Cláudio Lembo e o pós-eleições

Do Terra

Lembo: não temos partidos, só um movimento coordenado por Lula

BOB FERNANDES

“Dramático será o dia 4 de outubro, porque não teremos mais partidos políticos, só um movimento social coordenado pelo hoje presidente Lula(…) A mídia está engajada e tem um candidato, o Serra, com isso se perdeu o equilíbrio e é desse embate que nasce a intranquilidade, mas ela é transitória”.

A análise é do ex-governador de São Paulo, Cláudio Lembo, em conversa com o portal Terra na manhã desta quarta-feira (15). Atual secretário da Justiça de São Paulo, Cláudio Lembo, do DEM, enfrentou uma gravíssima crise: a dos ataques do PCC em maio de 2006, quando era o governador do Estado.

Então, em meio ao embate com o Primeiro Comando da Capital, Lembo disse em entrevista ao Terra Magazineviver um momento de “catarse” depois de ter sido instado “pela burguesia” – também “hipócrita” – a valer-se do “o olho por olho” na reação aos ataques do PCC. Ainda à época desabafou com a colunista Mônica Bergamo:

“Nós temos uma burguesia muito má, uma minoria branca muito perversa”.

Quatro anos depois, nova eleição presidencial e o ensaio de uma crise política.

Erenice Guerra, chefe da Casa Civil fustigada por denúncias, assina uma nota oficial e chama José Serra, do PSDB, de “candidato aético e já derrotado”. Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República, evoca o líder fascista Mussolini ao referir-se ao presidente Lula como “chefe de uma facção”. Lula, por seu lado, prega “extirpar o DEM” e os Bornhausen, cujo chefe, Jorge, já defendeu um dia “acabar com essa raça”, a do PT.

Diante desse cenário, o Terra ouviu o ex-governador de São Paulo. Abaixo, a conversa.

TerrTerra – Nas últimas horas, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso evocou Mussolini para se referir ao presidente Lula, o ex-dirigente do DEM, Jorge Bornhausen, aconselhou o presidente Lula a “não ingerir bebida alcoólica antes dos comícios”, palavras dele, sendo de Bornhausen a famosa frase sobre o PT, “vamos acabar com essa raça”. O presidente agora devolveu falando em “extirpar o DEM”, e a chefe da Casa Civil fez uma nota oficial chamando o candidato da oposição de “aético e já derrotado”. Como o senhor, experimentado também em crises, vê isso?

Cláudio Lembo – É interessante porque a campanha ocorria com normalidade. E abruptamente aconteceram situações novas. Todas, quase todas, nasceram no ventre do próprio governo. Não foi a oposição que criou a complexidade da Casa Civil. Portanto, o que está se vivendo nasce também de equívocos do próprio governo.

Terra – Como o senhor interpreta o cenário todo?
Lembo – É transitório e próprio dos momentos que se aproximam da eleição….mas o dramático será no dia 4 de outubro.

Terra – Por quê?
Lembo – Porque não teremos mais partidos políticos, só um movimento social coordenado pelo hoje presidente Lula, o que é ruim para a democracia. Ou seja, o partido que é coordenado pelo presidente da República sobreviverá muito mais como movimento social do que como partido, porque ele não é orgânico.

Terra – E a oposição?
Lembo – A oposição terá um resultado mau, muito ruim no pleito, e sai sem voz, sem maior possibilidade de apontar os erros do governo, de ser e fazer oposição. Também por erros da própria oposição.

Terra E o papel da mídia? Qual é, qual deveria ser?
Lembo – A mídia se engajou, a mídia tem um candidato…

Terra – Qual candidato?
Lembo – O candidato do PSDB, o Serra…

Terra – E qual a consequência disso? Isso esquenta a conversa de botequim das últimas horas, isso…?
Lembo – … A mída está engajada, tem um candidato que é o Serra e com isso se perdeu o equilíbrio, é desse embate que nasce a intranquilidade… mas ela é transitória. Havendo só um grande vencedor no pleito, que é o movimento social, e estando a mídia engajada como que está… disso nasce essa intranquilidade.

Terra – Quando se chega a termos como “Mussolini”, “candidato aético já derrotado” e “bêbado…”
Lembo – Isso está fora dos preceitos democráticos e muito além do tom… 

Luis Nassif

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