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EA entrada vitoriosa em Havana, no início de 1959. |
Fidel Castro, comandante da revolução cubana e principal dirigente do país durante 47 anos, faleceu na noite de 6ª feira, 25.
Foi personagem marcante da segunda metade do século 20, mas sua estrela vinha se apagando desde o fim da União Soviética e do bloco socialista por ela encabeçado.
Em seguida foram suas forças físicas que declinaram, a partir da primeira hemorragia que sofreu em 2006, como consequência de uma doença nos intestinos.
Foi então que, sabendo-se impossibilitado de “assumir uma responsabilidade que requer mobilidade e entrega total”, ele, dignamente, trocou a farda pelo pijama.
Havia liderado uma heroica revolução em 1959 e depois tentou romper o isolamento a que os Estados Unidos submeteram Cuba incentivando guerrilhas similares noutros países do continente americano (enquanto Che Guevara tentava a sorte no Congo, igualmente em vão).
O resultado acabou sendo o mais indesejado possível: a ocorrência de banhos de sangue e a proliferação de ditaduras direitistas, pois os EUA cuidaram ciosamente de evitar a propagação do mau exemplo no seu quintal. [Êxitos verdadeiros, Cuba só colheu em lutas de libertação nacional, ao ajudar, com tropas, munições e outros recursos, países africanos que confrontavam o colonialismo português.]
Fidel e o Che, no melhor momento de ambos. |
Curvando-se à evidência dos fatos, Castro foi obrigado a domesticar sua revolução para garantir-lhe a sobrevivência, ainda que desfigurada.
Desistiu de exportá-la e a institucionalizou, repetindo os mesmos desvios autoritários e burocráticos que engessaram a congênere soviética (a qual, com seu ímpeto transformador estancado, acabou sendo retirada de cena em 1989).
Aposentado compulsoriamente, Fidel durou até os 90 anos, mas os últimos dez não contam: tornara-se um inativo político.
Foi grande um dia, mas decerto não se interessava pelo rock, daí ter passado batido pelos conselhos de Pete Townshend (“Prefiro morrer antes de envelhecer”) e Neil Young (“É melhor consumir-se em chamas/ do que definhar aos poucos”).
O Che escutou: morreu na hora certa.
SEU PERFIL ERA DE LIBERTADOR – Castro nunca pretendeu revolucionar o mundo, como Marx, Lênin ou Trotsky. Aspirava apenas a ser o libertador de Cuba, livrando-a da ditadura corrupta de Fulgêncio Batista, que fizera da ilha um centro de entretenimentos para turistas ricos interessados em prostituição, jogatina, canciones calientes, drogas… e discrição.
Cuba: humilhada na crise dos mísseis. |
Os tão alardeados paredóns (as execuções de inimigos, durante a guerra de guerrilhas e depois da tomada do poder) inserem-se perfeitamente na tradição sanguinária das rebeliões latino-americanas.
Até então, Fidel pouco mais era do que um caudilho típico da região, o filho de latifundiários que abraça a causa dos pobres e se torna seu general. Chegou a declarar enfaticamente que não havia “comunismo nem marxismo em nossas idéias, só democracia representativa e justiça social”.
A hostilidade exacerbada dos EUA ao novo governo acabou jogando-o nos braços da URSS, pois só a outra potência mundial poderia dar-lhe alguma chance de sobrevivência face ao poderoso vizinho que lhe impunha um embargo comercial, apoiava invasões armadas e promovia atentados terroristas (vários planos mirabolantes da CIA para matar ou desmoralizar Castro fracassaram).
A contrapartida ao guarda-chuva protetor foi a completa submissão da ilha às imposições soviéticas, com a adoção do modelo stalinista de socialismo num só país: economia totalmente estatizada, autoritarismo político e submissão da classe trabalhadora à burocracia que a deveria, isto sim, representar.
Aparentemente, Castro ainda tentou escapar dessa armadilha, ao concordar com os planos de Che Guevara para levar a revolução à África e, principalmente, levantar a América do Sul.
Com a execução a sangue-frio do Che e o extermínio dos principais movimentos revolucionários latino-americanos, Fidel teve de se conformar com o isolamento em relação a seus vizinhos e a dependência de um aliado distante e arrogante.
Um sucesso incontestável: o sistema de saúde cubano. |
Ao monumental sapo engolido em 1962, quando Nikita Kruschev nem se deu ao trabalho de consultar Cuba antes de acertar com os EUA a desmontagem das bases de mísseis instaladas na ilha, seguiram-se outros, sempre indigestos e, ainda assim, digeridos.
Para compensar, Castro obtinha ajuda econômica que lhe permitiu oferecer condições de existência minimamente dignas para o conjunto da população, com destaque para as realizações marcantes em educação e saúde.
Se pessoas mais capazes e empreendedoras se ressentiam por estarem sendo impedidas de obter a condição diferenciada que seu potencial lhes asseguraria alhures, acabando por emigrar de um jeito ou de outro, é certo também que a grande maioria considerava sua situação melhor do que era antes.
Daí a gratidão e carinho que tributava a Fidel, apesar da falta de liberdade e da gestação de uma odiosa nomenklatura, reproduzindo a distorção soviética: onde todos deveriam ser iguais, a burocracia partidária e governamental concedia privilégios indevidos aos seus membros, tornando-os mais iguais.
APÓS O FIM DA URSS, A AGONIA LENTA – A situação, que começara a mudar com a Perestroika, tornou-se crítica após a derrubada do muro de Berlim e o fim do socialismo real no Leste europeu.
Cubanos fugindo de bote: a mídia ocidental adorava. |
Ao deixar de ser sustentada pela União Soviética, que lhe injetava recursos e a utilizava como um cartão postal do (que ela pretendia ser o) comunismo, Cuba atravessou uma gravíssima crise econômica, até reaprender a andar por suas próprias pernas.
Daí as fugas da ilha com barcos improvisados terem chegado ao auge na década de 1980, para júbilo da mídia ocidental. Até o remake de Scarface (d. Brian De Palma, 1983) a incluiu, fazendo uma marota atualização do filme original (d. Howard Hawks, 1932).
O pior acabou passando, mas os tempos heroicos também. O povo cubano não era o mesmo que se orgulhava de haver reconquistado sua dignidade, com a ilha deixando de ser bordel dos estadunidenses. Tais lembranças haviam se tornado muito distantes. E a penúria, muito presente.
Então, o debilitamento da saúde de Fidel veio a calhar para que Raul Castro, governante menos carismático mas também menos identificado com excessos do passado, lançasse e fosse implementando sua abertura lenta, gradual e segura (o paralelo com a flexibilização do regime militar brasileiro sob Ernesto Geisel tem tudo a ver…), visando ir normalizando pouco a pouco suas relações econômicas com os países capitalistas.
Quanto a Fidel, acabou tendo seu destino atrelado à bipolarização do poder mundial, que, enquanto durou, permitiu-lhe inflar demais o balãozinho cubano. Mas os ventos mudaram e, no fim da linha, o esperava a agonia lenta.
2013: sua última aparição em público. |
Em circunstâncias quase sempre dificílimas, Castro fez o melhor que pôde por seu povo e seu país – não pelo marxismo ou pela revolução mundial, que nunca foram suas verdadeiras devoções.
Quando se puder avaliar seu papel sem exageros propagandísticos e tiroteios ideológicos, deverá ser reconhecida, sobretudo, sua vontade inquebrantável, que o fez ser reconhecido como um titã, apesar da ínfima importância geopolítica da nação que representava.
O século 20 finalmente terminou. E o atual, em termos de grandes personagens históricos, é um deserto.
SOBRE O MESMO ASSUNTO, CLIQUE aqui P/ LER A ERA FIDEL, DE DALTON ROSADO.
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Se Che morreu na hora certa…
… seus algozes lhe fizeram um favor, né, Lungaretti?
Tome tento, Camarada Lungaretti
Toma não. Se for o Lungaretti que estou pensando….
Toma não. Se for o Lungaretti que estou pensando….
… é o primeiro caso de revolucionário que mudou de idéia por causa de uma pensão. Firme como o rock ́n roll.
Post
Análise superficial, cheia dos vícios dessa direita que se diz de centro, parece ” globo reporter”, nada de novo,
não perca seu tempo lendo essa bobagem.
NAO aperte suas proprias
NAO aperte suas proprias estrelinhas aqui, ok?
“cheia dos vícios dessa direita que se diz de centro”:
Celso Lungaretti NUNCA seria “essa direita”, e muito menos se diria “de centro”.
Nem eu quereria essa compania de escorpioes, muito menos ele.
O episodio da morte de Che
O episodio da morte de Che Guevara permanecerá sempre uma sombra sobre Fidel, a esquerda prefere esquecer.
Celso. E ninguem tem a menor
Celso. E ninguem tem a menor ideia do que voce ta dizendo tampouco, Andre.
http://observador.pt/2015/04/
http://observador.pt/2015/04/28/fidel-castro-traiu-che-guevara/
É um episodio cheio de caixas pretas, porque Guevara foi a Bolivia? lutar como guerrilheiro em uma operação arriscada depois de ter sido Ministro da Industria e Comercio e Presidente do Banco Central de Cuba, o segundo homem do regime?
Porque deixou Cuba para ser um reles guerrilheiro em uma região inospida, com um pequeno grupo e sem apoio da população? O que o fez deixar Cuba para essa operação sem estrategia em um pais desconhecido?
Voce acha que essas duvidas são poucas? Ja foram materia de filmes e livros, é uma duvida que persiste há decadas.
É Araujo, parece aquela do
É Araujo, parece aquela do Bin Laden, que foi um gênio que conseguiu colocar umas DEZENAS de Árabes SUPER treinados em alta tecnologia(?), DENTRO dos EUA, E , que alçaram voo com QUATRO super JUMBOS(ou coisa parecida) e…atacaram DUAS TORRES, UMA HORA ANTES do início do expediente de trabalho, quando haveriam mais de 20 mil pessoas no interior delas. COISAS INEXPLICÁVEIS.
O Che Guevara tinha cumoprido sua missão em Cuba
“Sinto que cumpri com a parte do meu dever que me prendia à revolução cubana em seu território e me despeço de você, dos camaradas, do seu povo, que agora é meu.
Renuncio formalmente a meus cargos no Partido, a meu posto de ministro, à minha patente de comandante e à minha cidadania cubana. Legalmente nada me vincula a Cuba, só laços de outra ordem que não se podem quebrar com nomeações.
(…)
Outras serras do mundo requerem meus modestos esforços. Eu posso fazer aquilo que lhe é vedado devido à sua responsabilidade à frente de Cuba, e chegou a hora de nos separarmos.” Che Guevara
Alguem poderia me explicar
Alguem poderia me explicar porque eh que todo post de Lungaretti que eu ja li ta cheio de troll enrustido? (somente em relacao a ELE, note se)
O texto dele já parece coisa de troll
Lamentável.
(Sem título)
Lamentável
Quanto equívoco ! Pois foi exatamente depois que foi abandonada pela URSS é que Cuba e Fidel provaram seu valor e capacidade de superação. Um texto francamente de direita light, digamos assim. Sem valor nenhum, qualquer que seja a perspectiva em que se analise o mesmo.
Essa capa de Veja é
Essa capa de Veja é verdadeira mesmo ? A crise dos mísseis foi em 1962 e Veja só viria a ser editada 6 anos depois deste evento…
Essa criatura errou o momento
Essa criatura errou o momento e o endereço. O artigo ficaria melhor na Folha da Tarde.
A tirania de Fidel era branda ou brutal?
Para o Donald Trump, Fidel Castro foi um ditador brutal. Espero que Trump não meça o Fidel com a mesma régua com que mede a si próprio; de acordo com a Folha de São Paulo, Fidel foi um tirano. Mas a Folha não disse se ele foi um tirano brutal ou brando, como os Abacates Torturadores Brasileiros. A verdade é que se todas as pessoas fossem unânimes em agredir Fidel Castro, não haveria inteligência na humanidade pois, como constatou Nelson Rodrigues, toda unanimidade é burra.
Para os tiranos, toda democracia é tirania e todo tirano é democrático. De sorte que o fato de Fidel ser agredido por canalhas é uma honra, pois é muito melhor ser criticado do que ser elogiado por idiotas.
Hasta la victoria, simpre!