Morre Hurricane Carter, norte-americano que passou quase 20 anos preso injustamente

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Enviado por Bispo da Dama
 
De Esquerda.net
 
Morreu Hurricane Carter: o pugilista que enfrentou a injustiça americana
 
O ex-pugilista Rubin “Hurricane” Carter, que passou quase vinte anos da sua vida preso por três assassinatos que não cometeu e cuja história inspirou uma célebre música de Bob Dylan, morreu este domingo em Toronto. Hurricane Carter, como era conhecido, faleceu aos 76 anos depois uma longa luta contra um cancro na próstata.
 
Carter, nascido em 1937 na cidade norte-americana de Clifton, começou a sua carreira de pugilista depois de se alistar no exército. Passaria quatro anos na prisão por furto, até em 1961, ano em que é libertado, regressar à prática desportiva para se tornar profissional de pesos médios.  Tudo apontava para um futuro promissor, depois de acumular mais de uma dúzia de vitórias seguidas, na sua maioria por knock out, o que lhe valeu a alcunha de Hurricane (furacão).
 
Mas, em 1966 é detido com um amigo e acusado de assassinato de três pessoas em Nova Jersey. Num julgamento relâmpago é condenado a três penas perpetuas por um júri composto exclusivamente por brancos. Tanto Carter como o seu amigo, John Artis, negaram sempre o seu alegado envolvimento nos crimes. Para além disso, passaram sem problemas num detetor de mentiras e nunca foram reconhecidos como autores pelas testemunhas.
 
Em 1974, Carter publica a autobiografia “The Sixteenth Round” que atraiu a atenção de pessoas como o cantor Bob Dylan ou Mohamed Ali. Dylan viria a reunir-se com Carter na prisão e, convencido da sua inocência, organizou vários concertos de apoio e denúncia do seu caso. Em 1975, escreveu a canção Hurricane que rapidamente se converteu num grande sucesso musical e num hino da luta pela justiça.
 
Após um segundo julgamento em 1976, Carter e Artis foram novamente condenados, apesar de a principal testemunha de acusação ser um conhecido delinquente, que por duas ocasiões mudara a sua versão dos factos. Porém, em 1979 um adolescente negro que vivia no Canadá convenceu um grupo de canadianos, entre eles os advogados Leon Friedman e Myron Beldock, a iniciarem uma campanha pela sua libertação.
 
Os seus esforços surgiram efeito. Em 1985 um juiz federal entendeu que a Procuradoria tinha agido de má-fé nos dois julgamentos e anulou as penas de que era acusado. Após 19 anos, sai da prisão e muda-se para Toronto onde vai viver com o grupo que tornou possível a sua libertação.
 
Em 1999, o realizador canadiano Norman Jewsion dirigiu a longa-metragem The Hurricane, protagonizada por Denzel Washington, sobre a história de Carter. Posteriormente, tornou-se ativo na defesa da libertação de presos que, como ele, foram condenados por crimes que não cometeram.
 
Durante anos o ex-pugilista foi diretor executivo da Associação em Defesa dos Injustamente Condenados em Toronto e mais tarde viria mesmo a criar a sua própria organização, Inocência Internacional. Em 2011, ao mesmo tempo que lhe foi diagnosticado um cancro maligno na próstata, Carter escreveu outra autobiografia: Eye of the Hurricane: My Path from Darkness to Freedom.
 
https://www.youtube.com/watch?v=gGMSfiH850o#t=253
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

6 Comentários

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  1.  Em 1985 um juiz federal

     Em 1985 um juiz federal entendeu que a Procuradoria tinha agido de má-fé nos dois julgamentos e anulou as penas de que era acusado.”

    E estes malditos procuradores que condenaram um inocente agindo de má-fé vão ficar impunes?

    Parece o Brasil!

    1. Lá como cá

      Pois é Jossimar a justiça dos EUA também tem seus “pontos fora da curva”.

      Está parecendo que nas terras de Tio Sam a “dona justa” também é soberana e nem tanto pelas sentenças, como deveria ser, mas pela suposta infalibilidade.  

    2. “E estes malditos

      “E estes malditos procuradores que condenaram um inocente agindo de má-fé vão ficar impunes?”

      Minhas postagens deixaram de virar tópico depois que passei a ser crítico do governo, mas acho importante dar a todos uma informação sobre a trama que vem sendo costurada nos bastidores do Congresso pelos MPs Estaduais e Federal, copiando um instituto jurídico existente nos EEUU (e que já começa a ser criticado por lá, por negar acesso de boa parte da população ao judiciário).

      Trata-se do chamado plea bargain. Todo mundo já deve ter assistido a algum filme americano em que o promotor oferece um acordo à defesa, acertam antecipadamente a pena a ser cumprida e apresentam ao juiz, para evitar que o caso vá a julgamento. O juiz, então, não pode sequer julgar a causa, e homologa o acordo.    

      Pois bem, esse modelo vem sofrendo severas críticas até mesmo nos EEUU, pois limita o poder jurisdicional do Estado, impedindo que o Judiciário se pronuncie sobre a causa. Além disso, para compelir os réus a aceitarem os acordos, os promotores de lá os ameaçam com o pedido de penas altíssimas caso estes não o aceitem. Ex.: proponho 15 anos de regime fechado. Caso você não aceite, vou pedir ao júri pena de morte na cadeira elétrica. Ou seja, ou o cara aceita ou corre o risco de fritar.

      Muitas vezes as penas ameaçadas são desproporcionais ao delito supostamente cometido. Mas, por medo, muita gente acaba aceitando (lembrando que nos EEUU não existe Defensoria Pública e advogados custam os olhos da cara). Isso é um completo absurdo, pois retira do cidadão o direito de ser julgado por um juiz imparcial. Pasme: cerca de 90% dos casos criminais nos EEUU resultam em “acordo” (http://criminal.findlaw.com/criminal-procedure/plea-bargain-pros-and-cons.html). Ou seja, a quase totalidade dos cidadão acusados por um crime sequer é julgada!

      Voltando para o Brasil, claro que nossos super promotores e procuradores já estão ligados em mais esse poder (poder é com eles mesmos), e já deram um jeito de entuchar em projetos de lei em trâmite no Congresso mais essa função. 

      Se aprovada tal iniciativa, trata-se de séria ameaça ao cidadão, que obstaculizará o direito de ser julgado por juiz imparcial.

      Além de não sofrerem qualquer controle externo, não serem eleitos, não prestarem contas a ninguém, eles também poderão, na prática, “julgar” e condenar criminalmente qualquer um de nós.

       

    1. É incrível, né Jair?
      Ainda

      É incrível, né Jair?

      Ainda mais quando quando atentamos para o fato que Bob Dylan sempre foi chegado num baseado.

      Daí, ou descriminamos de vez a canabis ou passaremos a usa-la como “Fosfosol”.

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