O problema da estagnação da economia mundial e a impossibilidade de reativá-la por simples baixa de juros.

Para se discutir a retomada do crescimento no Brasil é necessário levar em conta a situação econômica mundial, não fazer isto é uma mera especulação como dos nossos comentaristas (e animadores de torcida) televisivos. Isto é premente, pois se há uma tendência clara a recessão ou mesmo uma estagnação com inflação, que seria ainda pior, pois a curto prazo levaria simplesmente uma quebra de todo o sistema financeiro mundial por um surto de inadimplência das empresas pelo mundo a fora.

A primeira delas é que não são as discussões intestinas de dois presidentes que movem a política econômica, ou seja, estando ou não as forças armadas brasileiras prestigiadas isto não levará uma melhora de economia, pois simplesmente os movimentos de todos os presidentes não significam praticamente nada no rolo que a economia se meteu. Os 0,4% de crescimento do PIB num trimestre não indica que a economia está ou não se recuperando, pois o valor é tão baixo que pode ser considerado mais um ruído na variação deste número ou até uma pequena manipulação de dados feito por setores que procuram dar um impulso, principalmente setores que acreditam mais em fatores do tipo, ânimo dos empresários, confiança do consumidor e mais outras balelas, como mola do crescimento. Parece mais papo da desacreditada escola austríaca de economia, que é tão desacreditada que nas melhores escoas de economia do mundo nem é ensinada, pois índices mais confiáveis nem são considerados pelos adeptos desta escola. Diga-se de passagem, que essa escola de economia é a preferida por médicos, advogados, arquitetos e no máximo contadores para explicar como funciona a economia, pois não precisam saber o mínimo de matemática para palpitar sobre os destinos do mundo.

Para termos uma ideia como vai a economia global seria melhor apresentar a curva descendente do volume de comércio mundial que está em ladeira abaixo devido principalmente a falta de investimentos nos setores realmente produtivos.

Começando o debate sobre as perspectivas da economia internacional, um dos melhores indicadores da saúde delas é dado pela variação do volume das transações internacionais em relação ao ano anterior.

O gráfico apresentado é calculado pelo “Centraal Planbureau” do governo Holandês que mede a variação em volume e em moeda de todas as transações entre todos  os países do mundo que tem volume suficiente para representar algo, eles também publicam a variação da produção industrial mundial seguindo o mesmo critério, ou seja, uma média móvel dos três últimos meses e comparam com um ano de retardo.

Aqui estará representado somente o primeiro dado, ou seja, a variação em volume do comércio internacional. Coloca-se a variação em volume pois em moeda esta pode estar sujeita a variações de valor real (cambial ou não) que em período curtos (mensais) muitas vezes não captam as variações reais da influência da variação do valor das moedas, principalmente o dólar.

Uma imagem contendo captura de tela

Descrição gerada automaticamente

Mesmo este gráfico deve ser olhado com cuidado para não cair na armadilha da falsa base de cálculo, por exemplo, no ano 2010 há um aumento considerável no volume de comércio, mas isto não significa que a economia estivesse bombeando, mas sim que a base era o período logo após à crise de 2008, logo muito abaixo das médias dos anos anteriores à crise.

Como se pode ver após uma recuperação em 2010 o crescimento se mantém positivo, porém baixo, indo a zero no início de 2016 para se recuperar um pouco em 2017 e 2018 e mergulhando a valores em torno de zero no ano de 2019.

Muitos poderiam dizer que a queda em 2019 é devido a guerra comercial lançada por Trump, entretanto esta na realidade começa somente em abril de 2019, ou seja, no segundo trimestre deste ano e por isto o seu reflexo num gráfico que apresenta uma média móvel de três meses deveria ser sentido somente no fim do segundo trimestre.

Assim como Trump, alguns poderiam ficar animados com o crescimento do PIB norte-americano no segundo trimestre de 2019, porém para quem observa a origem deste, pode até prever um voo de galinha, pois neste crescimento de 2,0% (em taxa anualizada), porém se analisarmos os componentes deste incremento do PIB ele é resultante de um aumento significativo dos gastos das famílias norte-americanas. O que mais preocupa os analistas norte-americanos (analistas do mainstream) é que este aumento de consumo não reflete de forma nenhuma o aumento da renda dos norte-americanos, pois enquanto o consumo cresceu 4,7% enquanto a renda cresceu 0,1%, em resumo o que houve foi um maior endividamento do consumidor norte-americano ou gasto de suas reservas para investimento.

O importante a destacar é que mesmo os economistas do mercado, como Ian Shepherdson, economista-chefe da Pantheon Macroeconomics, previu para o site MarketsInsisder que “O terceiro trimestre deve ser menos desigual, mas as perspectivas de gastos de capital estão se deteriorando rapidamente diante do crescimento mais lento dos lucros e da incerteza criada pela guerra comercial”, ou seja, estão adotando uma análise clássica da economia marxista, o crescimento é uma função do investimento criado pelo aumento do lucro das empresas.

Em cálculos que são feitos da taxa de lucro das empresas, que correspondem a capacidade de investimento das mesmas, a medida que as taxas de juro já atingiram patamares de rendimento zero (ou mesmo negativo, como no Japão), vem decrescendo lentamente.

Os mecanismos monetários clássicos, como a queda da taxa de juros a valores próximo ou até abaixo de zero, que muitos economistas ainda pensam que são válidos, tem gerado na realidade é o aumento das chamadas empresas zumbis (Zombie firms), que são classificadas como empresas maduras (com mais de dez anos de existência) que não conseguem gerar lucros nem para pagar seus empréstimos, que quiser saber mais deste fenômeno sugiro que leiam “The rise of zombie firms: causes and consequences” de um economista do BIS (Bank for International Settlements) que pertence a 60 bancos centrais das pricipais economias do mundo representando 95% do PIB mundial, ou se querem entender melhor o crescimento destas empresas zumbis na economia internacional e sua relação com a taxa de juros e com a produtividade, sugiro a leitura de “The Walking Dead? Zombie Firms and Productivity Performance in OCDE Countries”, que apesar de apresentar um título que parece mais um chamariz de um vídeo do YouTube, é uma publicação do departamento de economia da OCDE. Estes dois artigos publicados no fim do ano de 2018 em locais completamente adversos, demonstram que rebaixar a taxa de juros ainda mais, como pede Trump, só aumentará o número de empresas zumbis e trancará mais ainda a capacidade de investimento das empresas não zumbis.

O resumo final da ópera, tratar a economia como um jogo de futebol onde alguns pensam que animadores de torcida levam a vitória é tanto absurdo nos esportes como na economia.

Redação

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