Lula condenado e o mercado financeiro vai ao paraíso

do Marco Zero

Lula condenado e o mercado financeiro vai ao paraíso

por Laércio Portela

A cada voto contra Lula no julgamento do TRF 4, em Porto Alegre, as ações da Bolsa de Valores, em São Paulo, subiam e o dólar caía. O invisível (mas onipresente) mercado tem lado. Lá, no outro lado do mundo, no frio suíço de Davos, Michel Temer e Henrique Meireles comemoravam (recatadamente, como manda o figurino) o otimismo dos bilionários gringos com o futuro do Brasil sem o nome de Lula nas urnas das eleições presidenciais.

Mas ao saber do boom da bolsa, Temer não se conteve: “Nossa vinda para cá foi exitosa”. O seu discurso para uma plateia esvaziada de investidores no dia do julgamento de Lula “tranquilizou” o mercado e o jornal O Estado de S. Paulo para quem “Temer se distancia de atalho populista” ao garantir que “não há espaço para retorno, a pauta das reformas será mantida e que ninguém deve recear o resultado das eleições”. Pelo menos ninguém em Davos.

Um dia antes do julgamento, Meireles chegou a afirmar que os investidores internacionais pedem a todo o tempo que ele se candidate a presidente. Até o momento não se sabe de apelo do tipo feito pelo eleitor brasileiro.

Euforia na Bolsa

Consumada a condenação em segundo instância, a bolsa fechou em alta de 3,72% atingindo 83.680 pontos, o “nunca antes na história desse país” na voz do mercado. O dólar caiu 2,43%, a maior queda desde maio do ano passado. O Real foi a moeda que mais se valorizou em relação ao dólar em todo o mundo nesta quarta (24).

Os jornalões amanheceram nas bancas tomados pelos “analistas financeiros” comemorando sem disfarces a derrota jurídica do líder das pesquisas de intenções de votos a presidente. “O mercado tem voz e hoje (quarta) ele gritou, soltou foguetes. A gente efetivamente enxerga que o risco que estava sendo imputado ao Lula era o risco da irresponsabilidade e da gestão pouco profissional”, prega o “estrategista” Adeodato Neto, da Eleven Financial, na Folha de S. Paulo.

As ações que mais subiram foram as da Eletrobrás, Petrobrás e Banco do Brasil. “São justamente as empresas que melhoraram nos últimos meses com a expectativa da desestatização”, explica, também na Folha, Ignácio Crespo da Guide Investimento. Onde está escrito desestatização leia-se privatização.

A notícia da condenação de Lula também catapultou as ações do setor financeiro. Subiram as cotações dos papéis do Itaú, do Bradesco e do Santander Brasil.

Bilionários

Não há dúvida, a perspectiva de Lula estar fora do páreo na disputa presidencial deste ano deixou mais seguros os 12 novos bilionários que o país ganhou em 2017, segundo os cálculos da ONG inglesa Oxfam. Afinal, galgaram o topo da pirâmide no período em que o tema da desigualdade social saiu do noticiário e do discurso das autoridades políticas agora totalmente comprometidas com a agenda de redução de direitos sociais e cortes (na verdade, redirecionamento) de gastos públicos.

Somados, chegam a 43 os brasileiros ultra-ricos. A riqueza de apenas cinco deles equivale a todos os recursos dos 50% mais pobres da população nacional. Surpresa: esse dinheiro todo vem, em sua maioria, de herança e de relações entre empresários e governos.

No jornal do Grupo Globo especializado em economia, o Valor Econômico, o “resultado unânime (contra Lula) agradou empresários” de grandes companhias brasileiras. Também agradou ao PSDB, cujo instituto Teotônio Vilela apontou o “fim do jugo criminoso” e para quem “Lula foi apenas mais um réu e não um candidato a mártir”.

Cartas na mesa

O jornal dedica um bom espaço para a análise política de cenário feita pelo ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso.

A possível saída de Lula do páreo, para FHC, enfraquece o seu extremo oposto, o deputado Jair Bolsonaro (aqui podemos lembrar capa recente da Revista Veja que apontava o medo com as duas candidaturas extremistas) e fortalece um candidato de “centro” como o governador de São Paulo e colega de partido Geraldo Alckmin. Luciano Huck não é carta fora do baralho, mas considerado ainda “cru” para assumir a Presidência da República.

“O jogo começa agora”, vaticina Fernando Henrique, como se ignorasse que já estamos na prorrogação de uma partida de portões fechados, com transmissão exclusiva pela TV e financiada por grandes patrocinadores nacionais e internacionais.

 
Redação

2 Comentários

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    1. em….

      Ninguém estava animado com a Representatividade que mandamos para lá. O Mundo inteiro está esperando para botar as mãos em mais um pedaço do país que será dado para cobrir as contas da nossa Elite. Inclusive AntiCapitalistas. Você acha que AntiCapitalistas pagam suas contas de que forma? Você não ouviu a Ministra da Igualdade? Está passando fome, vivendo miseravelmente com seus poucos 35 mil reais. Quem você acha que pagará a ‘qualidade’ de vida dela? E de milhares de outros?  

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