Compatibilizando energia e meio ambiente

Coluna Econômica

O Fórum de Debates “Energia Elétrica para o Século 21”, da série Brasilianas, trouxe algumas conclusões relevantes sobre o modelo elétrico brasileiro.

O primeiro, o ineditismo e o sucesso do modelo, baseado em leilões de longo prazo, graças à retomada do planejamento estratégico do setor, que foi abandonado na desregulamentação ocorrida nos anos 90.

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NonoNo novo modelo, uma agência pública – a EPE, Empresa de Planejamento Estratégico – estima a demanda de energia, com base nas projeções próprias e nas informações enviadas pelas distribuidoras. A partir daí, a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) monta leilões de venda de energia a longo prazo, definindo a composição da matriz energética. De posse dos contratos, os vitoriosos apresentam como garantia para a tomada de financiamento e dão início à construção dos projetos da energia oferecida.

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Em que pese o crescimento de energias alternativas, a hidrelétrica continua sendo a base da matriz energética brasileira.

Como explicou Maurício Tomalsquim, presidente da EPE, no Brasil, 45% da matriz energética é renovável; no mundo, apenas 13%; na OCDE (dos países mais industrializados), menos de 8%. A base da matriz brasileira é a cana-de-açúcar e a energia elétrica.

No mundo, a principal fonte de energia continua sendo o carvão, que responde por 41% da geração de energia; no Brasil, representa apenas 1,3%.

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O país tem o terceiro potencial hidrelétrico do mundo, depois da China e da Rússia. Até agora utilizou apenas 1/3 do seu potencial. No cálculo de Tomalsquim, devido às limitações ambientais, restariam 50% do potencial para ser explorado.

Já a China caminha para o rápido esgotamento de suas reservas. Em 2005, tinha explorado 25% do seu potencial; em 2010, já tinha explorado 1/3; em 2020 chegará a 50%.

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O grande desafio brasileiro será conciliar as exigências do meio ambiente com a necessidade de gerar energia para o desenvolvimento. 27% do bioma amazônico são de Unidades de Conservação (que devem ser preservadas), 24% de terras indígenas. As usinas existentes, mais aquelas planejadas para os próximos dez anos ocuparão menos de 1% do bioma.

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Com as novas exigências, segundo Tomalsquim, essas usinas serão vetores de preservação ambiental e de desenvolvimento sustentável da região. No caso de Belo Monte, entre suas incumbências está a de gerir o Programa Xingu Sustentável, com R$ 5,5 bilhões aplicados pelo consórcio e pela União para investimento social e ambiental. Terá por obrigação recompor as matas ciliares – devastadas nas décadas anteriores – investir na criação de duas áreas de conservação de florestas, e treinar os habitantes da região para empregos na própria usina.

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Outro aspecto, visando reduzir as áreas inundadas, foi o fim dos reservatórios a montante da usina. Há um preço a ser pago. Antes, os reservatórios garantiam 8 meses de seca sem interromper o fornecimento de energia. Com as novas condicionantes, garantirão cinco meses e meio.

A grande negociação será essa: abrir mão de perda da eficiência energética em benefício do meio ambiente e das populações indígenas. 

Luis Nassif

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