Café brasileiro: potência institucional afetada, por Eden Tanabe

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Foto: Divulgação

Por Eden Tanabe

Comentário à publicação “Café (já) tem 10 museus e ocupa 0,8% de área no país

O peso histórico do café como lastro da inserção internacional do Brasil, ao longo de quase três séculos, conferiu a forte presença institucional do país no segmento.

Por anos, as empresas, os executivos e o corpo diplomático brasileiro sempre tiveram um imagem de liderança e de credibilidade inconteste no setor. Como exemplo disso, destaco o peso e o decisivo papel que tivera o industrial Horácio Sabino Coimbra para que o Brasil estreitasse, nos anos 70, os seus laços diplomáticos e comerciais a então longínqua República Popular da China.

Atualmente, temos a presidência da Organização Internacional do Café, a mais importante associação de países importadores e exportadores do setor cafeeiro mundial, por meio o experiente executivo José Sette Dauster.

A forte presença institucional, no entanto, não foi capaz de transformar o país como um que primasse pela inovação efetiva.

Nesse sentido, permanecemos muito aquém de produtores regionais como a Colômbia, além do fato de que mantivemos a nossa postura de pensar o produto como uma commodity per se ou, no máximo, como um café solúvel, sem grandes agregação de valor. Itália, Starbucks e Nespresso são coisas que passamos a importar como algo inovador, não como um produto que poderia ser potencioalizado por aqui. 

Há esperça de que uma nova geração de aprecioadores desta bebida possa dar um novo impulso inovativo ao produto, por meio do incremento, a lá brasileira, da exportação do conceito de barista brasileiro.

É ver para crer e, assim, superarmos a perspectiva de sermos meros exportadores do produto físico para tornarmos exportadores de ideias inovadoras, lastreada neste produto secular a nossa economia.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

6 Comentários

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  1. A Colombia pode nos dar

    A Colombia pode nos dar lições de criação da marca CAFE DA COLOMBIA, conhecida em todo o mundo, com um personagem humano, o lavrador Juan Valdés em seu burrico, como simbolo dessa marca. Ao descer no Aeroporto de Bogota a orimeira coisa que o passageiro vê é um imenso balcão com o logo do Juan Valdés e letras garrafais CAFE DA COLOMBIA com um lindo balcão de azulejos, é marketing na veia. Mas o Brasil já teve bom esforço promocional de café quando existia o IBC com entrepostos em Triestre. A extinção do IBC foi um erro, os colombianos mantiveram uma estrutura de promoção ( a Cafeteros) e nos s desmontamos em nome do neoiiberalismo, tambem acabamos com o IAA-Instituto do Açucar e do Alcool e com isso 30% das usinas brasileiras estão falidas ou em recuperação judicial e das que sobraram metade foi vendida a estrangeiros.

     

    1. Café Colombiano e sua estratégia

      É verdade.

      A Colômbia dispendeu um imenso capital político, diplomático e mercadológico, a partir dos anos 80-90, para promover o seu arábica suave. Acredito que pesou muito nisso a questão securitária, com o intuito de fortalecer a cultura cafeeira como uma forma assentar uma atividade econômica fluída para os pequenos agricultores, tendo em tela a forte presença dos cartéis de droga em meio rural do país vizinho. A construção da marca foi precisa e eficiente, nada de estratégia grandiloquente ou sofisticada: simplesmente colocaram a marca à vista de públicos influentes, sobretudo nos países desenvolvidos. 

      https://www.cafepoint.com.br/colunas/lucio-caldeira-cafe-e-estrategia/o-posicionamento-dos-cafes-suaves-colombianos-84114n.aspx?r=260461816# 

      Um dado curioso é que, por um longo tempo, o atual presidente Juan Manuel Santos atuou como negociador-chefe da Colômbia na Organização Internacional do Café.

      Acredito que ainda temos potenciais para aflorar a questão do marketing internacional. Hoje, à luz comparativa de outras grandes metrópoles do mundo, SP tem se destacado como um centros baristas de primeira linha. Basta uma pequena andança pelos Jardins para percebermos a excelência dos cafés. Ademais, temos uma estrutura de promoção institucional bem estruturada, como a Apex-Brasil , aléme a rede consular de Promoção Comercial. Resta, como disse no post, descommoditizar um pouco a nossa perspectiva. Do contrário, continuaremos sendo, como disse o então diretor da grife Hermès, quando veio inaugurar a loja do Shop. Cidade Jardim, “o produtor da melhor seda do mundo”, sem sequer termos a noção de outras potencialidades. 

    2. Correto André. O mundo

      Correto André. O mundo inteiro reconhecia o logotipo Café do Brasil (com as folhas estilizadas e grãos maduros também estilizados) e o associava ao nosso produto, já não mais. Isso foi mérito do IBC. Até a seleção portou este logotipo.

      Hoje é difícil ver café identificado como café do Brasil nos EUA, por exemplo, ainda que sejamos o maior produtor e maior exportador de café do mundo. A Colombia fez uma competente ação de marketing dando visibilidade e credibilidade (além do merecido) ao seu produto. Ao mesmo tempo que faz a promoção do seu café alimenta a lenda de que o café brasileiro é do tipo conilon em oposição ao colombiano que é arábica. Grande inverdade pois 50% do café arábica comercializado no mercado internacional é produzido no Brasil.

      Havia problemas com o IBC, sim. Mas a solução não era sua extinção mas sua transformação, como dizes.

      Sim, há cafés colombianos muito bons, mas ainda assim o café brasileiro de melhor qualidade é superior ao melhor café colombiano. E por uma razão singela, enquanto a despolpa do grão no Brasil é feita de forma mecânica, na Colômbia é feita através de um processo fermentativo, seguido de uma lavagem. Isto não só altera a qualidade do grão propriamente dito (pela lixiviação de compostos do grão para o meio aquoso e pela absorção de compostos da polpa e ou daqueles derivados do processo fermentativo) como faz com que perca qualidade muito mais rapidamente depois de seco.

      Há uns 2-3 anos, no Havaí, o bar do hotel onde me hospedava oferecia especialidades de café de várias regiões do mundo. Os preços variavam de 2 a 3 dólares por taça, exceto para o café de Kona (4 dólares) e para o café da Mogiana (6 dólares). Isso é apenas exemplificação do potencial de mercado do café brasileiro. Mas exige estratégia de mercado, que o modelo de commodity não permite.

    3. A….

      Pergunta que não quer calar? Não poderíamos fazer isto com todos produtos brasileiros, pelo nosso estrondoso potencial de produção e mercado de mais de 200 milhões de consumidores? Não é o que fazemos com automóveis, estas “carroças internacionais” com qualidade quintomundista? Com aço? Com cacau? Com minério de ferro? Onde agregamos valor, tecnologia, pesquisa e mão de obra em nossos produtos? Mas não temos uma Elite Ideologizada, que ascendeu nos anos 30, mancomunadas com Caudilhos e Votos Obrigatórios, cuja visão de país é combater a Agropecuária Nacional? “Fogo Amigo não é a Politica Tupiniquim do AntiCapitalismo? Não estão vendo ‘Carne Fraca’ da nossa PF? No caso do café, FHC e sua genial visão estratégica, correu unilateralmente em diminuir os estoques e produção de café, numa auto-sabotagem. Resultado? Países como Vitenã e Colômbia, aproveitaram para ocupar esta parte do Mercado Mundial. Obrigado FHC e seu Plano “Lá Tinha…” Estrategista da Medicridade. Mas a culpa deve ser do Trump. O Brasil é de muito fácil explicação.    

    4. Agradeça a Fernando I

      A extinção do IBC e do IAA é obra de Fernando I , incensado por “ter inserido o Brasil no livre mercado” (sic).

      Para ter um tratamento preferencial tipo Colombia é fácil: É só arrumar um movimento à la Farc e convencer o Departamento de Estado (dos EUA) que ” movimentos preferenciais aos nossos aliados defensores da liberdade ” justificam o tratamento assimetrico recebido!

      Qualidade? Temos cafés tão bons quantos os colombianos. Somos lideres em produção e maior exportador global. Pena que o grosso dos lucros fiquem com italianos e alemães , afinal de contas, brasileiro é tão bonzinho!

  2. Andre .. se ainda existisse o IBC e o IAA …

    Neste momento, não passariam pelo crivo destas rapinas do palácio. Estão a vender tudo. Não vai sobrar nada!

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