Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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A Carne de Excrementos Humanos: o Resto e o Mal

 


 

A reciclagem universal de detritos passou a ser a nossa tarefa histórica onde a própria espécie humana passou a produzir-se a si própria como detrito e a levar a cabo em si mesma esse trabalho de dejeção. É o sintoma de um sistema que tenta extirpar o Mal ao reciclar os restos ao convertê-los em mercadorias. A ideologia de raciclagem é la pièce de résistance do discurso ecologicamente correto.

Peço desculpas aos leitores pelo tema tão desagradável neste humilde blog especializado em cinema, cultura pop e gnosticismo. Mas, acreditem, se usarmos o método de investigação do agente Kevin de “MIB – Homens de Preto” (discutido em postagem anterior – veja links abaixo) onde ele buscava a verdade sobre os extraterrestres em tabloides sensacionalistas, veremos que essa bizarra notícia é muito mais do que um fato pitoresco do mundo científico. Pelo caráter de artefato experimental é um sintoma do destino final do discurso ecológico, convertido agora em fundamentalismo tecnomístico.


Se no passado o discurso ecológico denunciava a poluição e a destruição do meio ambiente como efeitos da lógica reprodutiva e de exploração do capital, agora a agenda da necessidade de reciclagem dos restos produzidos pela civilização industrial e de consumo torna-se a pedra de toque de um reformismo ambientalista. Seu objetivo é não só o ideológico (as intenções altruístas e socialmente corretas do capital), mas, principalmente, a reciclagem econômica: transformar os “restos” em novas commodities  para o mercado.


Mas antes de tudo vamos à notícia. Segundo matéria da redação da revista “Galileu”, o cientista japonês Mitsuyuki Ikeda teria criado “uma terceira via para quem é vegetariano e não gosta de carne de soja: carne feita de excremento humano”.  Segundo Ikeda, o objetivo é que a carne seja comercializada regularmente e vire um produto disponível a todos.

E como ela é feita?

Ikeda pega placas de lodo do esgoto, que contêm muitas fezes humanas. Delas ele retira as proteínas e os lipídios, que passam por um processo intenso de calor no qual todas as bactérias vivas morrem. À mistura, é adicionado um intensificador de reação. Para que o produto final tenha gosto de carne, coloca-se proteína de soja e molho de carne (normal)”. (“Carne Feita de Fezes Humanas” disponível em: http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI241874-17770,00-CARNE+FEITA+DE+FEZES+HUMANAS.html)

 

O problema da fome mundial não é de 
produção mas da distribuição comandada 
pelas leis do mercado

 

O primeiro benefício da “carne” já é em si uma peça ideológica: “uma solução para a crise de alimentos global”. Crise de alimentos de quem cara pálida? Sabemos que o problema alimentar mundial não é de produção (as décadas de tecnologia agroindustrial potencialmente superaram a demanda mundial por alimentos), mas de distribuição (político): as leis do mercado não permitem a igualdade na distribuição de alimentos (superproduções são destruídas para se manter o valor de mercado determinado pela produção artificial da escassez).

Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

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