Retrato do inclame brasileiro como protótipo de nazista, por Sebastião Nunes

Image de porco em estilo caligrama

Retrato do inclame brasileiro como protótipo de nazista

por Sebastião Nunes

Desde que começou sua lenta, barulhenta e constante INvolução – ao lado de baratas, gafanhotos, pernilongos, carrapatos, pulgas, chatos e piolhos – rumo ao domínio da Terra e talvez futuramente de todo o Universo conhecido, a classe média ainda não merecera um estudo sério sobre suas peculiaridades, ou seja: classificação biológica, comportamento individual e grupal, gostos, motivações, habitats e interesses.

No entanto, tal estudo se fazia necessário, urgente e inadiável, uma vez que, conforme pesquisas recentes do famoso MIT (Massachusetts Institute of Technology), sua origem data de pelo menos um milhão de anos, quando, por um desses acasos inexplicáveis, os primeiros exemplares desse ser de exceção se originaram do cruzamento altamente improvável de cigarras com formigas. Aliás, para a filosofia econômica, a economia política ou a política filosófica; para a ética darwiniana, a biologia marxista ou a estética carrolliana, tanto faz se a classe média resultou do cruzamento da cigarra com a formiga ou do camaleão com o griloto, por sua vez cruzamento do grilo com o gafanhoto.

Quanto ao Brasil, país que nos interessa no momento, os InClaMes (indivíduos da classe média predadora e egoísta) constituem a maioria dos habitantes do Sudeste, do Centro-Oeste e do Sul.

 

CONCEITOS REVOLUCIONÁRIOS

Como estamos adotando neste trabalho conceitos bastante revolucionários, que participarão doravante tanto da linguagem científica quanto do vocabulário comum, é preciso que essa nova e profunda terminologia seja explicitada desde já. Assim, o termo InClaMe, ou simplesmente inclame, passa a designar qualquer indivíduo de classe média, conforme explicitado no preâmbulo. Para mulheres inclames teremos buclame; para homens, penclame; para crianças em geral, criclame; para meninas, ninclame e, para meninos, chaclame.

Em breve estes termos deverão substituir os tradicionais conceitos burguês, pequeno-burguês, operário, camponês e proletário; povo, povão, galera e massa; classes A, B1, B2, B3, C, D etc. Não se trata, como pode parecer, de terminologia inocente, mas resultado de rigorosa análise das transformações sociais geradas modernamente pela TV Globo, e de como rapidamente ela vai transformando todos os indivíduos de todas as classes numa coisa só, pegajosa, amorfa e inodora.

Dessa forma, as castas brasileiras modernas (e casta parece ser o termo exato para designar os novos extratos sociais, pela sua rigorosa correspondência significante-significado) ficariam reduzidas a apenas três: panderosos, inclames e mauseráveis, sendo que ampla maioria do Sudeste, do Centro-Oeste e do Sul (em torno de 75% já nos dias atuais) é constituída de inclames, restando 1% para os panderosos (os que podem tudo) e 24% para os socialmente excluídos, ou seja, os mauseráveis, categoria que inclui os absolutamente pobres, os chamados marginais ou bandidos, os miseráveis de todas as condições e mesmo os considerados artistas não globais, se é que os artistas globais podem ser considerados artistas, dada a sua infinita mediocridade.

O tempo, com sua infinita sabedoria, mostrará se os inclames brasileiros do Sudeste, do Centro-Oeste e do Sul chegarão a 99,999999%, o que não é improvável, ou melhor, é bastante provável e quase rigorosamente previsível, desde que a TV Globo consiga persuadir os mauseráveis de que é melhor tornar-se inclame do que continuar, de um lado, apanhando da polícia e dos grupos fascistoides e, do outro lado, pedindo esmolas a órgãos públicos e aos próprios inclames, sempre abonados.

O verbo correspondente, inclamar (que será o verbo mais usado em todos os estados do Sudeste, do Centro-Oeste e do Sul brasileiros), deverá ser conjugado, no presente do indicativo, assim: inclamo, inclamas, inclama, inclamamos, inclamais, inclamam, embora vários utopistas tenham já principado inútil movimento para que jamais seja declamado. Não existe futuro em qualquer de suas formas.

Para encerrar, devemos definir com rigor absoluto a nova terminologia.

01) PENclame vem de pênis + inclame e é o inclame adulto macho.

02) BUclame, derivação óbvia de buceta + inclame, permite a variante BOclame, de boca ou boceta (forma arcaica para designar o triângulo mágico feminil e também certa caixinha antiga onde se guardavam pós variegados, inclusive ópio, haxixe, cocaína e rapé) + inclame.

03) CRIclame nasceu de cricri + criança inclame, já que toda criança de classe média é por natureza cricri.

04) NINclame forma-se de ninfeta inclame (garota inclame entre oito e 13 anos, na terminologia de Wladimir Nabokov) + inclame.

05) Finalmente, CHAclame (pré-inclame, ou inclame desinforme que ainda não procria) resulta de adolescente chato + inclame.

Resta lembrar que, desde os primórdios da colonização, o Brasil demonstrou sólida e inarredável vocação para a inclamidade, vocação que se acentuou com a Casa-Grande, as concentrações brancas de Sudeste, Centro-Oeste e Sul e, desde a segunda metade do século XX, com a fermentação da TV Globo, relegando pretos, pardos e pobres à condição de sub-humanos, ou seja, de mauseráveis.

Sebastiao Nunes

1 Comentário

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  1. Um post do Sebastião vale por

    Um post do Sebastião vale por um livro dos bons. Denunciar sempre a máquina de produção de zumbis em massa (Globo) é dever dos que desejam uma sociedade menos desigual.

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