A rebelião cívica da Satiagraha

Atentado à democracia: Satiagraha é um sintoma social

Postado por Ivanisa Teitelroit Martins em 18 janeiro 2009 às 16:00

“O Brasil hoje é o campo de batalha dessas duas facções. De um lado o “Apedeuta” espertalhão e sua tropa de esquerdistas sem utopia, mas com volúpia do poder do Estado e suas boquinhas mil. Do outro lado, os que não se deixam tapear nem intimidar na defesa do Estado de direito democrático, ainda que carimbados de direitistas.” – comentário elogioso, de outubro de 2008, ao livro “O país dos petralhas” feito por Eduardo Graeff, cientista político que foi secretário-geral da Presidência da República no governo Fernando Henrique Cardoso.

Enquanto isso, através de operação de investigação feita pelo sistema de inteligência do governo federal foi rastreada a rota da evasão de divisas do país e da lavagem de dinheiro, que se constitui em crime financeiro. Há provas suficientes de sua materialidade. Um policial, um juiz e um procurador da República a sustentam. Sua competência é questionada. O Supremo Tribunal Federal e a classe política não se comprometem com as evidências, bem pelo contrário.

À mídia restou uma rede de blogs que faz um contraponto inteligente à informação dos grandes veículos que, por sua vez, parecem ter formado uma opinião, no mínimo, reticente ao processo. O blog de Luís Nassif tem agregado a participação ativa de inúmeros leitores que buscam a democratização da informação, através da análise e da opinião crítica e bem sustentada. O afastamento recente de Luís Nassif da TV Cultura parece sinalizar que há setores da sociedade incomodados com a falta de limites. Setores da sociedade que estão acostumados a determinar indiretamente o limite de informação que pode ou não chegar à opinião pública, atingindo a própria credibilidade da mídia.

Quando o processo de informação é democratizado, cria-se condições para o exercício de uma cidadania mais bem informada e o surgimento de lideranças mais comprometidas com o desenvolvimento. Quando ele é cerceado, são reproduzidos os equívocos do passado que somente retardam as transformações sociais, econômicas e, principalmente, políticas que podem deslocar o país para uma posição mais ativa na cena internacional.

Ao cercear a informação plural e o debate de divergências, a ação política fica reduzida à pura alternância de poder sem compromisso com os interesses do país, ao invés de serem discutidas as grandes questões e desafios que se tem pela frente. Os brasileiros de baixa renda, que são maioria nesse país, esperam que haja escolas, atendimento médico, segurança, empregos, salários dignos, distribuição de renda e terra e não têm interesse em saber quem é mais esquerdista ou direitista ou se o Estado é Policial ou de Direito, porque enquanto não houver democracia, justiça e acesso a oportunidades, para eles o Estado continuará sendo policial.

E não é por acaso que um policial vem sendo o principal protagonista em defesa de direitos da maioria, denunciando a evasão de recursos para fora do país. E um jovem Juiz e um Procurador da República vêm sustentando juridicamente esses direitos. É do lugar crítico do suposto “Estado policial”, na figura do Delegado Protógenes, que vêm sendo denunciadas as bases desiguais de nossa democracia.

Em geral, tem-se estimulado a desmoralização desses profissionais, como também de profissionais da imprensa que têm resistido à limitação da informação. Esses jornalistas, policiais, delegados, juízes de primeira instância, procuradores foram reduzidos à “faixa de gaza” diante da ocupação expansionista da grande mídia e seus aliados. Estes bombardeiam a “faixa de gaza” com recursos e meios sofisticados, desqualificando, desempregando, atingindo famílias e civis que estejam próximos. Não diria que os civis são inocentes, mas com certeza não estão armados, sequer dispõem de mísseis Qassam, mas se multiplicam.

O PT é um partido que nasceu das lutas dos trabalhadores e das greves do ABC e se transformou em uma esperança para o povo brasileiro. O PSDB esteve oito anos à frente do governo federal, quando se constituiu em esperança. O PMDB teve um papel importante na sustentação da Constituinte e também já ocupou o governo. É hora de avançar. A operação Satiagraha é o nosso sintoma social, a nossa crise mais aguda, porque denuncia a reprodução das desigualdades no país.

Não é o corte orçamentário em investimentos, nem a política ortodoxa do Banco Central, nem a redução dos salários, nem a focalização somente naqueles que dependem do Estado que evitará a desaceleração do crescimento e responderá à crise. Seria o mesmo que definhar diante dos desafios. Também não é a desmoralização da operação Satiagraha e das instituições envolvidas, assim como a censura a jornalistas, que garantirá um Estado de Direito. Estamos diante de uma rebelião cívica na cena independente da mídia.

É hora de conduzir satisfatoriamente o processo judicial, sem afastar nem desqualificar o Delegado Protógenes, o Delegado Paulo Lacerda, o Juiz De Sanctis e o Procurador De Grandis. Eles não são inimigos nem suspeitos. A eles deve ser dada a proteção do Estado porque levantaram provas que podem mudar o quadro de ilegalidades e irregularidades cometidas no campo das finanças.

Essa rebelião cívica também não é inimiga nem suspeita, mas representa a possibilidade de ampliar os direitos e a democracia. Pessoas que ocupam determinados cargos e funções estratégicos não estão conseguindo interpretar esses sinais que vêm denunciando as bases da nossa democracia. Acabam personalizando o exercício de suas funções e confundindo as críticas e as denúncias à sua própria pessoa.

 

Luis Nassif

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