Marina Silva e o mercado financeiro

Do Valor

Mercado financeiro se desinteressa de Marina

Alex Ribeiro, de Washington
27/04/2010

A pré-candidata a Presidente da República Marina Silva ainda não desperta o interesse da comunidade financeira internacional. Ela esteve em Washington nos últimos três dias, quando acontecia o encontro de Primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial, que reúne banqueiros e investidores do mundo todo. Mas nenhum deles tomou a iniciativa de pedir para conversar com a senadora do PV.

Ontem pela manhã, em uma entrevista coletiva, Marina explicou que veio para uma viagem curta, cujos principais compromissos eram na área ambiental, como a comemoração do Dia da Terra e uma conversa com cineasta e ativista ambiental James Cameron.

Desde o início de sua campanha, afirmou, não houve nenhum contato com o mercado financeiro internacional. Mas a candidata deixou bem claro que não pretende mudar os pilares da política macroeconômica: superávits primários, câmbio flutuante e regime de metas de inflação.

“O Brasil trilhou um bom caminho e acho que isso deve ser mantido”, afirmou Marina. “O câmbio flutuante é uma conquista para o Brasil, diferentemente de outros países, como a Argentina.”

Marina discorda que o Brasil caminha para uma crise fiscal e cambial em 2011 ou 2012, como afirmou na sexta o deputado Ciro Gomes (PSB-CE). “É possível continuar no caminho virtuoso, desde que sem grandes aventuras na política econômica”, afirmou. “Obviamente, ele (Ciro) fez uma avaliação econômica para colocar um componente político.”

A visita de Marina a Washington coincidiu com a publicação, pela revista britânica “The Economist”, de um perfil seu. “Marina Silva está tentando compensar com a força da ética o que ela não tem em termos de máquina partidária”, afirma a revista, num artigo em geral positivo.

A senadora chegou no sábado e, no mesmo dia, reuniu-se com a diretora da agência de proteção ambiental americana, Lisa Jackson, e participou de um jantar com o ambientalista Thomas Lovejoy e empresários. No domingo, discursou na comemoração do Dia da Terra e reuniu-se com Cameron à noite.

O cineasta esteve no Brasil no início do mês para protestar contra a licitação da usina hidrelétrica de Belo Monte. Marina diz que a ação de Cameron não representa uma interferência em assuntos internos do Brasil. “Ele sempre foi muito respeitoso em relação ao Brasil”, afirmou. “Eu mesma estou aqui nos Estados Unidos afirmando que é bom que os americanos tenham uma lei do clima.”

Washington atraiu nesse fim de semana ministros de finanças e banqueiros centrais de vários países para participar de reuniões do G-20 e do FMI. Paralelamente, banqueiros e investidores fizeram seus próprios eventos para discutir temas econômicos e financeiros.

O assunto mais causou polêmica nas negociações do G-20 e do FMI foi uma proposta, defendida sobretudo pelo Reino Unido e Estados Unidos, para taxar bancos e, com isso, recuperar recursos que daqui por diante sejam gastos no resgate do sistema financeiro. O Brasil ficou contra.

Marina disse que ainda não tem opinião formada sobre o assunto. “Estamos avaliando”, disse. “O bom de não estar no governo é que dá tempo para pensar nas questões com mais cuidado, até porque não temos que dar respostas de bate-pronto para todos os problemas que estamos vivendo.”

Luis Nassif

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