Ao contrário da sensação de “salve-se quem puder” vista na segunda-feira, as negociações de terça-feira na bolsa de valores permaneceram em alta durante boa parte do dia, repercutindo os últimos balanços do primeiro trimestre e dados divulgados no exterior, uma vez que a agenda doméstica estava esvaziada.
O Ibovespa (índice da Bolsa de Valores de São Paulo) encerrou o dia em alta de 0,40%, aos 54.666 pontos e um giro financeiro de R$ 8,022 bilhões. Com isso, a bolsa brasileira acumula uma perda mensal de 2,22%, e desvalorização anual de 10,31%.
“O mercado está meio de lado, reflexo de alguns indicadores da zona do euro que exerceram comportamentos mistos em termos de evolução do Ibovespa”, comentam os analistas Bruno Piagentini e Marco Aurélio Barbosa, da corretora Coinvalores. Entre os dados divulgados nesta terça-feira, estão os números de confiança do investidor na Alemanha, que caiu de 48,5 pontos para 36,3 pontos em abril, bem abaixo das expectativas. Por outro lado, o mesmo indicador para a zona do euro ficou acima do que o mercado esperava. Além disso, a produção industrial da zona do euro subiu 1%. “São contrapontos que trouxeram esse desempenho não muito negativo. Ao mesmo tempo, percebe-se a Alemanha sentindo os efeitos da crise, mas a zona do euro tem alguma sinalização de recuperação”.
Como o mercado não tinha muitas informações sobre os Estados Unidos (e os poucos indicadores que saíram acabaram confirmando o cenário de retomada do país), os números da China acabaram exercendo um impacto mais forte sobre as negociações, devido a sua correlação com segmentos como siderurgia, mineração e produção de commodities. “Diminuiu as expectativas com relação a estímulos monetários para alavancar a atividade, e existe uma percepção cada vez mais forte de que a China não vai crescer 8%, mas algo em torno de 7%, 7,5%. Quando você coloca o modelo econômico, uma variação de 0,5 ponto percentual transmite para o Brasil e outros países uma diferença considerável”.
A situação envolvendo a saída de Nelson Barbosa do Ministério da Fazenda também não foi bem recebida. Embora os motivos de sua saída só devam vir à tona nos próximos dias, em termos de estilo de condução à frente da Secretaria da Fazenda agradava ao mercado devido a sua postura, considerada mais moderada – o que chamava a atenção do investidor estrangeiro, em especial.
“Apesar de existir a percepção de que o (Arno) Augustin (secretário-executivo do Tesouro Nacional) tem um parecer mais político, de certa forma, em termos de condução e formulação de política, eles atendem questões similares. Não é uma catástrofe, mas não tem como não repercutir”, dizem Piagentini e Barbosa. A economista Larissa Gatti, da corretora Souza Barros, ressalta que o mercado já vive uma crise de confiança com o governo federal, e qualquer tipo de mudança causaria algum tipo de impacto. “É preciso ver se a pessoa que vai ocupar o cargo vai atender os mesmos requisitos com relação a transparência, isso é importante”.
Quanto ao pregão de quarta-feira, Larissa acredita que a bolsa ainda deve permanecer volátil. “Amanhã é praticamente o último dia de divulgação de balanços, mas a diferença é que na terça-feira não teve um indicador econômico de relevância, e amanhã temos dados importantes dos Estados Unidos e no Brasil”.
A agenda para a quarta-feira conta com a divulgação dos dados de inflação norte-americana, além da sondagem industrial e os números de estoque de petróleo. No Brasil, destaque para os números de vendas do varejo (restrito e ampliado) do mês de março, a ser divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Quanto aos balanços corporativos brasileiros, os analistas da Coinvalores consideram que os números vieram um pouco melhores do que o apurado no quarto trimestre de 2012, e a expectativa é que os dados do segundo trimestre venham um pouco melhores, “principalmente pela maturação dos estímulos anunciados ao longo de 2012”.
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