“A Guerra do Pré-sal”

Lendo o Editorial de Domingo do Estadão: “Efeitos do desastre” antecipo que nas entrelinhas  está delineada a próxima guerra: ” A guerra do Pré-sal” a ser levada a cabo pelos E.U.A ainda nesta década.

 

Efeitos do desastre

13 de junho de 2010 | 0h 00

– O Estado de S.Paulo

É falaciosa a afirmação de Eric Smith, diretor do Tulane Energy Institute, dos EUA, de que o Brasil vai sair lucrando com a recente decisão do governo da Noruega de suspender novas perfurações de petróleo no Mar do Norte e com a determinação do presidente Barack Obama de proibir, por prazo indefinido, novas explorações no Golfo do México e no Alasca. Acredita o executivo americano que, com menos demanda no mercado internacional por plataformas offshore, o preço dessas instalações vai cair e a entrega será mais rápida, apressando a exploração da camada do pré-sal, e daí o ganho do Brasil.

 

Smith não considerou outros custos da exploração que serão onerados em consequência do desastre. O problema é essencialmente ambiental, e terá um grande impacto nos custos da atividade de exploração em águas profundas. O vazamento da plataforma Deepwater Horizon, no Golfo do México, que, na melhor das hipóteses, só poderá ser contido em agosto, de acordo com as últimas previsões, justifica os temores que tomam conta dos EUA e que se estendem por outros países. Depois da decisão norueguesa, o governo britânico anunciou que não vai adotar uma moratória sobre sua operação de petróleo do Mar do Norte “por enquanto”, pelo menos.

O setor de petróleo está assustado e sabe que desastres ecológicos saem muito caro. Ainda não é possível avaliar quanto custará a tragédia do Golfo do México, cujo símbolo é o pelicano coberto pela água suja de petróleo. Bilhões de dólares deverão ser pagos em indenizações a proprietários de hotéis, agências de turismo, pescadores, empresas e moradores da região. Outros bilhões começam a ser consumidos na cobertura das despesas de limpeza, na mobilização da Guarda Costeira e outros serviços públicos. Certamente, decorrerão muitos anos até que o mar, os mangues, as praias e a vida marinha na costa de quatro Estados americanos possam retornar ao estado anterior à catástrofe.

A própria sobrevivência da BP, a antiga British Petroleum, está em jogo e já se especula que ela talvez seja absorvida por outra companhia de petróleo. As suas ações na Bolsa de Nova York caíram 41% desde o fim de abril. E o presidente Barack Obama, com ou sem razão, está sob ferrenho ataque por parte até de alguns de seus próprios partidários democratas. Ele disse recentemente que, se estivesse em seu poder, demitiria o presidente da operação americana da BP, Tony Hayward. Mas, por enquanto, “não sabe que traseiro deve chutar”.

A opinião pública internacional percebe que, se existe tecnologia para perfuração em águas profundas, ela é ainda muito deficiente para enfrentar desastres como o do Golfo do México. E essa constatação afeta diretamente a Petrobrás. A estatal brasileira vai ter que despender alguns bilhões para extrair petróleo não a 1.500 metros de profundidade, como no Golfo do México, mas a 7 mil metros ou mais. E a Petrobrás não pode ignorar os riscos de desastres. Evidentemente, terá de gastar muito dinheiro para se prevenir e prevenir o País contra essa catastrófica eventualidade.

Falando com franqueza, o ministro de Energia da Noruega, Terje Riis-Johansen, afirmou que novas autorizações para exploração de petróleo na área de seu país no Mar do Norte só serão concedidas “tendo em vista o que tivermos apurado no Golfo do México. Não é correto concedermos novas licenças em áreas de grande profundidade sem sabermos bem o que aconteceu com a Deepwater Horizon e o que isso implica quanto a novas normas”.

Nada pode ser mais recomendável. A exploração em águas profundas ficou mais complexa e implica maiores gastos, inclusive com a alta dos prêmios de seguros. Se vão sobrar plataformas no mercado internacional e se seus preços vão cair, é preciso entender que este é apenas um item do custo e que a segurança é de importância vital.

É óbvio que a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) tem de exercer, com a maior firmeza, sua ação reguladora e fiscalizadora e que a Petrobrás e as empresas que trabalham com plataformas offshore no Brasil terão de passar por um longo e custoso aprendizado. 

Redação

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