Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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A ameaça simbólica de Lula e a Síndrome de Brian da esquerda, por Wilson Ferreira

por Wilson Ferreira

“Covardia!”, “desumanidade!”, “barbárie!”. Assim reagiu a esquerda, chocada com a proibição de Lula (prisioneiro há nove meses) participar do velório do seu irmão em São Bernardo do Campo/SP. Até a ditadura militar autorizou que Lula fosse ao velório da mãe, em 1980!, acusa inconformada a esquerda. A Polícia Federal apresentou seis motivos para não conceder o benefício. Em cada um deles, está a evidência de que o atual oponente da esquerda não são mais os toscos militares da ditadura que, ironicamente, permitiam até gestos humanitários. Agora há um atento e utilitarista cálculo dos riscos na guerra semiótica: as repercussões simbólicas de Lula repentinamente aparecer em público, diante das lentes das câmeras. PF e Judiciário são mais zelosos com a ameaça simbólica de Lula do que a esquerda jamais foi – entregou de bandeja sua maior arma semiótica, agora condenada à invisibilidade. Enquanto isso, convive com a sua autoindulgente “síndrome de Brian” (relativo ao filme “A Vida de Brian” do grupo de humor Monty Python), imaginando ainda estar enfrentando os velhos inimigos toscos do passado.  

Desde que os nazistas atrelaram uma sirene nos aviões bombardeiros de mergulho chamados Stuka, a guerra convencional tornou-se uma batalha semiótica. Enquanto davam voos rasantes e soltavam bombas, o indefectível uivo dos Stukas assombrava toda a Europa. 

O projeto Stuka (criado pelo ás da Primeira Guerra Mundial, Ernst Udet, que trabalhou como assessor cinematográfico em Hollywood) foi uma evidência da transformação da guerra tradicional em guerra total (“blitzkrieg”): apenas bombas explosivas que causam morte e destruição não eram suficientes. Era necessário que sobreviventes carregassem para o resto das suas vidas o trauma e o horror em suas mentes – bombas simbólicas de efeito eterno. Assim como o cinema e o audiovisual.

Esse caráter semiótico de todas as guerras (desde a bélica militar até as batalhas jurídicas, midiáticas ou de propaganda) também está evidente nos seis pontos alegados pela Polícia Federal contra a autorização de Lula (prisioneiro na PF de Curitiba desde o ano passado) ir ao velório do seu irmão em São Bernardo do Campo/SP.

Estes foram os motivos alegados: fuga ou resgate de Lula; atentado contra a vida; atentado contra agentes públicos; comprometimento da ordem pública; protestos de apoiadores de Lula; protestos de grupos contrários a Lula.

Estariam preocupados com a integridade física do prisioneiro e agentes públicos? Estaria a PF tensa com a possibilidade de uma fuga espetacular do prisioneiro? Entretanto, esses seis motivos apresentados são meros álibis. A verdade está em uma outra cena: a simbólica.

Guerra semiótica: o mergulho do Stuka sob o uivo das sirenes que assombraram a Europa

 

O risco Lula

Em cada um desses seis motivos alegados está presente o cálculo dos riscos simbólicos de um personagem como Lula (preso há nove meses, proibido de conceder entrevistas e com visitas restritas) repentinamente aparecer em público, diante do foco das câmeras.

Principalmente nesse momento de comoção com o genocídio provocado pela Companhia Vale em Brumadinho/MG, enquanto o staff do Governo Bolsonaro bate cabeça e o próprio líder está internado no hospital Albert Einstein. Paralelo, a grande mídia cada vez se mostra mais interessada em dar destaque às opiniões do vice General Mourão do que aos arroubos do presidente.

Em todos esses últimos anos de Lava Jato, com os sucessivos nomes criativos das operações da PF para batizar cada  show de meganhagem ao vivo na TV, é evidente que o Judiciário está muito consciente da natureza semiótica da atual guerra política brasileira. E, por isso, tem em mente que o simbolismo de Lula se tornou maior do que o próprio PT, partido que ajudou a fundar.

Enquanto, quase diariamente, algum ministro do atual Governo vem nas redes sociais para colocar a culpa de qualquer mazela no PT, no comunismo ou no socialismo (o chefe da casa civil, Onix Lorenzoni, chegou a colocar a culpa pela tragédia de Brumadinho no PT, apesar da Vale ter sido privatizada na Era FHC), o nome Lula é mantido em silêncio. Como se o líder político tivesse desaparecido da face da Terra.

Lembrando a velha máxima: “o que os olhos não veem, o coração não sente”. Razão pela qual o conjunto PF e Judiciário se mostra muito zeloso com a posse da grande arma simbólica chamada Lula.

 

 

Muito mais zeloso do que o PT, que entregou de graça a sua mais poderosa arma na guerra semiótica – com Lula protegido no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, o PT virou às costas para qualquer possibilidade tática de empate ou desobediência civil (ou até mesmo pedido de asilo político), que acabaria por gerar uma grande incidente de repercussão global (era tudo o que a PF não queria), e entregou sua maior arma de bandeja – conscienciosos, meses antes já haviam entregue até o passaporte de Lula na PF… – clique aqui.

A reação “Síndrome de Brian”

“Negaram a Lula o direito mais sagrado!”, “violência jurídica”, “cinismo da juíza Carolina Lebbos”, “covardia do STF”, protesta a esquerda revelando, mais uma vez, aquilo que em postagem anterior esse humilde blogueiro chamou de “Síndrome de Brian”. 

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

8 Comentários

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  1. sobre BOZO e Vovó Mafaldo

    A simpatia forçada que vem sendo cultivada pra com a vice vovó MAFALDA é COISA ARQUITETADA, visa tão somente distensionar os estragos pretendidos por BOZO e seus babysauros

    De importante mesmo é sabermos o que SASSI FUFU esta fazendo na Justiça, e o que PAPAI PAPUDO pretende da fazenda

    SObre PT  ..se ele não entender que precisa colocar o POVO NA RUA (e com Fernado NAMASTE Haddad é impossívell), LULA corre o risco de morrer na masmorra de Curitiba

    Resta-nos pois torcermos pra que GLEISI Hoffmann (a UNICA “macho de fibra” daquele partido) tome a iniciativa

     

  2. Sabe aquele momento em que a

    Sabe aquele momento em que a vrulência do adversárro pede pelo menos um chega pra lá? Pois nem isso o Pt soube fazer. Aquela vez do julgamento-farsa do trf4, li alguma coisa do Leandro fortes que dizia que a maior tragédia que poderia ocorrer naquele dia não seria o absurdo, concretizado por sinal, da confirmaçao daquela nojeira do moro e, sim, concretizando o descalabro, não se fizesse nada de protesto veemente naquele momento tosco e crimonoso do judiciário nacional. Pois é, acho que chegamos no ponto em que estamos naquela do Maiakovski

    Na primeira noite eles se aproximam

    e roubam uma flor

    do nosso jardim

    e não dizemos nada.

    Na segunda noite, já não se escondem:

    pisam as flores

    matam nosso cão,

    e não dizemos nada.

    até que um dia,

    o mais frágil deles

    entra sozinho em nossa casa,

    rouba-nos a luz,e,

    conhecendo nosso medo, 

    arranca-nos a voz da garganta. 

    E já não podemos dizer nada.

    1. Maiakowsky?

      Ests poema não poderia ser do Maiakowsky, pois ele morreu antes do triunfo do nazi-facismo, cuja cultura do terror o poema remete; este poema é do Eduardo Alves da Costa, poeta brasileiro, reportando a cultura do medo de nossa ditadura, aquela que passará por um restauro em tintas róseas.

  3. Situação atual do país
    Não existe mais um jornalismo imparcial a fim de levar informação as pessoas. Sempre há acusações, seja para pessoas de direita ou de esquerda, porque o lado oposto está sempre errado…

    1. Nunca existiu, nem deve existir.

      A mídia americana foi imparcial é deu voz a eugenistas, rascistas, terraplanistas e negadores da evolução, agora eles possuem Trump, a diferença no caso brasileiro é que a mídia fez tudo isso de proposito.

  4. Paul McCartney got a little assistance from his friends tonight, most of whom he didn’t need, in the PBS airing of last month’s
    award ceremony at the White House, in the fact that the former Beatle received the Library of Congress Gershwin Prize for Popular Background score.

    In 2008, John McCain’s music chose employing ABBA’s
    “Take probability on Me” and Jackson Browne’s “Running on Useless.” McCain also
    tried to use songs by Heart, where to play 918kiss, and Van Halen.

    We must trust them, which perform and it isn’t quite might be uncomfortable for us, all of us 100% on board.
    We released a song carried out its inaugural week, and will release another song next
    week. There will be things prior to the album
    so hopefully it will go quick.

    Alice Cooper – He’s been selling tickets to sold-out
    shows for 50 years. The scratch golfer with the amazing live show comes to the UK in November to wow UK audiences with songs like
    ‘No More Mr. Nice Guy’ and also the classic, ‘School’s Out’.
    When you have got a fan base as massive as Alice Cooper’s, worrying about
    selling concert tickets will not something he’s used with.

    So get your tickets today or risk dismay!

    Again, not collection the bar too top I grew up when the Monkees
    were on television and Bay City Rollers were topping the charts.
    But the lyrics to the Miley Cyrus hit “Party in the USA” just me
    wince. Apparently, she’s a country girl moving away from a plane in LAX (never heard that one before) with “a dream and my cardigan” which wowed through
    Hollywood Sign and element really should be that “everybody seems so famous” until her cab driver switches on the radio “and the Jay Z song was on.” Works
    well with me in the process. Hear Jay Z and damaging of relaxation rushes over me.

    We get like two bags each, and you’ll find probably a couple of hundred in right now there.
    It is inexpensive as well as is a great little souvenir for a show you
    would like to gets to grab one. It kind of dates you when notice a pick and say, ‘Oh I
    made use of that this year, or I used that on that tour,
    ‘ so you kind of know what time period that pick was outside of.

    The Download Festival started life as Monsters of Rock.
    It takes place at the start of June at the Donington Park
    motor racing track in Derbyshire. If you aren’t a rock fan then Download isn’t for anyone.
    Headliners this year include Def Leppard, System of Down and Linkin Village green.

    Back for the performance. No, I didn’t hear a rocker whose voice was rough throughout edges tonite.
    I heard a music legend who hasn’t forgotten value of building of a
    song or the way to deliver this particular. http://www.publishbookmarks.com/comment/html/?435862.html

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