Tanto de meu estado me acho incerto, por Luís Vaz de Camões

Enviado por Gilberto Cruvinel

Tanto de meu estado me acho incerto, 
que em vivo ardor tremendo estou de frio; 
sem causa, juntamente choro e rio, 
o mundo todo abarco e nada aperto.

.

É tudo quanto sinto, um desconcerto;

da alma um fogo me sai, da vista um rio;
agora espero, agora desconfio, 
agora desvario, agora acerto.

.

Estando em terra, chego ao Céu voando, 

num’hora acho mil anos, e é de jeito
que em mil anos não posso achar um’ hora.

.

Se me pergunta alguém porque assim ando, 

respondo que não sei; porém suspeito
que só porque vos vi, minha Senhora.
.

………………………………………………………………………………..

Luís de Camões CAMÕES, L. Sonetos de Camões. São Paulo: Ateliê Editorial, 1998.

 
Cristina diz “Tanto do meu estado me acho incerto”
 
https://www.youtube.com/watch?v=sJp47Sbzso4

 

Redação

4 Comentários

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  1. Tanto de meu estado me acho incerto, por Luiz Vaz de Camões

    O Princípio da Incerteza de Heisenberg parece que se embebebeu do soneto de nosso vate mor!

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