Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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A estranha “linguagem crepuscular” no acidente aéreo da Chapecoense, por Wilson Ferreira

por Wilson Ferreira

Assim como trágicos eventos como o Massacre do Colorado, o atentado à Maratona de Boston e os ataques na França, o acidente aéreo que vitimou o clube Chapecoense na Colômbia também está cercado de coincidências ou sincronismos envolvendo mídia, nomes e lugares. Momentos que antecedem trágicos eventos parecem sempre revelar coincidências envolvendo nomes, aniversários e simbolismos. Para o senso comum, não passariam de conexões causais aleatórias. Seria como se a realidade sofresse algum “espasmo” momentâneo antes da tragédia, para depois voltar ao “normal”. Para a chamada hipótese sincromística esses “espasmos” escondem uma rede  formada pelo inconsciente coletivo cuja dinâmica é baseada nas chamadas formas-pensamento e arquétipos. É a “linguagem crepuscular”, conhecida pelo budismo tibetano (por meio de mandalas, mantras etc.) e que no Ocidente pesquisadores em Sincromisticismo buscam estudá-la através da Onomatologia (estudos da origem dos nomes) e Toponímia (origem dos nomes dos lugares) procuram recorrências e padrões nos acontecimentos. O que a tragédia aérea do clube brasileiro poderia revelar?

Nos momentos que antecedem grandes eventos, tanto antes quanto depois, ocorrem estranhas coincidências como fossem pequenos espasmos da realidade, que depois retornam ao seu estado normal. 

De repente nomes, sobrenomes, aniversários e demais coisas supérfluas passam estranhamente a se relacionar entre si. Esse efeito cascata de coincidências é um sintoma de que algo importante acontecerá.

Essa era a convicção do escritor norte-americano Norman Mailer expressa em livros como Existential Errands. Porém, a intuição de Mailer era muito mais do que uma convicção retórica ou literária. 

Hoje, pesquisadores como Jake Kotze, Christopher Knowles e Loren Coleman denominam o estudo sobre esses “espasmos da realidade” como Sincromisticismo: a arte de apreender coincidências significativas naquilo que é aparentemente mundano, procurando perceber conexões causais entre eventos aparentemente aleatórios.

Estudar aquilo que chamam de “linguagem crepuscular” – guardando ao mesmo tempo diferenças e analogias com a simbologia secreta da “linguagem crepuscular” budista tibetana: mudras, mantras, mandalas etc., baseado na “espiritualidade dos números”, a numerologia.

Por isso, o Sincromisticismo inicia os estudos dessa linguagem crepuscular via onomatologia (estudo das origens dos nomes)  e a toponímia (estudo da origem dos nomes dos lugares).

Jung, mandalas e Sincromisticismo

Palavras são coisas

Há uma expressão oriental que diz que palavras e ideias são coisas. Dentro da hipótese sincromística o tecido da realidade seria composto por um texto invisível no qual todos os eventos estariam imersos. Uma rede formada por um inconsciente coletivo cuja dinâmica é baseada nas chamadas formas-pensamento e arquétipos. 

No interior das interconexões (nós) que estruturam rede invisível as energias etéricas das formas-pensamento estariam sedimentadas em nomes, datas, personagens, narrativas ficcionais como mitos, filmes, arte pictórica etc. Essas “coisas” têm força para criar conexões causais (coincidências significativas ou “espasmos da realidade”) que estariam por trás de eventos trágicos como acidentes, massacres, atiradores, atentados – a princípio, apenas eventos trágicos de natureza sócio-psicológica. Estariam fora as catástrofes naturais, ligadas a causalidades geo-cósmicas.

E na sociedade atual imersa em um continuo midiático, as coincidências significativas envolvendo produtos de mídia, além das coincidências envolvendo pessoas interagindo com mídias, aumentam exponencialmente – pensar em uma canção e depois ligar o rádio do carro e ouvi-la, ter uma ideia e depois vê-la sendo discutida em um talk-show.

Exemplos envolvendo coincidências significativas midiáticas com grandes eventos não faltam: a animação Family Guy cujo episódio “Turban Cowboy” teria “previsto” o atentado na Maratona de Boston em 2013 (clique aqui); o filme Bastille Day, que estrearia nos cinemas franceses cujo plot era uma ação para conter atentados no feriado do Dia da Bastilha no mesmo dia do ataque desse ano em Nice (clique aqui); episódios da série Os Simpsons que, novamente, teria previsto a ascensão de Donald Trump à presidência (clique aqui); o filme Super Mario Bros de 1993 e os atentados ao WTC em 2001 (clique aqui). 

Sincronismo na tragédia da Chapecoense

Como não poderia deixar de ser, o trágico acidente aéreo com a delegação da Chapecoense e jornalistas, matando 71 pessoas, também começa a ficar cercado por coincidências significativas envolvendo nomes, TV e filme.

Assim como ocorreram com outros eventos trágicos como o Massacre do Colorado (a semelhança entre uma HQ de Frank Miller e a ação do atirador em um cinema), o chamado “maníaco do shopping” em São Paulo e o filme O Clube da Luta ou exercícios de ataques múltiplos envolvendo paramédicos e policiais noticiados pela Radio France no mesmo dia dos ataques à casa de shows Bataclan em paris, também na tragédia da Chapecoense começam a vir à tona estranhos sincronismos:

(a) O filme “Voo de Emergência”

 Menos de uma hora antes do acidente aéreo na Colômbia, a TV Globo terminava a exibição do filme Voo de Emergência (Ekipazh, 2016). O filme é uma produção russa  no qual o protagonista (Alexey) é um jovem talentoso piloto da Força Aérea, expulso por problemas de cumprimento de ordens. Depois, em uma companhia aérea de passageiros, mais casos de insubordinação. Porém, devido ao seu talento, Alexey é mantido. 

Em um voo recebe a mensagem de um terremoto e decide ir ao epicentro do desastre para resgatar as pessoas antes da esperada erupção de um vulcão. Juntos, dois pilotos escapam da região em dois aviões. Porém, um deles não tem combustível suficiente, obrigando a tripulação a uma manobra arriscada de transferir pessoas de um avião para outro em pleno voo…

plot do filme e da vida pessoal do piloto da LaMia Miguel Quiroga são estranhamente sincrônicas. O piloto boliviano também deixou a Força Aérea daquele país e envolveu-se em caso de insubordinação, razão pela qual possuía prisão decretada pela Justiça do país. Quiroga deveria cumprir anos de serviço na Força Aérea pelos anos de investimento do Governo na sua formação. Mas Quiroga saiu para trabalhar na empresa privada LaMia.

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

17 Comentários

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  1. Essas “coincidências”

    Essas “coincidências” acontecem o tempo todo e a toda hora, só que quando não detonam nenhum acontecimento trágico ninguém percebe.

    Porém, quando acontece um acontecimento trágico, os visionários vão procurar as “coincidências” e sempre conseguem achar relações e influências das “coincidências” com os acontecimentos trágicos.

    É divertido, mas ilusório.

     

    É óbvio que palavras e ideias são coisas. Elas ficam armazenadas em nosso cérebro nos circuitos de neurônios e sinapses que formam o arquivo de memórias. Neurônios e sinapses são coisas.

     

    O ser humano não tem nada de especial.

    Fora alguns homens e mulheres excepcionais que nasceram, por um acaso genético, com mais capacidade de arquivar imagens e misturá-las para produzir ideias geniais, ideias que, por sinal, já existem na natureza e que apenas foram descobertas e não criadas (A Lei da Gravidade não foi criada, ela foi achada), o ser humano tem um cérebro que só produz confusão o tempo todo.

    No passado, o caos produzido pelo cérebro humano  era percebido mas não tinha nenhuma relevância.

    Hoje, esse caos pode destruir a humanidade.

    Aí, não vai ter ninguém para “descobrir” as coincidências.

     

    Mas, especular, não deixa de ser divertido. Faz parte da confusão.

     

    .

    1. puxa vida……………………gostei muito dessa colocação

      traz muito do que ficou no tempo com o desenvolvimento da escrita repetitiva, não pensada ou descoberta

      quando alguém descobre algo todos escrevem sobre o que desconhecem e outros passam a acreditar

      todo ser humano era para ser um descobridor, mas foram educados para não serem…………………….

      impedidos e guiados limitados

  2. para a……………….a…digamos assim, escrita pensamento

    o silêncio, por exemplo, tem………………………digamos assim, textura………………………..são insuficientes………………são apenas para erudição…………………….digamos assim, livresca, pois limitaram o desenvolvimento, digamos assim, comunicativo, do ser……………………digamos assim, outro qualquer

    o silêncio, assim como o invisível futuro, são palpáveis na…………………digamos assim, escrita pensamento

    a pessoa cegas são mais desenvolvidas, no invisível futuro, do que as pessoas que não são

    reparem que alterei a textura da palavra………………….digamos assim, normais

  3. Atento aos sinais

    A sincronicidade é fato comum no mundo da arte, e não se trata de algo paranormal e sim fato do mundo material e que envolve sonhos, nomse, numeros, frases, pessoas, objetos..,.quando nos encotramos nesse estado alterado se desencadeia uma sequência, os objetos parecem se nos apresentarem como que contando uma história HQ, a qual  estranhamos por se tratar de  fenômeno ainda não explicado racionalizado.

    https://sincronicidademagica.wordpress.com/category/pequenas-sincs/

  4. As palavras provocam o que elas simbolizam

    As palavras provocam o que elas simbolizam olham são ou, noutras palavras, o mal é o que sai boca do homem..,..Eu mesmo já fui salvo de um acidente doméstico : ao fazer um experimento,  levei uma  composição à boca e no momento a TV estava ligada no desenho animado o  Jaspion gritou: “Cuidado!!!”. Claro que atentei para o sinal  e, ao invés de degustar o produto, despejei-o num pote de madeira: o pote explodiu. O  Jaspion me salvou de uma explosão.

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=NS2sH3KX_JQ%5D

    1. Explica isto melhor, tu ia

      Explica isto melhor, tu ia comer uma coisa, jogou esta coisa fora e aí ela explodiu ???? . . . . Poderia ter explodido dentro da tua barriga? Que produto era esse ?

  5. GGN 100% Brasil

    Qualquer assunto por mais interessante que seja deveria merecer do Blog uma pausa. Não é possível que tiremos do foco as denúncias gravíssimas contra o presidente da república, senadores, governo do estado e fiquemos aqui a filosofar.  O Blog deveria se engajar 100% na luta pela democratização e mudança imediata desses governantes. IMEDIATA! Parece que já assimilamos as denúncias gravíssimas de ontem e vida que segue. Pera ai!

    1. De qualquer maneira, é toda

      De qualquer maneira, é toda uma estrutura falha, que indiretamente acaba sendo imposta para  América Latina.

      E numa ocasião como esta, sempre se corre para encontrar bodes expiatórios e abafar investigaçãoes mais aprofundadas. Mesmo que o piloto e equipe tenham cometidos erros, que na realidade são aceitos e até mesmo impostos na prática .

      E o video levanta dúvidas, que não podem ser negadas. Mas quem disse que são dados créditos para investigaçãoes sérias, nessa América Latina???

  6. Palavras são coisas…

    Vitorino Condá, ao ser invocado pelo radialista ( também morto no acidente) que transmitia o jogo contra o San Lorenzo (https://www.youtube.com/watch?v=B_Jl8lsM4Bc ), teria vindo para algum acerto de contas (“Há uma expressão oriental que diz que palavras e ideias são coisas”) com brancos que o usaram, e em certos documentos o colocaram como assassino?

    Toponomia: “Arena Condá”

    http://www.poshistoria.ufpr.br/documentos/2010/KATIA%20GRACIELA.pdf

     Vitorino Condá e Estevão do Nascimento Viri são os dois chefes indígenas que este trabalho se propõe a conhecer. Além de fontes e bibliografias seus nomes são lembrados até hoje em nomes de cidades e estabelecimentos. Condá é ainda lembrado na cidade de Chapecó, Santa Catarina; existem inúmeros locais que recebem o nome deste cacique, inclusive uma aldeia denominada Kondá. …Assim, esta pesquisa pretende chamar a atenção para alguns aspectos novos, a partir de documentação ainda não analisada sobre estes dois importantes caciques que atuaram principalmente nos Campos de Palmas, Paraná. O objetivo é analisar as relações estabelecidas entre os referidos caciques com o governo imperial e com as expedições que foram enviadas pela Coroa Portuguesa para explorar os Campos de Palmas. Outra relação que será estudada é entre Condá, Viri e indígenas denominados de “selvagens”. Esses índios “selvagens” representavam uma ameaça à população que se formava nos campos de Guarapuava e Palmas. Assim, os dois líderes indígenas eram constantemente solicitados para amansarem e expulsarem os índios arredios desses territórios. Veremos que atuação do cacique Condá foi além dos campos de Palmas; este prestou serviços até para o governo da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul. Já, Viri, permaneceu dentro dos Campos de Palmas, mas, mesmo assim, os documentos existentes sobre o mesmo o lembram com muitos préstimos pelo papel que desempenhou.  O período a ser analisado compreende a década de 1840, pois, o que norteia esta pesquisa são dois documentos deste período: uma Justificação e um Ofício, ambos de 1844. Documentos estes que se encontram no Arquivo de São Paulo e em anexo no trabalho. Esses dois documentos trazem Condá como um assassino, idéia contrária a grande parte das demais fontes existentes sobre o mesmo. Além das entrelinhas destes documentos, veremos que outros interesses, principalmente políticos, estavam em questão para assim julgarem Condá. …

    Através da Justificação percebe-se que a situação de contato, conforme veremos ao longo do trabalho, fazia com que mesmos índios fossem classificados pelas mesmas pessoas ora como “mansos”, ora como “assassinos”. Essa ambivalência é importante para deixar claro que a situação de contato era ocasião da instauração de uma vida política complexa, cheia de contratempos, na qual os cargos ocupados pelas pessoas eram efêmeros.

     

    1. “Palavras são coisas
      Há uma

      “Palavras são coisas

      Há uma expressão oriental que diz que palavras e ideias são coisas. Dentro da hipótese sincromística o tecido da realidade seria composto por um texto invisível no qual todos os eventos estariam imersos. Uma rede formada por um inconsciente coletivo cuja dinâmica é baseada nas chamadas formas-pensamento e arquétipos. 

      No interior das interconexões (nós) que estruturam rede invisível as energias etéricas das formas-pensamento estariam sedimentadas em nomes, datas, personagens, narrativas ficcionais como mitos, filmes, arte pictórica etc. Essas “coisas” têm força para criar conexões causais (coincidências significativas ou “espasmos da realidade”) que estariam por trás de eventos trágicos como acidentes, massacres, atiradores, atentados – a princípio, apenas eventos trágicos de natureza sócio-psicológica. Estariam fora as catástrofes naturais, ligadas a causalidades geo-cósmicas.”

  7. Mais Sobre A Toponomia: “Arena Condá”

    http://sertaosangrento.blogspot.com.br/2010/11/o-paradoxo-do-indio-e-do-caboclo.html   –

    segunda-feira, 22 de novembro de 2010   –

    Ester e Duda4 de dezembro de 2016 18:13

    Não conheço bem a história, mas já ouvi de descendentes de colonos de origem italiana, o seguinte relato: No início do desbravamento da região oeste de Santa Catarina os índios nativos foram massacrados e os sobreviventes eram cassados com animais pelos temidos “bugreiros”. Em certa feita, alguns colonos quiseram poupar as crianças, mas desistiram da idéia após serem aconselhados pelo padre local para que eliminassem a todos, pois do contrário estariam “criando cobras para os morder”. Vale a pena se pesquisar mais sobre o assunto

    O paradoxo do índio e do caboclo: Vitorino Condá, apaziguador e conflitante nos Campos de Palmas   –

    É interessante frisar que apesar de uma rivalidade entre os fazendeiros que estavam obcecados pelas terras de Palmas não se evidenciou nenhum conflito armado entre os diversos personagens brancos dessa colonização. Mas já entre os indígenas, esses conflitos são frequentes e todos são procedentes ao consentimento dos chamados “homens bons”. Esses assumiram o papel de manter contato com os líderes indígenas, sendo que esses deveriam se unir ao processo colonial.

     Sobre Sertão Sangrento

    Uma imagem do sudoeste nunca antes vista, uma História que fala sobre os bugres, os caboclos, os gringos, as prostitutas, os prisioneiros, os bandidos, os buraios, os banidos, os fugitivos da lei… Esse é o nosso sudoeste, o nosso sertão, desbravado a laço e a pau pelos colonos que se esgualeparam pelo mato. O nosso sertão, esquecido pelas autoridades da capital, uma terra onde a lei era imperada por aquele que estilhace mais balaços no lombo dos loco.

     

    1839 – Início dos povoamentos de Pedro Siqueira Cortês em Palmas culminam na necessidade de construção de estradas que ligassem a pequenina e nascente vila com o Rio Grande do Sul. Necessita-se o apoio de indígenas para tal empreitada, aparece o vulto do líder indígena mais respeitado daquelas bandas, Vitorino Condá.

    Toda essa união culminava na guerra com outras tribos, um verdadeiro conflito fratricida. Em todos os documentos se registra a participação dos diversos agrupamentos indígenas em torno da construção de estradas para a vinda de tropeiros, o alastramento dos rastros das picadas indígenas construía essas verdadeiras vias de comunicação com o interior do estado do Rio Grande do Sul.

    Um personagem fundamental para a colonização dos Campos de Palmas foi Vitorino Condá, pai-bang (cacique) de toda a região, era frequentemente visto saindo dos verdes campos com diversas famílias indígenas para influenciar diretamente nas decisões da ocupação de todo atual sudoeste do Paraná, do oeste de Santa Catarina e do noroeste do Rio Grande do Sul1. Apesar do seu aspecto de liderança, os interesses dos indígenas não são relatados como decididos simplesmente pela autoridade de Condá. Tinha em seu apoio Viri, índio Kaingang que herdara intensos anos de estratégia militar indígena, se aliaram aos brancos ainda no  Aldeamento Atalaia (1820).

     

    1 Por volta da década de 1840, dois árbitros neutros foram convocados para resolver a questão, Dr. João da Silva Carrão e Joaquim José Pinto Bandeira. Houve uma separação das duas comunidades, Siqueira Cortes ficara no poente e Santos para o nascente. (WACHOWICZ, op. Cit.: 15).

     

    A perpetuação da História. Nas imagens, uma estátua em homenagem ao Índio Condá em frente ao estádio Índio Condá em Chapecó. O time do Chapecoense possui uma torcida sempre presente no estádio com um grito coletivo: “Índiooooooo Condá”. 

    jaime3 de dezembro de 2016 09:22

    Será que a morte do time tem alguma coisa ver com a reencarnação, resgate ou coisa assim?

    Ester e Duda4 de dezembro de 2016 18:13

    Não conheço bem a história, mas já ouvi de descendentes de colonos de origem italiana, o seguinte relato: No início do desbravamento da região oeste de Santa Catarina os índios nativos foram massacrados e os sobreviventes eram cassados com animais pelos temidos “bugreiros”. Em certa feita, alguns colonos quiseram poupar as crianças, mas desistiram da idéia após serem aconselhados pelo padre local para que eliminassem a todos, pois do contrário estariam “criando cobras para os morder”. Vale a pena se pesquisar mais sobre o assunto

    maga8 de dezembro de 2016 16:47

    resgates em grupo sempre acontecem ,o Titanic . o incêndio do Joelma , o 11 de Setembro e tantos outros, quem semeia vento colhe tempestades cedo ou tarde a hora da justiça chega , DEUS tudo vê e não desampara ninguém,estes resgates são necessários para o desenvolvimento espiritual 

    1. E aquela chuva toda no

      E aquela chuva toda no velório que seria um espetáculo global, se o dia fosse de sol.

      São lágrimas de todos que foram assassinados por brancos e suas armações.

  8. Mais uma vez, é Chronos, o Ceifador, quem dará o veredito!

    O Conceito de Sincronicidade, por Letícia Capriotti

    A sincronicidade é um conceito empírico que surge para tentar dar conta daquilo que foge à explicação causal. Jung diz que “a ligação entre os acontecimentos, em determinadas circunstâncias, pode ser de natureza diferente da ligação causal e exige um outro princípio de explicação” (CW VIII, par. 818). A física moderna tornou relativa a validade das leis naturais e assim percebemos que a causalidade é um princípio válido apenas estatisticamente e que não dá conta dos fenômenos raros e aleatórios.
    Ao longo de sua obra, Jung deu várias definições ao conceito de sincronicidade. Aqui estão algumas delas:
    > “… coincidência, no tempo, de dois ou vários eventos, sem relação causal mas com o mesmo conteúdo significativo.” (CW VIII, par.849)
    > “… a simultaneidade de um estado psíquico com um ou vários acontecimentos que aparecem como paralelos significativos de um estado subjetivo momentâneo e, em certas circunstâncias, também vice-versa.” (CW VIII, par. 850)
    > “Um conteúdo inesperado, que está ligado direta ou indiretamente a um acontecimento objetivo exterior, coincide com um estado psíquico ordinário.” (CW VIII, par. 855)
    > “…um só e o mesmo significado (transcendente) pode manifestar-se simultaneamente na psique humana e na ordem de um acontecimento externo e independente.” (CW VIII, par.905)
    > “um caso especial de organização acausal geral.” (CW VIII, par.955)
    > “coincidência significativa de dois ou mais acontecimentos, em que se trata de algo mais do que uma probabilidade de acasos.” (CW VIII, par. 959)
    > “uma peculiar interdependência de eventos objetivos entre si, assim como os estados subjetivos (psíquicos) do observador ou observadores.” (I Ching, p.17)
    > “o princípio da causalidade nos afirma que a conexão entre a causa e o efeito é uma conexão necessária. O princípio da sincronicidade nos afirma que os termos de uma coincidência significativa são ligados pela simultaneidade e pelo significado”. (CW VIII, par. 906)
    Jung define também três categorias de sincronicidade:
    1. coincidência de um estado psíquico com um evento externo objetivo simultâneo.
    2. coincidência de um estado psíquico com um evento externo simultâneo mas distante no espaço.
    3. coincidência de um estado psíquico com um evento externo distante no tempo.
    Através da definição destas categorias, podemos perceber que nos fenômenos sincronísticos, o tempo e o espaço são relativos, isto é, o fenômeno acontece independente destes. Basicamente o que define a sincronicidade são a coincidência e o significado.
    Jung observou também que tais coincidências ocorrem principalmente quando um arquétipo está constelado. O arquétipos são fatores psicóides que possuem uma transgressividade pois “não se acham de maneira certa e exclusiva na esfera psíquica, mas podem ocorrer também em circunstâncias não psíquicas (equivalência de um processo físico externo com um processo psíquico).” (CW VIII, par. 954) 
    Jung propõe que o princípio de sincronicidade seja acrescentado à tríade espaço, tempo e causalidade, dizendo que “o espaço, o tempo e a causalidade, a tríade da Física clássica, seriam complementados pelo fator sincronicidade, convertendo-se em uma tétrada, um quatérnio que nos torna possível um julgamento da totalidade”(CW VIII, par. 951). Um gráfico então ficaria assim:
    Espaço

    Causalidade ————————— Sincronicidade

    Tempo

    Porém através de sugestões de Pauli, Jung e ele modificam o gráfico substituindo o esquema clássico da física pelo moderno, ficando assim:
    Energia Indestrutível

    Conexão constante de Conexão inconstante 
    fenômenos através do ——————————————————- através de contingência
    efeito (causalidade) com identidade de significado (sincronicidade)

    Continuum Espaço-Tempo

    Através desse modelo, a microfísica e a psicologia profunda se aproximam, chegando na concepção dos arquétipos como constantes psicofísicos da natureza e fatores estruturantes criativos.
    Jung referiu-se à sua definição de sincronicidade como sincronicidade em sentido estrito e a diferenciou de uma visão mais abrangente de sincronicidade que chamou de ordenação acausal. Os fenômenos sincronísticos em sentido estrito são “atos de criação” no tempo, e incluem a telepatia, fenômenos ESP e PK. Já a organização acausal geral inclui todos estes “atos de criação” e todos os fatores a priori como as propriedades dos números inteiros e as descontinuidades da física moderna.
    É com base neste princípio de organização acausal geral que Jung tece suas considerações sobre o número. Ele diz que o cálculo é o método mais apropriado para se tratar do acaso, pois o número é misterioso, nunca foi despojado de sua aura numinosa. “Se, como diz qualquer manual de Matemática, um grupo de objetos for privado de todas as suas características, no final ainda restará o seu número, o que parece indicar que o número possui um caráter irredutível.” Pelo fato de o número ser o elemento ordenador mais primitivo do espírito humano, ele “é o instrumento indicado para criar a ordem ou para apreender uma certa regularidade já presente, mas ainda desconhecida, isto é, um certo ordenamento entre as coisas.” Por isso Jung chegou a chamar o número de “o arquétipo da ordem que se tornou consciente” e cita a estrutura matemática das mandalas, produtos espontâneos do inconsciente para chegar à conclusão de que “o inconsciente emprega o número como fator ordenador”. (CW VIII, par.870)

    Os precursores históricos

    Jung dedica uma parte do “Sincronicidade: um princípio de conexões acausais” para falar dos precursores históricos da sincronicidade. Ele afirma que a concepção chinesa da realidade, e particularmente o conceito de Tao, é, em grande parte, sincronística. Ele diz: “…segundo a concepção chinesa, há uma “racionalidade” latente em todas as coisas. Esta é a idéia fundamental que se acha na base da coincidência significativa: esta é possível porque os dois lados possuem o mesmo sentido.” (CW VIII, par. 912)
    Aqui no ocidente esse princípio existiu por muito tempo. Jung diz que “a concepção primitiva, assim como a concepção clássica e medieval da natureza, postulam a existência de semelhante princípio ao lado da causalidade.” (CW VIII, par. 929) A idéia de uma unidade de toda a natureza (unus mundus) permeia essas concepções, e portanto nelas não existe uma diferença entre o micro e o macrossomo – há uma correspondência entre todas as coisas; também permeando essas concepções está a idéia de que existe na natureza uma fonte de todo conhecimento que se situa fora da alma humana, um conhecimento absoluto. Porém antigamente não se pensava em sincronicidade porque não se pensava em acaso. Tudo era atribuído a uma causalidade mágica que hoje nos parece ingênua. Com o advento do pensamento científico, essas concepções desaparecem. Jung aponta o que fez com que desaparecessem dizendo que “com a ascensão das ciências físicas, no século XIX, a teoria da correspondentia desaparece por completo da superfície e o mundo mágico dos tempos antigos parece sepultado para sempre.” (CW VIII, par. 929) Mas essa idéia de uma sincronicidade e de um significado subsistente à natureza, que é a base do pensamento chinês clássico e faz parte da concepção ingênua da idade média, embora pareça a alguns uma regressão, teve que ser retomada pela psicologia moderna uma vez que só o princípio da causalidade não explica toda a realidade dos acontecimentos.
    Jung aponta como precursores da idéia de sincronicidade a “simpatia de todas as coisas” de Hipócrates; a idéia de que o sensível e o supra-sensível estão unidos por um vínculo de comunhão de Teofrasto; a idéia de uma necessidade e amizade que une o universo de Filo de Alexandria; a idéia de mônada, que também tem um significado de unidade de todas as coisas, do alquimista Zózimo; a alma universal de Plotino; a idéia do mundo como um único ser de Pico Della Mirandola; o “conhecimento” ou “idéia” inata dos organismos vivos de Agrippa von Nettesheim e a idéia da anima telluris de Johann Kepler. Jung cita também Schopenhauer e a idéia da vontade ou prima causa e da simultaneidade significativa (daí o termo “sincronicidade” usado por Jung). Mas o autor que Jung mais cita é Gottfried Wilhelm Leibniz. Leibniz explica a realidade através de quatro princípios: espaço, tempo, causalidade e correspondência (harmonia praestabilita). Este último é um princípio acausal de sincronismo dos acontecimentos psíquicos e físicos. Jung discorda de Leibniz em apenas um ponto: para Leibniz este é um fator constante, enquanto que para Jung os eventos sincronísticos ocorrem esporadica e irregularmente.

    AS ARMADILHAS DO CONCEITO DE SINCRONICIDADE

    Para o pensamento ocidental desde Descartes, a “explicação científica” remonta a uma validação causal: D é causado por C, C por B, B por A. Não é de espantar então que a discussão da hipótese de Jung de um princípio de sincronicidade tenha produzido inúmeros mal-entendidos.
    Marie-Louise von Franz em seu artigo “A Contribution to the Discussion of C.G. Jung’s Synchronicity Hipothesis” aponta uma série de erros que já se cometeu ou que se pode cometer na interpretação desse conceito e que aqui serão resumidos e sistematizados.
    A autora começa falando das dificuldades que muitos parapsicólogos têm em compreender esse novo modo de pensar e diz que:

    Na minha opinião isso vem do fato de muitos parapsicólogos estarem sempre fazendo um esforço intenso por conseguir a aceitação de seu campo fundamentando-o em um método científico “rigoroso”, isto é, em métodos quantitativos e pensamento causal enquanto que justamente o que a hipótese de Jung propõe está em uma direção oposta para longe daquilo que até agora foi considerado o único modo “científico” de pensar. (p. 229)

    Ela então continua falando de algumas pessoas que tendem a achar que a sincronicidade explica os fenômenos “psi” causalmente e afirma:

    a hipótese da sincronicidade não “explica” causalmente os fenômenos psi, mas comparada com os resultados obtidos até hoje pelas pesquisas, ela os coloca em um contexto novo, mais amplo, isto é, no domínio dos arquétipos, um campo no qual estudos biológicos e psicológicos detalhados já foram feitos. Entretanto estes estudos infelizmente parecem ser desconhecidos da maioria dos parapsicólogos. (p. 230)

    Outra tendência errônea é encontrada entre aqueles que buscam uma explicação neurológica para os fenômenos sincronísticos, quando na verdade o que caracteriza um evento sincronístico é justamente a ausência de uma relação causal. Há também aqueles que supõem que os eventos sincronísticos sejam causados pelo inconsciente do observador. Com relação a isto, ela diz:

    De acordo com a visão junguiana, o inconsciente coletivo não é de forma alguma uma expressão de desejos e objetivos pessoais, mas uma entidade neutra, psíquica em sua natureza que existe de uma forma absolutamente transpessoal. Atribuir a ocorrência de eventos sincronísticos ao inconsciente do observador não seria nada além de uma regressão ao pensamento mágico primitivo, de acordo com o qual supunha-se antigamente que, por exemplo, um eclipse poderia ser “causado” pela malevolência de um feiticeiro. Jung chegou a advertir explicitamente contra considerar-se os arquétipos (ou o inconsciente coletivo) ou poderes psi como sendo a agência causal dos eventos sincronísticos. (p.231)

    O fato do evento sincronístico não ter uma causa pode levar ao erro de se imaginar que tudo aquilo que não tem uma causa conhecida é um evento sincronístico. Quanto a isso Jung é bem claro, afirmando que: “Devemos obviamente nos prevenir de pensar todo evento cuja causa é desconhecida como “sem causa”. Isso é admissível apenas quando uma causa não é nem sequer imaginável. Este é especialmente o caso quando espaço e tempo perdem seu significado ou aparecem relativizados, caso em que uma conexão causal também torna-se impensável.” (CW VIII, par. 957)
    A questão do significado, que é crucial na classificação de um evento sincronístico, também pode causar confusões. Afirmar que a existência de um observador que dê significado ao evento é fundamental não quer dizer que os eventos sincronísticos e seu significado sejam produzidos pelo observador. Essa questão do significado também traz outros problemas. Pelo fato do significado ser subjetivo, como podemos saber se não estamos fantasiando um significado quando na realidade ele não existe? Tudo o que diz respeito a fenômenos arquetípicos tem uma “lógica” de asserção que Jung chama de “necessary statements” (“afirmações necessárias”). Estas não são criadas pelo ego, são “impostas” pelo arquétipo e são esperadas sempre que um arquétipo está constelado, como é o caso dos eventos sincronísticos, nos dando um parâmetro para saber se o evento é mesmo significativo ou não. 
    A ordenação acausal e o “conhecimento absoluto” que estão por trás dos eventos sincronísticos não devem ser confundidos com um “Deus” teológico. É possível postular um deus faber por trás destes eventos, mas isso vai além de qualquer possibilidade de prova e Jung nunca o fez.
    Já que a constelação de um arquétipo é fundamental para a ocorrência de um evento sincronístico, é fácil incorrer no erro de considerar que foi o arquétipo que o ‘causou’. Jung diz que:

    Eu me inclino, porém a admitir que a sincronicidade em sentido mais estrito é apenas um caso especial de organização geral, aquele da equivalência dos processos psíquicos e físicos onde o observador está em condição privilegiada de poder reconhecer o tertium comparationis. Mas logo que percebe o pano de fundo arquetípico, ele é tentado a atribuir a assimilação dos processos psíquicos e físicos independentes a um efeito (causal) do arquétipo, e assim, a ignorar o fato de que eles são meramente contingentes. Evitamos este perigo se considerarmos a sincronicidade como um caso especial de organização acausal geral. (…) … devemos considerá-los [os acontecimentos acausais] como atos de criação no sentido de uma creatio continua (criação contínua) de um modelo que se repete esporadicamente desde toda a eternidade e não pode ser deduzido a partir de antecedentes conhecidos. (CW VIII, par. 516)

    A organização arquetípica “aparece” ou torna-se “visível” em um evento sincronístico, mas não é a causa deste. O evento sincronístico é uma creatio, um surgimento espontâneo de algo inteiramente novo e que portanto não é predeterminado causalmente.
    Embora Jung tenha sugerido que a ordenação acausal geral pode ser verificada experimentalmente através dos métodos de adivinhação, os eventos sincronísticos não são passíveis de serem investigados estatisticamente, uma vez que Jung é claro ao afirmar que os eventos sincronísticos são imprevisíveis, espontâneos e não podem ser repetidos.
    Bibliografia

    CARD, Charles. Symposia on the Foundations of Modern Physics. Editado por K.V. Laurikainen e C. Montown. Singapore: World Scientific, 1993.
    JUNG, Carl Gustav. Dream Analysis. Editado por William Mc Guire. Bollingen Series: Princeton University Press, 1983.
    ______ Fundamentos de Psicologia Analítica. 6. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1991. v.XVIII/1
    ______ Letters. Editado por Gerhard Adler. 1. ed. New Jersey: Princeton University Press, 1973. v.1.
    ______ Letters. Editado por Gerhard Adler. 2a. ed. New Jersey: Princeton University Press, 1991. v. 2.
    ______ Nietzsche’s Zarathustra. Editado por James L. Jarrett. Bollingen Series: Princeton University Press, 1988.
    ______ Psicologia e Alquimia. 4a. ed. Petrópolis, RJ: Vozes: 1991. V. XII
    ______ Sincronicidade. 5a. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1991. v. VIII/3.
    ______ Um mito moderno sobre coisas vistas no céu. 2a. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1991. v. X/4.
    ______ Visions Seminar. Editado por Claire Douglas. Bollingen Series: Princeton University Press, 1997.
    SAMUELS, Andrew. Why it is difficult to be a Junguian Analyst in today’s world. Anais do “13th Congress of the International Association for Analytical Psychology” realizado em agosto de 1995 em Zurich.
    WEHR, Gerhard. An Illustrated Biography of C.G. Jung. 1a.ed. USA, Boston: Shambhala, 1989.
    WILHELM, Richard. I Ching. 16a ed. São Paulo, SP: Pensamento. 1997.
    ______ O Segredo da Flor de Ouro. 8a. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.

     

    http://www.symbolon.com.br/artigos/jungesicroni2.htm

    Sincronicidade, por Angelita

    Você está em casa, pensando em alguém. De repente, o telefone toca. Do outro lado, a voz que responde ao seu “alô” é a da pessoa na qual você estava pensando. Na noite da véspera do seu aniversário você sonha com uma borboleta. Um dos presentes que recebe no dia seguinte é um brinco em forma de borboleta! Coincidências desse tipo já podem ter ocorrido com você ou não, mas certamente você conhece alguém que já narrou esse tipo de experiência. Para  os mais racionais  fenômenos assim não passam de simples coincidência. Para os outros, aqueles que tendem a fazer uma leitura “mágica” da vida, as coincidências podem ter inúmeras interpretações e significados, e até mesmo serem vistas como “sinais divinos”. O psiquiatra suíço Carl Jung (1875-1961), contudo, acreditava que as coincidências poderiam ser entendidas como fenômenos psicológicos caracterizados pela ocorrência simultânea de pensamentos/eventos geograficamente distantes. Jung chegou a cunhar uma teoria para tentar explicar esses fenômenos, a qual deu o nome de “Teoria da Sincronicidade”. As reflexões junguianas sobre o tema foram sistematizadas no trabalho “Sincronicidade: um princípio de conexões acausais”, publicado em 1952 junto com um artigo do físico Wolfgang Pauli.

    As primeiras ideias a respeito do conceito de Sincronicidade surgiram com o estudo feito por Jung da filosofia oriental, principalmente do I Ching. Muito antes, na sua prática clínica como terapeuta, Jung havia observado fenômenos reais que não se enquadravam na visão ocidental causalista.  Causalidade é a relação entre um evento (a causa) e um segundo evento (o efeito), sendo que o segundo evento é uma consequência do primeiro. Por exemplo, ao estudar os sonhos, Jung notou que os motivos oníricos tendem a coincidir relativamente com situações reais com um significado semelhante ou mesmo com situações reais idênticas. Ou seja, para Jung, é como se o conteúdo do sonho não dependesse de uma experiência prévia específica, mas fosse produzido paralelamente a ela, em conssonância com o tempo da vida “real”. Ele, contudo, só se expressou oficialmente a respeito disso no final dos anos 20, quando falou a respeito do princípio tradicional chinês, que é baseado numa ideia totalmente diferente de nossa hipótese da causalidade e que é particularmente importante em conexão com o I Ching. A filosofia oriental, com seu pensamento não linear, ofereceu a Jung a perspectiva de que o acaso e a coincidência podem ser levados em consideração e que a causalidade é meramente uma hipótese, não uma verdade absoluta.

    Com o passar do tempo, porém, a partir de algumas conversas que ele teve com Eistein, Jung sentiu a necessidade de buscar uma base teórica dentro da física moderna para o princípio. Esse contato com as recentes proposições teóricas da física moderna criou em Jung a necessidade de ampliar o conceito de Sincronicidade para uma ideia mais abrangente: a das “ordenações não causais”. Mais especificamente, o envolvimento de Jung com a física moderna se deu a partir de uma relação muito próxima com o físico alemão Wolfgang Pauli. Em 1930, Pauli, que estava sofrendo com problemas emocionais em decorrência do luto e de um casamento desfeito, procura Jung para fazer um acompanhamento terapêutico. Jung não trata Pauli, mas o encaminha para uma jovem analista. Porque Jung faz isso? Na visão dele, uma mulher seria melhor para ajudar Pauli a vencer as dificuldades que ele tinha nas suas relações com as mulheres e com o sentimento. Além disso, Jung acreditava que Pauli era uma personalidade excepcional, alguém com um material inconsciente rico e incomum. Nesse caso, uma terapeuta principiante não teria conhecimento aprofundado o suficiente para interferir ou influenciar no material que Pauli trazia.

    Assim, Jung e Pauli passam a se corresponder com frequência. Pauli apoiou o princípio da Sincronicidade como sendo científico. O Princípio de Exclusão, pelo qual Pauli recebeu o Prêmio Nobel, implicava a descoberta de um padrão abstrato que se oculta debaixo da superfície da matéria e que determina seu comportamento de modo “acausal”. Jung auxiliou Pauli na sua compreensão dos fatores coletivos e arquetípicos da psique. A partir dessa confluência de interesses e ideias desenvolve-se uma longa colaboração entre os dois pensadores. Esse trabalho conjunto dará origem à obra “The Interpretation of Nature and the Psyche” com dois textos: um escrito por Pauli, outro por Jung. A colaboração com Pauli, portanto, permitiu a Jung dar ao conceito de Sincronicidade e de suas aplicações posteriores um melhor embasamento, que apesar de não poder ser considerado necessariamente científico pode ser associado a algumas postulações teóricas de origem física. Dessa forma, alguns pesquisadores advogam que o conceito de Sincronicidade e a conceituação de uma “ordenação acausal geral” pode ter exercido certa influência na ciência desde então. O físico Charles R. Card, por exemplo, alega que a colaboração Jung/Pauli tem implicações que podem ser vistas como relevantes a algumas das maiores preocupações das bases da física moderna, em particular no tratamento de fenômenos não-locais na mecânica quântica e em fenômenos “caóticos” na dinâmica não-linear.

    Apesar de gerar inúmeras controvérsias, alguns admiradores e muitos detratores, a Teoria da Sincronicidade de Jung provoca certa curiosidade e muitas indagações sobre a natureza daquilo que convencionamos designar como “coincidência”. Por um lado, não se pode dizer que as postulações junguianas, baseadas na premissa de que os conteúdos da mente inconsciente podem se “comunicar” com o mundo físico, são capazes de oferecer uma explicação indubitável sobre o tema, longe disso! Por outro lado, a ousadia de suas ideias, ao suscitar reações apaixonadas de ambos os lados, podem forçar tanto os entusiastas quanto os críticos a buscarem provas que façam valer suas posições. Seja como for, a possibilidade de que os eventos distribuídos no fluxo do tempo possam estar em sintonia com o que pensamos/sentimos é realmente tentadora. Pensar nisso nos fornece uma perspectiva sedutora da vida, que pode ser entendida como uma cadeia de acontecimentos que têm sempre um significado, ou seja, que nada acontece por acaso e que tudo o que nos ocorre cumpre a função de nos colocar onde devemos estar para vivermos as experiências que precisamos.

    Acaso ou não, a ideia junguiana de Sincronicidade nos leva a refletir sobre os eventos coincidentes, e pode ser que ela seja só o delírio de alguém que alimentava uma expectativa sobrenatural da existência, mas pode ser também que ela seja o vislumbre de uma mente brilhante muito a frente do seu tempo. Mais uma vez, é Chronos, o Ceifador, quem dará o veredito!

    Imagem: “Linha do Tempo” por Zsolt Furesz, em 1x.com

      

     

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