Aterro de Gramacho será reaproveitado para gerar biogás

Do Jornal da Globo

Aterro de Gramacho será reaproveitado ao gerar energia do lixo

Aterro na Baixada Fluminense teve atividades encerradas em junho de 2012. Empresa deve fornecer para refinaria 70 milhões de m³ de biogás por dia.

A equipe da Coluna Sustentável acompanhou com exclusividade o início da construção do único gasoduto do mundo ligando um aterro de lixo a uma refinaria de petróleo. É um desfecho nobre para uma história triste que maculou durante décadas um dos mais importantes ecossistemas do país.

O aterro de Gramacho, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, teve suas atividades encerradas em junho do ano passado, às vésperas da Rio + 20, a Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável. Para a Prefeitura, era questão de honra fechar o aterro antes que a cidade recebesse chefes de Estado do mundo inteiro para debater os rumos da sustentabilidade.

Aberto em 1978 como um lixão, Gramacho acolheu durante quase 35 anos todo o lixo do Rio de Janeiro e de outras cidades da região metropolitana em um lugar absolutamente inadequado para esse fim : um manguezal, às margens da Baía de Guanabara, ladeado por dois rios. Os impactos ambientais acumulados ao longo dos anos foram violentos.

Um exemplo simples do que estou dizendo: mesmo após o encerramento do aterro (que não vem recebendo resíduos há quase um ano), Gramacho ainda produz, a cada dia, 2 milhões de litros de chorume, um líquido preto e mal cheiroso resultante da decomposição da matéria orgânica do lixo.

À medida que avançava a consciência ambiental da população e a legislação se tornava mais rígida, a Prefeitura investia em benfeitorias no aterro para que fosse possível conter ou remediar a poluição gerada.  

Hoje, Gramacho hospeda uma empresa privada que investiu mais de R$ 250 milhões no local para poder explorar a energia do lixo, ou seja, o biogás resultante do mesmo processo de decomposição da matéria orgânica do lixo que resulta no aparecimento do chorume. 

Por contrato, a empresa se comprometeu a fornecer para a Refinaria Duque de Caxias (da Petrobras) 70 milhões de m³ de biogás por dia pelos próximos 15 anos. Esse volume de gás, que seria suficiente para abastecer todas as residências e todos os estabelecimentos comerciais do Estado do Rio, vai suprir 10% da demanda energética da Reduc.

O biogás será retirado com a ajuda de 300 poços (260 já foram instalados), que bombearão o combustível até uma estação de tratamento construída no próprio aterro. Ali, o gás será limpo, seco e bombeado através de um gasoduto de 6 km de extensão até a refinaria (pelo menos 1,2 km de tubulações passarão debaixo de áreas de mangue e rios). A operação será iniciada ainda neste primeiro semestre.

Ganha a Petrobras quando viabiliza a transformação de um gás de efeito estufa (o metano é entre 20 e 23 vezes mais danoso para a atmosfera do que o dióxido de carbono, ou C02) em energia, permitindo que um gigantesco volume de gás natural seja devolvido à rede de abastecimento. Ganha a empresa privada que opera o sistema por consolidar um novo horizonte de negócios, dando destinação inteligente ao biogás do lixo.

Em um país onde a produção monumental de lixo (algo em torno de 62 milhões de toneladas por ano) gera enormes impactos socioambientais, o gás do lixo é um insumo energético que merece mais atenção e investimentos. É bom para o meio ambiente, é bom para a economia.

Luis Nassif

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