A terra em transe entre o Graal e a doença do governante, por Fábio de Oliveira Ribeiro

A imprensa brasileira é fantástica. Ela fez de tudo para derrubar o PT e para ferir moralmente Lula. Citarei apenas alguns episódios que comprovam esse fato:

1- Quando Gilmar Mendes chamou Lula às falas, a imprensa acusou ferozmente a presidência de monitorar os ministros do STF. O áudio correspondente nunca foi localizado ou divulgado.

2- A foto de Lula numa festa junina provocou um verdadeiro terremoto. A imprensa acusou-o de ser alcoólatra e de não reunir as condições necessárias para ser presidente da república.

3- Lula foi acusado de ter uma conta milionária no exterior. A ausência de prova deste fato nunca chegou a ser considerado um tema jornalístico relevante.

4- A imprensa acusou Lula de ter recebido um Triplex de presente por ter beneficiado uma construtora. Alguns anos depois, o caso resultou em denúncia criminal baseada na convicção de um procurador federal. Durante a instrução do processo, Lula provou que nunca teve a posse ou a propriedade do imóvel. Quando a sentença foi proferida a prova feita pelo réu foi ignorada e a acusação jornalística utilizada como prova incontestável do crime. A fraude processual cometida para inutilizar Lula eleitoralmente foi comemorada pela imprensa como sendo um marco do restabelecimento da justiça no Brasil.

5- O episódio da bolinha de papel que acertou a cabeça de José Serra foi tratado como um atentado terrorista.

6- Uma Ficha Policial falsa de Dilma Rousseff foi divulgada como sendo verdadeira. A perícia atestou que o documento era falso, mas um grande jornal paulista disse que ela “poderia ser verdadeira”.

7- Grampos telefônicos da presidenta foram divulgados para ferir mortalmente o governo Dilma Rousseff. O juiz que os autorizou e liberou cometeu um crime grave, mas a conduta dele minimizada. Quando Sérgio Moro se tornou Ministro da Justiça de Bolsonaro o fato dele ser um criminoso foi esquecido.

8- A legislação garante o sigilo das informações médicas. Mesmo assim, a imprensa divulgou exames médicos da mulher de Lula para fragilizar emocionalmente o ex-presidente petista num momento extremamente doloroso da vida dele.

Ferozmente atacado, o PT perdeu a eleição. Apesar disso a imprensa não foi capaz de reorientar se “modus operandi”. Os segredos de Jair Bolsonaro ainda não se tornaram o assunto mais importante do jornalismo brasileiro.

Semana passada, por exemplo, as empresas de comunicação exploraram à exaustão a nova acusação fraudulenta que foi sacada pelo MPF contra lideranças do PT e reproduziram de maneira burocrática a nota dos médicos de Jair Bolsonaro. Mas nenhum jornalista tentou obter cópias exames médicos do novo presidente para divulgá-los ao “respeitável público”.

A saúde do novo presidente deveria ser um assunto mais importante do que qualquer outro. É dela que depende o sucesso ou o fracasso do país. Michelle Bolsonaro disse que o marido dela “é um príncipe”. A frase usada pela primeira dama para definir Jair Bolsonaro é significativa, pois permite que o tema da doença do novo presidente possa ser explorado à luz da literatura medieval.

Quando o Rei Artur adoece e definha o reino dele entra em colapso. As terras semeadas perdem seu vigor, as colheitas fracassam e a fome se espalha entre os súditos de Camelot. Em razão disso, os cavaleiros da Távora Redonda decidem sair à procura do Graal que será capaz de curar o rei e seu reino. O Ciclo Arturiano deve ser considerado uma mina de ouro para os jornalistas que desejam escrever com elegância nesse momento.

O novo governo está recheado de generais. Qual deles será o nosso Percival quando o país adoecer porque o novo presidente se recuperou e tomou posse? A Bolsa de Colostomia asquerosa presa ao corpo de Jair Bolsonaro é o Graal do novo regime? O líquido milagroso que ela contém pode ser considerado a água da vida que irá fertilizar as fazendas dos produtores rurais? Quando a imprensa divulgará a verdadeira foto do verdadeiro Graal do nosso Rei Artur? Aquele objeto será cultuado pelos bolsominios se o Bozo morrer antes da posse?

O general vice disse que será o escudo e a espada do presidente. Isso reforça a possibilidade de utilização do Ciclo Arturiano para descrever o novo governo, mas também cria um imenso problema. Se capitão está fadado a se tornar a Guinevere do Hamilton Mourão, quem fará o papel de Artur neste triângulo amoroso. Ainda é muito cedo para falar de um Ciclo Gay Bolsonariano na literatura medieval brasileira?