridade – mas a realidade é vulgar) Sonho real  o aroma de sua boca é o mesmo dos seus olhos. A teia que ela teceu com fios que lhe presenteei. O que disse mesmo o corvo? (…) “Essa certeza só ocorre uma vez na vida.” Será? “Você já assistiu “As Pontes de Madison”?”. O amor à família venceu o amor? Este belíssimo filme nos trouxe de volta?  09 de julho (1932) dia da revolução constitucionalista (que não foi revolução porra nenhuma!) Quando a revolução passou por mim só vi quando aquela coisa monumental mostrou suas costas desnudas a revolução passou por mim com firmeza e dignidade hirta mas serena (que belo porte. Que caminhar lindo) segurava um cigarro (senti o cheiro da fumaça da revolução) não vi seu  rosto belo e  inclemente nem seu sorriso doce como a morte. Eram seis em ponto da tarde. Eram seis em ponto em todos os relógios (G.G. Lorca?) Eram seis em ponto da tarde não vi senão seu dorso desnudo (e macio) (inacreditável) (e inesquecível) (e as vísceras dorsais) e os pequenos panos que cingiam seu pescoço e cintura eram vermelhos (parecia uma desgraça pelada, só que de costas…) Só vi isso da revolução que flutuava na fumaça do cigarro e serpenteou e desapareceu as seis em ponto da tarde. fiquei ali derrotado pela  revolução que sequer disparou um tiro…mas arrasou o resto da tarde que  acabara de completar seis horas. Não sei se a revolução foi a vitoriosa, mas ela deixou um rastro cruel e triste de solidão. Muita solidão…obsessão, obsessão, obsessão, obsessão: o amor é só uma? E a política: não se mistura política com amor. Apesar de que se parecem bastante, principalmente nos quesitos da mentira e da traição. O que é trair? Pergunte a Joaquim Silvério dos Reis. Calabar. Judas. E a mim mesmo, mas não espere respostas. Pergunte a qualquer um. Pergunte para a Maria Madalena (Quando Cristo estiver perto). Trair é pecado? O que é o amor. “O profeta” sabe. Achado dentro de um maço de cigarros. tento negar toda hora. Tento fugir. Não queria perceber o momento especial que estou vivendo. Um turbilhão mágico. Ações extemporâneas. A presença real e fictícia de uma mulher extraordinária. A energia vital que ela cria e libera. O aroma do medo e do desejo se originam na mesma fruta feminina…Uma fruta em fermentação. Um campo de força imponderável. Esta  energia convertida em memória, esquecimento e vigor. Esta energia cria expectativas inimagináveis. Mas cria também o medo. Este medo também é salutar. O medo une o irreal (poderoso) ao real (frágil). O real apesar de parecer hoje apenas simulacros é real. É real? Por que se preocupar com o real? Não destruí-lo. Apenas  mesclar com este instante fecundo e louco. E o humor? Meu deus…gotas minúsculas e infinitas. Isto é felicidade? Sorver cada gota deste humor. Lamber com avidez  cada gesto. No desertos as gotas secam muito rápido.  Cada palavra sonora. Cada olhar inquieto mesmo que não veja nada. Cada toque epitelial onde a energia transmitida se transforma em desejo ou carícia gratificante. E o proibido, o tabu? Eis um problema real. Um grande problema que a energia do instante absorve e “deleta”. Outro “problema” é que essa fada, essa elfa,  controla  o tempo: aumenta o tamanho das noites e diminui o dia. Distribui mais estrela no céu e aumenta o tamanho da lua cheia. A sua própria essência é a sua aparência? Qual é sua essência? Quem é você? Existe mistério. Enigma-esfinge. Uma alquimista que transforma as coisas mais simples em certezas inextrincáveis? As pedras do planeta árido em flores do paraíso? E o inferno? E o inferno das três horas da manhã? Deixo para trás. Corro. Fujo. E a paranóia ancestral que me persegue e distribui os porquês? Por que eu? Vencer a paranóia e viver? Deixar o rio correr? A paranóia que cria e destrói horizontes. Descobrir e desvelar a mulher e quebrar o encanto (ps: desvelei a mulher. Mas quebrei o encanto?). Desvelei? Acordar desse sonho. É o amor esse mistério? Existe isso? Que é o mundo e a vida toda sem esse encanto através de uma mulher? Essa é a mulher “obscura e mínima” que me apresentou a mim mesmo? (m.mendes?) Que fazer? Cambiado com “palavras”. Toda história de amor impossível é terrível (existe amor possível) e uma das mais incríveis e cruéis é a de Stanislaw Lem: in Solaris, um planeta realiza os seus desejos mais inconscientes e brutais: Rheia amada de Kris havia morrido e reaparecia viva, constantemente para ele. Um amor impossível tornado impossivelmente possível. Mesmo não sendo. Às vezes fico pensando, pensando: você está ali, do outro lado da cidade e eu não posso te ver, te tocar…isto se chama impossibilidade: moramos na mesma cidade, no mesmo planeta mas não existimos. Por quê? Seus olhos, seus olhos, suas mãos, suas mãos, sua voz, sua gargalhada sonora. Isto é que é o amor: memórias…  se  não te amasse escreveria assim. Que horror…(histórias da mamãe ganso: a raposa e as uvas?) Callejera: usou seu doce corpo para atrair mosquitos. Enquanto poderia tê-lo usado para fazer voar os colibris. Usou seu dom poético para iludir as sombras. Enquanto poderia semear a luz. Usou sua sedução para destruir um monstro. Enquanto poderia usá-la para criar deuses.  Conheço outra menina que diz que odeia mentir. Não sei se ela mente. Quem não mente? Ainda que para nos preservar? Mas ao contrário de você ela odeia falar sobre seus “amores” do passado, do presente e do futuro. Será que ela mente. Será que toda mulher mente como os homens. Que importância tem saber sobre os amores de quem se ama? Sentir ciúmes faz parte do amor. Existe amor sem ciúmes? Maña: amanhã te esquecerei tu me esquecerás. Se não te esquecer não tem problema estarei impotente e sem viço. E tu estarás gorda e linda. Gorda e cínica. Gorda e infeliz. Amarga e gorda. Amanhã o teu imenso espelho não acompanhará mais suas fotografias dos 20 anos. Mas você continuará gorda e linda e rirá de tudo. Eu também.  Cantiga de roda: “… tudo que cala fala mais alto ao coração..” Lulu Santos. Pobre, Eugênio  Vassílievitch Bazárov, quis “…ver a que classe de mamíferos pertence …” Ana Serguêievna, a  Senhora Odintsova…um niilista já devia saber…ela o amou? Não sei e não importa. O que importa é que ele morreu apaixonado. Ele amou e também não compartilhou seu amor de fato. Mais um. E o pior foi canalha do Ivan Turgueniev, fez questão de colocá-lo diante da “mamífera” e dizer com todos os seus sentidos centripetamente concentrados nesta confissão: “Saiba então que a amo idiotamente, doidamente…” Qual a função social do amor: produzir idiotas? Apesar de você escrever em meu corpo e em meu ser cáustico e desvairado um imenso “tratado sobre a impossibilidade” o que se configura é exatamente a sua antípoda: a possibilidade ainda que seja em outras tangentes (preciso, mas não quero isso/ o que eu quero interessa?) Mesmo assim não quero ser seu amigo (os amigos são todos falsos) nem seu confidente (os confidentes são fofoqueiros) nem seu inimigo (os inimigos são covardes) se pudesse cantar para ti uma cantiga de roda (ou de ninar) cantaria: nesta rua (“se esta rua se esta rua fosse minha eu mandava, eu mandava ladrilhar com pedrinhas, com pedrinhas  de brilhantes para o meu, para o meu amor passar… Nesta rua, nesta rua tem um bosque que se chama, que se chama  solidão dentro dele, dentro dele tem um anjo  que roubou, que roubou meu coração seu roubei, se eu roubei seu coração tu também, tu também roubaste o meu se eu roubei, seu roubei teu coração é porque, é porque  te quero bem…”) [pós-escrito: nesta mesma rua, todos os dias, todos os dias vejo a catedral onde orei por ti e em ti pela primeira vez, oração febril e insana e inútil. Inútil?] Como diria o poeta, BB, “dessas ruas só restará o que passa através delas, o vento” e no meio do redemoinho sua imagem que cega como a luz da verdade. Na rua nua ainda ouço seus paços estudantis prenhes de sonhos e ilusões. Pois é o que serei, alguém de um passado numa poeirenta e ruidosa rua do subúrbio dessa  lejana ciudad: sueño. La única tarea: olvidar. Queria “…dividir o passado..”  Se conspurquei, se conspurquei seu nicho sagrado. É porque, é porque ousei sonhar…é porque ousei sonhar (ode ao cigarro )= “tabacaria” f. Pessoa “não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.” As mesmas citações de sempre: -“por que mentias leviana e bela?”  Álvares de Azevedo. “que possa me dizer do amor (que tive) que não seja imortal, posto que é chama. Mas que seja infinito enquanto dure.”  Vinicius de Moraes. “sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo:- mais nada.”   Cecília Meireles “…porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda oportunidade sobre a terra.”  Gabriel Garcia  Marques. “exatamente como a árvore do outono ao perder suas folhas que lhe caem ao redor, sem senti-lo e quando a chuva, a geada e o sol lhe resvalam pelo tronco, enquanto a vida se retira para o mais íntimo e recôndito de si mesma. Não morre. Espera.” Hermann Hesse. “não te alegres inimiga minha, a meu respeito, por eu ter caído; eu hei de tornar a levantar-me…” Miquéias, 7-8,. “não te deixes ir atrás dos artifícios da mulher,  porque os  lábios da prostituta são como o favo que distila o mel, e as suas palavras são mais suaves do que o azeite…” Livro dos provérbios, 5, 2-3. “assim o que se chega à mulher do seu próximo não ficará limpo, depois de a tocar.” Livro dos provérbios, 6, 29. “meu coração tem catedrais imensas…” Augusto dos Anjos.   “amor, quantos caminhos até chegar a um beijo, que solidão errante até tua companhia!”  Pablo Neruda. “…quem ama é sempre muito escravo, mas não obedece nunca de verdade…”  “qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura…”  “aqui digo: que se teme por amor; mas que por amor, também, é que a coragem se faz”.  João Guimarães Rosa. “quando essa mulher se tornar de novo submissa e doce, os homens pela mão da eterna mediadora. Abrirão outra vez um ao outro os corações que sangram.” (…) “procuras alguém que seja obscuro e mínimo, que possa de novo te apresentar a ti mesmo.” Murilo Mendes. “tenho apenas duas mãos e o sentimento do  mundo, mas estou cheio de escravos, minhas lembranças escorrem e o corpo transige na confluência do amor.” Carlos Drummond de Andrade. E ainda o velho itabiritano: “Deus me deu um amor no tempo de madureza, quando os frutos ou não são colhidos ou sabem a verme.  Deus–ou foi talvez o Diabo-deu-me este amor maduro, e a um e outro agradeço, pois que tenho um amor.”, e eu um velho “que-está-biritando…” e delirando de alegria…. “você já reparou nos olhos dela? São assim de cigana oblíqua e dissimulada.”  Machado de Assis. “não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá de ressaca. É o que  me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro…” Machado de Assis. “tudo nesta vida tem um preço. Até mesmo os sonhos…” moimeinchego (ps: estou pagando…com juros!) Eu fui  Actéon, que não só ousei olhar Diana, mas ousei tocá-la. Fui transformado em um animal e trucidado pelos meus próprios cães: Desejo, o seu irmão Tesão, Amor, as cadelas Loucura e Insanidade, o cãozinho Medo, primo da vira-latas Covardia. E o canzarrão Ódio também abocanhou? E tinha um gatinho, o Idiota! Pobre Actéon, não sabia que admirava uma deusa cruel…foi o amor mais rápido da história… Com uma mão desenhada e um cheiro desgraçado de patchouli três livros copiados e um dicionário de besteiras históricas. Epílogo simples: quase esfalecido, sufocado… “nunca mais” disse o corvo de Poe, “nunca mais, latiu meu coração caduco “nunca mais”  disse meu ser sufocado pela realidade, e aí, como num vulcão voraz vomitando para dentro de mim, teve o início do fim, como sempre… o eterno retorno da desgraça que quase virou tragédia – quero te pedir um presente no dia do seu aniversário. Não me veja mais, não converse mais comigo! – “sem argumentação?” – sem argumentação! E há poucos instantes, ouvia:  “…eu te amo calado…” (…) Arrependido? Agora é tarde disse o pardal! E pousou bem no meio de minha estática estupidez.  E sorriu. E disse: lembre-se de Juca Mulato:  “esquece!” E Diadorim, neblina profunda do jagunço Riobaldo. O amor é neblina. Pobre Maria Deodorina da Fé Bettancourt Marins. Nascida num ano qualquer num dia 11 de setembro: “que nasceu para o dever de guerrear e nunca ter medo, e mais para muito amar, sem gozo de amor.”  Eu também? Eu prefiro agosto quando os ventos do mundo povoam meu cérebro e minha solidão – mas a “queda” – queda? aconteceu em maio. Julho:  em julho câncer cruza-se com leão e faz um redemoinho infernal de  agosto (onde o cão louco e só uiva para seus  míseros espectros) em julho  as noites são frias  e intermináveis as manhãs são frias e tristes. As tardes são quentes e monótonas: o aroma das mangueiras do mundo tornou-se nauseabundo como de uma planta insetívora o ar é seco e sufocante há um pó pegajoso nas coisas  e nas mãos inúteis e trêmulas. O entardecer é frio e melancólico: produz o que não sei  o que que não quero que não preciso “…frialdade inorgânica da alma…”? Obrigado! Você me fez ter agora o conhecimento do terceiro tipo ideal de mulher. Sim eu já conhecia dois tipos.  Foi a muitos anos passados, acho que no velho Cine Amazonas, na avenida Amazonas em BH. Ali assisti a um faroeste esquisito: Roy Bean. Em dado momento do filme o herói (Paul Newman) conhece uma mulher fantástica (Ava Gardner) e “teoriza”: “os homens precisam de dois tipos de mulheres: a real que será a mãe de seus filhos e a irreal, o sonho, aquela que ficará como uma coisa onírica…”. Acho que foi isso. A partir daí idealizaria ou criaria ou buscaria estes dois tipos de mulher. Mas o incrível é que conheci primeiro um destes tipos a mulher real, aquela que te dará filhos, carinho, lavará suas roupas e discutirá com você o preço do arroz, do feijão, as novelas, as fofocas do cotidiano e será a única que enxugará  suas lágrimas, ouvirá seus roncos e atirará o primeiro punhado de terra em sua mísera cova de um cemitério de subúrbio. E um outro: a  mulher sensual/sexual/lúbrica/carnal/lasciva enfim, tarada. Aquela que te fará sentir que é um homem de verdade e apesar de ser insaciável, estará sempre satisfeita e só de te olhar suspira e rosna como uma gata do cio. Essa mulher animal de verdade, que nunca te pedirá nada a não ser sexo, sexo e sexo. Ninfomaníaca que não despreza um beco escuro, um muro de um terreno baldio, um vão de escadas, um elevador, um teatro, um coletivo, até mesmo uma pousada cinco estrelas negativas, em Villa Rica, um cinema ou uma espelunca qualquer – onde cobram a chave – para ser ela mesma te fazer ser você mesmo: “alguém obscuro e mínimo”. Essas, a esposa e a amante, eu já conhecia: uma de cada e foi o bastante. Mas você que – que não me deu nada, não me prometeu nada, e mal ousava tocar e olhar (mas foi em você que eu vi milhões de promessas e venturas), não me disse nada e que apenas toquei e beijei e esfumaçou e foi idealizada. Essa que amei inutilmente é e foi um novo tipo: irreal, sonho, idealização pueril. E o pior de tudo isso: é menos material, menos tangível, mas a mais desejada. A mais sonhada ainda que esteja acordado. Sim graças a você conheço agora os três tipos de mulheres que bastam a um homem: a real (esposa), a carne (amante) e o sonho (impossível). A melhor, disse um imbecil, é a que te enlouqueceria de vez: uma que fosse as três.  Ou todas as mulheres têm um pouco das três e não vemos?? Ou nenhuma delas existe e nós pequenas crianças medrosas criamos? Talvez uma meretriz de beira de estrada? E todas elas algum dia foram filhas, serão mães e amarão? Memória do não, a primeira vez: não! Não! – disse ela – não ouvi. Não poderia ouvir o pareceria sim – e era mesmo;  (afinal aquele corredor da casa parecia uma floresta encantada) ela quis falar? Prólogo: o livro com seus poemas mais secretos seus desejos mais esconsos mais puros? Mais lascivos? O gosto de terra, de solidão, de vida e de sexo? Os amores reais e imaginários? A tarde magnífica traduzia uma realidade em irrealidade  (até os cães da casa pareciam imagens criadas) a cerveja a vodka a carne assada a  irmã (que apareceu e desapareceu da mesma forma, quantas outras coisas e outras pessoas estiveram ali, como entidades cúmplices???) taças quebradas (alarmes não escutados) – qual o seu signo? – leão (mas estava acuado como uma caça…) (depois fiquei sabendo que não combina com câncer…) (apesar do querubim vigilante) – quem é você? Descubra! (ps; descobri sem querer! E doeu muito…descobri???) Doeu ou era assim mesmo que tinha que ser e eu não acreditava? E a carne viva, viva e generosa opulenta aromática a boca quente e faminta. A tarde caia e o álcool metamorfoseava o monstro. Agora era tarde o desejo e confusão dos porquês venceram e o não, não adiantou restaram os beijos (e o tato no seio mais puro e doce e outros tatos) (ps: puro?) Os desejos mais incontroláveis. A carne, o gosto de nicotina e de carne sedutora. O cheiro dos olhos, na boca: aroma do inferno. (e do paraíso)  (queria ter mil mãos – mil línguas) os beijos que dei e ganhei contidos paradoxalmente pela chegada brusca da noite fria e da realidade sobre  rodas.  Segunda-feira – não! De novo. – obedeço!  Agora. : “…onde estará a rainha que a lucidez escondeu?” (beijo partido, minha idolatrada) antes, bem antes no oeste de meus devaneios pueris: sobre aquela festa que não queria ir: – estarei lá. sobre o poema – “a meretriz” sobre “a quarentena” de 6 meses – eles acabaram. Sobre a proposta:- vamos beber uma. Sobre quem estaria em sua casa: – pode vir, não haverá ninguém aqui por todo o dia. Sobre o pior: – demore uns 30 minutos que vou tomar banho e ficar cheirosa. Um convite, meu deus, um convite…sobre o verme: – você parece que está tenso, não está à vontade? Sobre a realidade: – minha primeira estudante minha última estudante (toda minha fortaleza era uma falsa muralha da china – ainda bem!) – já existia o desejo um simples desejo de tocar sentir o cheiro e o gosto  quebrar a redoma ser deus: destruir.  – “…esse negócio de  beijo na boca….”  (depois pensei nos  provérbios de Salomão) fora isso e fora toda a minha miopia moral (tive isso alguma vez) e intelectual: sempre a vi como uma mulher linda. Lindíssima. Os olhos/boca/corpo… (como estudante: inteligente e preguiçosa – sem polêmicas/aparentes) calma. Sensata (caso raro na flora e na fauna do ecossistema dos livros…) simples e elegante (uma adolescente na missa): comedida em cada gesto. O bom humor sempre… (se eu fosse um “blade runner” – ela seria a minha primeira suspeita: perfeita demais…) (ps: ou uma vagabunda como as outras, ou mais ainda que as outras? Ou normal…o pior cego é o que vê!) Ademais: misteriosa. Silenciosa. Os olhos…cor de mel? As mulheres de hoje são tão óbvias, fáceis (vulgares ou emancipadas?) E previsíveis… Ela não: linda, misteriosa – desejo ambulante. Olhares “de cabra tonta” (Rosa) (encrenca disfarçada de mulher…) O presente 12 (do paraguai…) – escreva: “alma desejo mordaça você nas minhas vísceras vocíferas” (as palavras quentes como seu hálito…) Cotidiano: depois dia  e noite as palavras  as imagens os desejos o telefone não toca você não passa; na rua… A saudade a vontade a saudade (vontade só de ver e tocar   sem precisar tocar) só a certeza de sua existência  também sei o que é “você nas minhas vísceras” a noite não passa o dia não passa a aula não passa nunca mais? A  ave negra sorri e vocifera com meu coração em suas doces garras…limite: – boa noite – essa música é prá você ( “sua estupidez”) – é a última vez que te ligo – por quê? – estou apaixonado – (…) – sua filha-da-puta – boa noite. Cabelos de fogo na tarde na tarde febril. – não! No meio do caminho, tinha uma cadeira. – só restou o gosto de batom. -você é louco! Pensei: sim “sem a loucura que é o homem mais que a besta sadia, cadáver adiado que procria?”  (F. Pessoa). Eu penso sim em vocês, minha gente – amo também naturalmente sem sofrer sem ser idiota. Isso é amor? Nunca abandonarei vocês. Eu amo a todos! A tudo? Só quando durmo. Os amores são tantos: uns bons outros ruins??? única alternativa: receita de esquecimento: – olhe para qualquer coisa natural  (árvore, céu, lua…) – pronuncie 3 vezes de olhos bem fechados: “nunca mais, nunca mais, nunca mais” (pode ser em inglês)  e pense no futuro. – mnemósine, deusa da memória te escutará. Não existe memória do futuro. – e aí, princesa, adeus! – não restará mais nada de mim, nem do passado. Letes, o rio do esquecimento passa todos os dias na minha rua. (às vezes ronda meus sonhos. Os sonhos são inúteis) o fim: “vou pegar aquele velho navio…” (Gal) Quantas vezes peguei outros velhos navios, mas nunca abandonei o porto…Ultimo desejo: rasque isso lentamente. Como rasgou meu velho coração. E abra uma skol, leia um livro… Cuide de … Acenda um  cigarro (ps: adube seu signo!) Sis felix. Ps.: estivemos na ribanceira do perau mas nos agarramos covardemente nos outros e voltamos e voltamos. Sempre haveremos de voltar? (faltou o quê, a chave??? “fui feliz” “…o dominó que vesti era errado. Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.”   F. Pessoa.“Selene/luna: hija del titán Hiperion y de tía, hermana por tanto de Helio/el sol y Eos/Aurora. Sus rituales eran de tipo mágico. Tuvo amores com Endimión, un mortal que mientras dormía fue raptado y conducido a la luna.”. Você cometeu seu primeiro/último erro. Erro de avaliação: não sou quem você pensava que eu era. Eu sou um erro. (sempre fui) sou talvez a imagem  que eu mesmo criei sou uma ilusão (tosca) de ótica  sou mesmo um ator dramático que caiu de uma carroça de  um patético (e antigo) circo mambembe. (vestido de leão: o leão de oz.) (o circo foi embora e eu fiquei ali fazendo malabarismos com livros brilhantes que nunca li.) Se fosse na Idade Média eu seria um roto e triste bobo da corte. (e dormiria junto aos cães e ensinaria  a única  coisa que sei fazer de original: uivaria para a lua) mas não se assuste sempre uivei para a lua. E agora ousei tocar nela (sou e sempre fui rude. E simples – por isso idiota) a mais pura, com aura mais brilhante num céu infinito. Um céu austral. Mas todo mundo comete erros. Selene. (até os velhos)  minha doce poetiza do oeste maculado.  Agora o seu erro. Este foi apenas um erro de principiante. (o principiante fui eu…agora sei?) Toda principiante tem o preconceito/prejuicio. E este, rosa púrpura de oeste (lado oposto do nascimento da lua), é um erro salutar e pedagógico – ele ensina: nunca mais faça isso! Viu!(não deixe se enganar pela pirita (apesar que ninguém escolhe qual mineral quer ser) – lembre-se: o palhaço morou em villa rica (terra dos corvos) não, nunca fui bom em conjugar verbos mas ainda sei unir algumas letras e sei lê-las: “fui feliz”, disse a lua. – é melhor assim.  O encanto foi quebrado? Também não quero magoar ninguém:  “mas tudo tem um preço!” – mas nunca aprendo isso, eu e ninguém que ainda está vivo… E eu não sabia que um leão de pelúcia era tão nocivo e poderia tocar com as mãos nuas (e ávidas)  a lua senhora das marés dona dos insones que caíram do circo mambembe. Adeus. (“merda”) o dia se aproxima e traz a cruel e necessária aurora ainda que fria. Não olhe para trás! De novo a Bíblia: lembre-se da mulher de lot: o desejo queima! Sis felix – você merece…sobreviverei (minha carapaça é sensível mas…). Aí ela chegou, como sempre a Noite: não foi a noite que caiu foi um monte de inveja medo e dor. Muita dor. por que tanta ternura transformou-se  em expiação? Noites de insônia noites de insânia febril de desejos (e medo?) – “você tem medo?” – inquiriu o corvo. Existe amor sem culpa hoje? -“você confia em mim?” – disse o corvo no meio da tarde. Há culpa. Sem pecado? – “existe isso, pecado” – sussurrou o corvo. Há pecado no desejo? Por que esta expiação? Que liame nos une? Existiu algum liame? De pátina? De lodo? De luz? De corrubiana? De momento apenas, e eu queria eternizar? E lá fora o vento  urde enigmas indecifráveis (e inúteis) como fantasmas reais do presente e do passado entre as mangueiras floridas oh! Como é longa, cruel e doce uma noite. Que armadilhas erguemos para nós mesmos? Ou foram muralhas. Contra os outros? É quase palpável, mas o manto da noite é  mais espesso…a noite sempre é mais espessa. Onde nos levará esta noite que brilha como um “sol inextinguível”? Não: o mesmo filme no mesmo bat-canal não, não! Aqui não! The end. Crítica: mesmo sendo cinéfilo, ver essa porra desse filme novamente foi o fim da picada. Joguei meu tempo e meu dinheiro fora. E como todo idiota pensava em outro final para este dramalhão mexicano de ponta de rua. Inútil. Corra quem sabe você ainda pegue o último navio. Vazio profundo. Va zi o vá! Gauguin: numa noite, ao folhear um velho livro de história da arte deparei-me com  “Nevermore”, uma pintura de 1897, de Paul Gauguin: uma jovem taitiana nua deitada em uma cama, ao fundo bem no centro da tela duas mulheres conversam. À esquerda a inscrição “nevermore”, depois numa espécie de janela uma ave. Um corvo azulado? O que me chamou a atenção? O corvo? As duas mulheres? Quem são essas mulheres? A mulher deitada na cama? O “nevermore?”. A memória associada ao presente? A recordação de um passado doce e confuso? Muito confuso. Muito doce. De súbito a minha memória levou-me para outro ambiente, outra época. A mulher deitada era outra e estava sobre mim com seu rosto colado ao meu peito. Estava vestida. Murmurava coisas doces e incompreensíveis. Estava trêmula e frágil.  Febril de mim?. Eu disse para ela parar de fingir. Como sou idiota! Por que o “nevermore” de Gauguin me levou  àquele sonho. Num dia de comemorações. Será porque o “nevermore” foi uma das primeiras coisas que te disse? O “nunca mais” está sendo um “para sempre”. O que é para sempre? E o corvo? Que significou para o etilizado Poe? O inevitável? A morte? O futuro? O passado?  O presente inelutável?  E para nós?  E para você flor de mel? A princípio a cama da taitiana recordou-me um sofá. Meu deus…que noite infinita? Que fui fazer ali. Numa casa que não era minha. Com uma mulher inebriada de cevada e cevada pelas mãos impuras também cevadas de desejos incontroláveis, mas contidos. “o universo em suas mãos”. Sim e que universo! Uma mulher feliz/infeliz fascinante. Em minhas mãos, tudo: das panturrilhas indescritíveis ao rosto magnífico e inesquecível. No caminho. E que trajeto! O gosto do seu nicho mais secreto. Sem tocar com a boca, senti o gosto da origem da vida e da morte. Fui deus e experimentei o néctar proibido. Não bebi, não sorvi. “você nunca está satisfeito”.  Gauguin não fugiu só uma vez. Fugiu várias, de Paris para as Antilhas, de Paris para o Taiti. (as crianças, os prisioneiros e os loucos – e os sábios – sempre fogem). Do Taiti para o inferno ou o paraíso? Foi para o Taiti, não para fugir, para encontrar-se. Para buscar. Os homens sempre estão a procura de si mesmos. Como disse o velho Stanislaw Lem, “nós procuramos apenas o homem.” Nós procuramos nós mesmos em outras mulheres. Mas não em qualquer mulher. Não o que já encontramos naquela mulher que está ao nosso lado. Gauguin abandonou a mulher, os filhos. A civilização. E lá no meio do nada, fez as mesmas perguntas: “que somos, de onde viemos, para onde vamos?”. No meio da noite que poderia ter acabado naquele mesmo instante, que eu não me importaria, nós poderíamos ter feito também as mesmas perguntas de Gauguin. Mas não perguntamos nada, éramos apenas respostas de nós mesmos. Simples. Perdidos como dois adolescentes que temem não algum tipo de repreensão, mas o fim da noite voraz e impiedosa. Mas para além de Gauguin, de Poe e Lem. Fomos nós que vivemos o que quase trouxe a nossa queda. Queda? Existe procura sem caminhos? Por que a memória aparece e não deixa o esquecimento dormir seu sono dos justos? Por que se recordar do que não aconteceu ou aconteceu? “enfim sós!”. Nunca estaremos sós. Gauguin nunca ficou só. Nem Poe. Nunca foram felizes. O meu medo é esse? Quero ser feliz? Quem quer ser feliz? Existe isso a felicidade? Para uma flor, ainda que seja do oeste, uma gota de orvalho é a felicidade? Uma baforada profunda e deliciosa em um cigarro é a felicidade? Um beijo roubado no meio da tarde é a felicidade? Uma simples recordação de uma noite no meio da noite é a felicidade? Idiota! A felicidade não existe e existe é só saber  senti-la….é cheiro da flor da laranjeira no meio da noite fria….ou quando “…se acaba na mão da rainha…”? (Gonzaguinha)  Gauguin não fugiu, ele voltou ao que não tinha vivido. Foi o mesmo que sentiu o poeta Walt Whitman em contato com o amor, essa fuga inebriante naquela noite no nosso “nevermore”? “Você pousou sua cabeça em meus quadris e delicadamente veio pra cima de mim. E desabotoou a camisa do meu peito, e mergulhou sua língua no meu coração nu. E estendeu a mão até tocar minha barba, depois até tocar meus pés. De repente se ergueram e grassaram à minha volta a paz e a sabedoria que superam toda arte e argumento desta terra….” (Folhas de Relva) Ainda que o amor de Walt fosse um homem. E dai? Você foi um interstício  mágico em minha vida comum…Descrição: ela chegou imperceptivelmente com a tarde que escondia uma chuva torrencial em suas dobras mais óbvias. O calor era taitiano e ela poderia estar suada. Poderia. Que roupa ela estaria usando? Seguramente uma bem doméstica, simples e surrada roupa cotidiana de dragão. (lagoensis brasiliensis) só imaginei.. Não sabia. Fumava? Tinha que usar minha imaginação. Sim ela chegou via telefone. De súbito e feliz. Com ela descobri que uma voz pode ser deliciosamente sonora e também pode exalar alegria.  Se estivesse perto dela poderia medir em polegadas o seu sorriso e a sua satisfação porque seus objetivos intelectuais caminhavam satisfatoriamente. Ela telefonou para informar isso? Primeiro falou de coisas triviais. Sua família. Seus escritos, que iam até às 5 horas da matina e rendiam. Escriba de sutiã negro, possivelmente. Mas o assunto era outro. Era antigo. Em certas ocasiões um segundo é passado. Um mês pode virar um século. E sinceramente não sei quando isso começou. Pode ter começado dentro de um dos  úteros que nos pariu. Mas só  nos demos conta disso num dia claro de maio. Eu pelo menos… O assunto era o amor. E como uma criança que vê uma coisa nova, fez esta surpreendente pergunta: “qual é descrição do amor?”.  E depois outra. – você já leu o Banquete de Platão? – nunca li. Como descrever o amor? Eu amo? Respondi. Depois li o banquete: “se, com efeito, um só fosse o amor, muito bem estaria; na realidade porém, não é ele um só; e não sendo um só, é mais acertado primeiro dizer qual o que se deve elogiar.” (Platão/Fedro). “assim é que o  amar e o amor não é todo ele belo e digno de ser louvado, mas apenas o que leva a amar belamente.”  (…) “e é mau aquele amante popular, que ama o corpo mais que a alma; pois não é ele constante, por amar um objeto que também não é constante.  Com efeito, ao mesmo tempo que cessa o viço do corpo, que era o que ele amava,  ‘alça ele o seu vôo’, sem respeito a muitas palavras e promessas feitas.” (platão/pausânias). Li o banquete como quem se banqueteia num rodízio. Rapidamente e não senti o gosto de nada. Pouco ouvi de fedro, pausânias, erixímaco, aristófanes, agatão, sócrates e alcibíades. O amor platônico só vale para os gregos. Amor platônico é só entre pessoas do mesmo sexo? Dizem que para existir o amor platônico entre um homem e uma mulher é necessário que alguma coisa esteja errada. Ou é porque existem outros interesses ou não existe interesse nenhum em certas coisas. Atração física por exemplo. O amor depende da aparência estética? O amor tem olfato? Tato? Que calafrios sente a epiderme do amor?  O amor leva necessariamente à carne? Não existe um sem o outro? O amor é só mais uma artimanha da natureza para perpetuar monstros solitários???  Achei interessante:  “cada um de nós portanto é uma téssera {mensagem? senha?} complementar de um homem, porque cortado como os linguados, de um só  em dois; e procura então cada um o seu próprio complemento.” (platão/aristófanes). Amar é procurar sua “cara metade”? E só.  Aqueles filósofos gregos tinham outras prioridades para o amor. E não somos linguados. E o amor não é só oratória. Ou diálogos. O amor é intangível mas é só blá, blá, blá? Pode-se descrever um quadro de Gauguim: o motivo (o conteúdo) , as cores (a forma), tamanho etc. Mas não se pode descrever o amor. Qualquer descrição tem que ter um pouco de lógica. Não há lógica no amor. Como disse joão guimarães rosa (a günter w. Lorenz): “a lógica, meu caro,  é uma faca com a qual o homem se matará um dia. Só quem supera a lógica pensa com justiça. Reflita pois uma vez: amor é sempre ilógico, mas todo crime é cometido segundo as leis da lógica.” Todo amor é idiota…mas tão bom. Será? O amor tem gosto de jabuticaba no pé. Ou de manga bem madura escorrendo pelo queixo? Que bebida embriaga como o amor?  Cachaça? Cerveja? Vinho? Vodka? Campari? Uísque? Rum? Leite? Água?  Pode-se descrever o ódio? Não creio. O amor é o mesmo que paixão? O amor enlouquece? Embobece? Pode-se descrever o amor? “qual é a descrição do amor?” Não sei, acho que não se pode descrever o amor. Um sentimento, uma sensação, uma emoção? Acredito que pode-se descrever quem ama. Quem está apaixonado. A pessoa que ama fica mais inteligente ou mais idiota? Libera seus instintos ou fica à espreita e torna-se mais comedida? Quando acontece o amor? Ele chega como a noite, lentamente? Uma longa noite? Ou como uma aurora? Ou um curto dia ensolarado?  Chega como uma tempestade? E vai embora também como uma tempestade? O amor é um tsunami de éter? Ou um maremoto de música? É necessário o amor? Qual a ligação entre eros e o amor? O amor acontece a todo instante com todo mundo, mas só alguns aceitam esta sensação? Pode-se evitar o amor, como se evita passar por determinada rua? Pode-se evitar o amor fugindo do objeto amado? O amor é uma fuga?  Amar é evadir-se de si mesmo?  É romper a carapaça do ego? O amor é puro? É impuro? Amor só se descobre amando de qualquer forma? Quem ama torna-se diferente? Vê o mundo com outros olhos? Sonha mais? Sofre? Como? Sofrer por estar amando? Quantas vezes se ama nesta nossa existência? O amor precisa de desejos? Amar não deveria estar feliz? Para alcançar o amor em sua plenitude é necessário saciar o desejo? Ter a posse do objeto do amor? O amor é cego? Surdo? Mudo? Um dicionário: “Afrodita, trenzadora de engaños, diosa del amor, tienes uno hijo (hijo de puta?). Su hijo é Eros – el latino Cupido – caprichoso flechero de dos dardos; uno para los amores felices, para los desgraciados el otro. Afrodita (Vênus – latina), nació de la espuma del mar de chipre fecundado por los genitales del Cielo/Úrano, arrojado allí por su hijo Crono/Saturno depués de haberlo castrado. Eros, también, hijo de Ares/Marte, representa la atracción física y sexual de los seres vivos. (los muertos copulan con la eternidad.) Generalmente voluble y caprichoso, siempre consigue el objeto de su deseo. Pero sobre todo Eros es ‘dulciamargo’. En múltiples representaciones se le hace aparecer con  su arco, como personaje alado y ciego.” Conclusão: o amor é um filho da puta cego, que dá flechadas, em  incautos idiotas só para que eles sofram. Eis a descrição do amor. Gostastes? Quanta tinta, quanto sangue e quanto esperma serão necessários para saciar este filho da pobreza e do recurso? “Descreva para mim, o amor…meu querido…trabalhe, estarei aqui para ver”. Você tem razão sobre aquele assunto..(estiolado, por enquanto) novembro: como disse c. meireles: “e um dia sei que estarei mudo: – mais nada.” Mas enquanto isso canto alegrias/tristezas/dúvidas/abismos/píncaros: embustes existenciais. Tua ausência é tão necessária quanto tua presença: ambas me mantêm vivo. você me recorda fortemente um passado que não tive e um doce futuro que não terei nunca. eu prefiro ter certeza que jamais te tocarei novamente do que vê-la diante de minha porta mendigando um  pedaço do que não sou do que não fui nem serei. Que serei? recolhi cada fragmento fértil de teu olhar profundo e distante onde depositarei estes preciosos e perdidos óbolos? Como aprisionar em mim tanta alegria tanta tristeza tanta distância tanta ausência tanta dúvida tanta estupidez tanta loucura tanto desejo? Tanta história e a minha história? A sua história? Os livros, não falarão delas. Histórias doces e cruéis histórias simples e profundas. (quanta névoa, quanto medo, quanta esperança???) Tantas histórias… O não, foi meu! – não farei mais isso não é certo você precisa de mim. E se eu te agarrar? E agarrou mesmo! E sóbria (…) Um dia desses sonhei novamente com você: você caminhava tranquilamente, como sempre, por uma rua, olhou para mim, e continuou até desaparecer…como um sonho…mas foi bom. Te vi em sonho, pelo menos…acordei feliz.  Beba um rum:  “todos estes momentos se perderão no tempo…como lágrimas…na chuva.” Disse o replicante roy batty. In: blade runner. Neblina mesmo é em villa rica. Quantas  histórias de amores perdidos naquela neblina viscosa. A mais lembrada: Marília de Dirceu. Pobre Marília. Maria Dorotéia Joaquina de Seixas Brandão. Diadorin? Objeto do amor impossível/possível: Dirceu: Tomás Antônio Gonzaga – advogado, poeta e inconfidente degredado para Moçambique. Gonzaga realmente amou? Não sei. Dizem que Marília morreu de velhice e virgem. Virgem à espera de seu amado que preferiu amar e morrer na África oriental. O amor só se conjuga com o verbo esperar? Eu espero, tu esperas, ele espera…esperar até quando? E como sempre, como em Romeu & Julieta o amor não aconteceu com um “viveram felizes para sempre”. Existe isso: felizes para sempre?. O calor de outubro reedifica insônias, desejos e imagens do passado. Delenda o passado, cara! É possível isso? Como? Lua de novembro: a lua chegou perto, mas não existe lua perto só o luar distante, mas tão presente cativante quente de um calor sufocante e me veio na memória: não existe arco-íris à noite. Intangíveis: você o luar o arco-íris o amor o futuro pirata, beba um rum. E lembre-se: os piratas não podem amar! Novamente a sensação: não! E uma nova versão para  “os piratas da ilha de creta” (kazantzakis):  – são milhares de ilhas, marinheiro de primeira viagem, esquive-se delas  –  lembre-se de Ulisses: ouça  mas seja precavido  -lembre-se de Tirésias:  seja sábio e não veja  – marinheiro, último conselho: há  lá fora uma tempestade ruim, não levante âncora (outros piratas estão à espreita nas bordas do mar oceano da insensatez)  – pirata, beba um rum e sonhe.  Sonhe, com a viagem que você  não fará jamais….entre sereias encantadas que arremessarão sua frágil nau contra os recifes e as gulas do mar do amanhã…. Beba um rum e sonhe, covarde!  Sonhar é bem mais cômodo e fácil… Não pegue aquele velho navio. Agora é noite e mesmo um marinheiro de primeira viagem não sai para mar aberto à noite, mesmo que o canto sedutor da sereia chefe tenha aromas e te convide….  (lembre-se pirata, todas, mesmo a mais simples, são hetairas…aí, tinha que ser num sábado à tarde, de novo a paranóia, o desespero, a solidão, sei lá o quê, a loucura: “é a última vez que te telefono.” -“não é para te telefonar mais?” -“sim. adeus! “ciao…” É melhor assim, não nascemos um para o outro, nunca. Noite ruim e só.  Minha verdadeira alma – se é assim o quê confuso  e nebuloso de um homem só – hoje se manifesta mais do que nunca. Que sabes de um pesadelo que você mesmo criou? Por que sou assim? Um pesadelo é pior que a maldita realidade? A realidade é ruim ou foi você (eu) que a transformou assim? Não se pode fugir de um pesadelo. Nem de um sonho. (outro dia, de novo, você apareceu num sonho, linda, silenciosa,  trazia um velho livro nas mãos, vi até o título (era cazuza, de Viriato Corrêa – um livro para crianças – estou uma criança) e entregou-me, mas o que me interessava eram uns manuscritos que estavam dentro do livro, quando fui ver o que era e acordei. Pesadelos e sonhos que se tem várias noites seguidas. Minha doce amiga. Eu sabia. Não poderia vir a gostar (amar?) De você. Não presto para nada quando gosto (nem quando odeio – eu odeio?). Será porque fico por baixo. Estou por baixo? Caí?  Ou estou emergindo? E a escalada para quem tem medo é sempre difícil? Tudo é difícil agora. Mesmo sabendo que nunca te tive. Sinto que estou te perdendo. Que faço? Sem os meus poderes sinto-me frágil. Você vai me destruir? Eu que me considerava intocável e indestrutível. O que é destruir? É mesmo necessário destruir para construir? Minha doce. É tão doce, apesar que “desconjuntada”. A composição: somas de pequenas partes. Perfeitas e imperfeitas (será que existe?). Já vi esse filme ou estou num filme infinito? Quanto aos pesadelos, você não tem nada com isso. São pesadelos antigos, atávicos. São imagens que lutam contra a realidade-dentro-do-sonho. E não sei qual é o real ou irreal – até que acordo. Sei que são pesadelos onde a realidade me afastam de ti.  Minha querida (plágio?). Chega de besteira. Isso até parece uma  monografia  “daquele lugar – origem do bem e do mal, onde cruzei com o seu olhar e o nosso destino sem destino”. De novo? por que novamente tento te afastar de mim quando o que quero é aprisioná-la em mim?  Por que destruir esta amizade antiga? É antiga esta amizade? O que é isso? Como se fôssemos almas gêmeas? Ou pedaços de um todo que se completa de forma imperfeita mas harmônica. Harmônica? Por que não “deixar o rio ir para o mar”: curvas, cachoeiras, corredeiras, remansos…ah! Os remansos. Por que te afastar de mim você que é tão cheia de vida e alegria. Você que é tão feliz? Talvez seja isso e eu agora tenho medo, não de te perder mas de destruir isso. Destruir toda essa magia e beleza de seu ser. Toda essa plenitude. Todo esse vigor expresso em sorrisos, gargalhadas, palavras, gestos – quanto sonhos bons não existem por trás disso tudo? Não, não quero só “descobrir e desvelar a mulher e quebrar o encanto.” Os encantos nunca são quebrados e não se pode nunca desvelar  essa mulher poderosa. Nem nenhuma outra…as mulheres e isso consiste sua principal essência e natureza, são insondáveis, indecifráveis mesmo quando estão nuas sob você! Se acreditasse em algum deus eu deveria erguer um altar em agradecimento por ter tido a benção de te conhecer. Você é uma graça recebida. Um milagre. Grato Deus! Alá! Exu! Deveria erguer um altar e fazer sacrifícios a todos os deuses pagãos. Quetzalcoatl. Mas que oferenda satisfaria um deus em agradecimento por essa “dádiva” (plágio?) Verdadeira? “sonhei com isso” verdadeiramente     e quando aconteceu. Quando está acontecendo não acredito. Ímpio! Ingrato!  A sorte lhe sorriu?  A sorte sempre me sorriu e eu não via? Dizem que o pior cego é o que não quer ver? Tirésias ocultou a verdade a Édipo. Mas a verdade é a verdade. A verdade é boa. Aceite a verdade. Abrace-a com força.  Viva idiota! Eterna  musa. criatura nocturna: “o pescoço era talvez um pouco comprido, mas são esses os mais graciosos, dando à cabeça das mulheres vagas afinidades com as magnéticas ondulações da serpente. Se não existisse um só dos indícios pelos quais os caracteres mais dissimulados se revelam ao observador, bastar-lhe-ia examinar atentamente os meneios da cabeça e os movimentos do pescoço, tão expressivos para apreciar uma mulher.” Balzac. Entretanto a noite te faz tão bem. Acho que ela só existe para emoldurar seu rosto na penumbra. Tudo o resto é escuridão – últimas palavras da Walquíria: “metamorfose desconexas nos ruídos da matéria o frio ensolarado do verão que aqueço, espesso na contagem parcial uma gota de sal apagada na luz escura oblíqua, ninfas nas ruínas do dia” ……“não temos nada mesmo…” O monstro mais uma vez soltou um balido  e voltou para o fundo de sua mais profunda fria e visguenta caverna da idiotice…frida: você  atravessou incólume o deserto do meu ser manteve-se virgem de meus tatos e diante de minhas palavras (vazias) serás eterna etérea rocha  diáfana materialização de meus desejos impuros e  inúteis como tudo o resto. Penúltimo papo furado: – descobri quem é você. – quem sou eu? Você sabe! Último papo furado: alô, por que você está me tratando assim? Eu mereço uma explicação. Você mentiu para mim. Nunca! Mentiu sobre isso e aquilo. Sem querer fiquei sabendo. É mentira. Nunca. “Que horror”. (Lembrei-me do “Horror” de J. Conrad – sobre um horror real sobre as atrocidades humanas – não do amor…mas cobiça) Então eu estou louco. Paranóico. Você está certa, então adeus. Porque o resto é papo furado. Tiau! “Agora que faço eu da vida sem você? Você não me ensinou a te esquecer…você só me ensinou a te querer…” (Caetano música de rádio).  Noites intermináveis com sua imagem ardente em “minhas vísceras”, em  meu coração e meu cérebro. Meu ser possuído por seu espectro, doce espectro, seu ser tão real e distante (sertãoáridodeardor) tão real e improvável. Tão improvável apesar de real demais. Cruel realidade demais. Suas mãos não são mãos de princesa, mas sua imagem é de uma rainha. Magnânima rainha, senhora, minha senhora. Déspota de meu ser vassalo.  Te abraçar naquele emaranhado de linhas naquela tarde, foi reconstituir o mundo e a vida. Sentir seu aroma  e seus cabelos é acordar fora do abismo, dentro dele. “você está cada vez mais bonita”. E aquela gargalhada musical sinfônica.  Tudo!!!. Te tocar é abarcar o mundo e a vida toda. Só isso basta! Mesmo assim ainda tento te destruir em mim, como o tolo que está com frio e tenta apagar o sol. O Sol…A luz de cleópatra: “em nossos sonhos as criaturas mais terríveis são as mais fabulosas e indeléveis”: depois, por todos os lugares limpos ou sujos por onde passava eu encontrava suas marcas pedaços de unhas e de copos, baba, saliva, esperma e sangue (sonhos? Solidão) (desilusão?) (simulacros?) (lágrimas?) Muita nicotina e mentira, muitas mentiras. encontrei loucos e sábios. encontrei prestidigitadores e encantadores de serpentes que haviam sido encantados e iludidos.  encontrei nefelibatas uivando para a lua para o sol para as estrelas. encontrei mulheres clonadas por ela. encontrei crianças que sonhavam em ser seus  filhos. maridos que queriam ser seus esposos. encontrei cães que queriam que ela fosse suas cadelas no cio. acendi um fósforo era luz demais. era luz demais. era verdade demais. vi o abismo recuei e voltei. voltei? Ainda existe uma volta? (você não voltou porque não queria ou não dava conta? – perguntou o corvo…).  depois descobri também que você é pode ser um soro antiofídico no presente de outras víboras menores…  Mas numa noite, ou foi num dia?  Provavelmente numa madrugada quando o demônio da ressaca e da dúvida te agarra pelo seu medo e fiz: a verdade é uma verdade ou é uma mentira? Lembra-se de suas doces palavras ditas naquele dia primeiro da ilusão bem perto do meu e de seu corpo de coitado que tremia? Ela nunca te prometeu nada, sonhador ingênuo e puro. Tolo de venda de interior…não é esse o retrato que tem de fazer de vocês dois, o retrato dos sentimentos e adjetivos sem objetivos, só a insanidade te redime? O resto são palavras ejaculadas de sua mente doentia, e amarga, agora, como essas: a beleza não é a mesma coisa que a sabedoria. A beleza nunca foi a virtude. A beleza, a virtude e a sabedoria podem andar juntas. Não em você. Não cotidianamente. Mas eu não sabia disto e nem queria saber. E hoje também não interessa. O que interessa? O que interessa é que hoje sei disso. Sei? E nada mais importa. Anoiteceu de repente como se amanhecesse, só que não tinha nenhum galo para me avisar. Ainda que eu fosse surdo. Mas se o galo cantasse no crepúsculo eu não saberia. Outro dia, ou melhor,  outra tarde, conversei com você:  trabalhando,  fazendo um pouquinho de cada coisa.  Mulher proletária: cuida da prole, lê livros, malha e sonha… ainda sou seu sonho ou seu pesadelo?  Fui algum desses? Te visualizei: o velho, doce e demorado sorriso.  O sorriso de monalisa? Curva de rua – no oeste duma encruzilha imperfeita onde a demônia apareceu ao meio dia.. linda e saudável como uma manga madura depois da chuva. “Bom dia, senhora!” “Oi, tudo bem?” O velho infantil e insano e “indiota” voltou a atacar como um germano:  se você não “desconvidar”  vou contar tudo… (por que faço essas coisas com você? Farei com outra? Fiz!) Alô?  Você estava tão linda!  Só isso…. Na rua (…) A mudança – a rua agora ficou deserta….o meu deserto cotidiano… O signo, os copos as roseiras. (assassinadas com sal e ódio e dor – dor – dor). E o fim começa no inicio.  E nada tem fim. Só o amor. Este acaba? Lembre-se de heloísa,  marília, diadorim, olga, helena, beatriz, julieta, laura. E tu! E ela estava ali, linda como sempre tecendo mantos que não lhes pertenciam, a Penélope dos sábados endoidecidos….te dei um abraço abismal cheirei seus  cabelos de leoa e desapareci como um tuaregue despido no escaldante deserto da roça…As mulheres reais e fictícias que não ficaram com quem as amava…E os pobrezinhos dos homens que ficaram sem suas mulheres, por incompetência, por não saberem amar (como disse o poeta O.A), e pelo destino. O destino manda no amor e no ódio? Só assim existe o amor e o ódio? E os seus homens solitários que vagam sozinhos no meio de outras mulheres. No meio da multidão…no meio do nada. Outras mulheres trilharam minha trilha sinuosa e sem destino. Não tenho mapa de nada. Não quero chegar a lugar nenhum. Caminho trôpego na noite do dia. o único sol é o saber que você está viva. Não interessa com quem nem onde. A beleza só existe nos seus olhos. Na sua voz no seu sorriso transformado em pétalas ardentes. Seu corpo, prisão de meus sentidos. Desiderato de meus sonhos obscuros. Mas não te amo nem te desejo, apenas te respiro sufocado pelo excesso de vida que exalas. És a última brisa no escaldante vendaval gerado no oeste do mundo. Sim sou ingrato com as outras. Sempre fui. Última flor da estação que não cai e não deixa o ciclo do fruto se completar. Suponho que seu sabor só se compara ao da jabuticaba numa manhã fresca após a chuva. Frágil e doce fruta tropical. Mas exalas como um ananás ao sol. Mas por que tens os espinhos do silêncio? Talvez seja isso a força telúrica da simbiose eu/você…que nunca se completará..além da verdade a única coisa que me aprisiona a ti em cadeias de diamantes é o meu passado. O nosso passado. Que passou…Mas se o corpo é  prisioneiro minha imaginação é livre e imensa, quase tão imensa como a minha vontade de não te esquecer. Como se isso fosse possível…mas está sendo possível – ou quase. Existe um filme interessante: Crossroad (encruzilhada), onde um cara vende sua alma para o capeta para aprender a tocar o seu instrumento. nos encontramos em uma “crossroad” ensolarada, no meio da tarde, infelizmente minha alma não existe mais, nem para catirar…mas que você estava no ponto, estava …de certa forma eu sou também uma espécie de cineasta, um Spielberg do arrabalde. Vivo numa irrealidade cotidiana e filmo tudo. filmo minha vida e a vida dos outros. poesia, o cinema é poesia. mas também é drama. tragédia. traições. mentiras. as doces mentiras. os melhores filmes são os dramas onde o pano de fundo é o amor que sempre acaba num vácuo de lágrimas e frustações. a empatia é que embala esses dramalhões imperdíveis. mas não existe amor sem desejo, ainda que o desejo não seja realizado ele é e continua sendo a coisa mais importante: cria a esperança e o desespero. mas o mais importante mesmo é a vida que é filmada. as vidas, as cozinhas, os comércios, as trapaças, os tráficos de tudo. as coisas liquidas e viscosas, a lágrima, o esperma, a baba, o menstruo aromático e repulsivo, o álcool. por incrível que pareça as coisas mais sólidas são liquidas. às vezes à noite, penso que as noites são fluidas como uma película histórica. mas ao contrário de Spielberg, eu vivo os meus filmes com toda verve de meu mísero ser. mas vivo com tamanha insanidade que às vezes tenho medo de exibi-los novamente. filmo como se a máquina estivesse ligada em um controle remoto que não pode ser desligado. num moto contínuo, sôfrego. este filme começou, por coincidência em maio…ps. você não é cineasta. é uma atriz, mas não é qualquer uma. é uma musa síntese de todas, desde Vivien Leigh, passando por Bette Davis até Monica Bellucci até chegar a Kate Winslet. você é uma síntese de todas as divas. Mas se ninguém prestar muita atenção…a história acaba. O filme não concorre ao Oscar. E aí, só restarão seus homens solitários e abandonados por ti que vagam sozinhos no meio de outras mulheres, figurantes. No meio da multidão…no meio do nada. E o filme acaba. The end.

    200…

    José Eduardo de Oliveira  – Tôca

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