Democracia racial só com representatividade significativa na política

O Brasil não passa por um momento de normalidade democrática, as instituições fingem que estão funcionando com naturalidade, mas os bastidores são de muita pressão e tensionamento por conta da instabilidade política.

Instabilidade crescente desde o golpe de 2016, que nos apresentou um Ministério Público sem transparência, um Supremo Tribunal Federal acovardado e a famigerada Operação Lava Jato, que destruiu os meios de produção, levando o país a números recordes de mão-de-obra desempregada.

Desgovernado, o Brasil fez a transição do vampiro para o inominável, afundando de vez na barbárie, na desconstrução de valores culturais e éticos, atingindo e exportando os maiores índices de vergonha da história.

Vergonha institucionalizada como já foi a escravidão que promoveu, durante mais de trezentos anos, o que chamaram de relação social de produção, raptando homens e mulheres africanos para serem vendidos no mercado em outros continentes.

Toda essa desestabilização generalizada, com gente em treinamento fascista o tempo todo, faz reunir demonstrações de racismo, que vão se tornando cada vez mais públicas e empoderadas, por definição e conceito, pelo governo federal.

Como a advogada que, deliberadamente, cometeu crimes de racismo e de homofobia dentro de uma padaria em São Paulo. Internautas foram às redes sociais da advogada e reproduziram fotos suas com camiseta de apoio a Bolsonaro. Após o episódio, a mulher argumentou que tinha uma doença. Essa doença nós conhecemos e tem nome: Racismo!

A democracia racial será possível quando mais homens e mulheres negros estiverem representados nas bancadas legislativas, no executivo e judiciário, levando suas causas para serem discutidas, respeitadas e legalizadas, acabando com o sistema de desigualdades.

Para quem ainda defende que o racismo no Brasil não existe, que é importado, que a pessoa negra não sofre preconceito, não é vista como suspeita e nem invisibilizada como cidadã, transcrevo alguns anúncios publicados nos jornais no século XIX, que define a raiz do racismo que vem sendo replantada pela sociedade brasileira desde sempre:

“Compro um escravo de 20 a 30 annos de idade, que seja fiel e entenda alguma cousa de cozinha”;

“Antonio Joaquim vende em sua loja na rua da Estrella, pano de linho de Irlanda de superior qualidade, o mesmo também vende hum escravo com idade pouco ou mais ou menos de 30 annos”;

“Manoel Gonçalves Ferreira, embarca para o Rio de Janeiro o escravo Marciano, por ordem de seu Snr. O Dr. Antonio Cezar de Berredo”;

“Compra-se um escravo que seja de bons costumes, e que entenda de cozinha, quem o tiver e quizer vender, falle nesta Typographia”;

“Preciso alugar uma escrava que saiba engoumar bem e fazer algum serviço de casa, como também uma ama de leite sem cria”.

Muito mais do que reparos sociais, o brasileiro e brasileira negros precisam da própria voz para quebrar o racismo institucional, afastar a pobreza, violência e a discriminação que são um reflexo direto de um país que normalizou o preconceito.

Ricardo Mezavila, cientista político, com atuação nos movimentos sociais no Rio de Janeiroç.

Redação

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