Opinião do Nassif: o arco do liberalismo pobre

https://www.youtube.com/watch?v=a9defOqaayE width:700

Já dizia Nelson Rodrigues que o subdesenvolvimento é um trabalho de gerações, e a elite brasileira parece ter assumido essa máxima. O impeachment de Dilma, apoiado por muitos setores desse grupo, acabou criando as condições para um desmonte não somente das políticas sociais promovidas pelo Estado, como também do seu papel como indutor da cadeia produtiva.

Um exemplo para entendermos como o mercado brasileiro vem se articulando, nesses últimos tempos, é a formulação do quadro de palestrantes da Expert 2017, feira organizada pela XP Investimentos e que irá reunir entre seus palestrantes Deltan Dellagnol, João Dória, Armínio Fraga, Luiz Fux e, até mesmo, Paulo Hartung, o governador do Espírito Santo que quebrou o estado após aplicar uma política de forte contenção de recursos, culminando na greve de funcionários públicos que levou a uma crise de segurança sem precedentes na história capixaba.

Falta no clube de milionários brasileiros alguém com uma visão mais sofisticada de país, como houve em outros momentos na história. Nos anos 50, por exemplo, conservadores como Roberto Campos e Octavio Gouveia de Bulhões tinham visões muito claras de modernização das instituições públicas, mesmo que dentro da ótica deles. Foram autores de reformas trabalhistas, que ajudaram a flexibilizar o mercado de trabalho, montaram o Banco Central, a Receita Federal e modernizaram o mercado de capitais, além de criarem mecanismos de minidesvalorizações que preservaram a competitividade das exportações brasileiras.

Muitas das modernizações que tocaram foram feitas com base em estudos que já eram discutidos em décadas anteriores como a que desenvolveu o Estatuto da Terra, que só não foi implementado no governo João Goulart por conta do cerco que impuseram sobre ele e que terminou com o golpe de 1964.

A estratégia dos liberais brasileiros hoje é, na verdade, uma anti-estratégia, é desmontar todo o estado brasileiro, esperando que desse quadro surja uma nação melhor. O resultado final disso será o que aconteceu com o Espírito Santo de Paulo Hartung.

Daí percebemos que, a visão ideológica que atrapalha parte da esquerda, é também fatal na direita. Esta, perece por falta de formuladores que tem demonstrado ter, na realidade, uma visão ideológica de um liberalismo estreito e pobre, como a defesa de que o Estado não deveria entrar como investidor. Esse olhar obtuso impede a formulação de propostas minimamente adequadas para o país.

É claro que houve abusos quando o pêndulo veio no sentido de tornar o Estado mais forte, porém incapazes de justificar a liquidação de toda a forma de financiamento público.

Em todo o país, minimamente racional, o mercado interno é um ativo nacional que tem que ser barganhado com o exterior para trazer empresas que se instalem no território para criar centros de produção, gerar emprego, gerar tecnologia e cadeia produtiva.

O desafio hoje no Brasil é a essa incapacidade de a elite gerar uma proposta que sintetize todos os interesses nacionais, reunindo as pontas. Em todo o conjunto de ideias apresentados por esse grupo falta pontos básicos e centrais que possam garantir a construção de um país, como fizeram as elites políticas e econômicas no Inglaterra, Estados Unidos, Alemanha e Japão.

Mas aqui, a sina do subdesenvolvimento é essa, ficar apegado a bordões que são reprisados pela mídia, repetidos à exaustão, criando-se afinidades ideológicas com Ministério Público e Lava Jato.

Foto: AFP - familiares de policiais protestam por melhorias para a categoria no Espírito Santo

Foto: AFP – familiares de policiais protestam por melhorias para a categoria no Espírito Santo
 

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Redação

19 Comentários

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  1. 10 estrelas ********** para

    10 estrelas ********** para você, Nassif ! É exatamente disso que precisamos, uma visão estratégica para a construção do país sem ideologia de direita ou esquerda, APENAS  inteligente, estratégica para o bem do cidadão e o desenvolvimento do país.

  2. Por falar em liberalismo, o Brasil voltou a crescer, logo,…

    Em meados de fevereiro do corrente ano, o Henrique Meireles afirmava categoricamente:

    “O Brasil hoje já está crescendo. Isso é muito importante, porque todos nós passamos por um momento muito difícil, quando o Brasil enfrentou a maior recessão de sua História. Mas a mensagem importante é que essa recessão já terminou. Vivemos ainda as consequências dela em muitos aspectos. Ela foi longa, difícil, dura, gerou esse número de desempregados, mas o Brasil já começou a crescer”.

    Hoje, o Sujeito soltou a seguinte pérola:

    “É um governo de profunda transformação. A recessão que encontramos foi maior que a depressão de 1930 e 31. O tempo do verbo é no passado. A recessão que ‘vivemos’. O Brasil já voltou a crescer, mas estamos ainda vivendo os efeitos da recessão. O desemprego está elevadíssimo, deve crescer ainda um pouco, pois tem reação um pouco mais lenta a retomada, mas começa a cair no segundo semestre”.

     

    O Brasil voltou a crescer, logo, a altíssima taxa de desemprego não vai cair, vai se elevar ainda mais.

    Não há nada tão ruim que não possa piorar. O desempego elevadíssimo vai se elevar ainda mais.

    Olha como o Rolando Lero é apatetado e contraditório:

    “O Brasil está mudando mais em um ano do que mudou em décadas. A economia que vivia uma situação de descontrole também no campo inflacionário. Tínhamos uma situação onde o desemprego era elevado, inflação alta e juros elevados. Sinal de desarranjo na economia, e isso está voltando ao normal”.

     

    A inflação baixa é sinal de recessão, de desaquecimento da demanda. Realmente o Brasil está mudando, mas para pior.

    1. Henrique Meirelles é o

      Henrique Meirelles é o exemplo vivo e andante dos fiéis da “fadinha da confiança” (dá-lhe Paul Krugman!)

  3. Nada mais apropriado para

    Nada mais apropriado para esse forum o patrocinio da XP, uma especie de “country club” dessa classe paulistana

    de profissionais entre 30-40 anos, globalizada, com a cabeça fora do Brasil profundo, que renegam por pedantismo

    Miami-centricos,   somos chiques porque usamos certas grifes, tomamos os vinhos certos,  lemos os livros da lista de VEJA, fazemos Pilates na academia da moda e curtimos os restaurantes de chefs que saem na TV.

    Ao contrario dos paulistanos refinados da Semana de Arte Moderna, uma eleite inovadora, criativa e que pensava o Brasil,

    o  Club XP tem um conjunto de ideias e percepções que serviriam perfeitamente para a Costa Rica ou para a Republica Dominicana,  uma ideologia de dependencia complta de um EUA mitico que já não é mais o que foi, o que se vê  nas elites centro-americanas, eles tem vergonha de seu passaporte e preferem ser confundidos com americanos.

    A grande diferença entre essa ideologia de colonização mental e o Brasil verdadeiro é que o Brasil é um dos maiores paises do planeta sob todos os pontos de vista e com base nessa realidade fisica não pode ser mentalmente colonizado, o Brasil e os brasileiros precisam agir como um pais central e não um pais periferico, influenciar e não ser influenciado.

    Essa elite XP não tem,  por insuficiencia intelectual, consciencia do que é  o Brasil, sua Historia, trajetoria, geografia e potencialidades, eles agem como a elite do Panamá, os “rabiblancos”, aliás bem mais sofisticada do que a elite XP.

    A visão macro de um Brasil potencia exige outro gabarito de elite, essa que ai está tem seu limite no anuncio globallizado da XP com um ator amassado com roupeta moderninha, o proprio anuncio dá a dica, sou um cliente special antes de ser brasileiro.

     

    1.   A única pergunta que faço

        A única pergunta que faço é: onde estão seus congêneres, Araújo? Você transita pela elite, você é elite, onde estão os exemplares jovens da sua cepa, que mesmo contrários à minha visão de mundo ainda assim pensam no país como se fosse uma NAÇÃO, não um terreno baldio?

    2. Os cães ladram e a caravana

      Os cães ladram e a caravana passa… Ainda que ladrem alto, falta, meu caro, pedigree a esses cães. Que sina! 

    3. Quando o assunto é a “elite”

      brasileira.

      Vem sempre a imagem do filme “Queimada!” de Pontecorvo.

      Mas não há mais a necessidade de mandar um Walker para cá . Os agentes locais darão conta do recado….

  4. Observem os empresários que

    Observem os empresários que estão sendo destruídos: sua dupla (ou múltipla) nacionalidade ou não, suas tradições familiares, sua filiação a entidades ou sociedades secretas ou não, orgulho de sua nacionalidade ou não e etc. Para o governo mundial paralelo e profundo para que servem países independentes, além daqueles que já estão vampirizados e cujo poder militar e econômico já é suficiente para o controle total?

  5. Uma luta em defesa dos trabalhadores

    As próximas eleições não será um disputa entre governo e oposição como tem sido nas últimas eleições, e sim uma disputa entre aqueles que são contra as reformas trabalhista e da previdência, e aqueles que são a favor.

    O erro daqueles que defendem o Liberalismo econômico foi provocado pela derrota do PT no congresso, que demostrou um a maioria de 2/3 para aprovar  as mudanças de forma rápida, além do apoio da maior parte da grande mídia.

    O PSDB por exemplo deixava claro que tinha a certeza da vitória em 2018, e contava com a mudanças rápidas.

    O eleitorado já está percebendo o poder do congresso, não só pela derrubada do Governo da Presidenta Dilma, mas também pelas mudanças  nas legislação trabalhista e da previdência.

    Além disso que preciso lembrar que boa parte dos deputados que estão votando a favor das reformas trabalhistas e da previdência foram eleitos em alianças com o PT, que não mais serão possíveis nas próximas eleições.

    Nas próximas eleições, provavelmente mesmo os eleitores que hoje são contra o PT, vão votar no PT , na tentativa de barrar ou reverter as mudanças na legislação trabalhista e na previdência.

    Os defensores do liberalismo econômico avaliam que a esquerda não conseguirá a maioria dos 2/3 no congresso para rever as mudanças, mas acho que estão errado.

     

     

     

  6. Caro Nassif, como diz o povo

    Caro Nassif, como diz o povo da periferia: “tá tudo dominado”.  Tem uma matéria no GGN sobre a direita libertária dos EUA em Honduras, se não me engano. A impressão é que estão fazendo isso com nosso país. Transformam o Brasil em um “velho oeste sem leis”. Quer dizer, manda quem tem o poder econômico e as armas no coldre.  Sinceramente, não acredito que haverá resistência a esse neoliberalismo cruel. Talvez a maior parte da população terá que descer ao inferno social e econômico para que se forme uma massa crítica que dê sustentação ao contra-golpe que resgate o estado brasileiro. 

  7. Faltou o nome do Barroso
    Faltou o nome do Barroso nessa lista de luminares. Certamente ele ficaria muito feliz de expor sua visão do Brasil do futuro que surgirá com o fim da corrupção no país.

  8. Menos Estado democrático, menos livre mercado

    Quem pensa a totalidade de um país, pensa o Estado. Não há alternativa, no momento, fora do Estado Nacional, por mais que sonhem os “globalistas” neoliberais e os libertários esquerdistas, respectivamente, com um “mercado” ou uma “aldeia” global.

    E mais, pensar o Estado Nacional, na atual conjuntura histórica é pensar um Estado mercantil capitalista.

    E o que é isso?

    É, entre outras coisas, na área econômica, livre concorrência.

    Ou será que estou enganado?

    Agora repare.

    Hoje, 12 de maio de 2017, 49,99% da XP foi adquirida pelo banco Itaú.

    E a XP, como outras corretoras, disputava mercado com o Itaú.

    Agora, uma pergunta que não quer calar.

    O Itaú comprou a XP para aumentar a concorrência mercantil ou reduzi-la?

    Levantando essa questão de outra maneira, a XP não concorria com o Itaú, forçando-o a reduzir suas margens para não perder clientes?

    Por outro lado, a XP não era obrigada a apertar suas margens de lucro para ganhar clientes, afinal, o Itaú é uma marca conhecida, tem um nome consolidado no mercado, e isso não força a XP a aumentar seu “prêmio”, enxugando suas margens para captar clientes?

    Em suma, quem perde com essa transação?

    Não é o mercado, que fica mais concentrado?

    Afinal, quando dois grandões deixam de brigar por clientes, uma vez que o resultado vai para o mesmo bolso, não é melhor relaxar e gozar a boa vida de um mercado oligopolizado, isto é, de baixa concorrência?

    Em outras palavras, no médio e longo prazo essa operação de compra de parte da XP pelo Itaú aumenta a margem de lucro deste gigante (num mercado bancário altamente concentrado) e diminui a rentabilidade dos demandantes – investidores individuais.

    Agora eu pergunto: isso é fortalecer a livre concorrência de mercado?

    Ora, ora, somente um Estado forte é capaz de garantir a inexistência de cartéis, isto é, de grandes conglomerados que inviabilizavam a livre e salutar concorrência mercantil.

    Enfim, você quer um mercado saudável e robusto, lute por um Estado forte.

    Somente assim ele será capaz de pairar soberano sobre todos os atores econômicos atuantes no país, a ponto de garantir igualdade de competição entre eles – nos mais diversos setores.

    Um Estado fraco permite que o mercado se concentre e, assim, mate sua essência, a igualdade de competição, que é o sopro de vida da livre concorrência.

    Como diria o Nazareno. Perdoai-lhes. Eles não sabem o que fazem – pois, ao enfraquecer o Estado moderno – com seus três pilares de freios e contrapesos – estão na verdade matando o livre mercado.

    1. de acordo!

      Concordo.

      Liberais à brasileira  gostam de citar Adam Smith. Mas não colocam em pratica o que ele defendeu.

      Muito pelo contrario.

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