A quem serve a TV Cultura?

Da Folha

Cultura de salão

SÃO PAULO – Estreia hoje à noite o novo “Roda Viva”, apresentado por Marília “Gabi” Gabriela. Como você, também não vi. As objeções, aqui, não se referem à perfomance, mas a princípios. Importa menos saber se a multiapresentadora está sóbria ou descolada, cool ou afetada. A questão é anterior.
“Eu sou Marília Gabriela, jornalista. Acredito no Brasil como a Vivo acredita”. Até outro dia, a campanha estava no ar. Gabriela empresta (ou vende) seu prestígio, e o associa à condição de jornalista, para promover a empresa de telefonia. A mesma Gabriela empresta seu talento para comandar aquele que foi (não é mais, já faz tempo) o principal programa de debate e política na principal emissora pública do país (talvez não seja mais).

VoceVocê não vê William Bonner e Fátima Bernardes vendendo lançamentos imobillários nos jornais ou margarina na TV. Já Faustão, que não é mais jornalista, mas animador das massas, faz de seu programa um camelódromo. A Globo, no entanto, é uma emissora privada.
Qual o modelo de Marília Gabriela? E quais, sobretudo, são os parâmetros da “nova” TV Cultura?
João Sayad é uma figura ilustre da sociedade civil progressista, um banqueiro-intelectual de extração tucano-petista, com bons serviços prestados para ambos os lados.
Estranha foi a maneira com que ele chegou à presidência da TV Cultura, desalojando Paulo Markun, de quem foi chefe, numa espécie de golpe palaciano. Mais estranhos, porém, são os rumos da emissora, que parece associar vícios estatais e tentações mercadistas, em prejuízo do que é propriamente público.
A pergunta “para que serve a Cultura” deve se desdobrar, à maneira nietzscheana, em outra: a quem serve a TV Cultura? Acumulam-se evidências de que ela tenha se tornado uma confraria do tucanato, um tipo de sinecura ou abrigo para fidalgos decadentes. Não será contratando a Tina Turner do jornalismo local para afetar um ar modernoso que a Cultura vai recobrar prestígio ou relevância pública. 

Luis Nassif

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