Sonharemos juntos para provocar pesadelos nos outros?

Eis aqui mais um pesadelo interessante.

“Estou numa festa que parece ser de formatura. Todas as pessoas estão alegres, a música é agradável. O salão está lotado.

Aceno para uma amiga que está perto da porta do outro lado do salão. Ela sai do local como se não tivesse me notado. Fico inseguro. Ela não viu ou fez que não viu meu aceno? Todos a seguem. Hora da foto da turma.

A porta da acesso a um longo corredor a céu aberto ao lado de um muro. Do outro lado há um barranco que desce suavemente até o nível do lago ou do mar que fica há algumas centenas de metros de distância. Prédios e casas flutuam na superfície da água. Entre eles e além drles centenas de barcos estão ancorados.

Algumas pessoas ficam no corredor. Outras se ajeitam no barranco. O rapaz ao meu lado diz que não tem ninguém para tirar a foto.

Pego minha câmera no bolso do paletó e desço o barranco com cuidado para não cair. Quando chego lá embaixo e me preparo para tirar a foto a turma já se dispersou.

‘Não se preocupe, eu tirei a foto’ – diz um colega.

Ele me mostra o visor da câmera dele. A foto está perfeita, exceto por um detalhe. Eu estou descendo o barranco de cabeça baixa. Merda.

Uma mulher toca no meu ombro e diz ‘Alguém precisa avisar as pessoas daquela casa que o prédio vai desabar nela’. Olho em direção ao lago e vejo que os prédios estão inclinados. Um deles desaba em cima de uma casa e os escombros das duas construções mergulham na água. Os outros prédios começam a desmoronar.

Os barcos que estavam serenamente ancorados começam a se agitar por causa da onda provocada pelo desabamento das edificações. Logo eles começam a se chocar uns nos outros a se despedaçar. Alguns deles também afundam. Pessoas gritam horrorizadas.

Decido fotografar tudo. A cada foto o cenário de destruição está mais próximo. Fico com a impressão que minha máquina tem o poder de atrair a desgraça para onde estou. A onda com os escombros de prédios e barcos se aproxima mais e mais a cada foto. Digo às pessoas para recuar e continuo a fotografar tudo andando de costas até começar a subir no barranco.

O pedaço de um barco vem em minha direção. Quando o perigo se aproxima pouco importa sua verdadeira causa.”

Desperto confuso e com uma sensação desagradável. A primeira coisa que me vem à mente é a frase “Algo ruim vai ocorrer a Holanda”. Como é reconfortante a crença de que algo ruim vai ocorrer num lugar distante quando o mundo desmorona em torno de nós…

Abro o Twitter e me deparo com outra crença reconfortante, a de que pode existir Justiça num país governado por juízes injustos.

Os pesadelos que experimentamos sozinhos podem ser os sonhos que os outros construíram juntos. Portanto, os sonhos que nós construirmos unidos serão os pesadelos individuais dos nossos adversários. Assim seja, brindemos à nossa grande pajelança…

Fábio de Oliveira Ribeiro

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