Após queda de Cunha, jornais semeiam esperança em Temer

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – Após a queda de Eduardo Cunha pela inelegibilidade, com seu afastamento definitivo da política direta até janeiro de 2027, os jornais da manhã desta terça-feira (13) destacaram o isolamento de Cunha pelo governo de Michel Temer, como se o primeiro não tivesse atuado em parceria intrínseca com o segundo para a saída de Dilma Rousseff.
 
As manchetes “Cunha é cassado por 450 votos, sai sob vaias e se queixa de abandono de Temer”, da Folha de S. Paulo, “Planalto avalia que relação com Câmara deve se estabilizar após queda de Cunha”, de O Globo, e por fim, o editorial “Tempo de reconstruir”, do Estado de S. Paulo, dão o tom do que está por vir.
 
Trata-se de uma tentativa de enterrar os erros e manobras do PMDB, uma vez com a vitória agora consagrada na cadeira maior do país, junto com a cassação de Eduardo Cunha. Michel Temer sentiu alívio, com o fim daquele que personificou todas as artimanhas do seu grande partido para derrubada do governo PT.
 
A separação Temer, o conciliador e pacificador da nação, do pior que representou à sua sigla e seus aliados para que o então vice-presidente alcançasse o posto, já pode ser visto nas manchetes do dia pós Cunha.
 
A vitimização do discurso do peemedebista ex-presidente da Câmara, de que o apoio do atual presidente a Rodrigo Maia ajudou a sua cassação, em reportagem da Folha, mostra essa linha. 
 
 
“Culpo o governo hoje não porque ele tenha feito nada para me cassar mas quando ele patrocinou a candidatura do presidente que se elegeu [Rodrigo Maia]”, afirmou Cunha sobre o fim da sua elegibilidade.
 
O Globo foi um pouco mais direto. Em reportagem que recebeu destaque privilegiado na página principal, o jornal transfere ao próprio presidente a iniciativa de tentar se descolar do agora ex-deputado Eduardo Cunha. 
 
 
Interlocutores ouvidos pelo diário “minimizaram” ao afirmar que “pouco irá se alterar” com a saída definitiva de Cunha, mas esperam “estabelecer uma relação mais serena com a Câmara”. E completou: “algo que já vinha sendo construído desde o afastamento de Cunha pelo Supremo Tribunal Federal (STF)”.
 
A estratégia de Temer é, junto com a derrubada de Cunha, também desintegrar o chamado “centrão”, bloco político liderado pelo ex-presidente da Câmara, que reunia nanicos. Ao Globo, o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, deu o recado do Planalto: “nunca tratei com o centrão, um termo que foi inventado. Trato com os líderes partidários e políticos”, disse.
 
A intenção é manter o apoio que tem hoje Michel Temer do Congresso, para aprovar as medidas de interesse de seu governo. “Os deputados do centrão continuarão unidos, porque convivem há muito tempo, mas não há hoje uma liderança que aglutine esse grupo como Eduardo Cunha fazia. Ele potencializava muito a rivalidade com o PMDB, porque turbinava o centrão com cargos e espaços na Câmara. Mas, o centrão está muito bem atendido no governo Temer, então acredito que não darão trabalho para governar”, disse um aliado de Temer ao jornal.
 
Já o Estadão preferiu usar seu espaço de Opinião para expor a sintonia absorvida pelos jornais com a linha atual do governo Temer. “Tempo de reconstruir – Reconstruir o País e abrir caminho para uma nova etapa de vigor, dinamismo e criação de oportunidades é a grande tarefa, depois de rompido o desastroso domínio do PT”.
 
 
Pela linha fina, mais parece um editorial escrito após o impeachment de Dilma Rousseff. Mas não é. O artigo é uma enfática defesa da “esperança” apostada por Temer para angariar apoio às suas medidas radicais que pretende na economia, incluindo terceirizações, privatizações e reduções sociais.
 
Sem citar o nome de Eduardo Cunha, o texto traz o recado em seu título do que se quer: “reconstruir”, após a derrubada do governo do PT e o fim de um dos males do PMDB. O combo “crítica ao PT + esperança de superação com Temer” está presente em toda a coluna opinativa.
 
“Não basta haver encerrado a longa fase de populismo, mentira, irresponsabilidade e pilhagem do Estado. O resgate só será completo com a retomada do trabalho, interrompido por mais de dez anos, de modernização das instituições, de reforma do governo e de revalorização da seriedade e do esforço produtivo e criativo em todos os setores de atividade – públicos e privados”, diz logo no primeiro parágrafo.
 
O editorial vai além. Chega a criticar os direitos garantidos na nossa Constituição de 1988, para defender a flexibilidade das leis e dos direitos em prol do lucro e da economia. “Nem todos percebem, no dia a dia, como as normas constitucionais afetam os custos da economia brasileira e limitam – de fato, severamente – as possibilidades de crescimento da produção e de criação de empregos decentes e úteis”, afirma.
 
“Coleção de nobres princípios e de bons propósitos, a Constituição de 1988, tanto na forma original quanto depois de grande número de emendas, engessa as finanças públicas, facilita o desperdício, dificulta o equilíbrio fiscal, cria ambiente favorável à inflação e impõe obstáculos ao crescimento econômico”, completa.
 
Neste sentido, a coluna opinativa do Estadão defende que a proposta de Michel Temer de um teto para o aumento da despesa pública – o editorial não contextualiza, mas é a tal PEC 241/16, que congela os gastos públicos por 20 anos e reduz diretamente os investimentos do governo na Saúde e na Educação – é um “passo inicial para a correção de algumas dessas – para usar uma palavra suava – inadequações”.
 
“Mas a Constituição formulada com bons sentimentos e belas intenções é só uma das fontes de problemas legais, a começar, é claro, pelas vinculações criadas sem pragmatismo, sem visão de futuro e sem racionalidade administrativa”, segue.
 
Por fim, o texto conclui que “os brasileiros têm mais uma oportunidade, agora, de atacar essas questões e de reconstruir o País segundo modelos melhores para todos”, após o fim do PT e o fim de Cunha.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

17 Comentários

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  1. Mas alguém ainda tinha alguma

    Mas alguém ainda tinha alguma dúvida de que isto faz parte do roteiro dos golpistas? A mídia bandida vai querer usar o fato a favor do seu pau mandado. Motivo a mais pra aumentar a certeza de que tudo não passou de uma farsa. Ninguém tem nada o que comemorar.

  2. O jornalismo-idiotice

    O Estado de S. Paulo acredita que Cunha e o PT eram os entraves para o país crescer. Um jornal desse tamanho, que tem analistas internacionais e economistas em seu quadro, ao atribuir a crise atual do país exclusivamente ao PT e a Cunha, ignorando os efeitos deletérios da Lava-Jato na economia, a questão das commodities e a baixa internacional dos preços do petróleo, além da questão dos juros nos EUA, só propaga o jornalismo-idiotice, aquele que obriga o leitor a comprar um nariz de palhaço pra usar enquanto o lê.

    Pior, eleger a Constituição como o entrave ao país (quando é justamente o não-cumprimento da mesma que leva à maioria dos problemas que enfrentamos), é de um oportunismo maucaratista incrível. Daí a pouco isso está sendo reverberado como uma ideia genial e vai servir de mote pra todo tipo de ataque aos direitos sociais e concessões de benefícios a empresários, banqueiros e demais milionários, na forma de redução de impostos para esses (para o assalariado, mais horas de trabalho semanais e mais anos no lombo para se aposentar), redução ou extinção das obrigações trabalhistas, e outras benesses.

    Pior mesmo é que muito trabalhador assalariado vai ler isso e achar genial, passar a replicar no Facebook, reproduzir essas idiotices nas conversas com colegas e amigos. Um dos maiores problemas do nosso povo é essa reverência vira-lata às elites, a falta de percepção de que se algo é bom para o patrão ou para os ricos, é ruim pra ele. O sujeito não percebe que não pertence ao time que toma as decisões, mas sim ao time que é afetado pelas decisões…

    1. Tem razão.

      A existência desses grandes tabloides e as condições para formação de uma crise gigante pela simples manipulação da justi$$a pela gente ligada aos interesses que sustentam esses dinossauros só é possível porque tem muito trabalhador idiota e alienado que acaba engolindo, ruminando e repetindo como papagaios as pregações dos interesses da classe dominante. É impressionante! Quem não entra nessa manada fica com a sensação que caiu da mudança em alguma passagem do filme e está perdido num planeta de walking deads abestalhados. Cheio de idiotas que tomam no cadastro único e comemoram, como se estivessem (sentem-se) no time vitorioso.

      1. Severino, a mais perfeita tradução!

        Seu comentário, principalmente a parte de cair da mudança, é a mais perfeita tradução do que sinto neste momento!

  3. Lula e o efeito orloff

    Ao admitir mesmo remotamente uma aliança no futuro com o Golpista, Lula poderá ser a Dilma de amanhã. Será que depois de passar o que passou, de ver a Dilma ser tráida pelo PMDB Lula ainda insiste em acreditar em Papai Noel? É inacreditável.

  4. PARODIA

    (I)

    (…) Os ratos
    Não clamam, os ratos
    Não acusam, os ratos
    Escondem
    O crime de BRASILIA.

    (III)

    “MICHEL TEMER”, velho
    Chacal, [SEM] a barba
    Sinistramente grave
    E o sangue
    Curtindo-lhe o couro
    Da alma mercenária.
    “MICHEL TEMER”, velho
    Verdugo, qual
    A tua paga?
    Um punhado de ouro?
    Um reino de vento?
    Um brasão de horror?
    Um brasão: abutre
    Em campo negro,
    Palmeira decepada,
    Por timbre, negro esquife.
    “MICHEL TEMER”,
    Teu nome guardou –o
    A memória dos justos.
    Um dia, em BRASILIA,
    No mesmo chão do crime,
    Terás teu mausoléu:
    Lápide enterrada
    Na areia e, sobre ela,
    A urina dos cães,
    O vômito dos corvos
    E o desprezo eterno.

     

    “Palmares” (paródia) – José Paulo Paes

  5. Eles sabem que está mentindo.
    Eles sabem que está mentindo. São canalhas. Mas estao tentando uma nova narrativa, que já era planejada. Em conluio com o o funcionário público Janeiro e demais membros do STF. Temos que refundar a república fazendo uma assembléia geral constituinte soberana. Como De voz ao povo.

  6. Galera, agora é #Foratemer

    o golpista é um líder fraco e sacá-lo não será difíci basta ir para as ruas. O resto é papo de imprensa golpista e de rentistas

    Simples assim.

  7. O jornal Estado de São Paulo

    O jornal Estado de São Paulo parece que está no tempo da Província de São Paulo.

    Estão quase falidos, mas, se comprotam como se estivessem nadando em dinheiro. Parecem aristocratas falidos.

  8. Vejo nítidos traços do que de

    Vejo nítidos traços do que de pior há no PSDB de Aécio Neves da Cunha, José Serra e Geraldo Alckmin nessa derrota de Eduardo Cunha. O PMDB de Temer nunca tinha tido agenda bem definida. E eis que agora todas as iniciativas atribuidas a Temer têm uma mesma direção, um mesmo sentido, os daquele PSDB.

    O PSDB perder poder nas urnas parece coerente. Mas perder também no golpe, aí já seria estranho. Eduardo Cunha nunca foi do “clube” dos que se pretendem arquitetos, construtores das pirâmides de poder no Brasil, maçonaria, Agnus Dei etc.

  9. O texto abaixo é do inicio do
    O texto abaixo é do inicio do ano… As reportagens do link foram previstas nesse texto…  “”Amigos, não tenho a intenção de demonizar ninguém que seja a favor do impeachment, tenho muitos amigos favoráveis e a maioria de meu partido prefere o impeachment. Quero apenas compartilhar as razões pelas quais sou contra, razões que tenho repetido há meses, em textos e debates públicos. Aprovado o impeachment, no dia seguinte, a mídia vai clamar por uma trégua para que o novo presidente possa trabalhar em paz e para que a economia se reequilibre. O ministro Gilmar Mendes, novo presidente do TRE, vai empurrar com a barriga o processo contra a chapa Dilma-Temer, para não desestabilizar o novo governo. Dirá: “O Brasil não aguenta outra queda de presidente”. Editorialistas escreverão: “A economia não resistirá a uma nova perturbação da ordem. Deixem as eleições para 2018. Agora, todos devem dar uma trégua ao presidente Temer. Agora, vamos trabalhar para restabelecer a confiança e reerguer a economia”.O ministro da Justiça será forte, fortíssimo, alguém com autoridade para segurar a polícia federal (e atenção, confio na integridade e independência da PF e do MP, mas sei quão poderosas podem ser as pressões e manipulações na contra-mão da vontade dos profissionais). Quem? Talvez um ex-ministro da Defesa e da Justiça, ex-presidente do Supremo. Este ministro forte agirá. A lava-jato, que é, não nos enganemos, a grande moeda política no Congresso, razão para que dezenas de suspeitos e investigados votem contra ou a favor do impeachment, a lava-jato vai sair das manchetes e escorregar para as páginas policiais. E boa parte da população, iludida, vai celebrar a derrota da corrupção, como se o PT fosse o único partido corrupto, como se Temer e o PMDB não fossem cúmplices do PT, como se esta gigantesca manobra de Cunha et caterva não tivesse como objetivo justamente neutralizar a lava-jato.Quem for a favor do impeachment por acreditar que depois de derrubar Dilma o povo pressionará pelo impeachment de Temer, vive no mundo da lua. Quem for a favor, supondo que a lição será dada ao PT e logo depois ao PMDB, com a cassação da chapa no TSE, está inteiramente equivocado. Passando o impeachment, fecham-se as tampas para mais mudanças. O Brasil perderá a potência da lava-jato, esse fenômeno único e transformador em nossa história – independentemente de seus erros. Além disso, o país será submetido a um arrocho sem precedentes. Quem pagará o preço, mais uma vez, serão os mais pobres. O país trocará Dilma pelos direitos dos trabalhadores e pela oportunidade única em sua história de passar a limpo essa classe política degradada, em seu conjunto.”” http://justificando.com/2016/04/12/sou-contra-o-impeachment-porque-penso-no-dia-seguinte/

     

  10. ´Não há nem o que comentar.

    ´Não há nem o que comentar. Pobre povo brasileiro analfabeto funcional e político. Está sendo depenado e goza achando que é o  outro que está perdendo as penas. Acho é que sofremos de sado masoquismo. Um dia vão descobrir que é doença contagiosa, transmitida por meios de comunicação…

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