Preços altos dos alimentos devem continuar, alerta ONU

Por Bruno de Pierro, no Brasilianas.org

Da Agência Dinheiro Vivo

A volatilidade dos preços dos alimentos, com preços elevados, devem continuar e provavelmente sofrer novos aumentos, afetando agricultores, consumidores e países mais pobres e que apresentam insegurança alimentar. A avaliação está no relatório O estado da Insegurança Alimentar no Mundo 2011 (The State of Food Insecurity in the World 2011” – SOFI), divulgado hoje, em Roma, pela Food and Agriculture Organization (FAO), da Organização das Nações Unidas (ONU).

Segundo o levantamento, apresentam risco especialmente os países menores e dependentes de importação, principalmente na África. Muitos deles ainda enfrentam graves problemas decorrentes das crises alimentar e econômica de 2006 e 2008.

O argumento das três agências que desenvolveram o relatório – Food and Agriculture Organization (FAO), International Fund for Agricultural Development (IFAD) e World Food Programme (WFP) – é de que tais crises atrapalham os esforços para se alcançar as Metas do Milênio de redução pela metade, até 2015, da proporção de pessoas que passam fome.

Contudo, o documento afirma que, mesmo que as metas sejam alcançadas até 2015, aproximadamente 600 milhões de pessoas dos países em desenvolvimento apresentariam desnutrição – o que é inaceitável, segundo os autores.

O relatório recomenda que governos e a comunidade internacional atuem imediatamente no sentido de fortalecer políticas para reverter esse cenário. Uma das sugestões diz respeito ao aumento do investimento privado e da produtividade agrícola. Também são enfatizadas a redução do desperdício de alimentos nos países desenvolvidos, por meio de educação e políticas públicas, e redução das perdas de alimentos nos países em desenvolvimento, por meio do aumento do investimento na cadeia de valor, principalmente em processos pós-colheita. O levantamento não deixa de incluir medidas relacionadas á gestão sustentável dos recursos naturais, florestas e da pesca.

A volatilidade e a alta dos preços são identificadas como os principais fatores que contribuem para a insegurança alimentar no mundo e também uma fonte de grande preocupação para a comunidade internacional.

De acordo com o relatório, “aumentará a demanda dos consumidores em economias em rápido crescimento, com a população crescendo e também com crescimento no setor de biocombustíveis, colocando mais demandas sobre o sistema alimentar”.

A análise das agências argumenta que os motivos do aumento da volatilidade dos preços dos na próxima década são as ligações mais fortes entre os mercados agrícolas e de energia e os eventos relacionados às mudanças climáticas.

Pequenos agricultores

O preço mais volátil, destaca o documento, faz com que pequenos agricultores e consumidores mais pobres se tornem mais vulneráveis à pobreza, ao mesmo tempo em que mudanças bruscas de preço afetam o desenvolvimento dos países a longo prazo. Alterações na renda, causada pelas oscilações, reduzem o consumo de alimentos. Crianças deixam de ingerir nutrientes essenciais nos primeiros mil dias de vida, o que compromete sua capacidade produtiva no futuro. O impacto negativo afeta a estrutura de economias inteiras.

Entretanto, as oscilações de preços afetam países, populações e famílias de modos distintos. Os mais expostos são os pobres, em particular os da África, onde o número de desnutridos aumentou 8% entre 2007 e 2008, enquanto na Ásia não houve alteração.

Outros países foram capazes de proteger seus mercados de alimentos das turbulências internacionais, graças à combinação de restrições ao comércio, redes de proteção social para os mais pobres e liberação dos estoques de alimentos. Porém, o isolamento comercial aumentou a volatilidade e os preços nos mercados internacionais, agravando os impactos da escassez de alimentos em países dependentes de importações.

A ONU destaca que a alta dos preços dos alimentos é, no entanto, uma oportunidade para economias mais ricas aumentar os investimentos de longo prazo no setor agrícola e fortalecer a segurança alimentar. Quando agricultores aumentam a produção para reagir à alta dos preços, é essencial apoiar o pequeno produtor, o maior responsável pela produção de alimentos em muitas regiões do mundo em desenvolvimento.

 A curto prazo, o trabalho das redes de proteção social são cruciais para atenuar a insegurança alimentar. Elas devem ser projetadas com antecedência e de acordo com as necessidades das populações carentes.

O relatório ressalta que o investimento agrícola ainda é a melhor maneira para garantir a segurança alimentar sustentável a longo prazo. São necessários aportes em sistemas de irrigação rentáveis, gestão dos solos e pesquisa agrícola para o desenvolvimento de sementes de melhor qualidade. Essas medidas atenuam o impacto da volatilidade dos preços e diminuem os riscos para o pequeno agricultor.

Investimento privado

Iniciativas privadas de milhões de agricultores e empresários rurais formarão a maior parte dos investimentos agrícolas. Na avaliação da ONU, os preços altos dos alimentos tem sido uma oportunidade para investimentos em toda cadeia agrícola. É importante que todo investimento considere e respeite os direitos de todos aqueles que trabalham na terra e os recursos naturais, beneficiando comunidades locais e promovendo a segurança alimentar e ambiental.

De acordo com o estudo,  o aumento de investimentos, de medidas de prevenção e da abertura ao comércio são estratégias mais eficazes do que restrições à exportação. “Medidas de restrição ao comércio mundial podem proteger o mercado interno das oscilações dos preços internacionais, mas deixam a produção doméstica suscetível a choques na produção, além não impedir a volatilidade no mercado interno. Também aumentam o risco de novas altas e oscilações nos mercados internacionais”. Segundo a FAO, o número de famintos no mundo permanece o mesmo: 925 milhões de pessoas.

Luis Nassif

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