A Petrobras e a pauta implementada pelo financismo

Sugerido por Sérgio T.

Da Carta Maior

Petrobras: a bola da vez do financismo

O financismo nunca estará contente nem de acordo com a performance da Petrobrás. A não ser, é claro, que ela seja submetida a um processo de privatização.

Jaciara Itaim

É realmente impressionante a capacidade desenvolvida pelo financismo para promover a articulação e a defesa de seus próprios negócios em nossas terras. A pauta implementada diariamente pelos principais órgãos de comunicação continua sendo aquela que melhor expõe os interesses dos grandes operadores do sistema financeiro. Esqueçam as regras que eram ensinadas nas boas escolas de jornalismo, a respeito da recomendação de se ouvir mais de uma parte envolvida nas questões polêmicas ou de checar sempre a veracidade das informações oferecidas por fontes envolvidas. Afinal, esses são apenas alguns dos requisitos básicos para se desenvolver uma imprensa livre, democrática, formadora de opinião e crítica.

Os assuntos podem variar da política fiscal à política cambial, passando por temas mais específicos como inflação, superávit primário ou reforma agrária. Não importa qual a problemática que esteja sendo abordada no momento, mas a tônica será sempre o fornecimento da visão unilateral dos que compõem “la crème de la crème” de nosso PIB. É o caso, por exemplo, das principais chamadas das editorias de economia nas semanas que antecedem as reuniões do COPOM. Sobram opiniões e análises dos chamados “especialistas” a respeito da necessidade inadiável de se promover o aumento da SELIC, a taxa de juros básica da economia. Os meios de comunicação criam falsas verdades e constroem supostas unanimidades a partir da dificuldade que a maior parte da população tem em compreender fenômenos complexos e obscuros, como esses que acontecem na rotina cotidiana do mundo dos negócios.
Os casos mais típicos são as informações repassadas durante os telejornais noturnos, com a profundidade de análise típica do boletim meteorológico, que geralmente aparece na telinha logo na seqüência, um pouquinho antes da novela. São frases do estilo: “a Bolsa de Valores operou em alta de x% ao longo do dia”, “o dólar fechou em baixa de y%, com a cotação de venda a tanto e a de compra a outro tanto”, “a onça do ouro no mercado de Londres encerrou o pregão cotada a tantas libras” e por aí vai. Sempre me indago a respeito de como tais informações repercutem na forma como os telespectadores vão se organizar para enfrentar as agruras da vida dura no dia seguinte.

Não nos iludamos, pois a banca está permanentemente em luta por alguma causa de seu próprio umbigo. Pode ser apenas uma estratégia defensiva, para evitar maiores estragos em momentos de dificuldade. Ou então, na situação oposta, estão os casos de uma postura mais ofensiva para impor algum projeto ou opinião ao conjunto da sociedade ou por meio de “lobby” junto ao poder público. Durante a fase áurea do neoliberalismo, tais forças pintaram e bordaram por todo mundo.
 
Aqui nas terras tupiniquins, foram exitosas na consolidação do mito das vantagens inequívocas da privatização das empresas estatais e das vicissitudes proporcionadas pela liberalização completa de nossa economia ao resto do mundo.
 
Avançaram como retroescavadeiras sobre a estrutura do Estado brasileiro, desmontando décadas de esforço empreendido pela construção de um projeto efetivamente nacional de desenvolvimento. Os péssimos resultados para a maioria da população estão aí para quem quiser ver.

No período que se seguiu à crise financeira internacional de 2008, os representantes das finanças perceberam a enrascada em que estavam metidos pelos cinco continentes. Por aqui, baixaram o tom e se contentaram em não perder muito do espaço que haviam conquistado. A velha e conhecida estratégia de esperar a poeira baixar e depois retomar o comando da nave, como estão fazendo ao longo do período mais recente. A agenda do desenvolvimentismo, que havia recuperado uma pequena esperança de sobrefôlego entre 2009 e 2010, voltou a ser esmagada pelas forças daquilo que eu chamo de “neo-conservadorismo liberal”. A rendição às forças de mercado voltou a ser a marca do discurso de nossos principais dirigentes no governo federal. Assim, a agenda da política econômica tornou a ser ditada, outra vez de forma explícita, pelos interesses do grande capital.

Basta conferir as principais medidas anunciadas pelo governo durante as últimas semanas. Os esforços desenvolvidos a todo custo para garantir o superávit primário, com cortes orçamentários em despesas sociais e de investimentos estratégicos, assegurando recursos para pagamento de juros e serviços da dívida pública. Ou as reuniões de ministros com a nata do grande empresariado, para acalmá-los a respeito daquilo que seriam as verdadeiras intenções do governo. Ou a visita tranquilizadora de Dilma aos banqueiros em Davos, na reunião anual do Fórum Econômico Mundial. Ou ainda as sucessivas decisões de promover aumento na taxa SELIC. Enfim, a lista é enorme.

Ora, frente a essa postura intimidada e amedrontada do núcleo duro do governo diante do capital, o inimigo avança com tudo o que pode e exige sempre mais. A ameaça e a chantagem convertem-se em elementos perenes na vida política. E eis que – pasmem! – ocorre o inusitado. O governo cede em tudo o que lhe é solicitado, oferece mais e mais benesses ao empresariado, promove mais e mais concessões ao setor privado. E, apesar de tudo isso, os investimentos tão necessários não se manifestam. A nossa economia rateia e não consegue crescer nem perto da média do crescimento mundial.

No presente momento, a bola da vez do financismo é a Petrobrás. Na verdade, eles nunca se perdoaram por terem perdido a oportunidade de transformá-la em PetrobraX, como pretendia fazer Fernando Henrique, para privatizá-la como foi feito com a Vale do Rio Doce, com as empresas de telefonia, com o ramo da eletricidade e tantas outras. E uma das mais eficientes estratégias para repavimentar o caminho da privatização é desacreditar a empresa, “quebrá-la” financeiramente nos jogos especulativos na Bolsa e criar um ambiente desfavorável à mesma nos meios de comunicação. Afinal, diz a cantilena liberal, tudo isso ocorre em razão de sua natureza pública. Se a empresa fosse privada, o quadro seria outro, tudo estaria às mil maravilhas.

A Petrobrás tem sido bombardeada de forma intensa por todos os lados. É claro que há indícios de sérios problemas de gestão ao longo dos últimos anos. Além disso, ela sofre também as consequências de ser a principal empresa estatal do governo federal e uma das maiores petroleiras do mundo. Sempre que o tema de reajuste de preços dos combustíveis volta à baila, ela é utilizada para conter a alta de seus produtos, em razão de seus efeitos sobre a inflação. A Petrobrás arca com esse tipo de perda. Mas também nos momentos de baixa de preços do petróleo no mercado internacional, por exemplo, ela ganha, pois jamais os preços internos baixaram por essa razão.

Além disso, as decisões de investimento de nossa petrolífera repercutem de forma expressiva sobre o nível da atividade econômica de todo o País. Ela alavanca o ramo das plataformas de petróleo, os fornecedores de máquinas e equipamentos, as empresas de serviços e logística, os estaleiros construtores de navios, entre tantos outros setores. Em razão das descobertas de novas fontes de petróleo – antes e depois do Pré Sal – as necessidades de novos investimentos são imensas. Não apenas a Petrobrás deseja investir para crescer, mas a sociedade brasileira conta muito com tal desempenho.

Nos quadros complexos do capitalismo contemporâneo, as grandes empresas são obrigadas a lançar mão de operações de endividamento para conseguir realizar seus investimentos. E isso vale tanto para as empresas estatais como para os conglomerados privados. Ora, tudo indica que a sociedade brasileira considera as oportunidades do Pré Sal como sendo essenciais para assegurar um futuro melhor para as gerações que estão por vir. Para viabilizar tal projeto, faz-se necessário um volume enorme de investimento. A Petrobrás precisa alavancar recursos para explorar os campos sob as profundezas do oceano.

Apesar dessa equação aparentemente óbvia para qualquer profissional de economia, os “especialistas” passaram a criticar o elevado endividamento da empresa. Ela foi buscar recursos no mercado financeiro internacional e obteve um importante êxito. Há poucos dias, lançou bônus no valor de US$ 8,5 bilhões e encontrou uma demanda interessada bem superior, por volta de US$ 22 bi. Havia uma forte aposta especulativa de que a ameaça de rebaixamento da cotação do risco Brasil pela consultoria Standard & Poor’s melasse a iniciativa da Petrobrás.
 
Mas ocorreu o oposto. Ao que tudo indica, a leitura é de uma maior relevância de avaliação do potencial futuro do Pré Sal em comparação com os problemas atuais enfrentados por nossa empresa de petróleo.

Tanto que a estratégia dos grandes operadores do mercado mobiliário foi forçar a derrubada do preço negociado das ações da Petrobrás nas bolsas de valores, tentando caracterizar a operação de adesão ao plano de investimentos exitoso como sendo um fracasso. O discurso volta-se novamente para os supostos elevados índices de endividamento da empresa. Ocorre que a Petrobrás só pode crescer e investir lançando mão desse tipo recurso. Cria-se o círculo vicioso. Se não investir, será acusada de incompetência, de ter perdido a oportunidade única do Pré Sal. Ao investir, também é acusada de promover mais endividamento e colocar as finanças do grupo em risco.

Em suma, o financismo nunca estará contente nem de acordo com a “performance” da Petrobrás. A não ser, é claro, que ela seja submetida a um processo de privatização. Esse deve ser o objetivo último da atual campanha de desgaste da imagem da empresa. Aproveitando carona na disputa política entre o fisiologismo de setores do PMDB e o Palácio do Planalto, a Câmara dos Deputados aprovou a convocação da Presidente Graça Foster. Em tese, não haveria nada de anormal nesse tipo de prestação de contas de dirigentes de uma empresa pública aos representantes eleitos pelo povo. Faz parte das regras do jogo democrático e republicano. Mas nesse país chamado Brasil tudo adquire cores dramáticas na esfera da “política politiqueira”. A colocação da empresa na berlinda cai como uma luva na estratégia que busca sua desmoralização política e negocial. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.

Jaciara Itaim*

(*) Economista e militante por um mundo mais justo em termos sociais e econômicos.

Redação

11 Comentários

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  1. A Petrobras se grande, uma

    A Petrobras é grande, uma das maiores do mundo, sendo pública.

    Uma das líderes em pesquisa.

    Fundamental para o desenvolvimento do Brasil

     E o pré-sal….

  2. PIG

    quanto mais dinheiro o governo dá ao vampiro PIG (presstituta imprensa gatuna),

    mais o pig tem forças para sugar…..o governo.

    o pig desinforma para os de sempre poder escravisar nosso povo, que vê seus pequenos ganhos dos últimos doze anos se esvair em inflação especulativa, presente em tudo o que se consome.

    o pig está a serviço da banca internacional.

    que está contra os interesses da maioria do povo.

    nesse Brasil, algum governo, alguma hora, vai encontrar a coragem de enfrentar esse circulo vicioso.

    isso será necessário para escapar do GOLPE. 

  3. Petrobras

    Nassif, você está aliviando a barra dos caras… São especuladores, não financistas. O Lobo de. Wall Street e o pitbull da Rua do Comércio estão vivos e uivando. 

  4. Petrobras

    Sérgio T., 

    Artigo perfeito.

    A banca conseguiu abrir as portas do país no magnífico desgoverno de FHC, quando pouco restou depois da enorme privataria.

    Selic e Petrobras são as bolas da vez há muito tempo, neste brasilsil capaz de tudo, até mesmo de indenizar empresa privada que desviou mundos e fundos durante anos, patifaria praticada pela Fundação Ruben Berta naquela galinha dos ovos de ouro chamada Varig.

    Prá completar, ainda existe o CN com “coisas” do nível de um peemedebista como Eduardo Cunha ( com uma ficha corrida de causar inveja a muito bandido que está atrás das grades), agora de olho no controle da internet por parte das grandes multinacionais.

    Com tantos dos seus querendo entregar as poucas riquezas que restaram para o outro, é, sem dúvida, um pobre país.  

  5. O pig é corrupto

    Insisto, o pig não é só falso e desinformante; ele é corrupto, atende a interesses de ladrões (de casaca) na maior desfaçatez. Há na radio itatiasia uma articulista econômica que comenta da economia baseada simplemente na bolsa de valores, na reação da bolsa. Será que ela não sabe que bolsa é aposta, uma corrida de cavalo sem cavalos?

    Mas de uma maneira geral ficou fácil fazer qualquer comentário imbecil; é só ser contra o governo.

  6. Acho um pouco ingenuo o

    Acho um pouco ingenuo o texto.

     

    No mercado não tem espaço para amadores e o mercado não quer saber de politica, quer é fazer dinheiro. Portanto se engana quem acha que o mercado está penalizando a Petrobrás porque não gosta do governo ( O mercado não confia no governo). O mercado avalia o plano de negócios, as dividas, a produção, os resultados operacionais e financeiros e aí decide se acredita nos dados projetados para o futuro ou não. Atualmente a desconfiança é enorme, pois a Petrobrás não vem cumprindo sua curva de produção (prometida no passado) e o endividamento está muito alto. A curva investimento x produção colocada pela petrobras é vital para o futuro da empresa, se com o desembolso dos investimentos (gerando dividas) a produção não crescer confrome a curva a empresa irá ficar em situação dificil e o governo será obrigado a socorre-la, mas se a curva entre investimento e produção se concretizar quem investiu na empresa e a empresa irá se ser recompensado. Mutita gente acredita que a aposta é alta e preferiram ficar de fora.

    1. O mercado-barata.

      Meu filho, me desculpe a grosseria, mas ingênuo é você.

      Então a Islândia, a Grécia, a Lituânia (ou Letônia, sei lá),  são exemplo da “capacidade” do mercado de abandonar suas “crenças” e tratar a realidade de forma objetiva?

      E a ENRON?

      Caríssimo, tentar dizer que há uma análise “neutra”, que só leva em conta aspectos econométricos quando se trata de fluxo de capitais é de doer.

      Este mesmo mercado que “castiga” a Petrobras nos noticiários, oferece mais e mais dinheiro mais barato possível para suas captações externas.

      Se isto não é política (de morde e assopra), eu não sei mais o que é economia.

      No cone sul, não há porta aberta para o mercado atuar, a não ser como assessório das empresas estatais, como a PDVSA e a Petrobras, juntando a PEMEX. Nestas três gigantes, a chance dos interesses privados prevalecerem é quase zero, salvo os lacaios mexicanos, que adoram agradar o Tio Sam.

      Este pessoal já sentiu que não vai ser bolinho, então eles colocaram mãos à obra.

      É isto, filho…política e economia na veia. Uma coisa não anda sem a outra.

    2. Portanto se engana quem acha

      “Portanto se engana quem acha que o mercado está penalizando a Petrobrás porque não gosta do governo ( O mercado não confia no governo).”

      Vc é muito insensato. 

      A Petrobras está sendo tragada pelos especuladores, como de passagem, pela coleta de valores.

      Ou seja: o investimento é formado nos bancos por intermédio da transformação do que seremos.

      O que o mercado faz é corromper o preço das ações por mal conversação.

      Para sua vergonha, o Investimento é o que há de ser herdado para o investidor, conforme a prosperidade do país.

      Como tal uma parabola com o dinheiro do investidor para a falência do agricultor; A semente não nasce em grão se ela primeiro não morrer.

       

       

  7. Nessas análises…

    … sempre parece que o governo é um coitadinho, vítima dos lobos maus do mercado, seja na selic ou na condução das estatis… ora, ora, o governo não e nenhum cordeirinho ameaçado… faz o que faz – atender ao mercado – porque não tem coragem e porque lhe convém… é o tal de “lullismo de resultados”… alguém ai já fez as contas do embolsado pelos rentista na administração petista e o gasto com programas sociais?

    1. Grana no lixo

      Flics,

      Não é possível reduzir esta discussão para tal nível, até porque são assuntos inteiramente independentes, Petrobras e grana jogada no lixo via Selic.

      O governo tem que dançar conforme a atual música, QE, taxas de juros dos USA, a impagável dívida de U$16 tri e como se livrar dela num golpe só, as variáveis que nenhum governo são pode ignorar. 

      Concordo quanto à Selic desnecessariamente alta em minha opinião, o que permite a 50 mil rentistas umas sete ou oito vezes mais do que o destinado a mais de 40 milhões de pessoas.

      Um abraço

  8. A multisecular doença “Brasilis Zelitepatia” crônica

    A zelite, que deveria liderar o país (para a frente, naturalmente) não consegue passar de uma jabuticaba melanciosa;

    Só aqui, em uma economia de pleno emprego, com recursos fartos, crédito, baixo endividamento líquido (risco), demanda de investimentos em infraestrutura (ofertada pelo governo), pré-sal já em produção, estabilidade institucional, liberdades amplas (e como!), democracia, flutuando acima da crise internacional, em ano de Copa e a dois de Olimpíadas, ela consegue:

    . Não se animar, não se coçar, não investir, pouco produzir (a menos de juros e rendimentos intracontas).

    . Fazer propaganda negativa do país, interna e externa.

    . Torcer e trabalhar para o fracasso.

    . Combater (até desleal e golpistamente) os que querem melhorar sem prejudicá-los (e mesmo favorecê-los).

    Enfim, continuar agindo como se estivesse se afogando em piscina de meio palmo de água.

    Tentando afogar todos os demais.

    Para poder “sobreviver”.

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