Paulo Cunha, o grande industrialista

Com 74 anos, grande industrialista está perdendo a voz. Os olhos continuam vivos, atentos, a atenção concentrada no país.

Desde os anos 80, Paulo Guilherme Aguiar Cunha, ou meramente Paulo Cunha transformou-se na referência máxima dos industrialistas brasileiros, candidato permanente a Ministro em qualquer governo que assumisse. Jamais aceitou convites ministeriais, jamais abandonou a discrição e jamais deixou de pensar no projeto de país.

Começou sua carreira na Petrobras, em 1969 transferiu-se para o Grupo Ultra e em 1981 assumiu a presidência.

O Ultra surgiu nos anos 30 para fornecer combustível para dirigíveis alemães antes da guerra, depois avançou no gás de cozinha, quase foi expropriado na Segunda Guerra, pelo fato do fundador, Pery Igel, ser alemão – e sem se levar em conta que ele foi servir na FEB na condição de piloto.

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Cunha passou pelos estertores do regime militar, quando a indústria de base brasileira, especialmente paulista, atingiu o seu auge com os investimentos do II Plano Nacional de Desenvolvimento e o aparecimento de uma nova geração de empresários.

Ajudou a implantar a Oxiteno, a Ultrafértil e o mercado de fertilizantes concentrados.

Sua formação industrialista aprofundou-se nos inúmeros cargos que acumulou no setor, como presidente da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), membro do Conselho de Administração do BNDESPar entre outros.

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Mas seu maior feito foi ter preservado a chama do industrialismo, mesmo quando políticas cambiais desastrosas do pós Real, atravessando os governos FHC, Lula e Dilma, tiraram todo o dinamismo da indústria.

Paulo Cunha acompanhou, escandalizado, o longo processo da financeirização, o advento dos yuppies de mercado. Em um dia qualquer dos anos 90, narrou-me uma cena de Wall Street. Ele descendo o elevador, entram dois yuppies que, aos risos, comentavam que no dia seguinte iriam detonar o México.

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Foi uma das principais lideranças a estimular a criação do IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial). Para os poucos jornalistas que ele permitia aproximação, passava lições claras da economia real, o papel do câmbio, a visão não preconceituosa das estatais, a integração capital privado, público e planos estratégicos.

Na grande crise global de 2008, quando parecia que os grupos nacionais seriam protagonistas da grande aventura da internacionalização, divertia-se comparando os modelos de gestão do Ultra – e demais grandes grupos nacionais – com o burocratismo das grandes multinacionais, verdadeiras repartições públicas com seus métodos de controle.

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Com cautela, visão estratégica, foco em gestão, conduziu o Ultra na grande transição dos anos 90 e 2.000. Por excesso de cautela, perdeu a disputa com a Odebrecht na privatização da petroquímica.

Mas enveredou por outros caminhos, conseguindo consolidar o crescimento do grupo e, depois, profissionalizar sua gestão. Seu último ato foi a abertura do capital do grupo, a transformação de todas as ações em ordinárias, quando o Ultra já se tornara o terceiro grupo nacional em faturamento.

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Á medida em que vai saindo de cena, seu lugar não foi mais ocupado por nenhuma outra liderança de peso.

Deixou um depoimento no CPDOC da Fundação Getúlio Vargas, essencial para se entender o período em que o país perdeu o bonde da industrialização (http://migre.me/p6AcY) 

Luis Nassif

19 Comentários

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    1. Exatamente! Apesar de Paulo

      Exatamente! Apesar de Paulo Cunha, somente DEPOIS da democratização, tal qual uma Madalena arrependida, dizer que tinha vergonha do Boilensen, a verdade é que TODA a diretoria e principais executivos de TODAS as empresas do GRUPO ULTRA eram obrigados a contribuir para a OPERAÇÃO OBAN em São Paulo, e para organizações paramilitares similares em todo o território nacional, sendo os financiadores diretos da tortura e da morte nos cárceres da repressão, ao lado de inúmeros outros grupos econômicos, nacionais e internacionais, todos beneficiários da ditadura.

      Do mesmo modo, TODOS os executivos das empresas o GRUPO ULTRA, deveriam reportar às forças da repressão poítica, lideranças sindicais e exortarem empresas com as quais tivessem negócios, a também contribuírem para a repressão.

      Estas informações não me foram passadas por jornais de esquerda da época, porque eles estavam sob intensa fiscalização, e  a última coisa que a repressão deixaria ser desvendada seriam as fontes de financiamento do terror de Estado. Quem me passou as informações, mencionando expressamente o GRUPO ULTRA, foi uma tia emprestada, mãe de um amigo meu, na casa de quem inclusive eu morei, e que namorou uma das bestas-feras da tortura.

      Este torturador era de tão alto escalão na OBAN, que usava avião à sua disposição, apenas para jantar com sua namorada em São Paulo, saindo de bases militares (na época Galeão, área militar do Santos Dumont e até do Campo dos Afonsos), sendo os pilotos, militares cedidos à  repressão; o aparelho pintado com cores civis e o combustível e a manutenção “bancada” com recursos próprios dos centros de tortura.

      Agora jornalistas ingênuos, talvez por se apiedarem dos velhos e dos achaques da velhice, tentam absolver a culpa de nazistas e criminosos dos direitos humanos, crimes imprescritíveis, como é exatamente o caso de PAULO CUNHA, que agora deve ser um velhinho com cara de bonachão, chamando a todos de “meu filho”, mas que durante a ditadura era um financiador consciente das crueldades e das perversões do terrorismo de Estado.

       

      1. Lendo o texto até me

        Lendo o texto até me simpatizei com esse senhor, mas lendo os comentarios, com os quais aprendo muito, mudei de ideia  –  quem cala, consente, amigos.

  1. ÔÔÔ Nassif, finalmente algo

    ÔÔÔ Nassif, finalmente algo de bom da ditadura militar…..Admita que a industria no Brasil só salta com ditaduras, militares ou não…..

    1. Qualquer governo industrialista será derrubado

      Na história do Brasil é assim, não importa o governo, na ditadura civíl, na militar ou na democracia, quando qualquer governo Brasileiro se volta para o capital nacional e para a industrialização, VEM O GOLPE.

  2. Paulo Cunha: “Grande” democrata?

    Ele entrou para o Grupo Ultra em 1969, ou seja, em plena ditadura militar. Mas não podemos esquecer que justamente o Grupo Ultra, em cuja diretoria pontificava o tal Henning Albert Boilesen, Presidente da Ultragás, era um dos mais firmes sustentáculos dos aparelhos de repressão clandestino da ditadura militar. Lógico que Paulo Cunha tinha plena consciência e aprovava as reuniões que o Grupo Ultra convocava com outros empresários, exortando-os a contribuirem para o caixa da tortura.

    Agora vejo descendentes do Hélio Beltrão, por exemplo, outro entusiasta da tortura nos porões da ditadura, igualmente do Grupo Ultra, apregoando o desenvolvimentismo do alto de sua organização neoliberal MISES.ORG, e mais estupefato ainda, jornalistas que sempre tive como exemplares, rendendo loas a financiaores de torturadores. Oh tempos trevosos… 

    1. Hélio Beltrão era um

      Hélio Beltrão era um democrata. Seu filho é filho do Banco Garantia, onde trabalhou e fez carreira.

      Já Paulo Cunha tinha profunda vergonha de Boilesen, a quem taxava de doente.

      1. Hélio Beltrão democrata?

        Hélio Beltrão, ou melhor, Hélio Marcos Pena Beltrão, era filho do Deputado Heitor Beltrão, um inflamado líder udenista; foi Secretário dePlanejamento de Calos Lacerda (1960-1961), e logicamente, coerente com seu chefe de antanho,  um dos arquitetos do Golpe Civil-Militar de 1964, que tanto apoiou e era pelos golpistas visto como confiável, que foi Ministro do Planejamento entre 1967 e 1969 (Plantão do Gen. Costa e Silva) e posteriormente da Junta Provisória de 1969, sendo um dos signatários do AI-5.

        Enaltecer com o epíteto democrata alguém que conspirou contra um Presidente eleito (João Goulart), se aliou nas primeiras horas aos golpistas e expressamente assinou o AI-5, é o escarnecer da inteligência alheia! 

  3. Que desperdicio, nao?

    Que desperdicio, nao? sr. Nassif. Esses bons homens publicos brasileiros, escondidos atras de grandes conglomerados , so dandos pitacos certeiros, porem,  inocuos… Ideal  seria, se conseguissem sair da acomodacao medrosa e  tentar enfrentar os dinossauros indesturtiveis, pois,essa e a nossa grande marca. Bons dirigentes como o narrado por V.Excia, deve existir as pencas, mas, preferem o anonimato covarde. 

  4. Pioneirismo.

    Paulo Cunha é o grande “intelectual orgânico”, nos termos de Gramsci, da indústria petroquímica brasileira. Não apenas um industrialista, mas um líder de classe e formulador de pensamentos políticos e econômicos do setor. Faz parte de uma empresa (Ultra) que apostou no pioneirismo em vários momentos. É o caso do gás de cozinha (Ultragas), a rede de varejo pra vender os fogões que usavam o gás de cozinha (Ultralar), a produção de fertilizantes no advento da “Revolução Verde” (a Ultrafértil), a produção de óxido de eteno (Oxiteno), a construção de plataformas para a Petrobras (Ultratec), enfim.

    É interessante observar, porém, que esse pioneirismo do grupo Ultra se realizou por meio de associações com o capital estrangeiro e com o aparato Estatal: a Mobil fornecia butano para a Ultragaz; a Ultrafértil tinha participações da Phillips Petroleum; a da Oxiteno tinha a Halcon (por meio de sua subsidiária Scientific Design, dona da patente industrial para a óxido de eteno) e a Petroquisa. O caso da Ultrafértil quase deu errado: a participação acionária inicial era de 56,5% para o grupo Ultra e 43,5% para a Phillips Petroleum em 1965. O Grupo Ultra chegou a vender participações à Phillips na Ultragaz e na Ultralar para convencê-la a se associar na Ultrafértil. Em 1970, a participação da Ultra era apenas de 30% e a da Phillips, de 60,1%, quando a Ultrafértil foi inaugurada. Quatro anos depois, a Phillips abandonou a sociedade, e a Petroquisa comprou 90% das ações da Ultrafértil, salvando o empreendimento. O que leva a considerar o grupo Ultra como um caso de “humildade”: não deixar que suas participações minoritárias num empreendimento atrapalhem um bom negócio. Tanto sucesso cacifou Paulo Cunha como um representante do setor e, por meio da Abiquim, elevar o nome da indústria química no final dos anos 70 e início dos anos 80 como setor importante da economia nacional, e da própria Abiquim como associação relevante.

    Sinceramente, os bastidores da venda da participação do Banco Econômico na Copene, em 2001, ainda merecem melhor explicação. O Paulo Cunha era simpatizante do PSDB, o FHC reconhecia o Cunha como interlocutor do setor petroquímico e eles eram os grandes favoritos. O que o levou a perder o leilão, ainda está para se escrever num livro.

  5. Pioneirismo.

    Paulo Cunha é o grande “intelectual orgânico”, nos termos de Gramsci, da indústria petroquímica brasileira. Não apenas um industrialista, mas um líder de classe e formulador de pensamentos políticos e econômicos do setor. Faz parte de uma empresa (Ultra) que apostou no pioneirismo em vários momentos. É o caso do gás de cozinha (Ultragas), a rede de varejo pra vender os fogões que usavam o gás de cozinha (Ultralar), a produção de fertilizantes no advento da “Revolução Verde” (a Ultrafértil), a produção de óxido de eteno (Oxiteno), a construção de plataformas para a Petrobras (Ultratec), enfim.

    É interessante observar, porém, que esse pioneirismo do grupo Ultra se realizou por meio de associações com o capital estrangeiro e com o aparato Estatal: a Mobil fornecia butano para a Ultragaz; a Ultrafértil tinha participações da Phillips Petroleum; a da Oxiteno tinha a Halcon (por meio de sua subsidiária Scientific Design, dona da patente industrial para a óxido de eteno) e a Petroquisa. O caso da Ultrafértil quase deu errado: a participação acionária inicial era de 56,5% para o grupo Ultra e 43,5% para a Phillips Petroleum em 1965. O Grupo Ultra chegou a vender participações à Phillips na Ultragaz e na Ultralar para convencê-la a se associar na Ultrafértil. Em 1970, a participação da Ultra era apenas de 30% e a da Phillips, de 60,1%, quando a Ultrafértil foi inaugurada. Quatro anos depois, a Phillips abandonou a sociedade, e a Petroquisa comprou 90% das ações da Ultrafértil, salvando o empreendimento. O que leva a considerar o grupo Ultra como um caso de “humildade”: não deixar que suas participações minoritárias num empreendimento atrapalhem um bom negócio. Tanto sucesso cacifou Paulo Cunha como um representante do setor e, por meio da Abiquim, elevar o nome da indústria química no final dos anos 70 e início dos anos 80 como setor importante da economia nacional, e da própria Abiquim como associação relevante.

    Sinceramente, os bastidores da venda da participação do Banco Econômico na Copene, em 2001, ainda merecem melhor explicação. O Paulo Cunha era simpatizante do PSDB, o FHC reconhecia o Cunha como interlocutor do setor petroquímico e eles eram os grandes favoritos. O que o levou a perder o leilão, ainda está para se escrever num livro.

  6. Paulo Cunha, o grande industrialista

    Sem dúvidas,  economia brasileira é para experientes  empresários que à anos veem navegando por aguas turbulentas e ainda conseguem enxergar suas empresas em planos futuros,……são os caras !!!!

    A politica brasileira parece que não acordou;… o planeta passa por grandes transformações e uma nação precisa, acima de ideologias politicas, ter planos visionário que possam enchergar essa nação daqui à 10, 20, 30,….50 anos.

    Não é o que vemos por aqui.  Enxerga-se mandatos.     Estamos fuzilados na primeira delação premiada ou instabilidade do dolar…..

    Essa visão precisa ocorrer de forma rápida já para as proximas eleições…..

    Temos algum nome novo pra nos capitanear nesses mares turbulentos que teremos pela frente ? …se não, precisamos trabalhar nesse nome de concenso, já !

    Senhores empresários;…. alquém se habilita ?

  7. Paulo Cunha

    Há que separar o joio do trigo, sempre que isto não se faz os comentários estão longe de representar a real história ou fato narrado. Paulo Cunha  e Boilensen são duas pessoas completamente distintas e totalmente diferente em tudo que se possa narrar ou contar. Estive em sua companhia por 37 anos e sua lisura e compromisso com o Brasil sempre estiveram acima de qualquer suspeita, mesmo quando havia adversidades . Sua dedicação ao Grupo Ultra sempre foram feitos de maneira ordeira. E não pode atender chamados que lhe eram feitos para que ocupasse cargos politicos visto que mesmo não os ocupando havia sempre sua postura de servidão e disponibilidade presentes. Prezado amigo Paulo Cunha continue em sua trajetória, pois não há nada mais simples e servil que manter-se firme em sua trajetória. 

  8. Para provar que o que faz indústria não são industriais

    Colocar estes industriais no comando das políticas públicas é de uma burrice monumental, por isto que ele nunca se atreveu a assumir qualquer cargo no governo, teve bom senso de perceber suas limitações.

    O mundo é muito mais complexo, sutil e dissimulado do que a maioria pensa, Nassif incluso, não aceita amadorismo na condução.

    Política é coisa para profissional.

    Todas as mazelas que existem hoje estão diretamente ligadas az más políticas.

    Sem Astrologia, Tarot e Geometria é impossível qualquer ação consequente de valor político.

    Mas é duro para um cego dissertar sobre o amarelo.

  9. Porque é Domingo!

    Deus criou o homem à sua imagem; à imagem de Deus ele o criou; e os criou homem e mulher. (Gênesis 1, 27)

    O rosto feminino de Deus

    http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1579&secao=248

    IHU On-Line – O que caracterizaria sentir Deus de um modo feminino? 
    Maria Clara Bingemer-  Foi Jesus quem nos ensinou a chamar a Deus de Pai. E, certamente, ele o fez seguindo os modelos culturais da época, que falavam masculinamente de Deus. Diferentemente de outros povos que tinham também deusas, o povo de Israel sempre se referiu a Javé no masculino. Mas como falar de Deus-Pai nessa nova linguagem? Primeiramente, é preciso lembrar que Deus-Pai não é pai como nossos pais humanos, tão marcados por pecados e imperfeições. Além do mais, o pai entra com apenas uma parcela na fonte e origem da vida de uma criança. Quando dizemos Deus-Pai, já estamos afirmando a paternidade perfeita do Pai, uma paternidade que inclui toda a dignidade e beleza e generosidade, tanto da paternidade quanto da maternidade. Em si, quando dizemos Deus-Pai, já estamos pensando e falando num Deus que também é Mãe. A geração eterna do Filho pelo Pai é tão plena e perfeita que num único Filho resplandece toda ternura materna e todo vigor paterno de seu amor. 

    Por outro lado, não se pode cair na tentação oposta, e chamá-lo somente de Deus-Mãe. Também nossas mães humanas são marcadas por imperfeições e pecados, e nenhuma delas consegue ser sozinha a fonte da vida de seus filhos. Além disso, em nossa linguagem católica, a palavra “Mãe” é específica para se falar de Maria. Estaríamos correndo um sério risco de promover confusões entre Maria (que não é deusa, mas criatura de Deus) e Deus.

  10. Você nunca saberá que Jesus é

    Você nunca saberá que Jesus é tudo que você precisa até que Jesus seja tudo que você possua.

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