A troca de comando na TV Cultura

Da Folha

Política e críticas a gestão ditam troca na TV Cultura

Markun deixou cargo por divergência com Sayad e necessidade de acomodar aliado

Conselheiros de fundação que administra emissora veem dificuldade de mudar estrutura administrativa e interesses internos do PSDB

MARIO CESAR CARVALHO
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O jornalista Paulo Markun deixou de ser o candidato do governo paulista à presidência da TV Cultura para a eleição de 10 de maio por dois motivos práticos e por necessidade de acomodação política, segundo conselheiros da Fundação Padre Anchieta, que administra a emissora, ouvidos pela Folha.

Os motivos práticos citados pelos conselheiros são a suposta incapacidade de Markun de cortar funcionários (e custos) e de mudar a programação da emissora. A acomodação está ligada à dança de cadeiras no PSDB: com a troca de governo em 2011, João Sayad, secretário de Cultura do governo paulista, ficaria sem cargo mesmo em caso de vitória de Geraldo Alckmin, com quem não tem afinidade política.

Andrea Matarazzo deve substituir Sayad na secretaria. A acomodação política uniu-se ao desejo de Sayad de ocupar a presidência da TV para tentar mudá-la radicalmente.

Markun foi convidado para o cargo por Sayad, mas as críticas abertas do ex-secretário à programação da emissora corroeram a relação entre os dois. A tensão começou já no início do mandato de Markun, em 2007, como comprovam atas do conselho da fundação. Markun reclamava da redução de verbas do governo. Em outubro daquele ano, mencionou o corte de R$ 18,8 milhões, que seriam utilizados na digitalização da TV. Sayad saiu em defesa do governo, dizendo que a Cultura tinha “missão de convencer o governo a aumentar seus aportes”. “Não falta dinheiro para bons projetos”, provocou o secretário, para quem a emissora carecia de “controle interno”.

O governo Serra e os conselheiros consideravam sem sentido o número de funcionários da emissora -cerca de 1.800, dos quais 600 estão emprestados para a TV Justiça e para a emissora da Assembleia.

O tema foi debatido entre Sayad e Markun em reunião do conselho de 2007. Um dos problemas era levantar dinheiro para pagar as indenizações dos demitidos. O outro era que a Secretaria da Fazenda não autorizava que a verba economizada com a redução dos funcionários fosse investida pela emissora em programação. O dinheiro ficava com o governo.

Sayad disse que essa era a lógica do governo, mas insistiu que recursos poderiam surgir se houvesse “um bom projeto”. “É como a construção de uma estrada. Precisa ser demonstrada a sua viabilidade. A construção da TV Cultura obterá recursos na medida em que essa missão for elaborada.”

Dessa tensão surgiu um acordo assinado entre a fundação e o governo no final de 2008. O texto deixava clara a intenção do governo de controlar gastos e cobrar resultados da TV. As divergências entre Markun e Sayad atingiram o ponto alto na negociação desse contrato. Ambos chegaram a conversar com ironia em uma reunião três meses antes da assinatura desse documento.

Markun tentou elevar a receita própria emissora, em vez de demitir funcionários, como queria o governo. Aumentou o número de programas que fazia para o Ministério da Educação e secretarias. Passou a editar livros. No ano passado, fez três milhões de exemplares.

A receita própria cresceu 22% entre 2007 e 2009 -de R$ 99 milhões para R$ 120 milhões. O próprio Markun, porém, reconheceu numa reunião do conselho em que fez o balanço de sua gestão que descuidara da programação.

A avaliação do governo Serra das contas era bem diferente. Segundo essa visão, se não fosse o convênio da Universidade Virtual do Estado com a TV Cultura, pelo qual a emissora recebeu R$ 18 milhões, as contas ficariam no vermelho.

José Serra, pré-candidato à Presidência, ficou irritado quando Markun anunciou em junho de 2008 que a Cultura criaria um Museu da TV Brasileira. O governador avaliava que a fundação deveria cortar gastos, em vez de elevá-los.

Procurado pela Folha, Markun não quis se pronunciar.

Comentário

É evidente que, procurado pela Folha, Markun deu sua versão em off, reduzindo a falta de gestão e de projetos a uma discussão sobre cortes.

Luis Nassif

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