“Armênio Guedes foi um humanista, um democrata convicto”, diz Juca Kfouri

Jornal GGN – Apenas depois de prestar seu respeito pessoalmente a Armênio Guedes, Juca Kfouri aceitou conversar com o Jornal GGN sobre o amigo. O ex-secretário particular de Luís Carlos Prestes, figura de destaque no Partido Comunista, faleceu na madrugada de ontem (12), vítima de uma infecção pulmonar que se espalhou.

“Eu fiquei muito amigo dele, éramos vizinhos, ele morava aqui na esquina da rua onde eu moro. Eu o via bastante, caminhávamos às vezes juntos”, lembrou Juca. “O Armênio foi, como você sabe, secretário particular do Prestes, foi do comitê central do Partido Comunista, viveu muitos anos em Moscou, tinha tudo pra ser um stalinista ortodoxo. E, ao contrário, rompeu com isso tudo. Transformou-se num libertário absoluto, um cara que prezava demais a democracia”, disse, em um tom de voz que não buscava esconder a admiração.

Algo divertido, saudoso, ele se lembrou das paixões de Armênio, principalmente a mais difícil delas, pelo Botafogo. “Sabia viver. Adorava jazz, boa música brasileira. Botafoguense, muito botafoguense, seguia o Botafogo. E o melhor tempo do clube eu acho que ele passou fora do Brasil, nos anos 60, porque estava exilado”.

Juca pinta o retrato de um homem simples, gentil, interessante. “Era uma pessoa de muito fácil amizade. Eu encontrei no velório dele com Humberto Werneck. Trabalhamos juntos durante muito tempo na Playboy. E Werneck nunca foi, digamos, um militante político. Sempre foi um cara de boas posições, mas nunca foi um militante político. E ele estava lá. Falei ‘Ué, Werneck, você conhecia o Armênio?’. E ele respondeu ‘Ah, meu companheiro de cafezinho na padaria da Aracaju’. Quer dizer, o Armênio era isso, o Armênio era o cara que vai no boteco, que vai na padaria da esquina e fica ali conversando. Ele era isso, ele era isso”.

E um pensador político ponderado, mesmo em um período de profunda ruptura social. “Ele era um humanista. Um cara de formação marxista, mas que rompeu com o stalinismo, rompeu com a União Soviética, foi para um caminho da esquerda democrática dos partidos europeus, do partido comunista italiano, [Enrico] Berlinguer. E virou um apóstolo disso. Ele era um democrata convicto. Convicto. E ele sem dúvida continuou assim nos últimos anos”.

Mas a história que Juca contou com mais carinho foi de quando, na década de 80, pouco depois da Lei da Anistia, conheceu Armênio no porão de um casarão, num congresso ainda clandestino do Partido Comunista.

“Anunciaram que no último dia do congresso nós íamos ter uma surpresa. Uma palestra de alguém muito importante. De repente, nós estamos lá sentados, uns 40 jornalistas, e surge uma figura pequenininha, de olhos azuis. E em vez de sentar na cadeira que estava destinada a ele, ele sentou em cima da mesa. Olhou bem naquele lusco-fusco, uma molecada, de no máximo uns 30, 32 anos, meninas e rapazes, coçou os olhos e falou assim: ‘Mas, puxa vida, o que uma gente tão bonita e interessante está fazendo aqui nesse buraco? Vocês não tinham nada melhor pra fazer no fim de semana?’. E foi uma gargalhada. Porque tinha sim uma certa disciplina no Partido Comunista. E ele já começou quebrando tudo, quebrando o gelo. E deu uma palestra deliciosa. Sobre os valores da democracia e sobre a experiência pessoal dele. Foi uma coisa inesquecível”.

Inesquecível, parece ser a palavra que melhor define Armênio Guedes. Juca Kfouri certamente concorda. Basta ver o título que escolheu para o seu relato sobre o velho mestre: Armênio Guedes, um brasileiro inesquecível. Ele viveu longa vida, 96 anos. Que esteja em paz. E que vivam os seus ideais.

Redação

2 Comentários

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  1. buenos,como não saiu não li

    buenos,

    como não saiu não li não vi sequer uma “notinha bergamo vermelha” fim de página no portal vermelho – a esquerda bem informada, não acredito no juca kfuro! nem na imprensa golpista sensacionalista nem no ggn-nassif que noticiam, em manchetes garrafais e artigos humanistas página inteira, a morte do histórico lendário comunista armênio guedes.

    é tudo mentira! ele não morreu!

    quiçá, ele nunca existiu… pela lógica ideológica stalinista do estado sou eu, stalin… a sociedade também sou eu, stalin…

    cadê! a notícia da morte do bravo comunista armênio guedes no porta-voz da verdade vermelha; o portal vermelho?

    cadê!!?!! caro juca kfuro!

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