Universidade americana aponta o dobro do desmatamento na Amazônia registrado pelo Inpe

Entre 2000 e 2017, floresta brasileira perdeu área equivalente ao tamanho da Alemanha; Série confirma ainda que, entre 2001 e 2013, ocorreu avanço no reflorestamento

Jornal GGN – O aumento expressivo do desmatamento na Amazônia é confirmado por mais uma instituição científica. Dessa vez pela equipe de pesquisadores da Universidade de Oklahoma e publicada na revista científica Nature Sustainability.

O resultado da instituição norte-americana aponta que, entre 2000 e 2017, a amazônia brasileira perdeu cerca de 400 mil quilômetros quadrados, território equivalente a mais de uma Alemanha em área de florestas.

O que chama atenção é que o resultado é mais do que o dobro do registrado pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) no mesmo período que contabilizou a perda de 180 mil quilômetros quadrados da cobertura vegetal nativa da Amazônia.

Matéria divulgada na BBC News Brasil sobre o resultado da Universidade de Oklahoma aponta que a diferença acontece por diferenças metodológicas metodologia. Apesar disso, os dois institutos comprovam o crescimento expressivo nas taxas de desmatamento.

O Inpe trabalha com o Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes), utilizando o Deter (Sistema de Detecção de Desmatamentos em Tempo Real), ligado aos satélites CBERS-4 e IRS-2, capazes de alcançar uma resolução de 60 metros. Os sistemas, porém, não eliminam as interferências de nuvens e sombras, um dos pontos que explicam a discrepância nos resultados. A imprecisão das imagens seria responsável ainda pelo subdimensionado em 15% do tamanho de toda a floresta na Amazônia.

O método utilizado pelos pesquisadores da Universidade de Oklahoma é o PALSAR, radar que obtém imagens mesmo com a presença de nuvens e que são somadas às imagens diárias do sistema de satélites MODIS.

“Os dados são analisados em um algoritmo que considera um pixel como área verde ou não-verde durante o ano inteiro. O estudo afirma que 99,7% dos pixels analisados por esse método, chamado de PALSAR/MODIS, apresentaram boa qualidade para análise”, escreve Hyury Potter que assina a matéria da BBC.

O trabalho de monitoramento da Universidade de Oklahoma sobre a Amazônia brasileira acontece há quatro anos. O grupo é formado por 14 pesquisadores. Dois brasileiros, Yosio Shimabukuro e Egidio Arai, da Divisão de Sensoriamento Remoto do Inpe, também participaram dos estudos.

O grupo explica que o sistema utilizado pelo Inpe faz imagens de determinada área a cada 16 dias. Desse material, os pesquisadores estimam que entre 5% e 15% das imagens não são captadas porque são encobertas por nuvens ou sombras. No site oficial, o Inpe destaca que “a estimativa do desmatamento sob nuvens corresponde em média a apenas 5%”.

O método utilizado pela Universidade de Oklahoma (PALSAR/MODIS) verificou que, em 2010, havia 3.750.000 quilômetros quadrados de floresta na Amazônia brasileira, número 15% inferior ao apontado pelo sistema brasileiro (Prodes).

“Pesquisas anteriores já identificaram as imprecisões nos dados do Prodes, no entanto, essas publicações atribuíram os problemas sob a perspectiva de algoritmos e relatórios. Nosso artigo avança este argumento principalmente da perspectiva dos dados com qualidade melhor de imagem, o que garante que nossa análise de dados tenha poucas lacunas”, explica o chefe da pesquisa e professor doutor do Centro de Análises Espaciais da Universidade de Oklahoma, Xiangming Xiao.

Outro fator que explica a diferença dos dados registrados é a definição de cobertura florestal. A pesquisa da universidade norte-americana considera qualquer perda de área verde como desmatamento. Enquanto o instituto brasileiro leva em consideração a perda de floresta primária.

“Uma vez que detecta o desmatamento, o Prodes não olha mais aquela área. Ele só indica desmatamento de floresta primária [virgem]”, explicou à reportagem da BBC o pesquisador Carlos Souza, do Imazon, outro instituto que faz análises sobre desmatamentos na Amazônia.

No dia 16 de agosto, o Imazon divulgou que houve um aumento de 66% no desmatamento em julho de 2019, em relação ao mesmo período do ano passado. Em números, 1.287 quilômetros quadrados de florestas foram perdidos, área equivalente à do município do Rio de Janeiro.

Os dados da organização foram inferiores aos registrados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que aferiu aumento de 278% no no desmatamento da Amazônia em julho. Diferença explicada também pela metodologia utilizada pelo Imazon, o SAD (Sistema de Alerta de Desmatamento), com capacidade de detectar áreas de desmatamento a partir de 1 hectare (10.000 metros quadrados), enquanto o Prodes alcança uma resolução de 60 metros.

Apesar das diferenças, Carlos Souza, do Imazon, destaca que a existência de várias metodologias significa que o tema está avançando na comunidade científica.

“Essa pesquisa de Oklahoma traz um novo tipo de informação. A comunidade científica é sempre aberta para isso, mas são dados científicos. Para se aprofundar mais, e posteriormente criar um sistema operacional, é preciso se aprofundar mais na pesquisa. Outros trabalhos já tinham apontado que o desmatamento na Amazônia é maior do que o Prodes estima, mas não o dobro como este caso”, destacou à reportagem da BBC.

“O valor do Prodes é que temos uma série longa de dados, desde 1988. Muitas políticas públicas foram pensadas com base nessas informações, metas que o governo colocou de emissões associadas a desmatamento foram feitas tomando esses dados como referência, então tudo isso é importante. Qualquer método adicional, que vai trazer melhorias, precisa considerar essa dimensão temporal”, completou.

Quanto à parceria com Oklahoma, o chefe da Coordenação do Programa Amazônia (COAMZ), departamento do Inpe, Claudio Almeida pontuou que o Inpe “faz o monitoramento operacional do bioma, mas também tem um lado de pesquisa até pela formação da equipe”.

“Então é comum ter pesquisadores do órgão participando ou acompanhando estudos de fora. Desde 1988 o Prodes incorporou alguns elementos de inovações propostas pela academia, mas não podemos mudar tudo porque esse fator histórico nos permite comparações importantes com a floresta no passado”, ponderou.

“No caso dessa pesquisa da Universidade de Oklahoma vejo que é um bom método para analisar áreas maiores, mas o Prodes ainda é melhor para avaliar desmatamento em locais específicos”, completou.

Notas

O grupo de pesquisadores da Universidade de Oklahoma verificou que, entre 2001 e 2013, houve um avanço no reflorestamento da Amazônia brasileira. “Considerando reflorestamento como áreas verdes regeneradas e que assim permaneceram por pelo menos quatro anos, a Amazônia teve um ganho de 21% de floresta do que foi desmatado no mesmo período”, pontua reportagem da BBC.

Os cientistas ressaltam a importância de dados em série sobre desmatamento para a elaboração de políticas públicas e acordos internacionais do governo brasileiro.

Porém, a divulgação dos resultados pelo Inpe, no mês passado, suscitou críticas do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Sales. Os dois acusaram o instituto de mentir sobre o desmatamento no país. A crise levou à demissão do diretor do órgão, o físico Ricardo Galvão.

Redação

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