do blog do Juca Kfouri – 15/11/2014
Manoel de Barros em caricatura de Karmo
Por Humberto Miranda
Morre um poeta de mão vazia…
Só tinha palavras e palavrinhas.
Nasceu Manoel e voltou aos Barros para sua pequena poesia (e)terna… quase tola.
Ele mostrou que a vida é essa besteira… chega e passa.
E o mundo continua cheio de ignorãças sãs.
Os estádios de futebol, por exemplo. São coisas de brincar.
São objetos da invenção… imaginação humana.
Como dizia o poeta, se a palavra falta, a gente cria a imagem de seu entendimento no jogo da sensibilidade.
Hora de narrar o inenarrável.Os meninos invadem o gramado, todos, imaginando o futebol como arte, traquinagem.
E futebol é essa besteira. Uma maneira de fazer arte, a dos meninos, a da invenção.
A bola voa pelo campo conduzida por centenas de borboletas amarelas. Ponham a cor que quiserem…
Para os meninos, aprender a tanger centenas de borboletas é que cria a possibilidade de imaginar o gol. Com eles, as coisas se animam muito o tempo todo…
Os meninos não perdem a noção das coisas porque podem animá-las sempre. Meninos são assim.
Tangem borboletas para que a bola vá de asas à meta só porque vivem de sonhar…
Cabeceiam o vento só porque viram Pelé socar o ar…
Ficam maravilhados com Leônidas da Silva e sua bicicleta para aprender a pedalar quando parece não sobrar espaço para parar…
Viu? É tudo invenção. E as traquinagens vão longe…
Os meninos tangem a bola para o lado das meninas. Perto delas, armam bobinhos e começam a se amostrar. Banho de cuia pra lá, chapéu pra cá; um elástico aqui, uma caneta acolá. É tudo coisa do cotidiano que vira besteira de brincar…
Os mais atrevidos, matam no peito e experimentam a paixão; outros, mais literários, proporcionam gols de letra, passes de primeira, chutes de efeito…
tudo que também nem chegou a ser coisa ainda.
Mesmo sem juízo, tocam de cabeça, dão de calcanhar, soltam a carretilha… descobrem-se empinando pipas sem linha, laçando-as no tempo enquanto bebem o vento com um sorriso… criam os mais tolos mistérios com as coisas.
Não há zagueiros e nem volantes. Só atacantes e meias. A meia-lua é inteira, a grande área, pequena e a meta, imensa.
O campo imaginário fica localizado no campo do imaginário como coisa que não é.
Fica lá dentro do nosso ser silente e desapegado, mas a gente quer que vire coisa pra poder pegar, pra poder passar, pra poder jogar nessa brincadeira tola.
Nesse estádio, todos correm e a bola voa com as borboletas amarelas, sem aplacar.
Geraldinos e arquibaldos flutuam a cada expectativa de abraços, gol após gol. O que dizer do gol quando abraços estão no ar?
Na vida, todos passam; os goleiros, passarinhos…
Obrigado Manoel de Barros.
… Se o meu
… Se o meu casamento
tivesse sido hoje,
um filósofo
teria celebrado a cerimônia…
Se eu resolver
me confessar,
amanhã,
confiarei em um poeta
Se eu encontrar
uma Santa,
qualquer dia,
beijarei-lhe
os pés
com os lábios
esfumaçados de volúpia!
(Por que os poetas nunca se vão!
Sem teimar, ficam!)
Messias Franca de Macedo – começando a conhecer Manoel de Barros – ainda que nunca o aviste pessoalmente!
Feira de Santana, Bahia
Brasil