Os prefeitos dos 60’s, a fonte luminosa, a TV Tupi e a Fumaça, por Fernando J.

Os prefeitos dos 60’s, a fonte luminosa, a TV Tupi e a Fumaça

por Fernando J.

Comentário ao post “A valente Esquadrilha da Fumaça, por Luis Nassif

Se algum prefeito do interior (bem interior mesmo) de São Paulo, nos anos 60, quisesse ser lembrado para a posteridade, deixar seu nome inscrito na História e ganhar o reconhecimento eterno dos munícipes, tinha de entregar duas ou três realizações: 1) construir uma fonte luminosa na praça defronte a igreja, que seria inaugurada com muita pompa, circunstância e foguetório, e 2) instalar uma antena para trazer a imagem da TV Tupi e suas novelas, esta última dando o direto da inclusão do seu nome nas orações das beatas pelo resto dos dias. 

A terceira realização era um pouco mais difícil, não dependia de vontade política, mas de prestígio para conseguir uma brecha na concorrida agenda da Esquadrilha da Fumaça, para trazer o magnífico show aéreo no aniversário da cidade. Se o prefeito conseguisse entregar esse combo em 4 anos, era canonizado em vida, cumprimentado e reverenciado nas ruas. 

A molecada não dormia esperando o show aéreo, e pelos meses seguintes essa emoção iria se manifestar nas “composições” escolares do tipo “O que quero ser quando crescer”, todos queriam ser pilotos da esquadrilha. 

Era ditadura, mas era um tempo romântico e ingênuo. 

 

Redação

11 Comentários

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  1. A fumaça que cega, ou: o manifesto pós antropofágico…

    O problema não é ser criança e admirar símbolos de arrojo tecnologia, ainda que a serviço de uma agenda autoritária…

    O problema é nos dias de hoje, fazer uma defesa idílica dessa “ingenuidade”…

    Ou seja: é preciso matar pela ordem, papai noel, nosso pai biológico, nosso pai “celestial” e por fim, os arquétipos de pai que aparecem, como generais e que tais…É flórida, freud…

    Sem isso, continuaremos a nos (auto) molestar com símbolos que julgamos inofensivos pela distância do tempo, mas que ainda povoam nosso imaginário…

    É como admirar a Ponte Rio Niteroi e ir sempre esquecendo que ela se chama Costa e Silva…

    Como vemos nos dias atuais, a direita não dorme e não negocia: Viaduto Marisa Letícia é o escambal, leiam o sumário de culpa dela no tribunal, ainda que finada…

    Sábio são aqueles que degolam os inimigos abatidos, é a morte (simbólica) depois da morte (real)…

    Mais sábios ainda são os que os devoram para absorver suas qualidades e coragem…

    Por aqui, no centro do centro, antropofagia só para morder o próprio rabo, rs…

    1. “é flórida, freud…”

      É flórida sim, Hydra de Lerna, mais precisamente a cidadezinha de Flórida Paulista e adjacências (Adamantina, Lucélia, etc). 

  2. No Tempo do Índio da Tupi, Não Tinha PT, Mas Tinha Golpe

    Sintetizou com maestria a política caseira do interiorzão de São Paulo no que tange ao bônus dessas obrigatórias três realizações, tão bem observadas.

    Quanto ao ônus, o primeiro infalívelmente acontecia com o som da Fonte Luminosa, inaugurado feito um Nelson Gonçalves ou Ned, algum tempo depois tornava-se inaudível, sem certo esforço, digamos, como um João Gilberto ou Nara Leão e depois pifava de vez, ouvindo-se apenas o silêncio enquanto aguardava-se, como as luzes que iam queimando, a manutenção que demorava para acontecer, quando acontecia, ora por falta de técnico, ora por falta de verba, normalmente por falta dos dois.

    Ainda na Fonte Luminosa, quando recém inaugurada, os esguichos eram lançados a toda potência e quando ventava, não ficava viva alma na praça, mas aos poucos isso deixava de acontecer, pois iam broxando, broxando, com os jatos cada vez menos potentes, curtos, até broxarem de vez e restar água parada no tanque, transformando a fonte luminosa em criatório de pernilongos e bebedouro de vira-latas e bêbados.

    É, isso mesmo, um dos maiores problemas da administração pública brasileira ainda hoje, já existia então, a não manutenção dos equipamentos públicos, em sentido amplo: Inaugura e deixa deteriorar para reconstruir e inaugurar novamente.

    Quanto a instalação da retransmissora da TV Tupi, era o terror dos prefeitos, que dele não conseguiam fugir, pois após a obrigatória instalação, com fogos e festas, ficava o terrível ônus das panes constantes, invariavelmente na hora da novela das oito ou do jogo de futebol. Quando não havia jeito de de dar um jeito local na rebimboca da parafuseta da válvula de retransmissão, era uma tragédia e o prefeito nem podia sair às ruas, pois demorava semanas para reparar, repetindo a Fonte Luminosa, com o agravante que a patuléia não aceitava a Tupi or Not Tupi, apenas a Tupi no ar, fizesse chuva ou sol.

    A terceira, a Esquadrilha da fumaça era só bônus, nada de ônus, vá ver por isso, ‘da Fumaça’, os efeitos desapareciam rapidamente, não ajudando muito o prefeito às voltas com a retransmissora da TV Tupi e recursos à próxima campanha. 

    1. Francisco,

      O teu comentário reforça a convicção de que o GGN é hoje o espaço mais qualificado do mundo virtual. É por isso que não saio daqui por nada. 

  3. Prefeitos de ontem e de hoje

    Uma tipica Sucupira de algum estado brasileiro. Acho que todas eram, né, Fernando. As pessoas eram mais ingênuas e enganaveis, mas os malandros paraguaçus ja eram os mesmos 🙂

    1. Sucupira? Veja essa, Maria Luísa

      Ponta Porã (MS) teve um prefeito folclórico, histórico e histriônico nos anos 70 chamado Ayres Marques (falecido em 2010), cheguei a conhecê-lo pessoalmente, porque morei lá entre 75/77. Pois bem, a prefeitura construiu nova sede, grande, espaçosa, moderna. Um dia, um piloto sobrevoando a prefeitura notou que o formato/estrutura lembrava claramente as letras A e M entrelaçadas, que formavam as iniciais do prefeito. Polêmica instalada, o prefeito defendeu-se explicando que aqueles A e M queriam dizer, singelamente, Administração Municipal. 

      Sucupira perde, Odorico Paraguaçu não faria melhor. 

  4. Fernando, caro

    Há ainda muitas coisas idílicas e galhofeiras em nosso interior. Não só de São Paulo, mas mesmo de litorais e beiras de grandes rios. 

    A merda é que a isso se sobrepõe um racionalismo mentiroso, hipócrita, que nos obriga, o tempo todo, a lembrarmos que tivemos ditadura e ditadores. Que alguns companheiros morreram e que não devemos esquecer Ibiúna, embora quando, recentemente, estive lá, em Andanças Capitais, não fiquei lembrando de mim, Dirceu, Birão, Benê, Travassos, Helenira, Honestino, cobertor nas costas, saindo de lá em fila, alguns para a tortura, outros para o exílio, outros ainda para ficarem anos a fio amedrontados.

    Inclusive, na praça principal, vi velhos caipiras, provavelmente plantadores de verduras, jogando dominó, enquanto outros se preparavam, no fim da tarde, para contar causos num boteco e soltar fumaça de cigarro de rolo.

    Obrigado pela lembrança e pelo texto, meu amigo.

    Abraços ao Paraitinga.

    1. Rui,

      Choveu de forma consistente e ininterrupta de sábado à tarde até ontem à noite, mais de 48 horas. O bravo Paraitinga saiu do leito e avançou alguns metros, suficiene para por em alerta a traumatizada populaçao local, onde me incluo, pois moro defronte ao rio. O bravo Parahytinga, bufando de cheio, retribui as lembranças esperando tê-lo em breve por aqui. 

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