O mercado da sustentabilidade

Do Brasilianas.org

Sustentabilidade é estratégia de mercado 

Por Lilian Milena

Bancos e empresas estão cada vez mais preocupados em atrelar suas marcas à sustentabilidade. A estimativa é que o comércio de produtos verdes cresça 20% ao ano. O Brasil, sendo detentor de 25% da biodiversidade do planeta, poderia aproveitar a tendência do mercado para tornar-se mais competitivo frente outras nações. A criação de um certificado para produtos e serviços “verdes”, de origem brasileira, é uma das ideias propostas. Acompanhe a matéria a seguir, e participe das discussões sobre o tema no Brasilianas.org. 

Sustentabilidade é estratégia de mercado

A opção pela sustentabilidade é estratégia de mercado. Segundo dados do Instituto Akatu, o comércio de produtos sustentáveis cresce 20% ao ano, em todo o mundo. A importância da biodiversidade para a economia foi o tema do “Fórum Biodiversidade e a Nova Economia”, que reuniu empresários, acadêmicos e representantes do governo na última quinta-feira (26 de agosto), em São Paulo

OgruOOO grupo concluiu que o Brasil deve aproveitar a tendência do mercado para tornar-se mais competitivo frente outras nações. O país detem 25% da biodiversidade do planeta, e ainda mantém 50% do seu território coberto por vegetação remanescente. Logo, o padrão de qualidade dos produtos nacionais poderá, nos próximos anos, ser atrelado à capacidade do país de manter suas reservas e, com isso, agregar valor aos seus produtos. Dentre as ideias levantadas no encontro está a de criar um certificado para produtos e serviços “verdes”, de origem brasileira.

Mas, antes de chegar a esse patamar, discute-se a necessidade de valorar e precificar a biodiversidade. Segundo a secretária de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Maria Cecília Wey de Brito, esse será um dos temas da próxima Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), agendada para outubro em Nagoya, no Japão.

A secretária adianta que não será fácil chegar a uma conclusão, pois existe um impasse ético que envolve o tema: “alguns países, em especial da região do Caribe, defendem que não se pode valorar a vida”, explicou. Essa posição defende que há diferença entre valor e preço quando o assunto é meio ambiente. Isso porque os valores da biodiversidade são considerados inegociáveis por se tratarem de processos e coisas ligados à vida, como natureza, saúde, relações pessoas e lazer.

José Eli da Veiga, economista e professor da Faculdade de Economia e Administração da USP, concorda que a biodiversidade não tem preço, mas diz que é possível chegar a um consenso sobre o uso das riquezas naturais, bem como estimar custo de áreas degradadas.

O papel da natureza na geração de riquezas pode ser mensurado tanto sobre os produtos decorrentes da exploração dos recursos naturais, quanto dos serviços que a biodiversidade presta para a vida das populações, como purificação da água e do ar.

O relatório Global Biodiversity Outlook (GBO), da Organização das Nações Unidas, por exemplo, estima que a perda anual de florestas tenha custado entre US$ 2 trilhões e US$ 5 trilhões. Em contrapartida, a pesquisa aponta que a preservação desses biomas requer investimentos anuais de apenas US$ 45 bilhões.

Já no relatório TEEB (“A economia dos ecossistemas da biodiversidade”, traduzido para o português), a PricewaterhouseCoopers conclui que os custos decorrentes dos impactos ambientais das empresas somam US$ 2,2 trilhões, todos os anos, no mundo. Em pesquisa anterior, divulgada em 2009, o TEEB havia apontado que os desmatamentos na Amazônia sejam responsáveis por perdas na ordem de US$ 44 trilhões ao ano.

Para calcular os valores em dólares, os autores desses estudos consideraram os serviços prestados pela natureza como a purificação da água e do ar, proteção de regiões litorâneas e manutenção da natureza para o ecoturismo.

Conferência das Partes em Nagoya

Diariamente 100 espécies entram em extinção no mundo. Ainda assim, os esforços das nações para a conservação da biodiversidade não estão na ordem do dia. Em 2002, quando realizada a 6º Conferência das Partes sobre Diversidade Biológica, em Haia, Holanda, os países signatários definiram metas a serem alcançadas até 2010, dentre elas: a redução da perda e degradação de habitats e proteção de pelo menos 10% das regiões ecológicas do planeta.

Nenhum país conseguiu alcançar os objetivos, faltando pouco mais de um mês para a próxima reunião, em Nagoya. Segundo a secretária Maria Cecília, apesar de não ter alcançado todas as suas metas, o Brasil avançou na criação de áreas de proteção permanente – o total de parques estabelecidos no país equivale a 75% da meta mundial de áreas protegidas que deveriam ser criadas.

Na conferência, o Brasil discutirá formas de garantir recursos para a proteção da biodiversidade. “Queremos mostrar quanto custa proteger a Amazônia e outras áreas protegidas dentro e fora do Brasil”, explicou Maria Cecília. O objetivo é chegar a um valor fechado para negociar ajuda financeira. “Sabemos que no Brasil esse custo [dos danos ambientais] é muito pouco ressarcido pelos cofres públicos. Para terem uma ideia, do ponto de vista federal, recebemos 25% do que se imagina necessário para manter os ecossistemas brasileiros”, revela.

Receita para aumentar área florestada

O mercado tem uma capacidade maior de atender as mudanças da sociedade em relação aos governos. A avaliação é do professor Eli da Veiga, lembrando que há 30 anos, quando começou estudos de campo nas fazendas de cana-de-açúcar, os agricultores ficavam chocados quando questionados porque plantavam tão próximo aos rios. “Na verdade, se fosse possível eles plantariam até dentro dos rios”, brincou.

Um levantamento recente realizado Instituto Florestal de São Paulo mostrou que nos últimos dez anos a cobertura florestal aumentou em cerca de 200 municípios do interior do Estado de São Paulo. A estimativa é que, mesmo que retalhada em milhares de fragmentos, a floresta cubra 4,34 milhões de hectares, correspondendo a 17,5% do território paulista. A proporção é semelhante a registrada no início da década de 1970.

Eli da Veiga afirma que foram identificados três fatores que contribuíram para que esses municípios recuperassem parte de sua Mata Atlântica: primeiro, os usineiros estão mais inteirados sobre o mercado internacional, e perceberam que a necessidade de certificação de sustentabilidade é cada vez mais exigida no mercado, que já está valorando os serviços ambientais decorrentes da preservação da biodiversidade.

Em segundo lugar, constatou-se maior atuação do Ministério Público e também da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo. “Nos últimos anos a capacidade de trabalho desses dois órgãos melhorou muito. O Ministério Público se especializou para atender as questões ambientais”, completou Veiga.

Em terceiro lugar, houve mudança cultural do agricultor. O usineiro de trinta anos atrás tinha outro tipo de formação, passada por gerações anteriores. “Hoje os filhos desses fazendeiros que cuidam das usinas têm formação na FGV”, diz Veiga. Ou seja, possuem uma formação educacional e confrontada com o debate da sustentabilidade, um dos mais prementes nos dias de hoje.

“Em resumo, isso mostra que, de certa forma, existe uma ‘precificação’ ambiental, no sentido de que os consumidores estão cada vez mais procurando produtos com certificação verde. As empresas, em especial, têm uma capacidade acelerada de captar essas mudanças de mercado. Já os governos tendem a ter uma dificuldade maior de mudanças”, analisa o professor. 

Luis Nassif

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