Tempo: valioso e essencial

Por Eliana Rezende

Não contem a ninguém: mas hoje faço Aniversário.

É a passagem do Velho Senhor dos Tempos em mais uma ronda. Alcança-me os anos e mostra-me a conta dos meus dias.

Penso sobre tudo e concluo que a vida é mesmo sábia. Nos dá os anos para que não vivamos tudo de uma só vez. Viver, portanto, é ter a paciência para moldar um espírito inteiro!

Olhando para frente, e para trás, parece-me que tenho muito menos a viver do que já vivi. Eles passam e ganhamos certas coisas, na exata medida que outras se vão.

É a Lei das compensações: 

 

Aos 18 meses de idade 

Se a pele perde viço, os pensamentos ganham razão. Os bons argumentos se fazem desta.

Se o tônus do corpo se perde a mente e as ideias ganham contornos e robustez. Sabem que precisam ser edificadas fortes para que firmes se sustentem.

Se o corpo pode falar, o silêncio ao lado da escuta pode ser bom conselheiro. Descobre-se o verdadeiro sentido de se ter dois ouvidos e apenas uma boca: é preciso sempre ouvir mais do que falar.

 

Se as paixões não são avassaladoras, há o terno calor do amor companheiro que aquece e segue por onde quer que possamos ir.

 

Se os olhos precisam de óculos, a perspicácia ganha agudeza. Enxerga-se adiante num futuro que ainda é esboço, nas entrelinhas de gestos, de não ditos.

Descobrimos que em toda nossa trilha, com tantas idas e vindas, cada um de nossos dias foi vivido em nossa exclusiva companhia. O Tempo nos faz solidários e generosos com o que somos. Estaremos juntos até a última de nossas respirações. Assim nada de animosidades, rancores, maus sentimentos. O maior de todos os amores deve ser gentil, suave e sem culpas ou arrependimentos: é de nós para nós mesmos.

 

Substituem-se sonhos por realizações. Na ronda do Tempo percebemos o que fomos e o que nos tornamos e como a alquimia dos sonhos transformou nossas vidas, materializou projetos, redimensionou ideais. Criou pontes entre passado, presente e futuro.

Tudo em perfeita sincronia para que os anos nos cheguem e tenhamos o que barganhar.

Muito interessante e sábio.

 

Do outro, e até porque os anos passam e o saldo tende a diminuir rapidamente, não temos tempo a perder. O Tempo nos faz saber que correr para enriquecer é o remédio para todas as doenças. E que o lucro obtido será gasto para comprar a cura das doenças acumuladas pelo estresse, noites mal dormidas, trânsito pesado, reuniões intermináveis.

Não se lucra quando se subtrai.

 

O Tempo é valioso e essencial, tece-nos a trama de quem somos, nos dá memórias e vinca nossa identidade pelas eras e pelos espaços por onde trafegamos, portanto:

 

Não há Tempo para se perder com a fogueira de vaidades e com coisas sem importância.

… . É sim, Tempo para cultivar generosidades;

Não há Tempo para se ocupar de existências alheias.

… . É sim, Tempo de colher o que se plantou;

Não há Tempo para discussões sem proveito ou lutas insanas.

… . É sim, Tempo das almas maduras que buscam apenas o essencial;

Não há Tempo para perder com invejas, fúrias, preconceitos, mesquinharias (físicas ou espirituais)

… . É sim, Tempo de sedimentar o que de fato foi construído;

Não há Tempo para desejos de vingança ou ganâncias.

… . É sim, Tempo de perpetuar para não esquecer nossa brevidade no lapso tempo/espaço;

Não há Tempo para disputas, melindres ou guerras de egos e poder.

… . É sim, Tempo para alargar o espírito.

 

Enfim, não há Tempo para mediocridades e posses. Não servirão de nada para o lugar que iremos!

 

Talvez o caminho ao final seja de novo inverso: nascemos sem nada (física, mental, material, espiritualmente) e deveríamos, se aprendemos algo do Tempo, levar de volta um espírito alargado.

 

Se ao nascer começamos a morrer, olhando-se de lá para cá, talvez ao morrer começamos a nascer daqui para lá.

 

Sigo pensando que quero que meus anos passem, para que ao final possa dizer no meu Testamento:

 

Não deixo bens…

Não acumulei nem construí nada que possa ser roubado ou destruído.

Não possuo nada de valor material para ser perdido.

Não tenho nada que possa ser penhorado, trocado, vendido

 

Tenho apenas: 

Voltas que dei pelo mundo

Encontros delas resultados;

Amores vividos, 

Caminhos compartilhados,

Escolhas e mudanças de rumos e rotas

Paisagens que vi pelas janelas, em todos meus deslocamentos.

 

Culturas que conheci

Templos que entrei

Arquiteturas que vi

Pontes que atravessei

Muralhas que adentrei

Ruas por onde andei;

 

Mares que naveguei

Odores e sabores que experimentei

Pores-do-sol dourados que assisti

Amanheceres de luz que vi

Gotas de chuva caídas em dias quentes de verão

Luas de prata e douradas suspensas com meus pensamentos distantes

Tons de outono

Sombras frondosas e folhas em matizes sépia

Horizontes cor de esmeralda

Céus estrelados de dois hemisférios;

 

Sons que escutei

Brisas que senti

Músicas que dancei

Brindes que fiz

Vinhos que amei

Livros que li;

 

Vistas de sonhos sendo construídos

Quadros e esculturas que apreciei

Pensamentos que arquitetei

Linhas que escrevi

Tramas que teci

Ligações que estabeleci

Sorrisos que distribui;

 

Desculpem-me todos…

Os erros que cometi.

Não tive tempo de acumular artigos

 

Estive todo tempo ocupada em Viver!…

 

(Por: Eliana Rezende)

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Publicado originalmente no Blog Pensados a Tinta

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Redação

21 Comentários

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  1. feliz aniversário para esse

    feliz aniversário para esse tempo de constrrução e de transfromação…

    isso deve orgulhar….

    Assim, o tempo não nos humihará…

    1. feliz aniversário para esse

      Ol@ Altamiro…

      É como digo no post.. o Tempo faz sua ronda e se aprendermos direito sairemos com o espírito mais alargado. 

      É preciso saber lidar este este antigo Senhor dos Dias e aprender com o tempo que nos concede. 

      Abs e obrigada

      : )

      Eliana

  2. Para Eliana
     “Que surpresa alegre
    Você vir chegando ao nascer do sol
    Bons ventos lhe trouxe
    Que não mais te leve
    Num triste arrebol
    Já faz tanto tempo
    Que eu não esperava o teu regressar
    A surpresa é grande
    Mas sempre bem vinda, pode entrar
    Se agora voltou o passado ficou
    Bem distante pra trás, pra trás
    E um novo arrebol revelou-se
    Desvendou-se, nasceu
    Que surpresa alegre
    Bem vinda, amada…” A emoção de Dominguinhos que nos enche o peito. [video:http://youtu.be/KbYuKdYmxFw?list=PLAAcIY32a9KZ4QTdUaqANW_R-t-luIIR1%5D

  3. Lembrei desse artigo

    Para todos

    A filosofia e o consolo do tempo

     

    O pensamento de Bergson indica um sentido para nos libertarmos da ditadura do tempo

    Débora Morato Pinto

    O filósofo francês Henri Bergson dedicou-se, ao longo de sua vida, a tentar compreender o tempo real. Sua principal descoberta, princípio de todas as suas análises e de suas maiores contribuições para a filosofia e para a ciência, foi precisamente o erro estrutural que o saber comete ao definir o tempo como um fenômeno linear e quantificável. Em poucas palavras, sua intuição primeira foi a de que o tempo do relógio e da cronologia, tão caro à nossa vida em sua dimensão prática, não corresponde à verdadeira manifestação da temporalidade, nem à sua verdadeira essência – o tempo da práxis é duração em refração no espaço. Trata-se da ilusão que impulsiona a vida e a técnica, a imagem de um tempo que avança por saltos, intervalos, que se desdobra em linha e se divide em um antes, um agora e um depois.

    Mas Bergson não se limitou a essa descoberta. A contrapartida da denúncia da imagem ilusória de um tempo que, ao fim e ao cabo, é tempo-espaço, é a intuição de que a essência da temporalidade se manifesta no mais profundo de nós mesmos. Eis a sua famosa tese da duração real, descoberta na interioridade do eu e ampliada para todos os fenômenos após um minucioso trabalho de desconstrução de conceitos e acesso à experiência, aos dados da sensibilidade e aos fenômenos da memória e da vida. Interessa-nos aqui que a duração real, verdade do tempo e do ser, nos é acessível no contato que podemos ter conosco, ao mergulharmos, num processo de interiorização, na profundidade de nossa pessoa. Ali, a temporalidade manifesta-se como fusão de momentos em progressão, pura heterogeneidade qualitativa marcada por um tom, transformação contínua de momentos interiores uns aos outros. A verdadeira manifestação do tempo dá-se por imagens, entre as quais a da melodia ocupa lugar de honra. Em lugar da espacialidade e do horizonte aberto próprio às imagens visuais, a música representa melhor a verdade do tempo.

    “Cronos ensandecido”

    Se levarmos em consideração que o tempo da cronologia e do relógio é, com efeito, o tempo elaborado e seguido pela vida contemporânea em sua dimensão social e, sobretudo, em sua dimensão técnica – não sabemos mais dizer onde termina o humano e onde começa o inumano, seja como ramificações tecnológicas, seja como atuações num mundo que é publicização e imagem –, a filosofia de Bergson, uma vez compreendida e incorporada, seria um consolo para os males do tempo por si só. Imaginemos o alívio trazido pela descoberta de que o tempo que não para de passar, corroer, aumentar, o time is money ao qual estamos submetidos inexoravelmente, o tempo atrás do qual estamos sempre correndo, que nos angustia, que nos devora, o cronos ensandecido (título do livro de Sérgio Pripas) que nos aflige e nos falta, enfim, que esse tempo do século 21 é uma imagem ilusória! Imagine sabermos, de repente, que o tempo não passa como pensamos, que o antes não condiciona o agora, que o agora não determina o depois, que não podemos saber o antes partindo do depois…

    Mas esse consolo aqui sugerido tem um preço: conhecer e aderir a uma única proposta filosófica, o que exigiria, além do enorme esforço para estudá-la, a difícil decisão de abrir mão das outras filosofias, de autores distintos, extremamente instigantes. Além disso, a duração verdadeira, uma vez acessível a nós, nos impõe, de si mesma, a tarefa de agirmos para expressá-la no mundo – a definição mesma de liberdade, segundo Bergson. Assim, a questão que queremos colocar à luz dessas considerações é de outra ordem: a filosofia, como atividade, ou aquilo que podemos, mesmo sob o risco de cometer alguma impropriedade, reunir sob o nome de “atividade filosófica” nos traz algum consolo diante das dificuldades ou das intempéries do tempo?

    A resposta mais óbvia seria, talvez, pensar na imagem do filósofo que sai fora do mundo, que se afasta do real, que cai no buraco porque anda examinando as estrelas – esse filósofo não viveria, no sentido mais comum do tempo, e por isso não sofreria… Ele estaria eternamente consolado. Mas Bergson mesmo nos indica outro sentido para nos libertarmos da ditadura do tempo, e que não exige o abandono da vida, o refúgio na ilha da abstração, no mundo dos conceitos. Esse sentido está no ritmo da atividade filosófica, assim como no da arte: ler um belo parágrafo de um clássico, que nos impele a dar voltas em torno dele, nos conduz a outros pensamentos, a novas imagens daquilo mesmo que determinávamos como pedaços do real; enfim, ler e escrever efetiva e ativamente sobre filosofia nos obriga a forçar nosso pensamento e nossa capacidade de criar soluções conceituais (criar conceitos, como diria Gilles Deleuze), significa já, em ato, libertar-se de um tempo dirigido, determinado por um fim, medido por um intervalo. Criar uma obra sem finalidade imediata, imprimir às coisas uma emoção, um sentimento, usar enfim a matéria do mundo para expressar nossa pessoa, sua profundidade que revela algo de universal, significa trazer ao tempo da práxis outro ritmo, outra tensão: imprimir na espacialização da vida social e tecnológica um ritmo que não é o seu. Significa, mais que tudo isso, ampliar o escopo de nossa experiência, que passa a incorporar os efeitos de uma interiorização criativa. Em que essa experiência nos consola? Ela acaba por ser, talvez, mais nossa, nos pertencer de forma mais autêntica e, por isso mesmo, ser mais humana. Se tudo isso ainda parecer excessivamente teórico, termina-ríamos dando um exemplo mais concreto: a filosofia é uma atividade praticada por estudantes e estudiosos, professores e mestres, diletantes, até crianças, mas o fato é que, ao poder ser significativamente exercida pelos ditos “velhos” (grandes filósofos da história produziram obras das mais relevantes em idade “avançada”), ela nos liberta de uma das mais difíceis imposições do tempo – a da busca de uma juventude eterna, do tempo perdido. Na filosofia, assim como na arte, o tempo nunca se perde, ele só se cria ou se transforma.

    1. Parabéns, muitas felicidades

      Ol@ Nilva…

      Obrigadíssimo pelos votos!!!!

      E obrigada por ser leitora: fico muiot feliz qdo minhas tintas alcnaçam as pessoas. 

      Beijão recebido!

      Abs

      : )

      Eliana

       

  4. Tempo

    O Tempo, de Mário Quintana

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=473CuobszBc%5D

    Poesia do Tempo, de Viviane Mosé

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=efiJ0XFfrYY%5D

    A Liturgia do Tempo, pelo padre Fábio de Melo 
     
    [video:https://www.youtube.com/watch?v=NNBdJ7crU2M%5D

    Tempo rei, de Gilberto Gil

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=7s0yAJA8AnA%5D

    Oração ao tempo, de Caetano Veloso

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=JBdG76y5Ibk%5D
     
    Tiempo sin tiempo, de Mario Benedetti

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=Z7BofQvwiDk%5D

    1. Tempo…

      Ol@ Almeida….

      De novo muuuuito obirgada, ou melhor: 6 X Obrigad@!!!!

      Grata pela atenção, a diversidade e ter dado teu bem mais precioso: o Teu Tempo!

      Abs

      : )

      Eliana

       

    1. Parabéns Eliana

      Ol@ Peregrino…

      Rs,rsrsrrsrssr….

      Em verdade faço aniversário em 28 de Janeiro. 

      Demorei uns dias para publicar aqui e o Nassif demorou outros tantos para colocar minha postagem do Blog no Carrossel principal. ahahhahahhaha Não há problema, pq aniversário é bom e ete é meu cinquentenário. Portanto, é um ano de comemoração. 

      No blog o post está com a data certa. 

      Mas Parabéns para vc no teu dia de aniversário. Somos aquarianos na mesma!

      Abs e felicidades….

      : )

      Eliana

    1. Parabéns

      Ol@ Vergetti…

      Muito grat@!

      Foi um post que saiu literalmente do fundo da alma e quis ser um brinde para compartilhar com todos. 

      Abs e fico muito feliz que tenha te tocado

      Tim-Tim!!!!!

      : )

      Eliana

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