Disparidade de números caracteriza temporada de balanços trimestrais

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Jornal GGN – Os números relacionados à temporada de balanços financeiros do segundo trimestre confirmam a disparidade apresentada dentro dos setores econômicos, seja por conta das condições econômicas ou pelas medidas adotadas pelas empresas em termos gerenciais. Analistas destacam que as companhias que concentraram esforços na reestruturação de suas contas ou realizaram ajustes acabaram apresentando um desempenho melhor, embora a conjuntura econômica também tenha seu componente de participação.

“Essa última temporada de balanços apresentou surpresas positivas para alguns setores que tem sido afetados por essa crise, como mineração, alimentos e siderurgia, que conseguiram mostrar algum grau de recuperação”, explica Marcelo Torto, analista da corretora Ativa, do Rio de Janeiro. “No caso de siderurgia, o principal fator foi uma melhor relação de importação, com a queda das compras devido ao dólar mais caro e beneficiando empresas locais, melhorando o volume doméstico e exportando mais com dólar mais caro”.

Da mesma forma, Torto diz que os preços do minério de ferro pesaram um pouco, mas que a Vale conseguiu contrabalançar a queda “com uma postura mais eficiente e um balanço mais eficiente, focado em redução de custos”.

Outro setor que foi uma surpresa positiva foi autopeças, na visão de Karina Freitas, analista da corretora Concórdia. “Houve recuperação por conta da retomada de demanda, especialmente no setor de caminhões”. O segmento de siderurgia também foi lembrado, uma vez que todas mostraram melhora mesmo com o cenário não muito confortável.

A analista também destacou o desempenho do setor de petróleo, especificamente da Petrobras. “A Petrobras apresentou um desempenho muito bom, mostrando controle da parte de gastos operacionais, tentando forçar a questão do uso das refinarias para minimizar a necessidade de importação dos derivados”. A utilização do mecanismo de hedge account (contabilidade de hedge) também afetou o resultado, fazendo com que a estatal não apresentasse prejuízos na linha final por conta da variação cambial, deixando para refletir tais impactos quando registrar receita recorrente de exportações.

Já o analista Elad Victor Revi, da corretora Spinelli, destaca o segmento de papel e celulose, uma vez que o mercado acaba precificando o lucro futuro – e a disparada do dólar afeta tais prognósticos. “Elas acabaram superando um pouco as expectativas justamente por conta do dólar, em especial a Fibria devido a receita de exportação em dólares e os custos em reais”.

Por outro lado, Revi considera que os números do segmento de logística e concessão (como Ecorodovias e CCR) ficaram um pouco abaixo da expectativa por conta da intervenção estatal na questão dos pedágios. “Cerca de 90% da receita da CCR é com pedágio. Particularmente não esperava uma intervenção, mas houve e ainda não está bem definido se vai haver mais intervenção. E as ações vem apanhando bastante por conta disso”. Para Karina Freitas, da Concórdia, mesmo sem a autorização em 2013, o reflexo do reajuste realizado nos últimos 12 meses foi satisfatório, diante do fluxo razoável de veículos, da safra agrícola forte e da expectativa de recuperação da indústria em algumas regiões.

Conhecido por ser um setor bom pagador de dividendos, o setor elétrico apresentou algumas disparidades. Segundo Karina Freitas, esperavam-se resultados mais pressionados, mas algumas empresas tiveram resultados abaixo do esperado, o que levou a média do segmento para baixo. “Outro setor que não foi muito bem foi saneamento, por conta do resultado modesto da Copasa, enquanto a Sabesp está começando a sentir pressão de custos devido ao processo de revisão tarifária que não sai”.

A analista também comentou sobre o segmento de telecomunicações, cujos dados vieram enfraquecidos tanto entre as empresas como no consolidado. “Os dados do setor mostraram que não seria uma temporada tão boa, mas se comprovou efetivamente nos números. O segmento veio com dados inferiores quando a gente coloca dentro da expectativa”.

Quanto ao desempenho do varejo, Revi explica que houve um impacto muito grande do cenário econômico interno, por conta do aumento do endividamento do consumidor e alta do desemprego, por exemplo. “Na realidade, tivemos cerca de um a dois anos com um crescimento bem importante. A economia melhorou, aumentou o poder de compra, a concessão de crédito foi facilitada, e isso atingiu o nível de maturidade. Dentro desse nível de maturidade, ficou estagnado o crescimento do setor de varejo”, diz. Apenas aquelas que ganharam com faturamento financeiro tiveram um resultado favorável, como a Lojas Renner – cujo segmento de cartões puxou o balanço trimestral.

Dada a piora do setor de varejo, a área de shoppings centers também registrou um volume menor de vendas por conta das manifestações. Embora seja um fator pontual, o analista da Spinelli explica que isso afeta em até 3% o faturamento total. O fato de algumas cidades terem mais oferta de shoppings do que demanda é outro componente a ser levado em consideração.

Para Marcelo Torto, da Ativa, o segmento de varejo e de consumo decepcionou. “O segmento vinha puxando economia, e tinha expectativa de piora devido a queda da economia doméstica. A renda real está deixando de crescer, o que acabou acarretando a piora do setor de varejo e consumo”. Além disso, os sinais de arrefecimento econômicos apurados no segundo trimestre devem ser padrão daqui para o fim do ano.

Quanto ao setor financeiro e bancos, o analista acredita que o padrão trimestral foi mantido. “(O setor) continua com uma tendência positiva de alavancagem, reduzindo a exposição em ativos de maior risco e margens. Os spreads pararam de cair e, aliado ao movimento de retomada de alta dos juros, foi uma temporada boa para bancos privados”.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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