Rondônia pede socorro, por Larissa Zeggio

Pela primeira vez eu vi de perto um nível de destruição que não sei se é reversível. Vi com meus olhos vermelhos.

Reprodução Twitter

Rondônia pede socorro

por Larissa Zeggio

Eu cheguei de Rondônia hoje e a FUMAÇA por lá estava surreal.

Na sexta-feira o avião quase não conseguiu pousar em Porto Velho por causa da nuvem de fumaça que se arrastava por dezenas de quilômetros e transformava a cidade numa escuridão cinzenta em plena tarde. Só pousou por que o aeroporto de Porto Velho tem instrumentos e o piloto já estava acostumado.

Os hospitais emitiam alertas de emergência, a quantidade de crianças com problemas respiratórios era enorme, e todos, sem exceção — inclusive eu que acabara de chegar — tinham os olhos vermelhos.

A noite a lua estava VERMELHA!!! Sério, nunca vi uma coisa dessas. Tirei foto, embora meu celular seja uma tranqueira e só dê pra ver um ponto vermelho brilhante no céu. Só confirmo que é a lua porque eu mesma tirei a foto.

Com cada um que eu falava e perguntava sobre aquela situação me respondia sobre o aumento das queimadas ILEGAIS no estado. Segundo eles, não há fiscalização. Não há como “provar” que as queimadas são ilegais. E, portanto, nada é feito. Aff.

Hoje a fumaça chegou em São Paulo. Aí, parece que se tornou importante o suficiente par virar notícia: “Avenida Paulista vira noite em plena tarde!”

Queridos, o negócio está MUITO mais feio do que vocês imaginam.

Embora as queimadas sejam comuns no norte do país nessa época do ano (em vista das plantações), atingiram proporções gigantescas, assim como tudo que é grotesco e prejudicial tem se agigantado nos últimos meses.

Pela primeira vez eu vi de perto um nível de destruição que não sei se é reversível. Vi com meus olhos vermelhos.

Eu sinto muito pela população que sofre diretamente com as queimadas. E sinto muito por todos nós e pelo mundo.

Eu apenas sinto muito.
Exausta.

Redação

2 Comentários

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  1. Janela de oportunidade

    Trabalhei pelo BB em Óbidos (PA), margem esquerda do rio Amazonas, exatamente meio do caminho entre Belém/Manaus, coração da Amazônia, portanto, quase 3 anos entre 2004/2007.
    Acostumei-me a descer do barco que tomava no porto de Óbidos às 20 horas e descer em Santarém, por volta das 3/4 ou 5 horas, a depender dos percalços da viagem. Socorrer um barco no “prego”, por exemplo, amarrar um no outro e rebocar até o porto de Santarém. Demandava horas. Barcos que levavam 80/100 pessoas.
    Passei 3 finais de ano na Amazônia. era comum desembarcar por volta das 4 da manhã em Santarém, entre outubro e novembro, em meio a um “fog” espesso de fumaça. A diferença é que fazia 35 graus. Na madrugada.
    Os ruralistas aproveitavam o verão amazônico – julho a dezembro – para queimar áreas de novas pastagens e áreas recém abertas para agricultura, lançar sementes de capim com vistas às chuvas torrenciais que começavam em meados de dezembro e se estendiam por todo primeiro semestre de cada ano.
    Ainda assim, por via das dúvidas, consultei um grande amigo nascido e criado na região, quase 60 anos, a respeito do calendário de queimadas da região.
    Perguntei: “Caro Jorge, me tire uma dúvida. Pelo que me lembro, queimadas na nossa região aí de Óbidos costumavam acontecer mais para o final do ano. Lembro de chegar de barco em Santarém, por volta das 4/5 horas da madruga e ver uma nuvem de fumaça. Essa queimada em agosto não é atípica? Ou Rondônia tem um regime diferente? Acho que os ruralistas aproveitaram o momento para queimar tudo, meso fora de época. A repercussão internacional está sendo terrível”
    A resposta: “Vc está certo, a partir do final de outubro que ocorrem mais as queimadas, e, as queimadas praticadas pelos ruralistas para plantio de capim ou outra cultura, a partir do final de novembro, para aproveitar as chuvas que começam em meiado de dezembro.”
    Conclusão: Abriu-se uma janela de oportunidade extemporânea e atípica em agosto, com um vale tudo enquanto o capitão responde pelo comando do executivo. Vamos queimar tudo aproveitando o liberou geral do presidente da república.
    Os ruralistas entenderam o recado e o momento.

    PS.: O Brasil não tem volta.

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