As novas mídias e o jogo político

Coluna Econômica

Na sexta-feira passada participei da sessão de encerramento do IV Congresso Latino Americano de Opinião Pública da Wapor, um encontro que reuniu especialistas em pesquisas de opinião do continente, tanto da área acadêmica quanto dos institutos de pesquisa.

As novas mídias entraram definitivamente na agenda do setor, por sua capacidade de interferir em eleições. Esse processo ficou claro nas eleições de Obama. De seu lado, foi auxiliado por uma multidão de blogueiros e voluntários. Na outra ponta, alvo de uma campanha de baixíssimo nível, valendo-se de redes sociais e blogs, apontando-o como terrorista, muçulmano etc.

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AlguAlguns pensadores defendem a tese de que a blogosfera é por demais caótica para conseguir interferir no jogo político. Em geral se aferram a um retrato atual do setor, incapazes de entender o processo futuro.

A blogosfera é como uma imensa assembleia pública dos primórdios da democracia grega, uma imensa sala onde todos se manifestam.

Desde o advento da indústria da comunicação, o jogo da opinião pública ficou restrita à opinião que passava pelos grandes jornais centrais de cada país. Ficavam de fora desse jogo as cidades e cidadãos do interior, setores da economia, movimentos sociais, pequenas empresas etc.

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A blogosfera é um caos – que em determinado momento encontrará várias formas de organização. A diferença é que todas as manifestações, ruídos, militâncias se dão na mesma plataforma tecnológica. Essa é a diferença fundamental.

Sem Internet, a opinião pública é captada ou através de pesquisas de opinião estáticas, ou através do filtro do jornal.

Com a Internet, o jogo é outro. Todas as opiniões são bites na rede. Todas as informações estão disponíveis para modernas ferramentas de gestão do conhecimento, seja RSS (sistema que permite receber automaticamente notícias de um site ou blog), cokpits (formas aprimoradas de organizar informações).

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O primeiro bloqueio à informação – sua publicização – é removido. Cada vez mais será possível buscar informações dos locais mais distantes, dos setores mais esquecidos.

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Espalhadas pela rede, as informações assumem inicialmente um aspecto caótico. Gradativamente surgirão os hubs, os agregadores, que buscarão informações e darão tratamento jornalístico às notícias.

Haverá implicações em todas as áreas.

Por exemplo, na política econômica, atualmente o único setor ouvido é o dos economistas de mercado, com fácil acesso às editorias econômicas dos grandes jornais de São Paulo e Rio.

Gradativamente setores da indústria, de serviços, sindicatos, cidades do interior, disponibilizarão dados na rede, acessíveis a analistas, pesquisadores, veículos de informação, autoridades econômicas etc.

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As eleições do ano passado, além disso, mostraram a importância do contraponto permitido pela Internet, especialmente em períodos em que não há contraponto na grande mídia.

Mesmo em fase incipiente, o espaço proporcionado pela Internet já modificou a história da mídia. 

Luis Nassif

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