Ciência e dogmatismo

Nosso linguajar permite o embate racional de ideias, jogo que propicia a crítica, o aperfeiçoamento e, eventualmente, a troca de nossas crenças. É por tal intermédio que podemos cambiar nossas ideias que se revelem ruins ou, de qualquer modo, desajustadas, por outras que se mostrem mais apropriadas, ou corretas. Não há qualquer mal em se mudar de ideia, ação que indica que aprendemos algo, aliás.

Debates entre pessoas razoáveis consistem em jogos desse tipo, nos quais ideias diferentes são comparadas, conduzindo ao aperfeiçoamento de ambas e eventualmente de suas trocas.

Pessoas ignorantes, por outro lado, não sabem fazer dos debates outra coisa que não um jogo de poder; um jogo irracional de imposição de ideias que consiste em utilizar palavras, entonações e linguagens corporais com o propósito de estabelecer hierarquias entre os debatedores. Empenham-se em tais debates com vistas a “vencê-los”, ou seja, impor sua convicção ao adversário, normalmente através de atitudes e vozerio intimidatórios, raramente através de razões. “Vencer” tais debates tende a estabelecer a superioridade hierárquica que permite ao vencedor levantar a voz em tom mais alto que seu contendor. Para um contingente considerável, não existe outra possibilidade de diálogo, acreditando que diferentes pontos de vista correspondam a desentendimentos solucionáveis apenas através de coerção. Como resultado, essa postura perpetua a ignorância dos que, desse modo, se recusam a adquirir novos conhecimentos através de debates, pressupondo que tal ação equivaleria à submissão a um adversário.

O debate racional

Esse jogo consiste em expor conexões necessárias existentes entre determinadas ideias, e incompatibilidades entre outras, mostrando que a aceitação de certas ideias impõe a rejeição de outras. Tal imposição, ressalte-se, decorre de admissão lógica decorrente de compatibilidades ou incompatibilidades entre ideias – ou seja, de consideração racional –, não de constrangimentos ou intimidações sustentados pela força, ou por manifestação vocal que a simbolize. Tais regras pautam os embates racionais, diferindo-os muito nitidamente do psitacismo com que papagaios e araras resolvem suas altercações.

Note que enquanto o debate racional tende a ocasionar o aprimoramento das ideias, ou sua substituição por outras melhores, os bate-bocas conduzidos por pessoas ignorantes com o intuito de estabelecer superioridade hierárquica conduz à imposição de dogmas, crenças impostas através da coerção, e garantidas por algum tipo de autoridade que não a razão, e à perpetuação da ignorância. Aprecie o quanto tendem a se distanciar culturalmente os que aperfeiçoam as próprias ideias através de debates, daqueles que se negam a tal.

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Ainda que tais considerações, muito simples e óbvias, pertençam, tão somente, às regras de civilidade, sendo esperado que já se houvessem disseminado entre todos os meios ao redor, encontram-se ainda muito restritas e compartilhadas apenas em raros grupos, ao menos em nosso país.

Mesmo assim, seria de se esperar que, entre os cientistas – profissionais da razão, afinal –, tais considerações fossem naturais e evidentes para todos, constituindo exceção qualquer deslize que permitisse o descambamento dos embates racionais para bate-bocas inúteis. (Creio que os filósofos tenham muito mais clareza desse fato que os cientistas; também acredito que a racionalidade tão gritantemente expressa na matemática denuncie de imediato os psitacismos recorrentes em outras áreas).

Estranhamente, no entanto, o ensino de ciências padece em alto grau da atitude dogmática criticada acima. Em algumas áreas, como na biologia, o ensino da ciência é conduzido de um modo tão naturalmente dogmático que nem chega a ser percebido! Em tais casos, o questionamento dos cânones vigentes tende a ser quase equiparado à loucura, de modo que, uma vez estabelecido – ou canonizado –, certo dogma, torna-se praticamente impossível questioná-lo.

Texto e vídeo abaixo, ambos defendendo um argumento banalíssimo, mas com consequências significativas para a biologia – a necessidade da reformulação do conceito de espécie –, ilustram muito claramente o fato.

https://jornalggn.com.br/ciencia/uma-demonstracao-biologica/

Perplexidades de um Heresiarca

Ideias diferentes das nossas tendem a nos incomodar tanto mais fortemente quanto mais drasticamente elas as contradigam.

Aos ouvidos dos poderosos – acostumados a só se deparar com as ideias hegemônicas patrocinadas por eles próprios e disseminadas pelos meios de comunicação comerciais – tais incômodos tendem a se agravar.

Assim, por não me sentir compelido a seguir os ditames repetidos em tais meios, e não pensar conforme o grande rebanho doutrinado através desse intermédio, mesmo as mais cândidas de minhas ideias tendem a incomodar os poderosos, como as seguintes, denunciando maldades:

https://jornalggn.com.br/direitos-humanos/sobre-odios-e-monstruosidades/

ou:

https://jornalggn.com.br/analise/marielle-e-o-pais-dos-desavergonhados/

Textos como os desses links – duas denúncias de monstruosidades –, são, sistematicamente, “abafados” tornados difíceis de serem encontrados através dos motores de busca da internet, fato estarrecedor!

O vídeo frequentemente desativado do site cuja diagramação também foi bagunçada, mostra uma mulher sendo arrastada no asfalto pelo carro de polícia. Pode-se notar nele o despropósito da trajetória excessivamente curvilínea da viatura, cuja finalidade só pode ser compreendida pressupondo-se o intuito de jogar a vítima no meio-fio.

Denúncias como essas, de maldades extremas, incomodam principalmente os que se beneficiam de ligações diretas, ou indiretas, com a facção das milícias, que parecem já ter adquirido forte controle sobre a divulgação de notícias na internet brasileira, abafando o que não lhe convenha.

Outras ideias minhas incomodam outros grupos, que acabam se alinhando aos primeiros no intuito de abafar meus textos e vídeos. Religiosos, por exemplo, se incomodam com algumas das ideias do Heresiarca, fato que deduzo pelo abafamento de textos nos quais me refiro a Deus, ou à criação.

Esta publicação recente, por exemplo, perdeu o status de notícia. A ação dificulta enormemente a localização do texto pelos leitores, impede o aviso de nova notícia aos seguidores do autor, e a realização de cópias do texto por sites especializados em manter cópias de todas as notícias, com o intuito de evitar serem perdidas.

https://jornalggn.com.br/artigos/uma-revelacao/

Ações desse tipo não são raras, e muitos de meus textos sofreram ataques análogos.

Ocorre que, a exemplo dos Deuses, me agrada criar mundos, ato que descrevo em vários de meus textos.
Assim como criamos mundos, parece-me igualmente instigante criar Deuses Criadores de mundos e de criaturas – à imagem e semelhança de seus Criadores –, também elas criadoras de mundos e, eventualmente, de Deuses, fechando os ciclos.

Creio ser atitude laudatória, enaltecedora, inspirarmo-nos em Deuses e agirmos conforme seus exemplos, criando mundos; que ação poderia ser mais pia que inspirarmo-nos nos exemplos dos Deuses? Discordam, certamente, da conclusão implícita em tal pergunta, no entanto, os que, de um modo ou outro, abafam meus textos nos quais, inspirado em Deuses, tento engendrar mundos e Deuses. Espero que o façam apenas por confusão, agindo não por convicção, mas por precaução, o que faz o delito parecer menos cruel, embora não o torne menos prejudicial.

Como exemplo de tal candura – da compassiva atitude de criar mundos –, recomendo:

https://jornalggn.com.br/noticia/para-quando-forem-viver-nossas-vidas/

onde ofereço instruções para quando estivermos compelidos a agir como Deuses.
As caraminholas apresentadas aqui também me agradam:

https://jornalggn.com.br/artigos/singularidade-a-divergencia-da-razao/

Torno-me, assim, vítima de alvejamentos, através de meus textos, advindos de grupos que à primeira vista pareceriam distintos e antagônicos.

São os fundamentalistas biológicos, no entanto, os que mais iradamente se insurgem contra minhas proposições heréticas, às quais tentam sistematicamente abafar e impedir sejam divulgadas, contrapondo-se a seus dogmas. A atitude é tão mais colericamente manifestada, aliás, quanto mais racionalmente são apresentadas as ideias que os contradigam, compelindo-os a transformar sua impotência em agressão.

Fundamentalismo e dogmatismo

Os meios de comunicação têm consagrado o uso da expressão “fundamentalismo” para designar o que seria mais propriamente denominado “dogmatismo”. “Fundamentalismo” deveria se referir às ideias baseadas em fundamentos; tem-se referido, no entanto, a propostas encastoadas em dogmas, em ideias inquestionáveis, defendidas a ferro e fogo, independentemente de críticas que as revelem insustentáveis. Dogmáticos agem como surdos, aferrando-se a credos inarredáveis, decididos a nunca se libertar de crenças às quais se aprisionaram previamente. Tendo jurado fidelidade eterna a ideias adquiridas usualmente na infância ou juventude, repassadas a eles por mestres igualmente irracionais, proíbem-se de considerar ideias alternativas, que solapariam suas crenças racionalmente insustentáveis.

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Biólogos fundamentalistas, sentem-se como que pessoalmente ultrajados por qualquer ideia nova, por qualquer sugestão que confronte os dogmas revelados a eles por seus mestres, quando estudantes, e defendidos por eles, desde então, como se sua própria sanidade dependesse da manutenção de tais crenças, necessariamente eternas, sem as quais as torpes criaturas se sentiriam indefesas.

Imersos em temores de que as convicções que lhes foram inculcadas quando jovens possam ser refutadas por críticas racionais, biólogos fundamentalistas tratam de negá-las de antemão e sob qualquer circunstância, evitando enfaticamente o confronto racional entre as ideias, desconsiderando qualquer crítica inovadora, qualquer análise que se contraponha a seus dogmas.

Atemorizados, evitam contrapor argumentos às críticas lançadas contra suas ideias, mas tratam de erguer, como se livros sagrados fossem, os manuais recomendados por seus antigos mestres.

E mesmo assim, alguns deles se dizem cientistas.

Foi a disseminação absurdamente generalizada entre os biólogos da convicção dogmática em suas ideias que permitiu a vexatória ressurreição do dito criacionismo, esse atavismo ressurgente, poucas décadas atrás, em meios que se supunham esclarecidos.

O criacionismo – essa “teoria” inexistente que se resume à infantil repetição de pequeno trecho da historinha inicial da bíblia –, não teria grassado tão amplamente, fosse ele contraditado por ideias racionais, pela defesa racional da evolução, como apresentada aqui:

https://www.academia.edu/35414042/Teoria_da_evolu%C3%A7%C3%A3o

https://jornalggn.com.br/cinema/a-historia-do-mundo-a-serie-por-gustavo-gollo/

Ressalte-se que os biólogos que tentaram confrontar o ressurgimento de incongruência tão desconexa em nossos tempos, viram-se incapacitados de fazê-lo pelo simples fato de estarem a utilizar exatamente os mesmos métodos usados por seus surpreendentes opositores. Foi tal constatação, aliás, que incitou a onda irracionalista que sustenta o rótulo “criacionismo”.

Vale mencionar atitude análoga sendo posta em ação agora contra os insólitos terraplanistas. Tentar calar as inusitadas criaturas, abafar ou censurar suas postagens na internet consiste em ação tão irracional quanto a que tais ações pretendem combater. A irracionalidade só pode ser combatida por argumentação racional. O paradoxo de tentar combater irracionalidades irracionalmente equivaleria somente a jogar mais lenha ao fogo.

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Penso que o terraplanismo deva ser combatido, simplesmente, com o uso da razão. Creio que os terraplanistas devam ser informados, por exemplo, de fatos como a ocorrência simultânea de inverno e verão, em hemisférios distintos, e serem instados a explicá-los. A informação é facilmente verificável em tempos de internet. Devem também ser informados sobre as diferenças observadas no céu desde latitudes diversas, mais acentuadas nos extremos e, em seguida, cobrados a explicar tal fato – sendo lembrados de que longitudes diferentes não propiciam a mesma constatação. O dogmatismo tem que ser combatido com informação e raciocínio, nunca com mais dogmatismo. Tentar compelir terraplanistas a aceitar à força ideias diferentes das admitidas por eles consistiria na aceitação de seus métodos.

Ressalte-se que embora explicações ad hoc, posteriores ao fato, sempre sejam possíveis – exigindo apenas suficiente criatividade –, a tentativa de articulação racional das ideias tenderá a alimentar a racionalidade, tanto de uns, quanto de outros, ao contrário do que resultaria de objeções irracionais contrapostas a irracionalidades.

O dogmatismo em nossos tempos

Essa atitude contrária à racionalidade, no entanto, continua tão arraigado em nosso meio que mesmo os cientistas profissionais a abraçam, a ponto de alguns deles se alinharem a híper-direitistas/milicianos defensores de assassinatos, torturas e barbaridades aparentadas e a religiosos tão irredutíveis de suas crenças que acreditam ser sua missão IMPOR suas convicções a todos os outros, com o propósito de abafar, ou censurar, meus textos e vídeos.

Penso que uma das mais prementes tarefas de nosso tempo seja a denúncia do dogmatismo, o reconhecimento do que seja tal flagelo. Tenho certeza de que, caso os “cientistas” que se imbuem da atitude persecutória contra os que propõem teorias e ideias contrárias às deles ficariam envergonhadíssimos, caso reconhecessem em seus atos exatamente o mesmo espírito irracional, a mesma certeza inabalável e doentia que em tempos passados levava alguns a jogar outros na fogueira.

Creio que o reconhecimento do que sejam os dogmas, do que seja abraçar irredutivelmente qualquer fé, seja ela religiosa, futebolística ou científica, tinha que ser amplamente disseminado em especial nos meios universitários, a ponto de que atitudes dogmáticas de professores de ciências, ou cientistas, chamassem atenção de imediato, como idiossincrasias gritantes e descabidas em nosso tempo.

Talvez caiba nos campos de futebol a defesa irracional da bandeira dos times, ou entre os que ainda insistem na prática de dançar para fazer chover, a defesa irracional e inabalável de ideias, assim como os que já assassinaram para impor suas ideias, ou garantir proveitos, estão demasiadamente encalacrados para se livrar de tal mazela. Quanto ao alinhamento de “cientistas” entre tais hostes, no entanto, a mim parece inadmissível!

Estarei eu, portanto, clamando dogmaticamente para que calemos tais criaturas?

Não! Não as calemos! Clamo pelo exato oposto, para lhes darmos voz e holofotes para expor o mais claramente que se possa o dogmatismo de suas ideias, sua irracionalidade, o absurdo de suas crenças.

Adendo

Penso que o que escrevi acima tenha adquirido, nos últimos anos, uma importância ainda maior do que já possuía anteriormente. Além disso, fui instado a escrevê-lo como uma forma de denúncia da perseguição que venho sofrendo há anos, através do abafamento/censura, e distorção de meus textos e vídeos, nos mais variados sites em que sou publicado.

Dias atrás me queixei aos editores do ggn e lhes escrevi algo assim (transcrevi com alterações):

Assim como o ggn, tenho sido perseguido por hackers que detonam, sistematicamente, todos os sites em que publico, alterando e apagando textos e imagens, bagunçando e principalmente, abafando os links com meus textos.

Meus textos no ggn ilustram bem o caso, muitos estão sem imagens ou vídeos, muitos não aparecem para o google como notícia*, muitos não são encontráveis, muitos estão fora do ar, talvez apagados, muitos aparecem nas chamadas do google com imagens trocadas ou sem imagens, e badernas em geral.

Uma dessas chacotas consiste na introdução reiterada de links para textos de um mesmo autor em meus textos que tratam de biologia ou ciência. Espero que a criatura nada tenha com isso, mas alguém deve estar pagando para associar seu nome e textos aos meus, fato que me desagrada.

Constato hoje, após ter escrito o texto acima, que minha queixa acabou surtindo algum resultado e a associação de tal autor a meus textos foi reduzida.

Também constatei hoje, com desgosto, que comentários em textos meus no ggn foram editados sem qualquer menção ao fato, expondo minha participação em certos “debates” de uma maneira deturpada e artificialmente absurda, uma lástima.

As estranhas constatações vêm reforçar minha convicção na necessidade de um radical esclarecimento do que seja o dogmatismo – a imposição de crenças sem sustentação, essa atitude infantil. Tentar calar, impor o silêncio, ocultar argumentos e fatos, são sempre atitudes dogmáticas, obscurantistas. A razão exige o esclarecimento das questões, das crenças das ideias, equivale a iluminar, possibilitando a revelação do conhecimento. O dogmatismo, ao contrário, obscurece, oculta, apaga, amedronta, impede que se veja, que se descubra o que há. O dogmatismo é a consagração da ignorância, sua exaltação.

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Um vídeo meu:

Gustavo Gollo é multicientista, multiartista, filósofo e profeta

Redação

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