Sobre a morte, por Gustavo Gollo

Existem muitos modos de ver qualquer coisa, muitos ângulos de visão. Costumamos apreciar a duração das coisas, e o tempo, através de um ponto de vista compatível com relógios e calendários, o que é bastante útil. Assim, normalmente pensamos na vida e na morte contando o tempo já vivido e o por viver.

Outros pontos de vista, no entanto, podem nos mostrar visões diferentes. Sob o ponto de vista da eternidade, por exemplo, qualquer duração futura é igualmente ínfima. Sob tal enfoque, estamos todos sempre prestes a morrer.

Existe sabedoria nesse modo de ver, uma sabedoria que todos descobrimos quando percebemos, talvez atônitos, que o relógio já registra a aproximação de nosso fim. Em certo sentido, no entanto, pouco importa quanto tempo falta para nosso fim: falta sempre muito pouco, quase nada.

Sob esse ponto de vista, o tédio é o mais absurdo de todos os sentimentos; o desejo de que o tempo passe, ou, de que a vida nos escoe.

Viver é fabricar uma sucessão de milagres, o que deveria ser suficiente para nos alegrar.

Do ponto de vista do indivíduo, a vida é nosso bem mais precioso, embora existam outros pontos de vista. O sacrifício da vida do indivíduo pelo grupo, por exemplo, revela-se eventualmente digno de reverência. Muitos prefeririam ser lembrados por suas mortes a viverem suas vidas, contrassenso que fundamenta a sina dos heróis, criaturas que vivem pela morte. Não somos apenas indivíduos, mas também partes de muitas outras coisas.


Sobre a tristeza da morte

Quando eu morrer, gostaria que minha morte evocasse apenas uma tristeza alegre. Não, a tristeza trágica das mortes que se confundem com tragédias, nem o júbilo das mortes dos que geraram ódios ─ amarguras profundamente encardidas. Morrerei feliz se minha morte entremear doces lágrimas e sorrisos, atestando que tudo esteja certo.

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Redação

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