Samarco, o sustentável insustentável

Por Caetano Scannavino

Depois do lamaçal em Minas, é preciso rever seriamente os padrões da responsabilidade social corporativa.

Como bem lembra Alvaro Almeida em artigo na IstoÉ Dinheiro: “Assim como a BP, que provocou o maior desastre ambiental dos EUA em 2010, a Samarco tinha inúmeros estudos e metodologias para a gestão de riscos de suas operações e forte reputação de excelência socioambiental.

Enfileirou prêmios, foi a primeira mineradora do mundo com certificação ISO 14001 (de gestão ambiental) para todas as etapas de produção. Em levantamento do renomado Reputation Institute, em 2014, alcançou o índice de 74,9 pontos numa escala de 0 a 100, o que a colocava no nível de benchmark para o setor de mineração.”

Com tudo que se reconheceu antes e com tudo que aconteceu depois, como fica a credibilidade de quem credita? A reputação dos institutos de reputação?

A impressão é que basta parecer honesto, sem suficientemente ser. A constatação é de que tanto os mecanismos de certificação como os de controle não são garantias para um setor que exige tolerância zero.

Admitir que os padrões são insuficientes é o mesmo que admitir a insustentabilidade do até então sustentável. Ou a irresponsabilidade do até então responsável.

Redação

15 Comentários

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  1. É tudo a mesma

    É tudo a mesma sopa.

     

    Isso me fez lembrar das nossas gloriosas empresas de auditoria que fizeram e fazem um bom trabalho, não é não?

    O caso da Enron nos Estados Unidos (Arthur Andersen, lembram dela??) e do Banco Panamericano no Brasil (Deloitte, aconteceu alguma coisa com eles??) que o digam.

     

    É tudo a mesma sopa.

  2. É preciso ouvir os

    É preciso ouvir os trabalhadores que estavam no dia a dia da empresa. Eles mais do que ninguém sabem o que ocorria e as prioridades da empresa.

    Os acidentes só são vistos quando saem dos portões da empresa, em catástrofes como essa, mas são o cotidiano dos trabalhadores da mineração.

    A propósito, nos três anos que morei em Belo Horizonte pude conhecer mineiros, a maioria sindicalista, de diversas empresas, inclusive da Samarco e da região atingida. Tema bastante discutido nos encontros com os mineiros era a dificuldade de aplicar o ‘direito de recusa’, previsto na legislação, e que talvez tivesse poupado algumas vidas em Mariana.

    “Nas horas anteriores ao rompimento da barragem, segundo o relato de vários trabalhadores, foram sentidos sinais de rachaduras, o que foi informado à empresa, mas a ordem foi seguir trabalhando.

    Trata-se de uma barragem que está em funcionamento há mais de 20 anos, sem fiscalização do estado e consequentemente sem manutenção por parte da empresa.

    Mais de uma vez, e não apenas em relação à Samarco, mas também à Vale e à CSN , os trabalhadores e os Sindicatos têm alertado sobre os altos índices de adoecimentos e de acidentes existentes na mineração.

    Nos últimos anos, repetidas vezes tem sido proposta dos trabalhadores a criação de agentes de saúde e segurança para atuarem juntamente com as Cipas e sindicatos e garantir uma inspeção cotidiana das condições de trabalho dentro das empresas.

    O modelo predatório com que estas empresas trabalham para garantir o máximo de lucros no mínimo de tempo com os menores gastos possíveis, só pode gerar acidentes e mortes, como as que tragicamente ocorreram ontem.”

    http://pstuvale.blogspot.com.br/2013/10/nota-do-pstu-sobre-tragedia-ocorrida-na.html

  3. Ter certificado ISO não diz

    Ter certificado ISO não diz absolutamente nada. Apenas que a empresa cumpiriu os procedimentos da norma. Mas nada diz que os procedimentos da norma são os mais adequados. E mais do que isso, segurança não se consegue apenas seguindo normas.

    O pode totalitário desas grandes empresas, e sua ânsia por valorização acionária de curto-prazo transformam o cotidiano o trabalho num salve-se quem puder. É preciso fazer npumero, e torcer para que nada de ruim aconteça.

    No dia que houver uma “ISO” limitando metas e adequando quantidade de funcionários ao processo produtivo voltamos a conversar.

  4. Nebulosos horizontes e nuvens

    Nebulosos horizontes e nuvens sombrias aguardam os indenizáveis

    da tragédia anunciada e entregue pelo descaso irresponsável da

    Samarco, na localidade de Mariana, em Minas Gerais.

    Agora,  quase meia centena de rábulas salivantes, sob a direção

    espertissima do doutor  Sérgio Bermudes, secundado pelo não

    menos notório Gilmar Mendes, esperam sequiosos as tratativas

    contratuais de honorários e sucumbências para dar início à defesa

    da Vale.  Procrastinações e engavetamento de ações por vir.

    É de lei.

  5. Coisas do Brasil e suas

    Coisas do Brasil e suas elites: as aparências mandam mais que o conteúdo, basta parecedr honesto, competente, culto, etc.

    1. E faz isso porque o acionista

      E faz isso porque o acionista controlador não é mais o governo federal, hoje encabeçado pelo PT. O maior acionista PN ainda é a União Federal (cerca de 42% dos papéis), mas as ON – com direito a voto e a veto – estão na mão dos magnatas brasileiros e estrangeiros. Por isso a mídia protege a CVRD de hoje.

  6. Assim funciona o capitalismo!
    Já disse aqui, mas não tem problema, eu repito.

    Enquanto estiverem no LUCRO, clãs tragédias vão se repetir.
    O que garante O LUCRO, é o Judiciário. Não é questão de Lei ou controle, é questão de multas e indenizações.

    Assim funciona o capitalismo!
    Não existe beleza nem muito menos igualdade. Veja o mundo Como ele é!
    A violência financeira é o único remédio!

  7. O Mercado

    COMUNICADO

    A mineração HIERRO ltda. deixou cair inadvertidamente milhões de toneladas de minério de ferro de baixo teor, da sua propriedade, no leito dos córregos e rios que chegam até o oceano Atlântico. Advertimos que trata-se de propriedade privada, que não pode se usufruída por terceiros, sob acusação de furto e aplicação de pena de acordo com as Leis em vigor. Em compensação, como oportunidade, oferecemos recompensa de US$20 dólares por cada tonelada concentrada (> 66%Fe) que possam me trazer de volta. Pagamento á vista.

    Grato

  8. ISO

    Essas normas ISO qualquer coisa são uma piada. São normas administrativas. A mesma norma ISO 14000 serve para uma mineradora, uma fábrica de garrafas e uma fábrica de papel. Não tem nada a ver com o processo produtivo. É só papelada pra ganhar prêmio de sustentabilidade.

  9. ecológicas

    Contanto carneirinho pra chamar o sono e fazer boi dormir tranquilo: ISO 14001, ISO 14OO, ISO 1399,…, ISO OOO1.

    E, de novo, tome Guy Debord: “O que há de novo é que a economia tenha chegado à guerra aberta contra a humanidade; não apenas as possibilidades de vida do homem, mas também contra as de sua sobrevivência.”

    Olha só aí embaixo a pérola que Daniel Verilhe, representante da Elf-Aquitaine, soltou durante discussões sobre a proibição da produção mundial de clorofluorcarbono.

    “É muito perigoso basear uma estratégia industrial em imperativos ambientais.”[Citado por Guy Debord em A SOCIEDADE DO ESPETÁCULO.]

    Isso foi lá em 1986.

    Da declaração de Verilhe pra cá, os executivos, preocupados com a imagem das empresas, se expressam em termos mais eufemísticos, ou mesmo francamente “ecológicos”.

    Agora todo mundo corre atrás de um certificadozinho ISO não sei das quantas pra atestar a responsabilidade social das empresas – seja lá que diabo seja esse troço.

    (Às vezes, sacana que só ele, o puríssimo espírito do capitalismo dá uma escapada, baixa o caboclo Verilhe no vivente e sai uma dessas: “O meio-ambiente é, sem dúvida nenhuma, uma ameaça ao desenvolvimento sustentável. E isso significa que é uma ameaça pro futuro do nosso planeta e dos nossos países [Dilma em Copenhague.].”

    “Com tudo que se reconheceu antes e com tudo que aconteceu depois, como fica a credibilidade de quem credita?”

    Nonada.

    Não obstante seu papel na crise iniciada em 2008, as agências de risco continuam aí firmes, fortes e falando grosso.

    Curiosidade minha: Independentemente de para quais candidatos, com quanto será que a Vale do Rio Doce chegou junto com a grana nas últimas eleições?

  10. Capitalismo, cinismo, abuso
    Capitalismo, cinismo, abuso de poder, traição à humanidade, matança de inocentes, reino da safadeza e da cara de pau, destruição da natureza. Essa merda finalmente chegou ao fim. Caiu de podre. Contrôle social neles, para minimizar suas letais consequências. Mercado é o cacête.

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