terça, 23 de abril de 2024

Sem ajuda do Governo Federal, óleo está sendo contido por voluntários, ambientalistas e pescadores

O Salve Maracaípe terminou lançando uma campanha de financiamento coletivo para ajudar não só no combate ao óleo no curto prazo, mas também em ações futuras de recuperação, educação e monitoramento ambiental.

Foto Fellipe Figueiroa

do Marco Zero Conteúdo

Sem ajuda do Governo Federal, óleo está sendo contido por voluntários, ambientalistas e pescadores

por Raíssa Ebrahim

Se tem praia ficando limpa e toneladas de óleo sendo rapidamente retiradas do litoral do Nordeste, é graças, sobretudo, ao trabalho incansável de voluntários, ativistas ambientais e pescadores. Gente que resolveu não aguardar pelas ações do Governo Federal, que ignorou o Plano Nacional de Contenção (PNC) e o substituiu pelo descaso, aumentando ainda mais a dificuldade para descobrir origem do vazamento e conter a poluição.

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) vem afirmando que o plano está sendo cumprido. O que não é verdade. A Folha de São Paulo publicou uma matéria mostrando que o governo, omisso nas políticas ambientais, extinguiu, no primeiro semestre, os comitês do PNC.

Governo de Pernambuco, Ibama e Marinha, por sua vez, não têm capacidade nem material suficiente para enfrentar o maior desastre ambiental da região. Tanto é que o trabalho de contenção, puxado pelo executivo estadual esta semana, não foi suficiente e o óleo que voltou a atingir o litoral de Alagoas chegou agora às praias de Ipojuca, entre ontem e hoje (19), afetando um dos principais destinos turísticos do Brasil, as praias de Porto de Galinhas e Maracaípe, incluindo suas áreas de manguezal e corais

Já as prefeituras, por mais que se mobilizem, não têm contingente suficiente e a mobilização por parte das gestões termina sendo também política.

Coletivos ambientais se articularam para levar voluntários a Ipojuca esta manhã para ajudarem no mutirão de limpeza. Ônibus, logística, recursos, tudo por conta do grupo, de empresários locais e da agência de turismo Luck Viagens. “A Prefeitura de Ipojuca, depois de a gente muito reclamar, começou a agir”, lamenta Daniel Galvão, engenheiro de pesca, professor, doutorando em oceanografia física e um dos fundadores do movimento Salve Maracaípe. Ele esteve em Brasília esta semana na audiência pública que aconteceu no Senado para cobrar providências.

“O governo, quando chega, vem a reboque”, reforça Yara Schaeffer Novelli, doutora e professora sênior da Universidade de São Paulo (USP). Ela foi a primeira perita judicial da primeira ação civil pública movida no Brasil por dano ambiental, em 1983, num rompimento de oleoduto da Petrobras na Baixada Santista. Confira aqui a entrevista que a Marco Zero Conteúdo fez com ela.

O Salve Maracaípe, com 10 anos de atuação e que não costuma pedir recursos, terminou lançando uma campanha de financiamento coletivo para ajudar não só no combate ao óleo no curto prazo, mas também em ações futuras de recuperação, educação e monitoramento ambiental.

Quando o óleo chegou à Praia de Carneiros, em Tamandaré, no final desta semana, foi o padre da igrejinha junto com proprietários de pousadas e restaurantes que se organizaram para reforçar o mutirão. A Marinha, segundo populares, só chegou às 16h de ontem. O restaurante Bora Bora fechou as portas e os funcionários também foram colaborar. “Foi impressionante a velocidade de atuação”, conta o publicitário Fellipe Figueiroa, que estava passeando em Carneiros. Por mais que haja servidores públicos identificados, a maior parte das pessoas que ajudam são voluntários.

O gestor ambiental e especialista em auditoria e perícia ambiental, Lipe Meireles, é uma das pessoas que estão articulando os trabalhos em Ipojuca. Ele acionou amigos que trabalham em indústrias e conseguiu 50 tonéis e um caminhão. Ele faz parte do coletivo ambiental Meu Mundo Mais Verde. Também estão juntos na empreitada os coletivos Xô Plástico, Porto 2039, Green Girls, Eco Associados e Arvorecer.

“Conseguimos reunir grandes técnicos e coletivos que se complementam, alguns têm expertise em mar e outros, em terra. A sincronia é muito grande, em todas as praias que estamos atuando, o óleo está sendo contido. A parte mais difícil agora tem sido o Cupe, por conta da maré cheia”, relata Lipe.

“Mobilizamos Suape, Petrobras, usamos o município como apoio e conseguimos barreiras de contenção”, detalha. O grupo junto com pescadores também colocou jangadas para verificar manchas que tinham passado para a área dos cavalos marinhos, no Pontal de Maracaípe. Felizmente, conseguiram conter.

Redação

10 Comentários

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  1. Governo atual milicado e completamente passivo e incapaz de fazer algo positivo. Uma corja de ineptos e corruptos. Nem sequer proteger seu proprio meio ambiente conseguem. Vende-patria e obtusos. Limpem esse oleo poluente e que nao veio da Venezuela como maldosamente acusaram sem provas. Mentecaptos ineficientes. Mas limpem ja! Vergonhoso e doloroso assistir tamanha ineficiencia e burrice.

  2. O presidente Bozó adora trabalhar, desde que agindo contra o interesse nacional e, como se sabe, o governo miliciano decretou embargo econômico contra o Nordeste

  3. Essa omissão do desgoverno federal é criminosa e o “presidente” deve ser responsabilizado criminalmente! Ele deve estar se regozijando por esse desastre ter atingido o Nordeste, que ele detesta!

  4. É lamentável este acontecimento triste, cujo palco, é o Nordeste do Brasil.
    Um crime ambietal de proporções desconhecidas, com prejuízos incalculáveis, por exemplo: Para o meio-ambiente e sua biodiversidade; Para a estética e beleza das praias litorâneas; Para as cadeias produtiva, industrial e comercial da pesca, prejudicando e desempregado os pescadores locais; Para a cadeia da indústria do turismo, com reflexos negativos na rede hoteleira, na rede de restaurantes, nos motoristas de táxis e uber’s, etc, e principalmente, na conjuntura econômica da região, impactando na queda de arrecadação e desemprego nos Estados atingidos.
    À luz de tudo isso e mais, depois de 19 dias de vazamento de óleo na região (link abaixo), ao que parece, as instâncias públicas competentes, conforme a imprensa, nem informou que é o criminoso responsável e quais penalidades por seu crime, nem foi solidário efetivo em tempo hábil como constitucionalmente, deveria, na prestação de informações e ajuda aos Estados atingidos.
    Fica algumas perguntas: 1) Será que o Brasil com a experiência adquirida na exploração de petróleo e, a responsabilidade que tem no momento com a extração de petróleo no mar com o pré-sal, não dispõe de meios de informação e de detecção de acidente ou de quaisquer crimes ambientais como esse, em tempo hábil, que permitisse de forma pró-ativa, que não esperasse 19 dias para agir?
    2) É, se em vez do Nordeste, esse crime se desse nos Estados litorâneos do ES, RJ, SP, PR, SC e RS, será que tais autoridades federais, demorariam tanto para agir, como fizeram com o Nordeste?
    3) Na falta do criminoso, quem irá ressarcir os prejuízos dos Estados do Nordeste?
    4) Em qual país do mundo, aconteceria um acidente dessa dimensão e, os responsáveis, ficariam inpunes?
    https://jornalggn.com.br/meio-ambiente/apos-19-dias-de-vazamento-em-77-cidades-do-nordeste-bolsonaro-se-preocupa-com-leilao-do-pre-sal/.
    Sebastião Farias
    Um brasileiro nordestinamazônida

  5. O crime não é somente ambiental. Apesar de destruir o meio-ambiente, mas a intenção
    clara é destruir a indústria de turismo do nordeste.

    Praticado claramente por mãos humanas, e de forma sistematizada por todas praias do
    nordeste brasileiro.

    Era para Policia Federal, Marinha e órgãos de Segurança Pública estarem já com os criminosos
    cumprindo pena na prisão.

    Mas, o que vemos é um descaso político. Acompanhando os criminosos ou talvez sendo os próprios
    praticantes desse crime contra uma região inteira.

    1. Diante desse total descaso de quem deveria agir para solucionar o problema, o caso vai se configurando uma sabotagem. Quem provocou esse desastre e por qual motivo? Quem odeia o Nordeste tanto assim?

  6. Primeiro permite e estimula incêndios e desmatamentos na Amazônia, depois libera cada vez mais agrotóxicos afetando futuramentr a nossa vida e envenenando a nossa alimentação e agora isso, com a total omissão e deixandos os Estadod Nordestinos sem suporte e apoio…é um governo desastroso e nefasto para as gerações atuais e futuras…será que não cabe judicialmente uma ação de impobridade por tantas ações lesivas e irresponsáveis contra o meio ambiente e as gerações atuais e futuras?

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