Um mundo de poluidores sem poluição, aquecimento global e mudança climática

A decisão tomada por Donald Trump de retirar os EUA dos Acordos de Paris provocou criticas enérgicas de vários líderes mundiais http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2017-06-02/donald-trump-acordo-paris.html. Reações negativas também ocorreram dentro do partido dele. O republicado Arnold Schwarzenegger, ex-governador da Califórnia, repreendeu Trump no Facebook https://www.facebook.com/fardin.madani/videos/vb.100000135069479/1710531895627963/?type=2&theater. No Twitter o massacre do presidente dos EUA é evidente. Eu mesmo resolvi tirar um sarro dele https://twitter.com/FabioORibeiro/status/870402403257987074.

Muito embora tenha adotado um discurso eleitoral utópico (América grande novamente!), Trump sempre demonstrou ser adepto do utilitarismo. Durante sua campanha ele endossou a tese de que o aquecimento global provocado pela atividade industrial e pela queima de carvão e petróleo é apenas um mito. Portanto, ninguém pode dizer que a decisão dele foi surpreendente.

O economista John Stuart Mill (1806-1873) foi um dos primeiros a aplicar os conceitos da nova filosofia à economia, política, justiça e legislação. O utilitarismo nasceu com o capitalismo industrial e sempre foi mais ou menos popular entre os políticos norte-americanos.

Ao retirar os EUA dos Acordos de Paris, Trump agiu visando uma utilidade: a preservação da economia dos EUA tal como ela se encontra estruturada. O presidente dos EUA não fez qualquer cogitação sobre futuros imagináveis que podem ser alcançados através de ações práticas no presente.

Todavia, apesar de plausível a crítica feita pelo Exterminador do Futuro é bastante singela. O próprio fundamento utilitarista que está na base da decisão de Trump pode ser criticado.

“O utilitarismo não apenas limita  a vida como sanciona o conformismo, ao reduzir a razão a alternativas de valor. O pensador político conservador Leo Strauss demonstrava pouco interesse pelas utopias. Mas expôs com eloqüência o perigo do minimalismo utilitarista, que renuncia à razão ou ao empenho de desvendar a realidade como um todo para celebrar a técnica. Renuncia a pensar sobre os objetivos enquanto aperfeiçoa os meios de alcançá-los. Para Strauss, esta filosofia conduzia a um suicídio intelectual. Tornamo-nos ‘sábios em todas as questões de importância secundária’ que tratam dos melhores mecanismos, mas ‘temos de nos resignar à mais profunda ignorância na questão mais importante (…) os princípios fundamentais’. Para Strauss, o resultado era um paradoxo: ‘Ficamos, então, na posição de seres sóbrios e razoáveis quando empenhados em questões triviais, e que arriscam como loucos sempre que defrontados com questões sérias – sanidade a varejo e loucura por atacado’.” (O fim da Utopia, Russel Jacoby, editora Record, Rio de Janeiro-São Paulo, 2001, p. 233/234).

Defrontado com uma questão essencial – o que fazer em razão das mudanças climáticas? – Trump agiu como um louco. Mas a loucura do presidente dos EUA, além de ser inspirada no utilitarismo do século XIX, assume a aparência de decisão realista e coerente em razão dos trabalhos divulgados pelos cientistas que negam a realidade do aquecimento global. Pagos pelos industriais que seriam afetados pelos Acordos de Paris os “negacionistas” que operam no varejo criaram um espaço em que a insanidade no atacado pode ser encarada como algo saudável.

É curiosa a utopia perseguida pelo utilitarista insano que reside na Casa Branca. O presidente dos EUA parece acreditar que é possível criar um mundo sustentável para os poluidores sem que eles mesmos sofram os efeitos da poluição, do aquecimento global e das mudanças climáticas. É evidente que uma verdadeira armadilha civilizatória está se fechando sobre os norte-americanos. Todavia, eles não serão as únicas vítimas do que pretendem realizar nas próximas décadas. Os outros povos também sofrerão os danos colaterais dos subprodutos que eles lançam na terra, no ar e no mar. 

Fábio de Oliveira Ribeiro

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