A guerra dos institutos de pesquisa

Coluna Econômica 20/04/2010

Nos últimos dias, o mundo dos institutos de pesquisa foi sacudido por uma notável polêmica envolvendo o Datafolha – o instituto de pesquisas da Folha de São Paulo.

Na véspera do lançamento da candidatura de José Serra à presidência, o Datafolha soltou uma pesquisa não planejada dando 10 pontos de vantagem em relação a Dilma Rousseff.

A pesquisa contrariava a tendência até então levantada por outros institutos – inclusive a pesquisa do próprio Datafolha de vinte dias antes – que mostravam uma redução gradativa da diferença entre Dilma e Serra.

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Logo depois, dois institutos respeitados – o Vox Populi e o Sensus – divulgaram seus levantamentos. No primeiro caso, do Vox, deu empate técnico – isto é, levando em conta a margem de erro – entre os dois candidatos; na do Sensus, empate efetivo.

O jornal reagiu com matérias insinuando manipulação da pesquisa por ambos. As matérias levaram o PSDB a pedir uma auditoria no Sensus – que concluiu, ontem à tarde, pela inexistência de fraude.

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Em geral, os institutos recorrem à metodologia auto-ponderada de pesquisas. Significa que pegam os dados do IBGE sobre população, sexo, instrução, idade e montam uma amostragem reproduzindo essas condições. Ou seja, definem as regiões, os municípios e as casas que reflitam a proporção populacional do censo do IBGE.

Dos institutos, o Datafolha é o único que se vale de outra metodologia, a ponderada. Seus pesquisadores saem a campo, em geral nas cidades – deixando a zona rural de lado – e pesquisam os transeuntes em plena rua. Deixam de lado os que ficam em casa.

Com isso, a amostragem acaba saindo diferente do IBGE.

Por exemplo, na pesquisa de março, o Datafolha deu 45,4% de peso para eleitores com ensino fundamental, 40,9% para ensino médio 13,7% para ensino superior. Pelo censo do IBGE, o fundamental tem 55,2%, o médio 31,6% e o superior 13,2%.

Nesse caso específico, não chegou a alterar seu levantamento porque tanto Serra quanto Dilma tiveram votação similar entre os eleitores das duas faixas – Serra com 37%, Dilma com 27%.

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Mesmo assim, a análise dos resultados da pesquisa lança dúvidas acerca da sua metodologia.

Por exemplo, há consenso de que Lula será o grande eleitor de Dilma – transferindo votos para ela, por conta de sua popularidade. Por enquanto, Dilma é menos conhecida do eleitorado que Serra. No questionário do Datafolha, não informam o pesquisado sobre o partido de Dilma. Além disso, a pesquisa não contempla a zona rural, que responde por 15% dos votos – e onde estima-se que Lula tenha maior aprovação que nas zonas urbanas.

Mesmo assim, observa-se um movimento inexplicável – possivelmente fruto de falhas metodológicas. Enquanto a aprovação de Lula cai nas faixas de maior escolaridade, a de Dilma sobe.

Pela pesquisa, Lula obteve aprovação de 38% dos eleitores com ensino fundamental, 43% com ensino médio e apenas 18% com ensino superior. Já Dilma obteve respectivamente 26%, 27% e 33%.

As próximas pesquisas ajudarão a decifrar o enigma sobre qual instituto falhou nas suas projeções.

Luis Nassif

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