Morre Rose Marie Muraro, a grande representante do movimento feminista

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

Enviado por Mara L. Baraúna

de O Globo

Morre aos 83 anos a intelectual Rose Marie Muraro

Com um câncer na medula óssea, a escritora e editora, uma das líderes do movimento feminista no Brasil, não resistiu a problemas respiratórios na manhã deste sábado

RIO — Uma das maiores representantes do movimento feminista no Brasil, Rose Marie Muraro morreu, na manhã deste sábado, aos 83 anos, em consequência de problemas respiratórios. Ela tinha câncer na medula óssea há cerca de 10 anos e, desde o dia 12 deste mês, estava na CTI do Hospital São Lucas, em Copacabana. No dia 15, entrou em coma e acabou acometida por uma infecção. O velório começa às 8h deste domingo, no Memorial do Carmo, no Caju, e a cremação está marcada para as 16h.

Rose Marie estudou Física, foi escritora e editora de livros. Foi responsável por publicações polêmicas e contestadoras. Nos anos 1970 e 80, foi uma das pioneiras do movimento feminista no Brasil. Ao longo da vida, escreveu 44 livros — como “Os seis meses em que fui homem” (1993), “Feminino e masculino” (2002), “Por que nada satisfaz as mulheres e os homens não as entendem” (2003), que venderam mais de 1 milhão de exemplares. Em 1999, ela contou sua história na autobiografia “Memórias de uma mulher impossível”.

Em longa carreira como editora, Rose Marie 1.600 livros na editora Vozes e, mais tarde, na Rosa dos Tempos (filiada à editora Record). Na Vozes, ela trabalhou com o intelectual Leonardo Boff durante 17 anos, e das ideias dos dois nasceram alguns dos movimentos sociais mais importantes do Brasil no último século XX: o movimento de emancipação das mulheres e a teologia da libertação. Em 1984, os amigos acabaram sendo expulsos da Vozes por ordem do Vaticano.

— Minha mãe lutou a vida toda por um mundo mais justo. E ela consegui fazer uma revolução por meio da literatura, o que é muito bonito. Foram muitas conquistas, e isso nos deixa muito orgulhosos — afirma uma de suas filhas, Tônia Muraro.

Segundo Tônia, graças aos esforços de sua mãe, será aberta em breve no Rio a primeira biblioteca especializada em estudos de gênero do Brasil. O espaço ficará dentro da sede do Instituto Cultural Rose Marie Muraro, que desde 2009 ocupa uma casa na Glória.

Um aspecto curioso sobre a vida da escritora é que ela nasceu praticamente cega, e somente aos 66 anos conseguiu recuperar parcialmente a visão com uma cirurgia.

A presidente Dilma Rousseff lamentou a morte da militante, em comunicado divulgado via Twitter:

“Foi com tristeza que soube da morte de Rose Marie Muraro, ícone da luta pelos direitos das mulheres.”

A escritora e membro da Academia Brasileira de Letras Rosiska Darcy de Oliveira ressaltou sua perseverança em lutar pelo direito das mulheres:

— A Rose foi um grande nome de liderança na luta de todas nós mulheres. Foi, sem dúvida, uma das pessoas mais importantes do movimento feminista, mas levou o feminismo a um campo mais amplo, ao humanismo. A contribuição dela como intelectual e como militante foram enormes. Não é possível destacar uma obra apenas, mas sim o conjunto de sua produção. Além de uma intelectual, como pessoa era uma mulher de coragem, que enfrentou uma série de tabus e desafios — observa Rosiska. — Ela enfrentava uma deficiência visual muito séria, enxergava pouco, mas isso nunca a impediu de fazer nada. Viajava pelo país inteiro para participar de seminários, debates, colóquios, onde sempre usou sua inteligência e poder de convencimento para mudar o modo como pensávamos as coisas. A Rose foi uma pioneira e teve seu reconhecimento como tal.

Ela deixa 5 filhos e 12 netos.

Veja trecho do documentário “Memórias de uma mulher impossível”:

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

5 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Ave atque vale, Rose Muraro.

    Rose Marie Muraro foi uma das principais e mais corajosas mulheres a discutir questões de gênero no Brasil, principalmente em relação ao feminino, sem desvencilhar tais questões de outros âmbitos da política e da vida. A primeira vez em que ouvi falar de feminismo, foi através dela.

    Segue “Feminina”, de Joyce, em sua homenagem. 

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=dhyxebXrdTc%5D

     

  2. Grande mulher!

    Eu a via na TV, e  algumas vezes lendo – e ficava impressionado com aquilo. O livro bem perto do olho, e eu me perguntava, como ela consegue produzir tanta literatura?

    Sem brincadeira, no passado quando eu ficava a imaginar se alguma dia uma mulher seria papisa, pensava em Rose Marie Muraro. 

  3. De repente, a gente se dá

    De repente, a gente se dá conta que essa grande mulher estava entre nós até hoje. Uma pessoa importante demais para minha geração. Estamos perdendo a noção de nossa história. 

  4. Rose

    Rose, que era rosa substantivo e adjetivo também, ensinou-nos com seus exemplos o que suas palavras escritas nos legaram.

    Siga em paz.

    É hora de descansar.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador