Carlos Drummond de Andrade e os jornais de Itabira

Enviado por Odonir Oliveira

Do Observatório da Imprensa

Drummond de Andrade faz crítica da imprensa em texto inédito

Por Marcos Caldeira Mendonça  

Reproduzido do jornal  O Trem Itabirano 

Atenção, jornais que circulavam em Itabira no início dos anos 80 e não exibia o título O Cometano alto da capa: para Carlos Drummond de Andrade, todos os senhores eram ruins de texto e vendidos à empresa Vale, então estatal. Essa crítica está em carta enviada pelo poeta ao professor e advogado Arp Procópio de Carvalho, em 25 de maio de 1980. “São folhas mal escritas e todas dependentes do controle econômico da Vale, a que não escapam as próprias autoridades municipais”, escreveu o autor de Boitempo.

Trinta e cinco anos depois, quase todos os jornais da cidade natal de Drummond continuam mal escritos, porcamente escritos, bizarramente escritos, tão vergonhosamente escritos que correm o risco de prestar valioso serviço às faculdades de comunicação: serem ótimos exemplos de péssimos jornais. Dá até para imaginar professores com exemplares em riste: “Moçada, veja aqui na minha mão, assim não deve ser escrito um jornal”.

Sobre a dependência econômica, mudou muito nessas três décadas e meia, é bem diferente hoje. Os jornais não mais se vendem à mineradora Vale, que raramente anuncia na imprensa local, mas à prefeitura e à câmara de vereadores. Os anúncios oficiais vêm com tapa-olhos, tapa-boca e tapa-ouvidos.

Na época em que o poeta assinou a carta, estava com apenas cinco números o mensário O Cometa, fundado em novembro de 1979 e que manteve importante relacionamento epistolar com Drummond. Radicado no Rio de Janeiro, o itabirano percebeu logo a importância do novo jornal, mas neste deu duas chineladas certeiras: devia melhorar a linguagem e parar de imitar oPasquim. Faça diferente ou melhor, ensinam críticos literários.

Mesmo sem deixar de papagaiar o hebdomadário carioca, numa página escrevendo de forma largada, noutra imprimindo textos mais palatáveis, variação causada pela diversidade de colaboradores, O Cometa se tornou drummondiano de sete faces, com a gostosa cumplicidade do poeta, que virou cometiano de longa cauda. Ao jornal, enviou poemas, crônicas, sugestões e cheques para assinatura. Alguns veem nessa relação um retorno do poeta à cidade natal, que visitou raríssimas vezes depois que se mudou.

O Cometa ainda circula, com periodicidade de Halley, de 76 em 76 anos, mas é outro jornal, não mais aquele com o qual Drummond se correspondeu. Editado em Belo Horizonte, perdeu a seiva itabirana, adotou uma nostalgia quase doentia das décadas de 60 e 70 e tornou-se adorador do Partido dos Trabalhadores, numa órbita bem maniqueísta: só o PT é bom partido, só os petistas são corretos; os outros partidos não prestam e as demais pessoas estão todas equivocadas. Um jornal pode defender o que quiser, mas não convém ser casuísta, cego, submisso.

Apesar dos poréns, sempre vale uma conferida no atual O Cometa, pois publica divertidas charges, cartuns e caricaturas e bons textos sobre urbanismo e música, entre outros assuntos, em bem-sucedida diagramação.

A carta que Drummond enviou a Arp Procópio não foi exclusivamente para criticar os jornais itabiranos. Antes de fazê-lo, o poeta menciona fotos em que aparece uma propriedade de um irmão dele, comenta sobre a chateação que lhe rendeu a badalação acerca do cinquentenário de estreia nas letras e se queixa de doença no rosto.

A missiva foi passada a O TREM pelo psicólogo e escritor itabirano Lúcio Vaz Sampaio, que editou O Cometa nos bons tempos do astronoticioso. Segue a íntegra da carta:

A carta de Carlos Drummond de Andrade

Rio, 25 de maio, 1980

Caro Arp,

Pelas fotos, mal reconheço o Retiro dos Angicos, do meu saudoso e silencioso irmão Vivi (era um homem que depositava a língua na Caderneta de Poupança). Em todo caso, vamos lá. A varanda da casa-grande (como se a gente tivesse esse luxo besta dos pernambucanos, de chamar a casa de vivenda “casa-grande”!) há de ser a mesma, com as tristes desconhecidas que lá estão, formando a família Manduca Duarte. O curral coberto é igual a todos os currais cobertos do País das Minas. A terceira foto, confusa vista panorâmica, dá ideia do [ilegível], imaginando-se a escada de acesso à esquerda, solução essa muito própria das fazendas mineiras. Mas o Retiro não era o Tanque – são duas propriedades distintas, ao que me conta a combalida memória. De qualquer modo, meu caro, descobri há muito tempo que “Minas é uma coisa só”. Pelo quê curti as fotos com nostalgia mineira e ora lh’as devolvo com os meus agradecimentos. Esse lh’as está muito fora de moda, eu sei, mas o fantasma do Mestre Emílio me impele a usá-lo.

Olhe, essa badalação de cinquentenário da estreia, para um homem que está beirando os 78, foi meio chata, e tudo que menos podia corresponder ao meu jeito que você bem conhece. Não sirvo para isso; enfim, passou, e cultivo agora uma herpes-zóster que nem a medicina oficial nem as sábias benzedeiras domiciliadas no Rio souberam dominar. É uma dor na face esquerda do rosto, seu compadre, que eu não desejaria aos piores inimigos. Em uma boa linguagem: cobreiro.

Você não me chateou absolutamente com a sua carta rodoviária de 77, que eu respondi a 16 de julho, segundo apontamentos a lápis que pus no alto da mesma. E por que me chatearia, se pensávamos e sentíamos igual, você com a superioridade de ter vivido a estupidez dos inquéritos com ânimo forte, ao passo que eu escrevia no jornal o que me deixavam escrever, e era nada ou pouco?

Também gosto dos garotos do Cometa Itabirano: acho que eles, fazendo força e se disciplinando o mínimo que é necessário para fazer pontualmente um jornal, poderão prestar grande serviço à nossa Itabira. Como você sabe, o que existe por lá são folhas mal escritas e todas dependentes do controle econômico da Vale, a que não escapam as próprias autoridades municipais, mesmo as mais bem-intencionadas. Acho também que o Cometa deve abandonar o vício de imitar o Pasquim, que é fenômeno carioca nunca adaptável a uma formação social ainda muito sentimentada como a da velha Itabira; e escrever para a nova formação, adventícia e incaracterística, no estilo que ela usa [ilegível], mas algaravia, a meu ver para isso não vale a pena fazer um jornal. O Cometa pode e deve dizer verdades que os outros jornalecos não estão em condições de dizer, mas pode fazê-lo em melhor linguagem e mais apurada, com uma seriedade mesclada de bom humor. Está de acordo?

Anotei o seu novo endereço, e que posso desejar ao casal, sob o signo de meu poema, senão que seja feliz, na medida em que a vida o permite e nós mesmos o ousamos? Pois afinal a vida nos é dada para que a gente saiba construí-la ao sabor da nossa imaginação e da nossa força de modelar a realidade.

Para não fazer discurso besta, paro aqui, com o pensamento mais carinhoso para os dois. Seu velho e grato amigo, que o abraça apertado. Carlos

***

Marcos Caldeira Mendonça é jornalista e escritor itabirano,  editor do jornal O TREM Itabirano.

Redação

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  1. Carta a Stalingrado

    Carta a Stalingrado

    Carlos Drummond de Andrade

    Stalingrado…
    Depois de Madri e de Londres, ainda há grandes cidades!
    O mundo não acabou, pois que entre as ruínas 
    outros homens surgem, a face negra de pó e de pólvora, 
    e o hálito selvagem da liberdade 
    dilata os seus peitos, Stalingrado,
    seus peitos que estalam e caem, 
    enquanto outros, vingadores, se elevam.

    A poesia fugiu dos livros, agora está nos jornais.
    Os telegramas de Moscou repetem Homero.
    Mas Homero é velho. Os telegramas cantam um mundo novo
    que nós, na escuridão, ignorávamos.
    Fomos encontrá-lo em ti, cidade destruída, 
    na paz de tuas ruas mortas mas não conformadas,
    no teu arquejo de vida mais forte que o estouro das bombas, 
    na tua fria vontade de resistir.

    Saber que resistes.
    Que enquanto dormimos, comemos e trabalhamos, resistes.
    Que quando abrimos o jornal pela manhã teu nome (em ouro oculto) estará firme no alto da página.
    Terá custado milhares de homens, tanques e aviões, mas valeu a pena.
    Saber que vigias, Stalingrado,
    sobre nossas cabeças, nossas prevenções e nossos confusos pensamentos distantes
    dá um enorme alento à alma desesperada
    e ao coração que duvida.

    Stalingrado, miserável monte de escombros, entretanto resplandecente!
    As belas cidades do mundo contemplam-te em pasmo e silêncio.
    Débeis em face do teu pavoroso poder, 
    mesquinhas no seu esplendor de mármores salvos e rios não profanados,
    as pobres e prudentes cidades, outrora gloriosas, entregues sem luta, 
    aprendem contigo o gesto de fogo.
    Também elas podem esperar.

    Stalingrado, quantas esperanças!
    Que flores, que cristais e músicas o teu nome nos derrama!
    Que felicidade brota de tuas casas!
    De umas apenas resta a escada cheia de corpos; 
    de outras o cano de gás, a torneira, uma bacia de criança.
    Não há mais livros para ler nem teatros funcionando nem trabalho nas fábricas, 
    todos morreram, estropiaram-se, os últimos defendem pedaços negros de parede,
    mas a vida em ti é prodigiosa e pulula como insetos ao sol,
    ó minha louca Stalingrado!

    A tamanha distância procuro, indago, cheiro destroços sangrentos,
    apalpo as formas desmanteladas de teu corpo,
    caminho solitariamente em tuas ruas onde há mãos soltas e relógios partidos,
    sinto-te como uma criatura humana, e que és tu, Stalingrado, senão isto?
    Uma criatura que não quer morrer e combate, 
    contra o céu, a água, o metal, a criatura combate,
    contra milhões de braços e engenhos mecânicos a criatura combate,
    contra o frio, a fome, a noite, contra a morte a criatura combate, 
    e vence.

    As cidades podem vencer, Stalingrado!
    Penso na vitória das cidades, que por enquanto é apenas uma fumaça subindo do Volga.
    Penso no colar de cidades, que se amarão e se defenderão contra tudo.
    Em teu chão calcinado onde apodrecem cadáveres, 
    a grande Cidade de amanhã erguerá a sua Ordem.

    Em  A Rosa do Povo (poemas escritos entre 1943 e 1945). Rio de Janeiro: Record, 1987

     

    1. A participação política de Drummond

      A participação política mais marcante na trajetória de Carlos Drummond de Andrade provavelmente foi expressa em forma de poesia.

       

      É de 1945 “A rosa do povo”, o livro mais longo do poeta. Escrito em plena segunda grande guerra, traz versos com forte preocupação social. E os temas relacionados ao povo são retratados em poemas fáceis de serem compreendidos. É verdade que até aquele momento, a poesia de Drummond já não tivera vergonha de se mostrar idealista e defensora de valores humanistas. Mas segundo o professor da USP, o momento mais agudo dessa veia política manifestou-se mesmo durante a década de 1940, quando o poeta, reconhecendo-se como um intelectual, sentiu-se chamado a fazer parte das mobilizações e lutas por democracia. Ele flerta com o Partido Comunista, mas desiste de se filiar.

      E escreve poemas como “Carta a Stalingrado” e “Com o russo em Berlim”, que têm forte convicção socialista. É uma poesia de conclamação mesmo, e o leitor se sente convidado a entrar naquela luta socialista. Escreveu também “Mas viveremos”, “Telegrama de Moscou”, com os mesmos posicionamentos.

      No momento seguinte, com a Guerra Fria, Drummond caminharia para uma crise de identidade significativa, desiludindo-se fortemente com os rumos da História. É um período de forte descrença, até de certa amargura. A poesia dele na década de 1950 reflete bem isso, quando o autor passa a achar que a História é um grande absurdo, um enigma, e padece de uma desesperança profunda. Ele chega a questionar o seu papel e a força da poesia frente ao mundo.

       

      Em prosa, na década de 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, ele escreveu crônicas para diversos jornais, onde expressava fortemente sua postura contrária ao nazismo, por exemplo.

      Era um intelectual e um poeta bem conhecido já nessa fase e, portanto, sentiu-se chamado a participar vivamente da situação política que o país e o mundo viviam. Durante um período, a obra de Drummond tinha uma postura ideológica muito clara.

      Até durante a ditadura militar ele se manifestava e como era um grande nome, ninguém ousava prendê-lo, ou calá-lo, Até assim seus escritos cumprem esse papel de fazer entender o mundo.

       

      Com informações de:

      http://www.sinprosp.org.br/reportagens_entrevistas.asp?especial=171

      http://www.vermelho.org.br/noticia/204991-11

      1. MÃOS DADAS

        Não serei o poeta de um mundo caduco. 
        Também não cantarei o mundo futuro. 
        Estou preso à vida e olho meus companheiros 
        Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. 
        Entre eles, considere a enorme realidade. 
        O presente é tão grande, não nos afastemos. 
        Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. 
        Não serei o cantor de uma mulher, de uma história. 
        Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela. 
        Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida. 
        Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins. 
        O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, 
        a vida presente.

        NINGUÉM É PERFEITO!

        – “No caso do senhor Goulart a verdade é que ele pediu, reclamou, impôs sua própria deposição” – Drummond

          1. Orgulho de ferro… aço… mineirando por aí …

             

            [video:https://www.youtube.com/watch?v=a-NAbEzwnh0%5D

             

             

            Confidência do Itabirano

            Carlos Drummond de Andrade

             

            Alguns anos vivi em Itabira.

            Principalmente nasci em Itabira.

            Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.

            Noventa por cento de ferro nas calçadas.

            Oitenta por cento de ferro nas almas.

            E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

             

            A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,

            vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.

             

            E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,

            é doce herança itabirana.

             

            De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:

            esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,

            este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;

            este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;

            este orgulho, esta cabeça baixa…

             

            Tive ouro, tive gado, tive fazendas.

            Hoje sou funcionário público.

            Itabira é apenas uma fotografia na parede.

            Mas como dói!

        1. Com o russo em Berlim

          Com o russo em Berlim

           

          Esperei (tanta espera), mas agora,
          nem cansaço nem dor. Estou tranquilo.
          Um dia chegarei, ponta de lança,
          com o russo em Berlim.

          O tempo que esperei não foi em vão.
          Na rua, no telhado. Espera em casa.
          No curral; na oficina: um dia entrar
          com o russo em Berlim.

          Minha boca fechada se crispava.
          Ai tempo de ódio e mãos descompassadas.
          Como lutar, sem armas, penetrando
          com o russo em Berlim?

          Só palavras a dar, só pensamentos
          ou nem isso: calados num café,
          graves, lendo o jornal. Oh, tão melhor
          com o russo em Berlim.

          Pois também a palavra era proibida.
          As bocas não diziam. Só os olhos
          no retrato, no mapa. Só os olhos
          com o russo em Berlim.

          Eu esperei com esperança fria,
          calei meu sentimento e ele ressurge
          pisado de cavalos e de rádios
          com o russo em Berlim.

          Eu esperei na China e em todo canto,
          em Paris, em Tobruc e nas Ardenas
          para chegar, de um ponto em Stalingrado,
          com o russo em Berlim.

          Cidades que perdi, horas queimando
          na pele e na visão: meus homens mortos,
          colheita devastada, que ressurge
          com o russo em Berlim.

          O campo, o campo, sobretudo o campo
          espalhado no mundo: prisioneiros
          entre cordas e moscas; desfazendo-se
          com o russo em Berlim.

          Nas camadas marítimas, os peixes
          me devorando; e a carga se perdendo,
          a carga mais preciosa: para entrar
          com o russo em Berlim.

          Essa batalha no ar, que traspassa
          (mas estou no cinema, e tão pequeno
          e volto triste à casa: por que não
          com o russo em Berlim?)

          Muitos de mim saíram pelo mar.
          Em mim o que é melhor está lutando.
          Possa também chegar, recompensado,
          com o russo em Berlim.

          Mas que não pare aí. Não chega o termo.
          Um vento varre o mundo, varre a vida.
          Este vento que passa, irretratável,
          com o russo em Berlim.

          Olha a esperança à frente dos exércitos,
          olha a certeza. Nunca assim tão forte.
          Nós que tanto esperamos, nós a temos
          com o russo em Berlim.

          Uma cidade existe poderosa
          a conquistar. E não cairá tão cedo.
          Colar de chamas forma-se a enlaçá-la
          com o russo em Berlim.

          Uma cidade atroz, ventre metálico,
          pernas de escravos, boca de negócio,
          ajuntamento estúpido, já treme
          com o russo em Berlim.

          Esta cidade oculta em mil cidades,
          trabalhadores do mundo, reuni-vos
          para esmagá-la, vós que penetrais
          com o russo em Berlim.

           

          Em A rosa do povo.

      2. EU TAMBÉM JÁ FUI BRASILEIRO

         

        Eu também já fui brasileiro
        moreno como vocês.
        Ponteei viola, guiei forde
        e aprendi na mesa dos bares
        que o nacionalismo é uma virtude.
        Mas há uma hora em que os bares se fecham
        e todas as virtudes se negam.

         

        Eu também já fui poeta.
        Bastava olhar para mulher,
        pensava logo nas estrelas
        e outros substantivos celestes.
        Mas eram tantas, o céu tamanho,
        minha poesia perturbou-se.

         

        Eu também já tive meu ritmo.
        Fazia isso, dizia aquilo.
        E meus amigos me queriam,
        meus inimigos me odiavam.
        Eu irônico deslizava
        satisfeito de ter meu ritmo.
        Mas acabei confundindo tudo.
        Hoje não deslizo mais não,
        não sou irônico mais não,
        não tenho ritmo mais não.

         

        Em Reunião, José Olympio, 4ª edição. p. 5.

         

  2. Poetisa das Águas

    Por favor, cometa um poema consagrado ao despacho que encontrei, ontem, em uma encruzilhada, quando começou a anoitecer.

    [video:https://youtu.be/JmYzwOEq-Mg width:600]

    Olhei, parei, conferi e só não tomei um gole da manguaça abençoada, porque o Santo protestou:

    – Tá me tirando Mineirinho?

    Dei um tchau pra ele e fui pro Bar da Isabel, onde tomei duas margosas e, pelo desaforo na encruzilhada, não atirei nenhuma pro Santo mal-educado.

    Se o meu pedido ecumênico for atendido pela Cracassa das Letras de Barbacena, será promovida, merecidamente, para o receber o nobiliárquico título de “Poetisa das Águas Que Passarinho Não Bebe”.

    Fui!

    1. De uma carioca com “pedigri” mineiro, para um mineiro da gema

      Ainda não tenho esse título, não?

      Pelo conjunto da obra… já mereço, né, mineiro.

       

      Mas quando a Anna chegar aqui na sexta-feira,21, para ouvir o Milton inaugurar na Bituca, do Ponto de Partida, a casa da literatura, a cobra vai fumar.

      Vou escrever sim o poema.

      Segue esse aqui  do Drummond, pra você, por enquanto.

       

       MAS VIVEREMOS

      Já não há mãos dadas no mundo.
      Elas agora viajarão sozinhas.
      Sem o fogo dos velhos contatos,
      que ardia por dentro e dava coragem.

      Desfeito o abraço que me permitia,
      homem da roça, percorrer a estepe,
      sentir o negro, dormir a teu lado,
      irmão chinês, mexicano ou báltico.

      Já não olharei sobre o oceano
      para decifrar no céu noturno
      uma estrela vermelha, pura e trágica,
      e seus raios de glória e de esperança.

      Já não distinguirei na voz do vento
      (Trabalhadores, uni-vos…) a mensagem
      que ensinava a esperar, a combater,
      a calar, desprezar e ter amor.

      Há mais de vinte anos caminhávamos
      sem nos vermos, de longe, disfarçados
      mas a um grito, no escuro, respondia
      outro grito, outro homem, outra certeza.

      Muitas vezes julgamos ver a aurora
      e sua rosa de fogo à nossa frente.
      Era apenas, na noite, uma fogueira.
      Voltava a noite, mais noite, mais completa.

      E que dificuldade de falar!
      Nem palavras nem códigos: apenas
      montanhas e montanhas e montanhas,
      oceanos e oceanos e oceanos.

      Mas um livro, por baixo do colchão,
      era súbito um beijo, uma carícia,
      uma paz sobre o corpo se alastrando
      e teu retrato, amigo, consolava.

      Pois às vezes nem isso. Nada tínhamos
      a não ser estas chagas pelas pernas,
      este frio, esta ilha, este presídio,
      este insulto, este cuspo, esta confiança.

      No mar estava escrita uma cidade,
      no campo ela crescia, na lagoa,
      no sítio negro, em tudo onde pisasse
      alguém, se desenhava tua imagem,

      teu brilho, tuas pontas, teu império
      e teu sangue e teu bafo e tua pálpebra,
      estrela: cada um te possuía.
      Era inútil queimar-te, cintilavas.

      Hoje quedamos sós. Em toda parte,
      somos muitos e sós. Eu, como os outros.
      Já não sei vossos nomes nem vos olho
      na boca, onde a palavra se calou.

      Voltamos a viver na solidão,
      temos de agir na linha do gasômetro,
      do bar, da nossa rua: prisioneiros
      de uma cidade estreita e sem ventanas.

      Mas, viveremos. A dor foi esquecida
      nos combates de rua, entre destroços.
      Toda melancolia dissipou-se
      em sol, em sangue, em vozes de protesto.

      Já não cultivamos amargura
      nem sabemos sofrer. Já dominamos
      essa matéria escura, já nos vemos
      em plena força de homens libertados.

      Pouco importa que dedos se desliguem
      e não se escrevam cartas nem se façam
      sinais da praia ao rubro couraçado.
      Ele chegará, ele viaja o mundo.

      E ganhará enfim todos os portos,
      avião sem bombas entre Natal e China,
      petróleo, flores, crianças estudando,
      beijo de moça, trigo e sol nascendo.

      Ele caminhará nas avenidas,
      entrará nas casas, abolirá os mortos.
      Ele viaja sempre, esse navio,
      essa rosa, esse canto, essa palavra. 

      Em Reunião, J. Olympio, 4ª edição.

        1. Mineiro

          [video:https://www.youtube.com/watch?v=ZPtdy92SGmQ%5D

           

          Um orgulho de Minas…

          segue o mineiro em busca

          de seu espírito,

          em busca de seu corpo

          perseguido pelo aço de suas conquistas.

           

          Vai, mineiro.

          Segue o rumo

          Busca o rumo

          Encontra o rumo

           

          Ruma

          Chega

          Olha

          Conhece

          Desfruta

           

          Aquiesce seu coração

          com o acalanto das montanhas

          e o brilho das estrelas, 

          nelas,

          junto delas, 

          o alcance de suas mãos.

           

          Odonir Oliveira

          1. INICIAÇÃO AMOROSA (mineiro, acrescente a imagem, vá)

            INICIAÇÃO AMOROSA

             

            A rede entre duas mangueiras
            balançava no mundo profundo.
            O dia era quente, sem vento.
            O sol lá em cima,
            as folhas no meio,
            o dia era quente. 

            E como eu não tinha nada que fazer vivia namorando as pernas morenas da lavadeira. 

            Um ida ela veio para a rede,
            se enroscou nos meus braços
            me deu um abraço,
            me deu as maminhas
            que eram só minhas.
            A rede virou,
            o mundo afundou. 

            Depois fui para a cama
            febre 40 graus febre.
            Uma lavadeira imensa, com duas tetas imensas, girava no espaço verde. 

             

             

            Em Reunião, José Olympio, 4ª edição. p.22.

          2. A Morena e o caminho

            Atravesse …

             

            De jns

            Som Brasil

            seg, 10/08/2015 – 17:17

                              Traga uma pinga e três galhos de pião
                              Canela e manjericão pra de banho eu te cheirar
                              Me lança um verso, que de cá eu atravesso
                              Como trem que vai na linha
                              Disparado a te encontrar

             

            Lanço mais de um: 

                       Eu quero te contar
                       Das chuvas que apanhei
                       Das noites que varei
                       No escuro a te buscar
                       Eu quero te mostrar
                       As marcas que ganhei

            Importa a autoria?

             

            Atravesse e encontre o que é teu …

          3. Beijinho Doce e Papai Noel

            Ele se esforça … E nós nos deleitamos.  🙂

            Que beijinho doce

            Foi ela quem trouxe
            De longe pra mim
            Se me abraça apertado
            Suspira dobrado
            Que amor sem fim

             

            Já o Mineirim, nenhum esforço  …  🙂

             

      1.   POEMA DE JORNAL 

         

         

        POEMA DE JORNAL

         

        O fato ainda não acabou de acontecer
        e já a mão nervosa do repórter
        o transforma em notícia.
        O marido está matando a mulher.
        A mulher ensanguentada grita.
        Ladrões arrombam o cofre.
        A polícia dissolve o meeting.

         

        A pena escreve.

        Vem da sala de linotipos a doce música mecânica.

        1. POLÍTICA ?!

           

           

          POLÍTICA

           

          Vivia jogado em casa.
          Os amigos o abandonaram
          quando rompeu com o chefe político.
          O jornal governista ridicularizava seus versos,
          os versos que ele sabia bons.
          Sentia-se diminuído em sua glória
          enquanto crescia a dos rivais
          que apoiavam a Câmara em exercício.

           

          Entrou a tomar porres
          violentos, diários.
          E a desleixar os versos.
          Se já não tinha discípulos.
          Se só os outros poetas eram imitados.

           

          Uma ocasião em que não tinha dinheiro
          para tomar o seu conhaque
          saiu à toa pelas ruas escuras.
          Parou na ponte sobre o rio moroso.
          o rio que lá embaixo poucos se importava com ele
          e no entanto o chamava
          para misteriosos carnavais.

           

          E teve vontade de se atirar
          (só vontade).

           

          Depois voltou para casa
          livre, sem correntes
          muito livre, infinitamente
          livre livre livre que nem uma besta
          que nem uma coisa.

           

          Em Alguma Poesia. Reunião . p.13

           

           

           

        1. Muitas coisas…

          [video:https://www.youtube.com/watch?v=j68Mxg2ux78%5D

          Cheguei a tempo de te ver acordar
          Eu vim correndo a frente do sol
          Abri a porta e antes de entrar,
          revi a vida inteira
          Pensei em tudo que é possível falar
          Que sirva apenas para nós dois
          Sinais de bem desejos vitais
          Pequenos fragmentos de luz
          Falar da cor dos temporais
          De céu azul das flores de abril
          Pensar além do bem do mal
          Lembrar de coisas que ninguém viu
          O mundo lá sempre a rodar
          Em cima dele tudo vale

          Quem sabe isso quer dizer amor,
          estrada de fazer o sonho acontecer

          Pensei no tempo e era tempo demais
          E você olhou sorrindo pra mim
          Me acenou um beijo de paz
          Virou minha cabeça
          Eu simplesmente não consigo parar
          Lá fora o dia já clareou
          Mas se você quiser transformar
          O ribeirão em braço de mar
          Você vai ter que encontrar
          Aonde nasce a fonte do ser
          E perceber meu coração
          Bater mais forte só por você
          O mundo lá sempre a rodar
          Em cima dele tudo vale

          Quem sabe isso quer dizer amor,
          estrada de fazer o sonho acontecer…

    2. Na encruzilhada

                          Me ter

                          Vagabundo

                          Asno

                          Surreal

                          Profano

                         

       

      1. Que de supostos contrastes

        opostos

        repostos

        dispostos

        também se amparam os sentidos

        também se amparam os toques

        também se amparam os risos

        também se amparam as rimas

        também se amparam os ombros

        a vida ainda é curta

         

        Eta vida besta , meu Deus!

        diria meu poeta itabirano

        do céu

        nas estrelas.

  3. Também não sou. Segue o telegrama do Drummond.

    TELEGRAMA DE MOSCOU

    Pedra por pedra reconstruiremos a cidade.
    Casa e mais casa se cobrirá o chão.
    Rua e mais rua o trânsito ressurgirá.
    Começaremos pela estação da estrada de ferro
    e pela usina de energia elétrica.
    Outros homens, em outras casas,
    continuarão a mesma certeza.
    Sobraram apenas algumas árvores
    com cicatrizes, como soldados.
    A neve baixou, cobrindo as feridas.
    O vento varreu a dura lembrança.
    Mas o assombro, a fábula
    gravam no ar o fantasma da antiga cidade
    que penetrará o corpo da nova.
    A que se chamava
    e se chamará sempre Stalingrado
    – Stalingrado: o tempo responde.

     

  4. Itabira
    Quando da fundação da Acesita, primeiro grande projeto industrial PRIVADO do Brasil, Itabira, a localidade, era uma das críticas ao projeto.
    Diziam “porque fazer a maior siderúrgica do Brasil no meio do SERTÃO.?”

    No passado, o sertão era bem ali do nosso lado.

    É muito otimismo querer que um buraco industrial no meio do sertão tivesse imprensa relevante.

    A respeito da Acesita ainda, um Brasileiro(Mineiro)convenceu Percival a aplicar no Brasil o dinheiro que recebeu da nacionalização das reservas de Ferro que o Brasil pagou para criar a Vale.
    Então, mais ou menos 50% do capital veio disto. 30% do Banco do Brasil e outro tanto em aporte de jazidas de ferro.

    No projeto estava incluída a construção de uma hídrica para suprir as necessidades da siderúrgica.
    Siderúrgica que era independente em energia, insumos e tudo o mais.

    E o Brasil, São Paulo, foi contra, pois como sempre quer tudo para si.
    Minas, O Estado, foi construído economicamente com este projeto !
    Mas tudo começou mesmo foi com Don Pedro II , a Escola de Minas, Prof. Djalma, Acesita. … são capítulos da mesma história.
    Idéia de mineiro!

      1. Mas o fato é que Itabira deixou de ser sertão, não por Drummond, e sim por políticos(engenheiros mineiros) que chegaram lá, no Poder.

        Porque não foi fácil vencer SP. Precisou de uma TESE econômica! Livros escritos, como Contribuição ao Estudo da Economia de Mineira e outros que justificavam siderúrgicas perto de jazidas de ferro em contraponto a CSN e a SP que sempre quer tudo.

        Como Pedro Rache, presidente do BB de Getúlio, amigo de Percival e autorizador do financiamento do BB para a fundação da Acesita.

        Neste dia Itabira deixou de ser sertão e passou a fazer parte do todo. No dia que o negócio foi feito!

        Poesia e palavras são importantes mas não enchem barriga de ninguém!

        Meus heróis são outros! Drummond é só uma curiosidade. 

         

         

          1. Carneirinhos

            [video:https://www.youtube.com/watch?v=_Q6Str9aDmw%5D

             

             

            Contando carneirinhos,

            andou o pastor

            noite dia

            dia e noite

            tangendo com seu cajado

            a lua e as estrelas

            para que campos

            lagos e lagoas

            tivessem os sons mais aprazíveis

            o perfume das flores nascidas ao léu

            para que atravessasse a estrada

            sem se perder

            sem perder seus carneirinhos.

             

            Assim, contava-os no céu.

             

            um, dois, três,

            três, três, três, um

            de novo contava

            sete, seis,

            se atrapalhava 

            seis, três,

            de novo

            trinta,  

            quarenta,

            cem,

            mil,

            contava e tangia com vara de condão

            os suspiros cintilantes 

            de todas aquelas estrelas.

             

            Odonir Oliveira

             

             

             

        1. ITABIRA

           

          ITABIRA

           

          Cada um de nós tem seu pedaço no pico do Cauê

          Na cidade toda de ferro

          As ferraduras batem como sinos.

          Os meninos seguem para a escola.

          Os homens olham para o chão.

          Os ingleses compram a mina.

           

          Só, na porta da venda, Tutu Caramujo cisma na derrota incomparável.

           

           

          Em Lanterna Mágica, Alguma Poesia, Reunião.

    1. “Alvoroço em meu coração.. amanhã ou depois de amanhã….”

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=KsO4wyndOME%5D

       

      VERSOS  À BOCA DA NOITE

       

      Sinto que o tempo sobre mim abate
      sua mão pesada. Rugas, dentes, calva.
      Uma aceitação maior de tudo,
      e o medo de novas descobertas.

      Escreverei sonetos de madureza?
      Darei aos outros a ilusão de calma?
      Serei sempre louco? Sempre mentiroso?
      Acreditarei em mitos? Zombarei do mundo?

      Há muito suspeitei o velho em mim.
      Ainda criança, já me atormentava.
      Hoje estou só. Nenhum menino salta
      de minha vida, para restaurá-la.

      Mas se eu pudesse recomençar o dia!
      Usar de novo minha adoração,
      meu grito, minha fome. Vejo tudo
      impossível e nítido, no espaço.

      Lá onde não chegou minha ironia,
      entre ídolos de rosto carregado,
      ficaste, explicação de minha vida,
      como os objetos perdidos na rua.

      As experiências se multiplicaram:
      viagens, furtos, altas solidões,
      o desespero, agora cristal frio,
      a melancolia, amada e repelida,

      E tanta indecisão entre dois mares,
      entre duas mulheres, duas roupas.
      Toda essa mão para fazer um gesto
      que de tão frágil nunca se modela,

      E fica inerte, zona de desejo
      selada por arbustos agressivos.
      (Um homem se contempla sem amor,
      se despe sem qualquer curiosidade.)

      Trecho de “Versos à boca da noite”, em Reunião ,José Olympio, 4ª edição. p.123

    2. Jair, Drummond apontava esse exagero do culto às celebridades

      também. No caso referia-se, ainda às celebridades literárias e a tudo que sempre se desejava saber delas: onde iam, o que comiam, o que pensavam sobre isso ou aquilo. Recusava-se a dar entrevistas e não gostava de falar seus poemas.

      Sempre se negou a isso.

      Esses 7 poemas que há na internet são resultado de um disquinho 45 rotações que fazia parte – como brinde- de uma obra póstuma sua, com exemplares numerados, “DRUMMOND EM FRENTE E VERSO”, riquíssima, com fotos dele, publicada pela Edições Alumbramento em 1989.

       

      NOTA SOCIAL

      O poeta chega na estação.
      O poeta desembarca.
      O poeta toma um auto.
      O poeta vai para o hotel.
      E enquanto ele faz isso
      como qualquer homem da terra,
      uma ovação o persegue
      feito vaia.
      Bandeirolas
      abrem alas.
      Bandas de música. Foguetes.
      Discursos. Povo de chapéu de palha.
      Máquinas fotográficas assestadas.
      Automóveis imóveis.
      Bravos…
      O poeta está melancólico.

      Numa árvore do passeio público
      (melhoramento da atual administração)
      árvore gorda, prisioneira
      de anúncios coloridos,
      árvore banal, árvore que ninguém vê
      canta uma cigarra.
      Canta uma cigarra que ninguém ouve
      um hino que ninguém aplaude.
      Canta, no sol danado.

      O poeta entra no elevador
      o poeta sobe
      o poeta fecha-se no quarto.
      O poeta está melancólico.

       

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=7gqwWmPqR4I%5D

      1. sabidão

        O poeta chega na estação.
        O poeta desembarca.
        O poeta toma um trago.
        O poeta toma um chifre.
        O poeta toma um busão.
        O poeta cansado
        casa leitão com pavão
        e ainda tem que dar explicação.

        POR ISSO, “não gostava de falar seus poemas.”

        1. Coitado do poeta, não merecia isso. Deveria ter avisado … ele

          não sabia que no meio do caminho tinha uma pedra.

          Falou tanto disso, que cansou de falar.

          Drummond, depois de ter lido, sabido, conhecido, inúmeras interpretações para  “No meio da caminho”, afirmou que se soubesse que daria tanto trabalho pra entender, que fosse necessário tanto esforço pra isso, não o teria escrito.Viu no que deu.

          Ensinando ao poeta:

          – Drummond, telefone, mande e-mail, facebook não, que não dará certo lá, uma “mensagem psicografada”. Mande uma mensagem via pombo- correio, Drummond, um fax, um telegrama. Ou se preferir, bata um tambor, que 300 e poucos km, poeta, não são nada, qualquer ‘buzão’ hoje mata no peito e corre pro abraço, pro beijo… pro regaço.

          Esse Drummond é distraído, desatualizado, meu Deus !

           

          [video:https://www.youtube.com/watch?v=Jgc6-dGMn5c%5D

          1. Esse Zeca!

            Esse sabe …  Primeiro a mulher, a mãe, a irmã, a filha … Agora o telegrama.

            Receitinha de bolo!  Me ganha sempre. Só falta atravessar e colher, cheirar, provar…

  5. Aí, dado o roteiro….

    depois de Barbacena… Ipatinga.

    Riqueza incontestável, em tempos de crises hídricas.

    Não se pode deixar de conhecer mesmo.

    Lagos, lagoas, mata, parque.

    Encantos … muito mais que só aço !

  6. MUSEU DO TROPEIRO

    Na semana que passou, saí de BH com destino a Ipoema, distrito de Itabira.

    Pretendia conhecer o Museu do Tropeiro, mas, ao entrar cerca de 500 metros no acesso por Bom Jesus do Amparo, fui desestimulado por um morador da região, que não sabia, naquele momento, se já havia sido concluído o asfaltamento de um trecho da rodovia.

    Existe outro acesso, passando por Itabira, mas desisti da empreitada, porque iria atrasar a minha viagem de volta pra casa e eu não tinha certeza se ele estaria aberto em plena terça-feira, na parte da manhã.

    A CRIAÇÃO DO MUSEU

    O Museu do Tropeiro em Ipoema (Itabira), foi criado a partir de uma expedição chamada Spix & Martius. Essa expedição continha 23 pessoas de várias áreas (médicos, ornitólogos, jornalistas, biólogos, artistas plásticos, psicólogos, cinegrafistas, poetas, dentre outros), que vieram fazer um levantamento do patrimônio cultural e natural da Estrada Real a partir do século XVIII. A razão de vários profissionais é devido à riqueza do patrimônio da Estrada Real.

    Ao chegarem em Ipoema foram recepcionados pela benção dos cavaleiros e por uma exposição que apresentava as peças que os tropeiros usavam durante as viagens, além das quitandas típicas da terra, dentre essas o cubu na folha de bananeira. Ao terminarem a Expedição resolveram que o Museu do Tropeiro seria instalado no distrito de Ipoema, devido à hospitalidade do local.

    Foi então que em 29 de março de 2003 o Museu foi inaugurado com o objetivo de fortalecer a vocação espontânea do tropeirismo, que era uma marca do distrito de Ipoema.

    Abrigado em uma casa construída no século XVIII e que pertenceu ao tropeiro conhecido como ‘sô’ Neco, o Museu contém hoje mais de 700 peças que fazem alusão à cultura tropeira, além de documentos desses comerciantes (título de eleitor, certidão de casamento e livros de compra e venda), que viajavam pelas estradas do interior brasileiro. Dessas, cerca de 500 pertenceram ao colecionador José Dutra – fazendeiro da cidade de Rio Vermelho.

    O local também se transformou num espaço de convivência com múltiplas funções, sendo palco para apresentações artísticas e culturais, local de degustação da deliciosa culinária regional e, principalmente, para a velha e boa prosa.

    Outro ponto interessante do Museu do Tropeiro é que ele busca a interação entre a comunidade e o visitante, através das manifestações culturais – Sons da Tropa, Grupo Folclórico das Lavadeiras, Estaladores de Chicote, Meninos Trovadores e Comitiva do Berrante –, que são apresentadas mensalmente durante a Roda de Viola que acontece nos sábados de lua cheia. Algumas dessas manifestações podem ser vistas também durante os ensaios no Museu do Tropeiro que acontece às quartas-feiras, das 15h às 16p0.

    Além da exposição fixa sobre o tropeirismo, o Museu recebe exposições temporárias de artistas que querem mostrar seu trabalho e oferece uma sala de multimeios onde são realizadas reuniões e são apresentados filmes e documentários educativos, voltados aos valores culturais e locais.

    [video:https://youtu.be/APOKv4ZVSdc width:600]

    O Museu do Tropeiro é cultura e história oferecida a todos que visitam essa linda região de Minas Gerais dentro da Estrada Real.

    Travessa Professor Manoel Soares, 217 – Ipoema/Itabira | Tel.: (31) 3833-9254

    Informações: http://www.viacomercial.com.br/2011/09/museu-do-tropeiro-em-ipoema-tem-novo-horario-de-visitacao

    Imagens da Internet

    1. LAGOA

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=T0rbbdl_sAI%5D

       

       

      LAGOA

      Eu não vi o mar.
      Não sei se o mar é bonito,
      não sei se ele é bravo.
      O mar não me importa.

      Eu vi a lagoa.
      A lagoa, sim.
      A lagoa é grande
      e calma também.

      Na chuva de cores
      da tarde que explode
      a lagoa brilha
      a lagoa se pinta
      de todas as cores.
      Eu não vi o mar,
      Eu vi a lagoa…

       

      Em Reunião ,José Olympio, 4ª edição.

       

       

    1. Sodade

                          Romanceiro do meu sertão                   

                          Vamo fazê a inversão

                          Vambora pro sertão

                          Tudo lá é bão!

      [video:https://youtu.be/dk1rRaZWLvs width:600]

  7. OS OMBROS SUPORTAM O MUNDO

     

     

     

    OS OMBROS SUPORTAM O MUNDO

    Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
    Tempo de absoluta depuração.
    Tempo em que não se diz mais: meu amor.
    Porque o amor resultou inútil.
    E os olhos não choram. 
    E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
    E o coração está seco.

    Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
    Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
    mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
    És todo certeza, já não sabes sofrer.
    E nada esperas de teus amigos.

    Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
    Teu ombros suportam o mundo
    e ele não pesa mais que a mão de uma criança. 
    As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
    provam apenas que a vida prossegue
    e nem todos se libertaram ainda.
    Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
    prefeririam (os delicados) morrer.
    Chegou um tempo em que não adianta morrer.
    Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
    A vida apenas, sem mistificação.

     

    Em Reunião.

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