Um poema de Kaváfis

Enviado por Jota A. Botelho

Um poema de Konstantinos Kaváfis – Ítaca (1911)

https://www.youtube.com/watch?v=EXfyov4jrac align:center

ÍTACA

Quando partires em viagem para Ítaca
faz votos para que seja longo o caminho,
pleno de aventuras, pleno de conhecimentos.
Os Lestrigões e os Ciclopes,
o feroz Poseidon, não os temas,
tais seres em teu caminho jamais encontrarás,
se teu pensamento é elevado, se rara
emoção aflora teu espírito e teu corpo.
Os Lestrigões e os Ciclopes,
o irascível Poseidon, não os encontrarás,
se não os levas em tua alma,
se tua alma não os ergue diante de ti.

Faz votos de que seja longo o caminho.
Que numerosas sejam as manhãs estivais,
nas quais, com que prazer, com que alegria,
entrarás em portos vistos pela primeira vez;
pára em mercados fenícios
e adquire as belas mercadorias,
nácares e corais, âmbares e ébanos
e perfumes voluptuosos de toda espécie,
e a maior quantidade possível de voluptuosos perfumes;
vai a numerosas cidades egípcias,
aprende, aprende sem cessar dos instruídos.

Guarda sempre Ítaca em teu pensamento.
É teu destino aí chegar.
Mas não apresses absolutamente tua viagem.
É melhor que dure muitos anos
e que, já velho, ancores na ilha,
rico com tudo que ganhaste no caminho,
sem esperar que Ítaca te dê riqueza.
Ítaca deu-te a bela viagem.
Sem ela não te porias a caminho.
Nada mais tem a dar-te.

Embora a encontres pobre, Ítaca não te enganou.
Sábio assim como te tornaste, com tanta experiência,
já deves ter compreendido o que significam as Ítacas.


Tradução de Ísis Borges da Fonseca, do livro “Poemas de K. Kaváfis”, Odysseus Editora, 2006, edição bilíngue, poema 31.ÍTACA, págs. 101 a 104.
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Jota Botelho

5 Comentários

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  1. Káfavis é, entre os poetas

    Káfavis é, entre os poetas não devidamente reconhecidos, o que mais gosto. Tenho um livro com 80 poemas [ um pouco mais da metade dos 154 poemas que ele fez durante toda a sua vida] na tradução de José Paulo Paes – fora uma introdução belíssima à vida e obra do poeta grego. Gostei dessa tradução de Isís Borges da Fonseca, mas a de Paes me chega ao coração – talvez pelo fato de Paes também ter sido um poeta muito bom.  Se eu tivesse que levar dois poemas dele pruma arca de noé 2.0 [rs], levaria À espera dos Bárbaros e Muros. 

  2. Às vezes nos tornamos reféns dos outros,

    … pois esquecemos  de ouvir a voz do nosso coração. É disso que o poema fala.

    Dizer e expressar o que se está sentindo, pensando e se comunicando. Analisar essas diferentes formas desse dizer, montar o seu quebra-cabeça que interliga a biografia existencial, e o modo como se realiza as escolhas no mundo, esta analise revela suas possibilidades e limites no seu modo de se relacionar no mundo com os outros. É um processo de reaprender a ver a vida novamente, despindo-se do senso comum e resgatando o seu modo autentico de ser. Esta atitude de reaprender a ver o mundo, reflete a parceria entre pessoas, a relação de reciprocidade que impele a troca, ao diálogo com pares idênticos do ponto de vista humano. Neste modo o “reaprender” redimensiona algumas ações: a de humildade de limitação do próprio saber; atitude de perplexidade ante a possibilidade de desvendar novos saberes; atitude de desafio diante do novo; desafio de redimensionar o passado; atitude de envolvimento e comprometimento com o projeto que motivou a pessoa a esse processo. O compromisso  é construir sempre da melhor forma o grande encontro consigo na relação com o seu vivido. Enfim, uma nova releitura da própria vida, pois o mundo nem sempre é o que se pensa, mas sim o que se vive e o que se percebe.

    (baseado em : http://www.psicoethos.com.br/si/site/0402/p/O%20que%20%C3%A9%20Fenomenologia ) pois O processo psicoterapêutico do texto original, é uma das formas desse dizer e expressar o que se está sentindo, podemos inventar a nossa própria forma.

  3. J. A. Botelho

    Muito lindo o poema escolhido. Fiquei “apaixonada”.

    Com os comentários da Meire e do Joel  Lima , o post ficou completo.

    Obrigado por nos presentear com ele.

    Abraços

  4. Uma lembrança sempre louvável e que vale a repetição

     

    Jota A. Botelho,

    Por sugestão de JNS, há aqui no blog de Luis Nassif um post muito bom com esse poema. O post intitulado “Ítaca, do Poeta Konstantinos Petrou Kavafis” de domingo, 29/02/2014 às 10:11, pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/itaca-do-poeta-konstantinos-petrou-kavafis

    Vale a pena ir lá porque tem muitos comentários e vídeos interessantes. Vou transcrever aqui um comentário que fiz lá e denominei “Belo poema” e enviei domingo, 09/02/2014 às 22:44, para JNS. Disse eu lá:

     – = – = – = – = – = – = – = – = – = – = – = – = – = – = – = – = – = – = – = – = – = – =

    “Jns,

    Valeu a chamada para este poema.

    Até recentemente, eu não conhecia o poema “Ítaca”. E o poeta Konstantinos Petrou Kavafis, eu só o conhecia em razão de alguma referência a poetas gregos.

    Em 2010, entretanto, eu vi uma referência ao poema no post “Concurso do IPEA” de quarta-feira, 06/05/2009, no blog de Na Prática a Teoria é Outra (Celso Rocha de Barros). O post “Concurso do IPEA” pode ser visto no seguinte endereço:

    http://napraticaateoriaeoutra.org/?p=3786

    No post “Concurso do IPEA”, Celso Rocha de Barros conta sobre a odisseia que acontecia a ele para que uma universidade brasileira pudesse reconhecer título de doutorado que ele fizera no estrangeiro. Quase no final do post “Concurso do IPEA”, Celso Rocha de Barros faz uma referência ao poema “Itaca” de Kaváfis.

    Um pouco depois, isto é, quase um ano depois, eu encontrei por sorte o post “Concurso do IPEA” e enviei um comentário. Em meu comentário, que é o de número #61, enviado segunda-feira, 08/03/2010 às 10:38 pm (para conseguir obter o número da ordem de envio do comentário e o horário em que o comentário foi enviado, é preciso que, no momento em que se abre o endereço, a abertura seja interrompida, clicando no x, evitando-se assim que se baixe o intensedebate), eu digo o que se segue:

    “Na Prática a Teoria é Outra,

    Legal, afável e prestimoso o comentário de And (#60) de 08/03/2010 às 01:31 pm, portanto, hoje, aqui para este post “Concurso do IPEA” de 06/05/2009, que já se aproxima de quase um ano.

    E o melhor, o elogio dele permitiu-me encontrar no seu post a referência ao poema “Ítaca”, e conhecer o poeta grego Konstantinos Kaváfis (1863-1933). Até então, o poeta e o poema eram-me desconhecidos. Lembrei-me de outro poema que talvez tivesse-lhe soado melhor há mais tempo ao chegar. É o poema de Joachim du Bellay “Heureux qui, comme Ulysse” (, a fait un beau voyage). Agora, após enfrentar a sua verdadeira odisséia, o poema de Konstantinos Kaváfis torna-se mais atual”.

    E o poema “Ítaca” fora transcrito por Celso Rocha de Barros em um post bem mais antigo dele intitulado “Kaváfis” de sexta-feira, 21/07/2006 e que pode ser visto no seguinte endereço:

    http://napraticaateoriaeoutra.org/?p=694

    Quanto ao poema “Heureux qui, comme Ulysse, a fait un beau Voyage”, ele pode ser visto no original e recitado no seguinte endereço:

    http://www.bacdefrancais.net/heureux-ulysse-du-bellay.php

    A leitura em francês parece ser mais feita por professor de adolescente. Não me pareceu haver a oratória de um intérprete. E deixo também indicada a tradução do poema de Joachim du Bellay para o português feito por Jorge Sena e que pode ser vista no endereço a seguir:

    http://www.lerjorgedesena.letras.ufrj.br/antologias/traducao/a-poesia-francesa-traduzida-por-js/

    Gosto muito do poema de Joachim du Bellay, mas o poema de Konstantinos Petrou Kavafis parece-me ter um caráter mais cosmopolita enquanto o de Joachim du Bellay ainda que tendo um caráter universal, mais transparece uma pequena homenagem às nossas pequenas cidades do interior.”

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    Bem, o blog de Celso Rocha de Barros (na maioria das vezes escrevo errado o nome dele), que desde o final de 2010 ficou em hibernação, em 2017 fechou definitivamente suas portas. O Blog era denominado e conhecido por “Na Prática a Teoria é Outra” e o Celso Rocha de Barros fazia os comentários dele na blogosfera com o nome de NPTO. Hoje escreve na nossa grande mídia.

    E mais uma vez cabe agradecer a você Jota A. Botelho. Sem dúvida foi muito bom você ter chamado atenção para esse poema e mais uma vez fica a recomendação de se ver os vários vídeos que foram disponibilizados no post anterior aqui no blog de Luis Nassif que mencionei e que trata do mesmo poema. Tanto este seu post como o outro originado de sugestão de JNS mostram o quanto a jornada do ser humano é enriquecedora e se se assemelha à jornada de Ulisses a Ítaca, de volta a sua terra nata, ela é muito mais cmpleta pois as Ítacas das jornadas humanas são infindáveis..

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 10/04/2017

     

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