Uma caverna sombria: um conto de luz, por Frederico Firmo

Por Frederico Firmo

Por noites seguidas se reuniram na escuridão da caverna. Do mundo apenas sombras, sem luz , sem lanterna, apenas as sombras.Reunidos de ponta cabeça, se lambem de forma protetora. Mas donos da escuridão, se incomodam com a luz que parece entrar em demasia.A luz distorce as sombras.

E o pior a Luz em demasia trouxe de fora outros seres.Seres odientos, sempre com a cabeça em pé, e já não são mais sombras. Ousam entrar e viver na Caverna. Já os conhecíamos, mas diferem das imagens projetadas pois tem cores, tem vida, tem canto e o pior, não temem a luz.

O alerta foi dado e com guinchos estridentes e farfalhar das asas tentaram calar aquele canto. Sem sucesso, tentaram expulsá-los com os seus excrementos. Falharam. Ah! como os odeiam . Mudaram de planos, senhores da escuridão os atraíram, e como se fosse possível fizeram da caverna o mundo. Com se fosse possível em nome da governabilidade, tentaram proibir a luz. Como se fosse possível, em nome da etiqueta, tentaram proibir o canto. Descobriram o poder do verbo, o poder das palavras, e urdiram o plano final, haveriam de expulsá-los. Mas palavras só tem poder se proferidas sob a luz. Apelaram para o único dono do holofote. Alguém que sabia criar as sombras. Alguém que dizia controlar a luz . Apenas sob a luz do holofote não iriam se fragmentar. Todos os dias, viam alguns dos seus projetados nas paredes. A luz do holofote não faria mal. Mas mal sabiam que os que se submetiam ao holofote já eram robôs, nada tinham por dentro, eram apenas simulacros, sem vida . Mas se sentiram fortes, afinal sob a luz do holofote, poderiam proferir a palavra, aquela que aniquilaria os outros. Um a um, rapidamente, sob a luz do holofote profeririam a palavra mágica. Este seria o último e tão sonhado ato.

Inventaram um rito, prepararam o altar, e no dia abriram pequena fresta por onde a luz

como um holofote iluminou o altar. Se aglomeraram , farfalhando suas asas. Numa agitação entre o medo e o gozo foram se aglomerando, se tocando se lambendo, cada um esperando sua vez.

E assim um a um se dirigiu ao altar, mas sob a luz , não se contiveram e guincharam mais do que a palavra mágica ,e em nome do pai, da família e das amantes , um a um sob a luz, se estilhaçou, derreteu, implodindo a caverna. 

Redação

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