Ion de Andrade
Médico epidemiologista e professor universitário
[email protected]

A renda é fator determinante na mortalidade por COVID-19, por José Dias do Nascimento e colaboradores

Cientistas desenham um panorama das disparidades de desfecho da doença na região metropolitana de Natal.

A renda é fator determinante na mortalidade por COVID-19, por José Dias do Nascimento e colaboradores

A renda é fator determinante na mortalidade por COVID-19. Os dados analisados para a cidade de Natal mostram que as consequências desta epidemia são severas para todos, no entanto, seus efeitos são devastadores para a população vulneráveis de baixa renda. O grupo de pesquisadores da UFRN e UFC analisaram os dados epidemiológicos e a letalidade da doença baseado em dados de geoprocessamento dos casos e óbitos. Os mapas apresentados pelos cientistas desenham um panorama das disparidades de desfecho da doença na região metropolitana.

As taxas de mortalidade – a chance de alguém com a infecção morrer por causa do Coronavírus – na cidade de Natal depende fortemente da localidade. Da mesma forma, a transmissibilidade R(t) da doença, calculados com modelo epidemiológico MOISAIC, também depende da localidade. Os cientistas mostram que a taxa da zona Norte de Natal é de 4,49% e na zona Oeste é de 4,18%, já na zona Sul é de 1,47% e na zona Leste de 2,97%. Ou seja, se dividirmos Natal em duas grandes regiões Norte-Oeste e Sul-Leste, teremos duas populações que diferem muito em renda média, condições socioeconômicas e nas taxas de mortalidade por COVID-19. A região Norte-Oeste tem renda média de R$ 470,00 e a região Sul-Leste apresenta renda média de R$ 1603,00 com base no censo IBGE de 2019.

Ou seja, se dividirmos Natal em duas grandes regiões Norte-Oeste e Sul-Leste, teremos duas populações que diferem muito em renda média, condições socioeconômicas e nas taxas de mortalidade por COVID-19”, explicou um dos pesquisadores a frente do trabalho, professor José Dias do Nascimento, do Departamento de Física da UFRN.

O estudo aponta para a seguinte questão: Por que os residentes da zona norte e oeste de Natal apresentam uma taxa de mortalidade por Coronavírus, duas vezes maior do que as pessoas que vivem nas zonas Sul e Leste? Levando-se em conta diversos fatores, parece improvável que isso se deva somente à qualidade dos cuidados hospitalares que eles estão recebendo no momento, uma vez que os hospitais de referência são praticamente os mesmos para toda a população. Este estudo, aponta para evidências fortes na direção de uma série de vulnerabilidades subjacentes e contribuintes para à morte por infecção e com causas ligadas, principalmente à desigualdade de renda e outras formas de disparidades.

“A Covid-19 é uma lupa de aumento dos problemas socioeconômicos estabelecidos ao longo dos anos. O Brasil sofrerá particularmente se a Covid-19 não for controlada a tempo. A pandemia poderá se transformar de forma muito rápida em uma crise humanitárias com forte viés socioeconômico”, argumentou o professor da UFRN.

Uma série de fatores devem ser avaliadas para se entender melhor o que a ciência de dados e os modelos computacionais estão mostrando aqui. A suscetibilidade à morte por infecção, incluindo a prevalência em algumas regiões das metrópoles, devem fazer parte dos próximos trabalhos. O atual estudo aponta como principal resultado, a impressionante correlação estatística entre renda e taxa de mortalidade por COVID-19 na região metropolitana de Natal. Analisando os dados geoprocessados percebe-se, que em média, o isolamento social também parece ter grande correlação com as  diferentes populações. Estes mapas são peças importantes no entendimento dos próximos passos referentes a estratégia de isolamento mais restrito, gerência das soluções de mobilidade e impacto sócio econômicos das medidas.

Figura: Distribuição geoprocessada de dados epidemiológicos para a cidade de Natal. À esquerda, a distribuição espacial de casos, no centro a distribuição de óbitos para COVID-19 onde a paleta de cores representa a distribuição dos valores de renda com base nos dados de 2010 (IBGE). Na figura à direita a taxa de mobilidade para os bairros de Natal no dia 26 de maio de 2020 juntamente com números de casos. (Sandro Valeriano representação da Informação)

Figura: Taxa de mortalidade em função da renda para quatro zonas de Natal. No segundo gráfico, óbitos acumulados em função de casos acumulados por diferentes zonas. Cada ponto é um bairro de Natal.

Pesquisadores José Dias do Nascimento (Física – UFRN); César Renno-Costa (IMD-UFRN); Leandro Almeida (Física – UFRN); Renan Cipriano Moioli (IMD – UFRN), José Soares (Física – UFC), Humberto Carmona (Física – UFC), Wladimir Lyra (NM, USA), Colaboradores: Ricardo Valentim (LAIS-UFRN), Ion Andrade (SESAP/RN/CEFOPE e LAIS-UFRN).

 

Ion de Andrade

Médico epidemiologista e professor universitário

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador