Bloco de lama alegra carnaval em Mariana

 

 

Jornal GGN – Tudo está indo bem na tarde linda em frente a Igreja no centro de Mariana, a lama é simbólica e presente em criatividades nos bloquinhos. Mais de 30 mil pessoas circularam pelas ruas históricas da cidade num carnaval tranquilo e de expectativas superadas, de acordo com a prefeitura local (veja aqui e aqui). Mas às 16horas do dia cinco de fevereiro, toca-se a sirene. Alerta!

Não é lama, é memória. #UmMinutodeSirene é uma proposta que acontece na praça da Sé, em Mariana, Minas Gerais, todo quinto dia do mês. Toca-se por um minuto a sirene enquanto é lido os nomes das vinte pessoas que perderam suas vidas na tragédia [atualizado em 04/03 a partir de comentário abaixo] são distribuidas impressões de um jornal produzido por atingid@s. O jornal chama-se A Sirene. Aprecie o jornal aqui e atente-se, em suas últimas páginas, a publicação mapeia a distância entre os realocados num trabalho entitulado: “Juntos no Bento e em Paracatu, Separados em Mariana”. 

 

O turismo da cidade apostou este ano no carnaval, com fluxo prometido de 35 mil pessoas: desfiles, shows, rodas de samba e bloquinhos. “Vir nos prestigiar é uma forma de nos ajudar”, disse o secretário adjunto de Turismo José Luiz Papa à Agência Brasil (veja aqui). Mariana é uma prefeitura que carrega em seu orçamento os impostos advindos da mineração. “89% da arrecadação da cidade vem da mineração, sendo 33% proveniente da Samarco” relata o prefeito Duarte Júnior.

O evento Um Minuto de Sirene acontece todo dia 5 do mês. Esse ano, o carnaval chegou mais cedo e aconteceu simultaneamente ao evento. Neste dia cinco de fevereiro, o ato Um Minuto de Sirene agiu mais silenciosamente e, nas palavras de Kleverson Lima, montou mapas em grande escala de dois distritos de Mariana arrasados pelo rejeito: Bento Rodrigues e Paracatu.

Em reunião com parlamentares na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, no último dia 28, prefeitos pedem que a Samarco mantenha o pagamento do tributo, chamado Compensação Financeira pela Exploração dos Recursos Minerais (Cfem). Com as interrupções da extração mineral da empresa, neste mês acontece o depósito da última parcela do Cfem às prefeituras. Os prefeitos de Mariana, Congonhas, Ouro Preto, Paracatu, Catas Altas, entre outros, estão preocupados com a gestão orçamentária a partir de agora.

A tabela do Departamento Nacional de Produção Mineral (autarquia que administra o Cfem) indica receita mensal de R$5 milhões de reais advindos do imposto à cidade de Mariana. O debate central da reunião na Assembleia Legislativa foi a de se permitir ou não a retomada das operações da Samarco, veja mais aqui.

Usufruindo do turismo como alternativa de arrecadação, Mariana está alegre com o balanço positivo de seu carnaval 2016. Assista um registro audiovisual da folia na cidade:

https://www.youtube.com/watch?v=t6ELJnUNSbk width:700 height:394

Redação

5 Comentários

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  1. Um minuto de sirene?

    A ex-vereadora Aída sugeriu, numa das primeiras reuniões abertas na Praça da Sé, que a cada dia 05 se fizesse um minuto de silêncio no horário em que se deu o início da tragédia, mas não um minuto de barulho (eu estava presente na ocasião). Tive a sensação que também o arcebispo Dom Lírio acolheu com simpatia a ideia.

    Fico satisfeito em saber que a proposta encontrou adesão, se bem que à moda marianense… O silêncio denotaria mais introspecção, um respeito “religioso” pelas vítimas da tragédia. O carnaval já passou e precisamos é de reflexividade, não de excitação dos sentidos.

    Mas tá valendo.

     

  2. Pedro Garbellini. 
    A sua

    Pedro Garbellini. 

    A sua matéria apresentou uma informação equivocada sobre o ato #umminutodesirene, por isso gostaria de esclarecer alguns pontos sobre esse evento.

    1) A leitura dos nomes dos mortos e dos desaparecidos, que configurou o primeiro ato do coletivo #uminutodesirene, ocorreu no dia 05/12/2015, momento que marcou o primeiro mês da tragédia que se seguiu ao rompimento da Barragem da Samarco (Vale/BHP). Portanto, não foi no carnaval. 

    2) No segundo mês (05/01/2016), e aqui falo como um dos participantes da organização, o coletivo #umminutodesirene montou mapas em grande escala de dois distritos de Mariana arrasados pelo rejeito: Bento Rodrigues e Paracatu. A ideia do coletivo, como acabou ocorrendo, era que os moradores desses lugares, no ato de localizarem suas residências extintas, compartilhassem dois tipos de memórias: memórias sobre a vida social nesses espaços e memórias sobre o dia do desastre. Duas informações que julgávamos importantes para que pudéssemos compreender melhor algumas ambiguidades presentes nos discursos dos atingidos. Entre elas, a defesa da empresa responsável pela tragédia. Percebemos que diante desse quadro, enfiar um carro de som na rua e conclarmar a justiça terrena não seria uma estratégia muito inteligente, pois tenderia a espantar (em vez de atrair) a atenção daqueles que precisavam se organizar melhor para lutar por espaço e JUSTIÇA.

    3) Os dois primeiros atos do coletivo #umminutodesirene permitiram essa aproximação com os atingidos, ao ponto de lançarmos no terceiro ato (05/02/2016) um jornal (A Sirene), produzido em conjunto com parte dos ATINGIDOS e com a Arquidiocese de Mariana. A sua matéria, que entrelaça a ocorrência do carnaval, deveria falar sobre esse ato. Desejamos que A Sirene se transforme em um canal de comunicação com uma dupla função: A) estreitar os laços entre os próprios atingidos, já que as famílias estão dispersas nos bairros do Distrito Sede de Mariana; B) fundar um espaço para que eles tenham a possibilidade de enfretar outros problemas decorrentes da tragédia, como a transformação das vítimas em rés, e da ré em vítima.

    Gostaria de lhe convidar para assistir o quarto ato do coletivo #umminutodesirene que ocorrerá no próximo dia 05/03/2016. Nele haverá uma chuva de poemas de Guilherme Mansur, que serão derramados das torres da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, no coração da sede de Mariana. 

    Finalizo informando que nesses três atos estreitamos os laços com parte dos atingidos (tarefa que não foi fácil), com instituições, como a UFOP e a Arquidiocese, e com outros coletivos formados a partir dos impactos causados por esse acontecimento. Nos sentimos participantes e acreditamos que esse processo requer, sim, reflexão, mas também é importante colocar a mão na massa, tentar construir os problemas e as soluções junto com as vítimas. Porque, afinal, a praxis ainda é o terreno onde se percebe melhor se as ideias correspondem (ou não) aos fatos.   

         

  3. Comentando o comentário de Sérgio da Mata

    Sérgio da Mata.

    Li seu comentário e gostaria de apresentar três informações.

    1) Essa ideia surgiu dentro coletivo #umminutodesirene, ainda nas primeiras semanas do evento, quando ainda nos denominávamos como coletivo Bento Fala. Grupo que a ex-vereadora Aída Anacleto não faz parte (não haveria mal nenhum se ela tivesse sugerido o ato, mas não foi assim).

    2) Essa ideia surgiu pela proximidade da data que marcaria o primeiro mês do início dessa tragégia. A sirene, pensamos à época, serviria como uma metáfora para vários fins; lembrar a ausência desse dispositivo nas áreas em que as comunidades viviam; chamar a atenção para a cidadania; acordar a população local para o fato de que naquele momento, mais do que dizer se a empresa deveria ou não voltar a funcionar, o que interessava era aquela lista de mortos e desaparecidos que estava em nossas mãos. Ela materializava claramente que a tragédia deveria ser investigada e punida. Não foi um ato religioso, foi um ato político. Sem microfones, sem alguém gritando nos nossos ouvidos, sem um carro para poder amplificar todas as palavras de ordem possíveis. Mas foi um belo ato político.        

    3) A leitura da resposta que encaminhei para o Pedro Garbellini, autor dessa matéria para o GGN, lhe demonstrará que a leitura dos nomes das pessoas mortas e desaparecidas durante o primeiro ato que realizamos (05/12/2015) foi o início (não de atividades que buscaram excitar os sentidos), mas de um caminho original e batalhado dia-a-dia que nos levou onde era importante chegar: à conquista da confiança e do respeito (senão de todos, mas de parte) dos atingidos. Como disse, o caminho trilhado foi (e continua sendo) político. 

     

     

     

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