De Tardes Amenas a Delírio Alcoólico
de Miguel Nirez Azevedo e Luciano Hortencio
O flautista e compositor Cupertino Marques de Menezes, inspirado em e por uma bela tarde de abril, compôs a schottisch que intitulou como TARDES AMENAS, quando estava em uma chácara em Jacareí, São Paulo, no ano de 1900.
Em 1908, entusiasmado pela flauta de Cupertino, o poeta sergipano Hermes Fontes fez os primeiros versos para serem cantados na música, que passou a chamar-se MANHÃS DE ABRIL. Tendo em vista que os versos começavam com a palavra CONSTELAÇÕES, assim a música ficou conhecida.
O compositor ludovicense Catulo da Paixão Cearense, no ano de 1913, fez novos versos para a melodia, dando-lhe o título de FASCINAÇÃO POR TEUS OLHOS, registrando-a em seu livro “Lyra dos Salões”, Livraria Quaresma, página 222.
No ano de 1914 Alvarenga Fonseca e Armando Oliveira lançaram no Teatro São José a Revista Teatral CHUÁ, aí aparecendo a melodia de Cupertino Marques de Menezes como paródia, representada pelo ator Bernardino Machado e intitulada Ó LUA CHEIA ou DELÍRIO ALCOLICO.
A engraçadíssima paródia traz no selo do disco E. Briu como compositor e é interpretada pelo cantor Bahiano.
Hoje trazemos, na melodia de Cupertino, os versos de Hermes Fontes, interpretados por Roberto Roldan e os de E. Briu, na voz de Manuel Pedro dos Santos, o popular Bahiano.
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Delírio Alcoólico (Ó Lua Cheia)
Ó Lua Cheia, cheia de graça!
Esse teu bojo está repleto de cachaça.
Apaga a luz, sem ninguém ver
E abre-te ao meio o teu recheio.
Estou danado por beber.
Tu não és mais que um garrafão
Que aqui me prende em sacrossanta devoção.
Oh vagabunda lá do espaço,
Dai-me o braço e passo a passo,
Vamos tomar um formidável bom pifão.
Fui o primeiro astronomeiro
Que descobriu quem sabe és irmã da opa.
E que vem sempre ao botequim
Do Joaquim, o português
Que até dizia “O vi tontim”.
Tu és oropa, redonda e branca,
Perambulando pelo azul do firmamento
Neste momento és um acento,
És uma anca de mulher,
Numa concavidade ambígua de colher.
De hoje pra trás, não bebo mais
Eis a promessa que ora faço com fervor.
Eu só não bebo a aguarrás,
Mas tu, ó lua, bebes chumbo derretido e pedes mais.
Vivo na rua e tu no céu,
Mas nos irmana o mesmo vício, o mesmo amor.
Por isso para que mentir,
Sou como tu de um crime réu
Se acaso é crime se beber até cair.
Lua pau d’água a minha mágoa,
É não morar no alambique a vida inteira.
Tendo-te a ti por companheira
Na sempre eterna bebedeira
E na ressaca habitual.
Nesta sarjeta cheia de lama,
Onde me encontro vejo a coisa muito preta.
Pois o tal de guarda noturno
É um malvado sem igual
Que vem soturno escangalhar minha bacanal.
Oh lua adeus, deixa-me andar.
Vou procurar algum lugar pra vomitar.
Tenho a na boca a impressão
E a sensação do gosto mal
De um cabo de chapéu de sol.
Fujo de ti, pois és capaz
De vomitar por sobre mim o parati.
Me encontrarás no botequim,
Fiel ao que já prometi,
De que não bebo nunca mais
De hoje pra trás.
Me diga se uma talagada, de vez em quando, não, não faz até ficar vivo ou morto, hein?